sexta-feira, outubro 17, 2014

Um nova era atómica.

No contexto dos contributos que celebram o décimo aniversário do Blogville, o meu grande e erudito amigo José Abel Aguiar traz à conversa nada mais nada menos do que a solução ideal para o problema energético que tanto tem vindo a apoquentar a humanidade nos últimos dois ou três séculos:

Finalmente teremos a Fusão Nuclear (não a fissão do urânio e afins, que é “potencialmente” perigosa, ou tal nos fizeram crer …) de forma simples e acessível?
Como reagirá a status quo instalado dos Puppet Masters da economia do petróleo?

Na Lockeed Martin trabalha-se a sério num sistema de propulsão aeronáutica fundamentado na fusão nuclear, um método alternativo à fissão nuclear, que, ao contrário desta, é estável e limpo e permitirá, uma vez desenvolvido comercialmente, produzir energia barata e a rodos. 
Uma nova era atómica começa aqui. E nada será como dantes.




Mais informação sobre este assunto no Sploid.














Suave movimento pop.



Fade Paper Figures  |  Metropolis

segunda-feira, outubro 13, 2014

À frente no tempo.




































O meu querido amigo Mike Brumble, ilustre e assimétrico colaborador do Blogville, é uma espécie de profeta da literatura. Por isso, não é de espantar que anuncie prémios Nobel com décadas de antecedência. No dia 16 de Novembro de 1998, por exemplo, publicava uma pequena recensão no Diário Económico dedicada a um romance do agora grande e subitamente glorificado Patrick Modiano, que rezava assim:

"Esqueci-me do seu rosto. A única coisa de que me lembro é do seu nome. Podia muito bem ter conhecido Dora Bruder, já que vivera nas imediações da Porta de Clignancourt e da Planície: residia no mesmo bairro e era da mesma idade. Talvez soubesse bastante sobre as fugas de Dora... Há acasos assim, encontros, coincidências que ignoraremos para sempre..."
Este é o retrato de uma busca incessante, obsessiva, dirão alguns espíritos menos contemporizadores. Dora Bruder é a principal personagem e - já agora - o título do último livro do escritor francês Patrick Modiano, recentemente vertido para português pelas Edições ASA, com tradução de G. Cascais Franco, na interessante coleção "Pequenos Prazeres". Dora Bruder é uma personagem com rosto, mas sem voz. Modiano parte de um anúncio publicado no jornal "Paris-Soir" no dia 31 de Dezembro de 1941, em que se procurava Dora Bruder, uma rapariga judia de 15 anos. E segue no seu trilho, com cruzamentos autobiográficos, e não só, de uma Paris ocupada, manchada pelo regime nazi e com Auschwitz em pano de fundo. A cidade-luz também teve o seu período de sombras e de trevas. 
A palavra a Patrick Modiano: "Desde então, a Paris onde procurei reencontrar o seu rastro permaneceu tão deserta e silenciosa como nesse dia. Caminho através das ruas vazias. Para mim elas continuam assim, mesmo ao entardecer, à hora dos engarrafamentos, quando as pessoas estugam o passo em direcção às entradas do metropolitano. Não consigo deixar de pensar nela e de sentir a sua presença em certos bairros. Uma noite destas foi perto da Gare do Norte."

sábado, outubro 11, 2014

Deus está fora da equação.

"Chimpanzees and humans are closer cousins of each other than chimpanzees are to gorillas."
Richard Dawkins | Something from Nothing

As recentes declarações de Stephen Hawking sobre a inexistência de Deus como uma afirmação da ciência sobre a fé são absolutamente rídiculas, porque estão carregadas - elas próprias - de um carácter profundamente religioso. Na medida em que a Física parece cada vez menos capaz de apresentar um modelo coerente que substitua os aparelhos mitológicos milenarmente instalados, é preciso ser bastante crédulo para ir na conversa do célebre professor de Cambridge.
Esta diatribe é, no entanto e apenas, a crista da onda de um movimento de fundo, constituído por físicos high-profile como Lawrence Krauss, Neil deGrasse Tyson e Alan Guth, entre muitos outros. É curioso verificar que os mesmos cientistas que defendem um universo acidental, um "almoço grátis" de resultado zero e génese extemporânea, no contexto transcendente de um multiverso esquizofrénico e desordenado, em que tudo é possível e em que nada é certo, não deixam porém de se mostrar cada vez mais radicais e arrogantes nas suas convicções sobre a metafísica.
Apesar de anunciarem com alarde a sua estupefacção perante a impenetrabilidade da natureza e a sua caótica manifestação, apesar de chegarem à conclusão triste que as suas conclusões tristes os podem lançar a todos no desemprego, apesar da grande incerteza, apesar da permanência do Mistério, estão cada vez mais convictos de que Deus não existe. E a ironia aqui é que estes físicos, já todos veteranos, só têm na verdade esta certeza. Se lhes perguntares, gentil leitor, pela composição material de 96% do universo, eles não te vão oferecer mais que hipóteses vagas e, muito provavelmente, míopes. Se quiseres saber se o universo terá um fim, eles não serão capazes de uma resposta. Se estiveres confuso com as implicações filosóficas da Teoria das Cordas, eles não vão resolver o teu problema. Se lhes falares dos paradoxos inerentes à concepção do espaço-tempo einsteiniano, eles vão calar o incómodo. Se os interrogares sobre a existência ou inexistência de buracos negros, eles vão discordar. Se estiveres intrigado com o comportamento "poltergeist" dos bosões no Condensado de Bose-Einstein, eles vão-te ensinar apenas a resignação. Enfim, se esperares que te iluminem sobre a razão de seres vivo, sobre a razão do cosmos ser como é ou da partícula ser uma partícula e uma onda ao mesmo tempo, caro leitor, podes esperar sentado. Mas se, num momento irreflectido, cometeres o erro trágico de os inquirires sobre a natureza da fé, bom Jesus, prepara-te: têm verdades absolutas para dar e vender.
Estes senhores, cujos ensinamentos persigo e que respeito muitíssimo,  deviam porém saber que não cabe ao cientista a morte de Deus. Esse assassinato só é permitido a três tipos de infelizes: aos artistas, aos filósofos e, idealmente, aos teólogos (embora dentro deste grupo só possamos contar com a facção suicidária).
Aos cientistas compete, ao invés, explicar humildemente aos pobres de espírito que o cosmos é extremamente ávaro com as verdades absolutas. Que devemos moderar as nossas convicções sobre isto ou aquilo e que, na maior parte dos casos, é aconselhável guardar para nós os nossos preconceitos. Até porque, se todos os universos são afinal possíveis, haverá pelo menos um com Deus lá dentro, certo?
A citação com que abro o texto é de um biólogo notável que também faz parte desta ilustre congregação de ateus, embora sirva perfeitamente o meu argumento: a biologia do chimpanzé é mais parecida com a nossa do que com a de um gorila. O Homo Sapiens tem 60.000 anos. É um primata novo e insignificante. Pensar que este bicho rudimentar que aqui está há tão pouco tempo pode entender um universo com 13,7 mil milhões de anos e 170 mil milhões de galáxias é de uma pretensão assustadora. E é esse susto que deve educar sempre a opinião de um cientista.

sexta-feira, outubro 10, 2014

O cosmos acidental.



"We are an accidental universe. And so the historic mission of science, and especially physics, to show that our universe is the unique result of a certain set of fundamental principles is no longer possible. This conclusion makes theoretical physicists extremely unhappy because it means that a lot of our mission is an illusion."
Alan Lightman | Big Think

Corroborando as conclusões completamente inacreditáveis da física contemporânea, de que falei no post anterior, o Professor Alan Lightman, com um ar muito triste, anuncia, em três minutinhos apenas, o fim das ciências cosmológicas como as conhecemos. Se a génese do nosso universo é acidental e, assim, se todos os universos que podemos imaginar são possíveis - ou até mais que possíveis, prováveis - os esforços científicos, experimentais ou teóricos, que procuram determinar as leis do cosmos e entender a sua mecânica, são ilusórios, fúteis, redundantes.
E agora?

quinta-feira, outubro 09, 2014

O regresso do Princípio Antrópico.

 "We live in a very special time. The only time when we can observe and verify that we live in a very special time!"
Lawrence Krauss | Life, the Universe and Nothing.
























O gráfico em cima ilustra a mais louca conclusão científica das últimas décadas: o Homo Sapiens vive no momento certo da história do universo para se dedicar à cosmologia. Uns biliões de anos atrás e a densidade excessiva da matéria atómica dar-nos-ia uma visão deturpada da realidade. Uns biliões à frente, a energia negra tomará conta do universo, afastando as galáxias umas das outras de tal forma que, daqui a uns triliões de anos, um astrónomo não encontrará mais no universo que uma galáxia apenas: a Via Láctea. Todas as outras galáxias, que a Constante Cosmológica (força cósmica que contraria a gravidade ou energia negra) "empurra", em certos casos a uma velocidade superior à da luz, para longe, ficarão simplesmente para lá do horizonte observável. Para todos os efeitos do observador, desaparecem.

Não deixa de ser curioso que a civilização humana tenha surgido na convergência destas duas densidades, na altura em que elas se cruzam e equilibram para dar aos astrónomos a melhor visão possível do cosmos. Um outro universo, com uma Constante Cosmológica de densidade maior, nunca permitiria à gravidade (uma força relativamente fraca) a congregação das estrelas e dos sistemas solares e, logo, a existência de astrónomos. Uma constante cosmológica de densidade menor, em que as forças gravíticas tivessem mais protagonismo, levaria a um universo condenado a uma implosão precoce, reduzindo muito e de novo a probabilidade de desenvol-vimento de uma raça de mamíferos curiosos, que usam lentes para observar o céu nocturno.

Esta hipótese pode parecer disparatada, mas vale a pena pensarmos nisto com alguma profundidade. Se a soma de toda a matéria negativa e positiva do universo dá resultado zero, como parece ser hoje geralmente aceite, o Big Bang não precisou de energia para acontecer. Simplesmente nasceu do nada. Sendo a sua génese assim tão económica como espontânea, é apenas justo pensar que aconteceram entretanto mais big bangs que deram origem a outros universos, que se regem por leis necessariamente diferentes; e serão tantos os universos como as leis regentes que pudermos conceber, ou mais. É claro que esta hipótese - a de haverem tantos universos que qualquer sistema cosmológico é não só possível como provável, condena a ciência, como a conhecemos, à pena máxima. Neste contexto, para sermos sábios basta sermos imaginativos. Ou sabermos qualquer coisa de matemática. Não precisamos de físicos nem dos astrónomos para nada.
De qualquer forma, se existem muitos e muito diferentes universos e a Constante Cosmológica pode variar e variará em cada um deles, só naqueles em que a densidade dessa Constante está perto dos valores que observamos no nosso universo é que se poderão eventualmente formar galáxias, estrelas, planetas e... astrónomos. Podemos assim conjecturar com alguma confiança que um universo sem astrónomos será muito diverso do nosso. Logo, este nosso universo é como é precisamente porque nele existem astrónomos.

E eis que regressa o homem, esse símio de infinita pretensão, ao centro do seu cosmos.


Mas não acreditem em mim, que sou leigo. O Professor Lawrence Krauss explica tudo isto muito bem e, claro, muito melhor que eu, aqui:

Poema da cadeira de baloiço.

Tenho navios escola ancorados nos meus sonhos e caravelas a zarpar
nos poemas que ainda não escrevi.
Sou marinheiro, no abstracto.
Sou das marés, por defeito.
O Atlântico é a minha religião de ser Português
e tenho memória das odisseias que esqueci
e sou profundamente marítimo na minha quietude de doca seca
e sou profundamente aventureiro na minha cadeira de baloiço
e vou e venho do infinito para o infinito
na doce oscilação deste balanço.