quarta-feira, outubro 11, 2006

Coisas contemporâneas da idade da pedra.

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O teste nuclear falhado dos norte coreanos acabou por ser uma coisa simpática. Primeiro porque falhou, pelo que ganhámos aqui uns meses de alívio, depois porque serviu de pretexto para um repreensão por parte de um alto diplomata da República Popular da China, o único país que consegue manter o cinismo necessário para alimentar relações frutuosas com Kim Il Sung (Chavez e Castro também são amiguinhos mas o sentido das proporções torna-os despiciendos). Seja como for, é por estas e por outras que nunca como hoje foi tão ameaçador o espectro da agressão nuclear. Qual guerra fria qual quê. É um crime de honra permitir que, em pleno Século XXI, trezentos e tal anos depois da Revolução Francesa, quatrocentos e tal anos depois da Revolução Inglesa, exista um estado como o que governa a Coreia do Norte. É um dequeles anacronismos terríveis com que se debate o actual planetário. Se fizermos a observação comparada do cronograma da evolução civilizacional, os desgraçados súbditos de Kim il Sung lá vão sobrevivendo - sabe-se lá como e ignora-se porquê - a um regime cuja inspiração deve remontar às mais ferozes tiranias da antiguidade clássica; os árabes estão atrasados 800 anos; os Persas retrocederam 16 séculos, o Paquistão vive um pesadelo de tiranias desde que é nação; na Índia, "a maior democracia do mundo" (democracia não significa liberdade), o regime de castas separa à nascença os que vão ser inacreditavelemnte miseráveis e os que vão ser inevitavelmente poderosos, deprimente determinismo mais velho que a própria História. Na China, pode-se enriquecer, mas não se pode votar, procedimento adminstrativo mais ou menos dentro do espírito da Dinastia Ming (Séc. XV). A nação que vai liderar o mundo e dominar o século vive ainda esmagada por um regime fascista, aparatchik, draconiano e multi-milionário. Na América do Sul os políticos podem traficar droga e mergulhar em corrupções, se forem eleitos pela esquerda. Podem perpetrar golpes de estado, podem invocar o diabo na Assembleia Geral das Nações Unidas, podem ter pides e milícias, podem portar-se como bandoleiros e capitães de roça do século XVIII, porque foram eleitos pela esquerda (eleições não querem dizer democracia). Na Rússia, ainda há jornalistas que morrem por causa daquilo que escrevem, como acontecia com Estaline, ou o Czar Nicolau. Nos Estados Unidos da América, ainda se ensinam os estudos primários como se Darwin nunca tivesse feito a tal viagem aos Galápagos: na Segunda-feira era o verbo, na quarta o mundo estava feito, no Sábado de manhã cria-se Adão, ao fim da tarde dá-se-lhe uma Eva para criada de quarto, em anexo vem o pecado e está pronto o universo porque chegou o dia santo de domingo, que é para descanso do pessoal. Em África, os tempos recuam à idade da selvajaria; os governos tratam com espantosa ineficiência as nações que governam, mas mostram-se de germânica operacionalidade na arte do genocídio étnico. É impressionante a quantidade de pessoas que se podem matar com uma catana e uma garrafa de aguardente. Na Europa, morre-se devagarinho, como foi devagarinho que a Roma imperial se perdeu. De preguiça ideológica, de obesidade filosófica e de anemia moral. Em cidades como Paris, Londres, Madrid ou Hamburgo, as vozes mais poderosas e mobilizadoras que se levantam são as dos líderes religiosos muçulmanos, que convidam alarvemente à aniquilação do infiel a troco de uma tantas gajas no bordel do paraíso. Como é bom de ver, não são só os americanos que têm esta fraqueza de trocar favores de cama com o inimigo. E pronto, foi o telejornal de 10 de Outubro de 2006. Voltamos a encontrar-nos aqui, no seu canal hospitalar de sempre, amanhã, à mesma hora. E não perca já a seguir, Prós e Contras com os palhaços do costume: hoje vão a debate as lamentáveis declarações daquele ordinário alemão que é Papa e que só contribuiram para aumentar o já muitíssimo justificado ódio dos seguidores do Grande Profeta, abençoado seja o seu nome. Boa noite.