quarta-feira, junho 27, 2012

Pequenas discórdias.

Desde que Mike Bramble, meu grande amigo e ilustre contribuinte deste blog, começou a lavrar os seus magníficos posts, fui registando, aqui e ali, alguns pontos de divergência que vale talvez a pena resumir, nem que seja para polemizar um bocadinho só.

1 - Aconteça o que acontecer hoje, o CR7 portou-se muito mal no jogo contra a Dinamarca e deve ser criticado por isso. 
Eu não tenho a opinião, como o meu amigo, de que os jogadores da selecção devam ser poupados à crítica. Pelo contrário. O futebol é um desporto que se consubstancia no erro humano e os profissionais da bola devem viver com a crítica como um osso do ofício. Aguentem-se. E aguentem-se principalmente quando se exibem a um nível quase ofensivo. O Cristiano Ronaldo, no jogo contra a Dinamarca, exibiu-se a um nível quase ofensivo. E deve ser quase ofendido, também.

2 - Eu acho que os alemães são boa gente. E jogam à bola que se fartam.
Ao contrário de Mike Bramble, eu gosto da Alemanha. Gosto da nação, do povo e das respectivas glórias. A Alemanha é uma potência fundadora da civilização ocidental por causa dos filósofos, dos poetas, dos romancistas, dos músicos, dos físicos, dos engenheiros e, sim, dos futebolistas que tem conseguido parir em quantidade e qualidade durante os últimos, digamos, seis séculos.
Nem estou nada interessado em pactuar com a actual onda anti-germânica - fenómeno simultaneamente pueril e perigoso, que é resultado básico de uma visão mesquinha e cheguevarista da história, da sociedade e da economia.
O meu querido Mike Brumble pode escrever aqui as elegias e os elogios que quiser sobre russos e ucranianos, gregos e croatas, irlandeses e italianos, mas a verdade é esta: nunca a Alemanha ganhou um título europeu ou mundial (e ganhou muitos) a jogar feio. Gregos e italianos e franceses, por exemplo, já foram Campeões da Europa com um futebol miserável. O alemães jogam sempre a alto nível. São profissionais sérios, são muito fortes psicologicamente, são organizados e agressivos e não costumam trancar-se na defesa. É difícil encontrar na história do desporto uma equipa germânica que não jogue invariavelmente para ganhar. E isso, considerando a realidade do futebol contemporâneo, não é dizer pouco.
A Alemanha é a melhor selecção deste Euro 2012 e vai somar mais um título. Não é a que joga mais bonito - os alemães deixam essa honra para nós, portugueses - mas também não é nada aborrecido de ver, convenhamos.

3 - Não estou certo quanto à qualidade da sua sociologia, mas eu sou um grande apreciador das crónicas do Alberto Gonçalves.
Aqui é que o meu amigo Mike Bramble e eu estamos realmente nos antípodas. Eu acho que o Alberto Gonçalves é grande. A coluna dele deve ser, neste momento, a única coisa que vou seguindo com algum entusiasmo na imprensa nacional. O homem é desassombrado à brava e é necessário que alguém diga aquilo que ele costuma ter para dizer. E quanto à qualidade da prosa, é verdade que o sociólogo não vai ganhar nenhum Pulitzer, mas não me parece que mereça assim tantas críticas. Principalmente no contexto da falência discursiva que é dominante em revistas como a Sábado ou a Visão.

E, quanto a discórdias, é tudo. Até porque eu e o Mike Bramble estamos geralmente em sintonia sobre uma multiplicidade de assuntos, alguns dos quais têm vindo inclusos nos seus posts. E, para felicidade minha e elevação deste blog, ele tem escrito bastantes.