sábado, outubro 10, 2015

Da poesia chinesa.

Já coloquei aqui, em Setembro, dois pequenos excertos do espectacular "Quinhentos Poemas Chineses", edição da Vega, coordenada por António Graça de Abreu e Carlos Morais José. Vou deixar mais alguns, sempre que para aí estiver virado. Hei-de depois escrever eu próprio alguma coisa sobre este livro, que, de facto, ensina a qualquer ocidental uma ou outra lição de humildade.

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Canção do Sofrimento

A minha força sacudia as montanhas,
A minha alma sombreava o mundo.
Mas mudaram os tempos,
Já não galopa o meu cavalo baio.
Se já não galopa o meu cavalo baio
que posso eu fazer?
Ah, minha pobre Yu,
qual será o teu destino?

Xiang Yu (232 - 202 a.C.)
Trad. António Graça de Abreu


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A saia caiu

De pé, diante da janela, as sobrancelhas por pintar,
seguro a saia, desaperto os laços de seda.
As roupas voam, tão fáceis de abrir!
Se a saia cair, a culpa é do vento.

Zi Ye (? - 386)
Trad. António Graça de Abreu


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132. Chicoteio o cavalo, atravesso a cidade deserta,
a cidade deserta perturba o viajante.
Elevadas, baixas as velhas muralhas,
grandes, pequenos os túmulos antigos.
Estremecem as sombras de teixos solitários,
o vento assobia em árvores sepulcrais.
Suspiro diante de tantos ossos esquecidos,
na história dos imortais, nem um destes homens.

Han Shan (700 - 780)
Trad. António Graça de Abreu