quinta-feira, maio 21, 2015

Poema do homem que não morre.

O homem que não morre fala mais alto que as palavras.
Rima com a vida enquanto versa em liberdade.
   
É maior que os plátanos, é mais alto que as sequóias porque
engana a morte.

O homem que não morre dá ordens em voz alta.
Diz assim aos deuses: "Vão para a puta que os pariu. Eu mando mais."

O homem que não morre anuncia o seu livro de poemas enquanto lhe estão
a substituir o fígado.

(A imortalidade é ter um gajo qualquer a ler poemas teus no momento em que
estás a mudar o filtro).

O homem que não morre dirije-se aos homens que morrem com voz grossa
e saudade de bebedeiras.

Há, no homem que se recusa a morrer, um regresso à coragem:
a vontade indomável de Prometeu.

Há, nesse insolente, uma fome insaciável de existir, uma sede irrecuperável
de versos furiosos, delicados, permanentes.

Sim, sim, puta que pariu os deuses.