segunda-feira, junho 22, 2009

Ulisses Vs Aquiles


Domingo, Agosto 14, 2005

ESTE É GRANDE.

Gosto à brava deste aventureiro marinheiro. Casado com uma mulher nobre e fiel, sabe que pode partir para a viagem sem perigos de desonra. É esperto e é romântico (rara alquímica!). Gosto do Ulisses porque o homem não usa a cabeça só porque dá jeito ao elmo, tem presença de espírito e é assertivo e é pertinaz e resolve problemas e segue o seu caminho à procura não se sabe bem do quê. Isto, claro está, para além de estar sempre a querer regressar a casa (um gajo que percorre todo o mundo antigo para conseguir chegar a casa desperta-me uma ternura imensa). Gosto deveras deste construtor de barcos e de cavalos, deste engenheiro da aventura que - protegido por Atena, a Deusa dos Olhos Garços - se faz um herói como deve ser. E até mais que um mito grego, solidifica-se num deus católico e irlandês. Não é de se meter em brigas, mas vence a barbárie da violência, com violência se necessário for, com astúcia se proveito de superior qualidade lhe trouxer a inteligência. É corajoso mas não é parvo, e passa montes de tempo na proa, a perscrutar o horizonte mediterrânico, na senda da origem das coisas. Gosto dele.


ESTE É PEQUENO.

Não gosto nada deste guerreiro interesseiro. Não gosto deste gajo que faz birras na presença de reis, que é invejoso de escravos e, mais cruel que valente, mais mercenário que soldado, permanece um enormíssimo maricas (afinal, quem é que alguma vez morreu com uma seta enfiada no tornozelo?). Armado em parvo e armado aos cucos, amantiado com um primo imberbe (e péssimo esgrimista), esmagando exércitos com a sua magnífica Excalibur de calibre helénico 3000 AC, Aquiles é, mesmo assim, um frouxo. É um frouxo porque faz tudo pelas razões erradas. Até quando entrega a Príamo o corpo morto e violentado do seu filho, o cavaleiro não é nobre porque fica pequenino de remorsos. Depois de ter cavalgado as sete colinas de Tróia com o cadáver de Heitor de rojo pelo mato, insultando de tragédia e ignomínia a alma troiana, corrompendo rituais sagrados e retirando ao seu adversário a glória da morte em combate, Aquiles é seguramente o bandido palhaço que vai ter remorsos. Não gosto dele.