sábado, junho 16, 2012

Irish blend

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POR MIKE BRAMBLE

A Irlanda é uma realidade louvável. Como Cultura, como Nação. Há menos tempo, como Pátria.
Lawrence Sterne, George Bernard Shaw (antes de ensandecer), James Joyce, Oscar Wilde, Jonathan Swift, Samuel Beckett, Seamus Heaney. São excelentes ‘territórios’ a visitar. Ou a revisitar. Deixei para o fim, cônscio de ter falhado algures enormes proeminências do Eire, o inominável W. B. Yeats. Enorme entre estes grandes!
Posso estar errado, mas terei para aqui debitado qualquer coisa como quatro prémios Nobel da Literatura. Fascinante… O prólogo serve para tal. Ontem, estava a selecção de futebol irlandesa a levar quatro bolas secas da Espanha e os irlandeses entoavam cânticos belíssimos. E não se calaram… A tal ponto que o homem do jogo, “El Niño”, apregoam as fãs e os tontos jornalistas que encarreiram nestas tristes cenas, não conseguia ouvir as questões da ‘reportage’.
Os homens da lira compõem uma claque nos louros dos pergaminhos. Lembro-me de um belíssimo jogo em que Portugal recebeu no já demolido Estádio da Luz a República da Irlanda, na fase de apuramento para o Euro de 1996.
Os dois conjuntos estavam obrigados a ganhar, se quisessem ser apurados. Chovia, chovia… A Irlanda esteve em campo e Portugal foi marcando. Resultado: a Irlanda, levou com três bolázias, desta feita, bem molhadas e repompudas. Antes que o Alzheimer se apodere de mim, retive na memória o portento do Rui Costa, de fora da área.
O ânimo dos cânticos dos celtas foi sempre o mesmo. Como ontem. Na bela ressaca dessa partida também recordo com gratidão este episódio. Passadas uma horas, ainda São Pedro mandava das suas, um grupo de irlandeses entabulou conversa comigo. Mensagem a reter: “Nice game, mate. See you in Wembley, on the final”. O Euro foi em Inglaterra (nota-se sempre um certo azedume), mas eles tinham um obstáculo maior para lá chegar.
Portugal apurou-se directamente. Depois, Poborsky e Baía enterraram-nos, para não falar de A. Oliveira e seu irmão ‘muchacho’, J. Oliveira. A Irlanda não chegou lá, foi eliminada no ‘play off’ com a Holanda.
Na última tentativa para alcançar os palcos maiores dos Mundiais e dos Europeus da bola a onze, a Irlanda do digníssimo Trapatone foi impedida por um árbitro, contra a França, na fase de apuramento para o Mundial de 2010.
Ontem, a Irlanda saiu pela baixa em campo. Mas em grande alta nas bancadas. ‘Malt & Blend’! O futebol vale a pena assim, sem tácticas, com estratégia de pulso forte, animosa corda vocal e resiliente diafragma.
Vale um ‘whiskey’? Jameson, Bushmills, ‘you name it, mate’…

Agora, uma nota para dois lançamentos laterais. Dois grandes jogadores a resplandecer, que eu quero nomear aqui. Chevchenko. Fabulosos 35. Não é guarda-redes, continua a aterrorizá-los. Com golpes fatais.
E Andrea Pirlo. Também já tendo dobrado bem os trinta. Visão, precisão, desmarque, contenção. É a isto que os delirantes comentadores e opinadores desta faixa atlântica apelidam de ‘catenaccio”? Vá bene!