quinta-feira, dezembro 30, 2004

Pretensão e ignorância.

Apesar da importância enorme que atribuímos à raça própria e às consequências dos nossos actos, a terrível mãe natureza persiste, ao longo das eras, em reduzir a condição humana ao seu real tamanho. O movimento tectónico - e titânico - que provocou a maré de morte do Índico equivaleu, em poder destrutivo, à explosão do arsenal termo-nuclear acumulado pelos soldadinhos de chumbo dos pentágonos todos. Esta eloquente manifestação de força deveria fazer-nos pensar na forma como construímos a civilização, nas fragilidades inerentes ao ecossistema sócio-tecnológico que teimamos em levantar sobre a instável superfície do planeta e na pretensão de homenzinhos estúpidos com que encaramos a vida na Terra. Mas não. Com sorte, serão apenas instalados mais sensores sísmicos nas profundezas do oceano e é seguir em frente, sempre a abrir, no sentido único de um crescimento viral que só pode ter como fim um curto circuíto de dimensão bíblica. Do menú do apocalipse, hão-de inevitavelmente sair degelos ou glaciares, terramotos e maremotos, erupções vulcânicas ou quedas de meteoros e eu temo bem que só iremos perceber que não somos nós os deuses quando for demasiado tarde.

sexta-feira, dezembro 17, 2004

Quando for grande quero ser como o Jay.

A figura decadente e ridícula que responde quando lhe chamam Herman (Zé Gordo para os amigos, Loura Burra para os trolhas de Azeitão), acorda todos os dias com a mesma mania de esquizofrénica natureza: “Quando for grande, quero ser como o Jay Leno”. O pobre triste não sabe que não tem o país do Jay Leno, o talento do Jay Leno, a máquina de produção do Jay Leno, o humor do Jay Leno, o saber receber e o saber estar do Jay Leno, o sentido de espectáculo do Jay Leno e, fundamentalmente, não sabe esta cavalgadura que nunca terá a elegância, a sensibilidade e a inteligência do Jay Leno. Claro está que sai esta ignorância de sobremaneira dispendiosa aos escassos recursos em bom senso e bom gosto que a nação ainda assim vai comedidamente aforrando.
Na imagem, Jay conversa com um impecavelmente engomado e imaculadamente barbeado Michael Moore num dos mais memoráveis eventos televisivos que tive oportunidade de assistir no ano de 2004. Perante o ilustre convidado, aposto a minha reputação como jogador de matraquilhos que o nosso abstruso Herman José iniciaria a conversa perguntando-lhe logo quanto é que paga de impostos. E ainda antes que o Mike pudesse estender uma resposta, já estaria o ovo estrelado a inventar um insulto qualquer, próprio de um invejoso profissional. O Jay, que não quer saber de coisas pequenas para nada, perguntou-lhe antes: "Como é que se perdem estas eleições?" Michael Moore fez a sua pausa de buda. E com toda a tranquilidade de um homem que vive num país livre, respondeu: “os republicanpos tinham uma boa história para contar. Nós, democratas, nunca fomos grande coisa a contar histórias”. Herman José: eat your heart out.

A traição não é um crime, é um nojo. Ou o que diz Oriana.

A propósito da inqualificável iniciativa de acelerar o processo de adesão da Turquia à União Europeia, protagonizado pelo Dr. Durão Umbigo, surgem as enormes, as belas, as sábias e as lúcidas palavras de Oriana Fallaci:

“Há a Europa dos banqueiros que inventaram a farsa da União Europeia, dos papas que inventaram a fábula do ecumenismo, dos facínoras que inventaram a mentira do Pacifismo, dos hipócritas que inventaram a fraude do Humanitarismo. Há a Europa dos chefes de Estado sem honra e sem cérebro, dos políticos sem consciência e sem inteligência, dos intelectuais sem dignidade e sem coragem. Em suma, a Europa doente. A Europa que se vende como uma galdéria aos sultões, aos califas, aos vizires, aos janízaros do novo Império Otomano. Em suma, a Eurábia.”

Duas coisas me impressionam neste momento. Impressiona-me substantivamente a enorme falta de vergonha na cara de um homem que ainda no outro dia fazia dos Açores o eixo da coligação cristã, e que agora - vá-se lá não saber porquê - exige negociações para infestar o mundo civilizado de barbárie e intolerância. E impressiona-me deveras este fabuloso ensaio de Oriana, “A força da razão”, onde está tudo muito bem explicadinho: o Islão tiraniza, o Ocidente confraterniza. E eu, que não tenho filhos, receio pelos filhos que temos.

segunda-feira, dezembro 06, 2004

Meet Joe Black


Em Serralves, uma exposição que vai marcar a década mostra a morte vista pelos olhos de Paula Rego. A morte com dor e pânico. A morte com remorso e arrependimento. A morte insustentável, em carne viva. Horrível. Sobre tudo poderosa. Confesso que só vi morte nas telas. Confesso que saí de lá meio atordoado. Confesso que a francesinha que comi de seguida não me caiu lá muito bem. Confesso que vim a correr para Lisboa.

Partido da Pouca Vergonha

O Partido Social Democrata - o meu Partido - acaba de demonstrar ao país que se demitiu de todo o vestígio de decência, decoro e sentido de estado que podia ainda fingir que tinha. Esta gente indizível que, apenas há umas poucas semanas e em congresso esconjurava previsíveis núpcias com Paulo Portas, decidiu agora perder a vergonha e, em Conselho Nacional, esmolar ao PP uma aliança pré-eleitoral. Esta gente cobarde que se encolhe perante a adversidade, que se enoja perante a sua própria merda, permite e promove um futuro sorridente para o PS, mesmo que choroso para a nação. Sócrates, que nunca chegaria lá sem uma ajudinha, Guterres, que jamais triunfaria contra Cavaco Silva e Santana, que não quer ir a votos sózinho, agradecem. Os portugueses, que correm para a casa de banho a vomitar, esmorecem. Valha-nos Deus, esse canalha que se diverte com a minha pátria.

sábado, dezembro 04, 2004

Exit

"Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém... "

-Álvaro de Campos-

Quero dizer ao dr. Santana Lopes: faça o favor de se retirar. De se retirar o mais silenciosa e sorrateiramente que lhe for possível, dada a grandiloquência própria do seu carácter e - claro está - dessa metafórica veia de tribuno precoce. De se retirar, aliás e precisamente para a incubadora do esquecimento, para a caverna de Sócrates ou para o diabo que o carregue, desde que vá calado para o diabo, com o devido rabinho entre as respectivas perninhas de dançarino, resignado da sua incapacidade absoluta e dessa lamentável tendência para o desastre da razão. O Sr. dr. não faz falta nenhuma nem ao país, nem ao partido e muito menos a quem anda para aqui há uns desgraçados meses a aturar a sua prosápia desconjuntada e incoerente de narciso em incontinência técnica. O Sr. dr. perceba por gentileza que foi à falência e retire-se imediatamente do casino. Tenha vergonha ou mostre piedade da vergonha que temos de si e suba até à saída. Muitíssimo obrigado.