sábado, dezembro 30, 2006

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(I) Apesar da popular visão certinha, positivista e politicamente correcta de um cosmos de algibeira, universalizada por Einstein, outros sábios mais lúcidos e menos mediáticos cedo chegaram à desconcertante e gloriosa conclusão de que a física newtoniana podia servir muito bem para impressionar colegiais e jornalistas, mas seria sempre pobre instrumento para a inquisição a que a ciência humana tenta submeter o universo.
Em plena ascensão nazi, Werner Heisenberg - homem do regime e por isso um dos mais perigosos personagens da história do século XX - demonstrou a impossibilidade de medir simultaneamente e com precisão absoluta a posição e a velocidade de uma partícula e que a observação do objecto atómico influi no seu comportamento.
Quase em simultâneo, Niels Bohr, o dinamarquês irredutível, demonstrou que o fotão poderia ser, em simultâneo, uma onda e uma partícula, entregando assim de borla a um obscuro criador, a possibilidade de estarmos certos seja do que for.
Mas já antes, a partir do famoso teorema de Euclíades - um cretense que teimava em afirmar dialecticamente que todos os seus compatriotas eram mentirosos*- Kurt Godel, matemático obsessivo e genial, demonstrara por a+b aquilo que é fundamental entender de uma vez por todas: que qualquer sistema aritmético inclui a sua própria negação. E assim sendo, esse velho preconceito aristotélico de que uma coisa só pode ser ela própria e nunca o seu inverso, deixa de ter justificação para poluir as mentes.
O princípio da incerteza de Heisenberg, a mecânica ondulatória de Bohr e o Teorema de Godel remetem às urtigas da epistemologia os bolorentos, pusilânimes e quadradões modelos positivistas de gente tão ilustre como Einstein, Conte e Descartes.
Sim é muito possível que não exista essa onírica Grande Ordem do Cosmos.
Sim é possível que o conhecimento atinja em tempo real, os seus limites.
Sim, Gaston Bachelard é capaz de ter acertado quando sugeriu que a ciência - como a filosofia e a arte - poderiam evoluir por ruptura e não por continuidade.
Sim, somos apenas produto de uma jogada de dados, entre deuses danados.
E não, não, não nos é possível perceber a batota.

*Se todos os cretenses tiverem de facto a tendência para a ficção, a afirmação será verdadeira. Mas nesse caso, como acreditar em Euclíades, o Cretense, que não passa de um mentiroso?