quinta-feira, maio 22, 2008

Sobre os preços do petróleo.



I - O falso problema das existências
Ao contrário do que poderás pensar, caro leitor, não há falta de jazidas petrolíferas. O que há é acrescidas dificuldades técnicas (técnicas e não tecnológicas) em chegar lá. Primeiro porque as vastas quantidades de ouro negro que se encontram - inexploradas - no subsolo do planeta, estão localizadas a maiores profundidades, o que encarece o investimento inicial da exploração (embora esse custo, num mercado a funcionar normalmente, incidisse no preço do barril de forma apenas marginal).
Depois porque a praga ambientalista, hoje já institucionalizada pelos estados e pelas grandes corporações, levanta dificuldades legais à exploração na maior parte das zonas do globo onde estas jazidas são mais abundantes (o mesmo acontece com a criação de refinarias que suportem as necessidades do mercado). O problema da inexistência de reservas petrolíferas é, portanto, um falso problema.

II - O problema da produção
Faz a ti mesmo esta pergunta, caro leitor: se em cada ano produzisses dez quilos de batatas e por cada quilo ganhasses dez milhões de dólares, serias facilmente convencido a cultivares vinte quilos de batatas de forma a ganhares cinco milhões de dólares por quilo? Claro que não. Ora o mesmo se passa com os produtores de crude a nível mundial. A OPEP recusa-se naturalmente a aumentar a produção simplesmente porque esse aumento não seria um bom negócio. O actual preço do barril está a enriquecer as elites dos países produtores a níveis absolutamente obscenos e ninguém que esteja a ganhar com a situação vai fazer seja o que for para alterar o status quo.
Quando a OPE atribui a subida dos preços à especulação dos mercados financeiros (que de facto existe) está a manifestar um cinismo recordista: se houvesse mais petróleo no mercado, a especulação diminuiria. Mas se a especulação diminuisse, os produtores ganhariam menos dinheiro. É caso para dizer que é preciso ter lata.

III - O problema político
Acresce que a OPEP é uma organização de bandidos, originária, na maior parte dos casos, de algumas das mais infames e bárbaras nações do planeta. Repara, prezado leitor, na lista dos malfeitores: Angola, Argélia, Líbia, Nigéria, Venezuela, Equador, Indonésia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Irão, Iraque, Kuwait e Qatar. Tudo boa gente.
Os preços do petróleo estão a ser usados como uma arma contra o desenvolvimento das sociedades ocidentais e para controlo do poder e da riqueza por parte de oligarquias totalitárias, cujas estruturas regimentais são inspiradas em modelos muito próximos da idade média europeia. Os povos miseráveis destes países, claro, não verão nunca um tostão destas fortunas incalculáveis.

IV - O problema do modelo económico-industrial
É muito bonito e telegénico dizer que é necessário mudar o modelo energético, mas não te deixes enganar pela retórica fala-barateira. A dependência económica do petróleo não é uma teimosia irracional dos grandes capitalistas do ocidente, criminosos ambientais e outras personalidades imaginárias, caras à propaganda dos Blocos de Esquerda europeus.
As chamadas energias renováveis não têm capacidade instalada, nem vão ter nos próximos anos, para fazer face à procura actual e à tendência de aumento exponencial dessa procura. Os biocombustíveis, a serem massificados, elevariam os preços dos cereais para a alimentação a níveis que provocariam fomes inauditas e a "combustão" do hidrogénio, sendo de facto a única alternativa viável, reduziria as indústrias directa e indirectamente ligadas à produção e distribuição de combustíveis à insignificância económica, facto que provocaria certamente uma recessão de proporções nunca antes observadas. Não estou a ver a BP a investir num modelo energético que lhe reduziria as margens de negócio em 90%. O uso do hidrogénio como força energética viável teria assim que ser desenvolvido pelos estados (cenário de pesadelo), porque as empresas existem para enriquecer os seus accionistas. É muito simples.
Isto para não falar que um modelo energético "limpo" traria vagas de desemprego verdadeiramente devastadoras dos tecidos sociais a nível global.

V - Alegremente a caminho da guerra.
A OPEP vai roendo a corda à sua vontade, porque pode, enquanto o ocidente, sofrendo dos seus costumeiros e enjoativos problemas de consciência, paga caro nas estações de serviço e nos consultórios de psicanálise. Isto, claro, até certo ponto. A maior parte das grandes guerras da história universal da batatada começaram por motivos mais comezinhos dos que existem hoje para fazer uma e não é preciso ser um bandarra com doutoramento em Delfos para perceber que, depois de chegarmos aos 200 dólares por barril, as coisas vão começar a ficar feias, com Obama ou sem Obama (já agora: deus nos livre do preto).
Ora, em vez de chegarmos a esse triste climax, talvez fosse esperto que os países compradores de petróleo agissem como clientes em vez de procederem como reféns. Para já, castigando os fornecedores de todas as maneiras possíveis: rompendo com acordos comerciais, ajudas humanitárias (que nunca chegam a quem precisa, de qualquer forma), pressionando diplomaticamente, ameaçando com embargos, cortando investimentos, etc., etc. A União Europeia, por exemplo, poderia muito bem, se fosse uma organização lúcida, criar um mecanismo comum de exploração de novas jazidas. Os americanos poderiam simplesmente utilizar a CIA para aquilo que a CIA devia servir e acertar um tirinho certeiro em dois ou três tipos exemplares, entre os quais destaco desde já o distinto senhor Chavez que está mesmo a pedi-las.
A coisa só vai ser resolvida com alguma violência e é preferível utilizá-la com destreza cirúrgica do que depois ter que recorrer a métodos que saem mais caro em vidas, em recursos e em pachorra.

VI - O problema português
Em Portugal o problema, por enquanto, é essencialmente fiscal, como aliás todos os grandes problemas económicos nacionais o são. Os sucessivos e desgraçados governos que temos tido, têm usado o petróleo como um instrumento de receita fiscal por excelência e agora pouco se pode fazer, a não ser que se desista do controlo das contas públicas, o que também seria mais ou menos calamitoso. Uma coisa é certa: não é a pagar 300 paus por um litro de gasóleo que a economia vai crescer. E se tudo o que Sócrates pode fazer é subsidiar os passes sociais (porque valem votos, claro está), estamos todos bem sodomizados.