quinta-feira, agosto 27, 2015

No silly season #5



24 horas de tráfego nos 5 aeroportos que servem a cidade de Londres. Um magnífico comercial da NATS, a controlodora aérea inglesa.

terça-feira, agosto 25, 2015

Nerd Republic



The Elwins . So Down Low

Uma cambada de coninhas.


Esta "black sunday" (termo que é logo à partida desproporcionado para o que aconteceu hoje), só vem confirmar o que penso há muitas décadas sobre os mercados financeiros: a economia global não pode depender assim tanto desta corja de cobardes, desta canalha de gananciosos completamente desprovidos de tomates, desta gentalha medrosa e bárbara e ignorante que vende com base no susto mais inócuo, que compra no fundamento da ganância mais imediata. Parte-se do princípio que as pessoas que investem dinheiro nas bolsas de todo o mundo serão capazes de dois ou três exercícios racionais que são óbvios e que têm, ainda por cima, registo estatístico e histórico. Mas, desgraçadamente, não é isso que acontece.

Não há, desde que os deuses da economia inventaram o conceito de bens transaccionáveis, negócios que sejam chorudos para sempre. Pelo contrário, toda a gente com um mínimo de senso sabe que os bons negócios são essencialmente fenómenos efémeros. É aliás por isso que são bons negócios. O conceito de oportunidade não pode ser estranho ao investidor. E se agora surge uma boa oportunidade para investir no bem x isto quer apenas dizer que esse bem x será, no futuro, um negócio não tão bom. Isto é tão básico que até faz impressão.

Ora, parece que o médio capitalista, que aposta na bolsa quando a bolsa prospera, não está preparado para perder dinheiro quando a bolsa é menos generosa. Acontece que a bolsa só existe precisamente porque tem momentos bons e maus. Sem momentos bons e maus, não fazia sentido investir na bolsa. Acontece, ainda por cima, um facto absoluto: quem investe nos mercados de forma diversificada, lúcida (quero dizer, sem pensamento mágico) e a longo prazo, acaba invariavelmente por ganhar muito dinheiro. Os números são, neste aspecto, indesmentíveis.

Ainda assim, o "comportamento dos mercados" é completamente esquizofrénico. Para o investidor médio, basta que um qualquer Bandarra dos tempos modernos anuncie o apocalipse zombie para isso ter um efeito significativo na sua carteira de investimentos. Se o petróleo fica mais barato, vende. Se o petróleo fica mais caro, vende. Se o Yuan sobe, vende. Se o Yuan desce, vende. Se o mercado imobiliário rende loucamente, vende. Se o mercado imobiliário cai naturalmente na realidade, vende. A vender, o sujeito é um místico, embora cauteloso: vende por oráculo, vende por profecia, vende por revelação, vende por pressentimento, vende por medo do que lhe dizem no telejornal. Mas a comprar apresenta-se como um materialista aventureiro e sonhador: só investe quando a perspectiva de lucros é insana.

Seja como for, ainda podemos pensar, com algum paternalismo; ainda podemos admitir, com alguma condescendência, que o capitalista médio não é completamente um sapiens. Que dinheiro não significa nada para além de dinheiro e que muitos detentores do capital accionista mundial não têm educação, inteligência e sensibilidade para mais do que o bárbaro prazer de apostar num combate de pitbulls. Mas o argumento seria apenas aceitável se os capitalistas de capitania alta não procedessem exactamente como os capitalistas de capitania mais baixa. Lamentavelmente, os últimos portam-se tão mal, ou melhor, que os primeiros. Até à queda do antigo regime, os pobres sempre puderam contar com a tremenda liberdade de não servirem de exemplo a ninguém. Cabia aos mais afortunados o fardo e a chatice de, pelo menos, parecerem tão honrados como a mais suspeita das mulheres de César. Os tempos modernos trouxeram porém esta nova barbaridade: até os ricos se portam realmente muito mal.

A histeria por isto e por aquilo, que custa milhões de milhões a toda a gente mas que só é perdida por uns quantos imbecis que deviam estar impedidos de jogar Black Jack no Casino Estoril e que apostam estúpida e ingenuamente a saúde financeira mundial na perspectiva tão estúpida como ingénua de um eldorado qualquer; a mais espúria ignorância das regras elementares da economia e da sua natureza orgânica, estatística e, sobretudo, não científica; a desfaçatez totalista de comprar e vender segundo princípios filosóficos de mau agiota; a infeliz demência aritmética de quem acredita que o ouro cresce nos prados e que, por isso, cai rapidamente no mais tolo dos fatalismos - muitas vezes, vezes sem conta, a propósito dos mais inóquos, insignificantes e imateriais motivos que se possa imaginar-; a simples iniquidade do pânico fácil; a omnipresente lógica de rebanho; são, de todo em todo, fenómenos indesejáveis à necessária sanidade global.

A imprensa, claro, não ajuda nada. Sempre que os capitalistas apresentam o seu medíocre espectáculo de incompetência e fragilidade constrangedoras, há um festim nas redacções. Os jornalistas pensam que se vingam dos ricos, noticiando as suas falências de tudo. É mais que óbvio que tal sensação não tem correspondência material. Quanto menos ricos são os ricos, menos dinheiro disponível vão ter para pagar os salários dos jornalistas que têm ao serviço. E não há jornalistas hoje que não estejam ao serviço de um rico qualquer.

Até 2007, a imprensa tinha o trabalho facilitado porque a culpa era sempre dos capitalistas americanos, uns poucos saloios do Texas, que usam cartola e que gostam de cavalos e de helicópteros com metralhadoras. Hoje em dia, a tarefa é um pouco mais complicada, muito por causa da China, este país simpático que reúne um terço da humanidade sobre o tecto de uma ditadura comunista, enquanto age com imenso à vontade e inconfundível maniqueísmo nos palcos do grande capital. Agora que a culpa já não é toda, inteirinha, dos americanos, agora que os mercados internacionais entram em pânico porque a China só está a crescer 7% ao ano, como se fosse possível a uma nação manter crescimentos de dois dígitos para toda a eternidade; agora que o petróleo voltou ao seu valor normal, muito simplesmente porque se chegou à conclusão óbvia que há petróleo em abundância e em abundância para as gerações que se seguem; agora que reina a incerteza e o caos, agora que o gps da razão ideológica percorre lugares não cartografados, não há explicações fáceis.

Quero dizer, a explicação é difícil, mas é sempre a mesma: as pessoas são incrivelmente estúpidas. Brancos e pretos, homens e mulheres, adultos e crianças, ricos e pobres. Somos todos incrivelmente estúpidos.

Eu até sou um gajo que costuma defender os ricos porque sem ricos não chega sequer a haver pobres. Sem os ricos não há civilização, no sentido em que a entendemos. E é claro que os ricos que temos hoje não têm culpa de serem os indigentes que são. Digam o que disserem, o conjunto social é o primeiro e o último responsável pelas suas elites. E, regra geral, cada sociedade tem as elites que merece. Se temos os ricos que temos - uns coninhas de merda - a culpa é nossa. Quero eu dizer: a culpa é dos pobres.

Mas ainda assim, este histerismo todo deixa-me os nervos alterados. Este perder de milhões sem nenhuma razão sólida, este desperdício de futuros, deixa-me o cerebelo todo arrepiado com os calafrios da consciência de classe.

quinta-feira, agosto 13, 2015

No silly season #4



Neste fantástico trabalho da Orbital Mechanics, são cartografadas por ordem cronológica todas as detonações atómicas ocorridas desde que os rapazes de Openheimer testaram a Trinity no deserto do Novo México, em 1945. São 2149 detonações, nos últimos 70 anos. Se pensarmos que destas 2149, apenas duas foram efectivamente utilizadas para matar pessoas, rapidamente chegamos à conclusão que as coisas podiam ter corrido muito, mas muito pior. Sorte?

quarta-feira, agosto 12, 2015

Jornal de Letras - Edição Especial - Alemanha Ensaguentada, de Aquilino Ribeiro.


Crónica publicada a 30/06/15
Nem modernista nos fundamentos nem neo-realista militante, Aquilino Ribeiro (1885-1963), um dos mais notáveis prosadores da língua portuguesa do século XX, ficou com a posteridade comprometida por causa da sua identidade vernacular de beirão e por causa do seu cepticismo natural. Uma injustiça enorme, claro. Aquilino devia ser muito mais lido, hoje. Devia ser muito mais editado. Devia ser muito mais discutido. Convenhamos, Aquilino Ribeiro escrevia como um imortal.

Alemanha Ensanguentada (Bertrand Editora, 2015) é pura literatura de viagem, do género clássico. Tem de Homero a tendência fatalista e a visão crua, de Heródoto a substância da realidade e o sentido crítico e, de Jonathan Swift, o bom senso e a predisposição. O humanismo, claro, é moderno, mas a virtude da profecia, abundante nestas páginas, é de uma antiguidade sagrada. Não porque ler Aquilino seja viajar para trás. Trata-se sobretudo de transcender a linha do tempo. E esta é uma boa maneira de definir a grande literatura.

Republicano ou anarquista, envolvido directa ou indirectamente no regicídio de 1908 (essa conversa não vem agora para esta conversa), a verdade é que Aquilino Ribeiro acaba por ser condenado às alegrias do exílio: vai estudar para a Sorbonne onde conhece a alemã Grete Tiedemann, com quem irá casar em 1913. No desequilíbrio do eixo Paris-Berlim, estabelece-se nele um claro balanço teutónico, e o autor de “Quando os Lobos Uivam” nunca percebeu as razões dos aliados em 1914. Nem concordou com participação portuguesa na I Guerra Mundial.

Depois de ter conhecido bem a Alemanha antes da guerra, Aquilino volta à pátria da sua mulher em 1920 e este é o diário desse regresso. Estruturado por capítulos breves mas extremamente poderosos – na prosa e na substância -, o livro é um périplo sombrio pelas cidades, pelas aldeias, pelos cemitérios e pelos campos de prisioneiros de uma nação-pesadelo. De uma Alemanha humilhada, esfomeada, espoliada, impura. De joelhos. E, ainda assim, ameaçadora.

Alemanha Ensaguentada, Bertrand Editora, Aquilino RibeiroLogo na fronteira, Aquilino detecta o mal-estar com a derrota e o mal viver com a arrogância de belgas e ingleses em território alemão. Depois, já em Berlim, faz notar que os dois milhões de mortos não têm consequência na demografia da cidade, que está à pinha. E que definha entre a grandeza imperial e a mais pungente miséria. Oficiais das altas instâncias públicas trocam duas fatias de pão por um favor ou por uma cortesia. Não há leite para as crianças e não há carvão para aquecer as casas, e tudo o resto escasseia e encarece desmesuradamente. A multidão urbana é esquálida e pálida, feita de silhuetas subnutridas e trémulas, verdadeiros e falsos inválidos da guerra (consoante são pedintes honestos ou profissionais), mães aflitas que percorrem as ruas na vã expectativa de encontrarem sustento para seus filhos; gente e mais gente que veio da desesperança das aldeias e das colónias e dos territórios ocupados para o terrível engano de Berlim, onde até os outrora orgulhosos, espadaúdos e numerosos soldados do kaiser são agora pequenas sombras famélicas e envergonhadas, em número insignificante.

Todo o livro faz luto pela Alemanha, mas os primeiros capítulos são especialmente soturnos. Só que esta soturnidade vem embrulhada na prosa operática e no léxico vernacular de Aquilino Ribeiro. Os esfomeados são malcomidos. Uma vilania é uma sevandijaria. Os lábios das crianças chilream com a fome. As paredes metralhadas têm bexigas. A paz de Versalhes não foi forjada, foi furjicada. E o céu de Outubro na Prússia é assim descrito: “Um sol muito zarolho e indefinido boia por detrás da vidraça fumada do céu outoniço. Não dá luz nem calor. É um lampião de azeite.” A escrita é exuberante sem prejuízo do pudor. É eloquente mas não é retórica. E tem a qualidade técnica da alta resolução. O autor é incansável na arte fotográfica: no retrato dos personagens como na panorâmica paisagística, é dado ao leitor todo um quadro sensorial que promove o necessário mergulho noutra dimensão do espaço-tempo.

Mas, muito para além do sofrimento, Aquilino também regista o profundo sentimento de revolta que grassa generalizadamente, ao qual será consequente a ideia de vingança. Os alemães guardam as suas armas para “o dia do desforço”. Espingardas, metralhadoras, granadas e lança-chamas estão em pausa mas, apesar da pressão dos Aliados e das tentativas do governo, não são entregues às autoridades. A humilhação a que Versalhes condenou o teutão comporta riscos e esses riscos implicam, por diversas vezes, conclusões proféticas.

A dado passo, Aquilino Ribeiro antecipa a ascensão de Adolf Hitler, dois anos antes deste assumir a liderança do que viria a ser o Partido Nacional Socialista e treze antes de chegar a chanceler: “O povo germânico tem necessidade de ocupar a imaginação com alguém ou alguma coisa que pelo tamanho e prestígio personifique o extraordinário. Mas onde está essa figura de proa? O Kaiser é o bronze partido à martelada de que fala Nietzsche. Hindemburgo não passa de um gigante com pescoço de toiro, bastante rebarbativo e intratável, de ignorância enciclopédica para tudo o que não seja a arte da guerra. Lundendorff, inteligência mais dúctil e penetrante; verga sob a responsabilidade da derrota. Mackensen, o invencível, não soube criar idólatras. Se aparecer um aventureiro, resoluto e de maus fígados, que se confie numa vaga e apocalítica ideologia, que bata o pé ao vencedor, misto de Anticristo e de Lohengrin, tem povo.”

A relação dos alemães com os deuses transforma-se, também e perigosamente, pela força do que se sente como uma injustiça dos céus para com um povo devoto; até porque “ao contrário do judeu de alvar ingratidão para com as divindades, o germano era agradecido.”Esta frase arrepia, mas é completamente característica do potencial adivinhatório que encontramos na análise de Aquilino.
À conversa com o carismático e lapidar capitão Von Herz, que odeia o Kaiser por ter sido um líder excessivamente pacifista (!), o autor confirma as suas suspeitas de que o problema alemão não ficou de todo resolvido com a derrota na Grande Guerra, e que fica todos os dias mais complicado com a gestão draconiana que os aliados fazem da vitória. Tanto mais que a orfandade a que a fuga do Kaiser condenou os alemães pode ser rapidamente compensada por um tiranete de trazer por casa.
Mas, em diálogo com Tcheliabinsky, o sargento russo cativo num dos campos de prisioneiros criados em território alemão para os rendidos da Batalha de Varsóvia (uma tentativa falhada de invasão da Polónia pelos sovietes em 1919, de que hoje pouco se fala), Aquilino sublinha também a ameaça de Moscovo: Tcheliabinsky, desassombrado e fanfarrão, assume que os objectivos estratégicos do politburo passam pela sovietização de toda a Europa e pela constituição continental de um império do proletariado, cuja massa crítica contribuiria decisivamente para o sucesso da mãe de todas as batalhas – a guerra à América. E a Alemanha, espoliada e ajoelhada pelo grande capital, seria naturalmente a nação locomotora deste movimento imparável rumo aos amanhãs cancenotistas.

Conhecedor profundo da história da Alemanha e do contexto político à altura da sua visita, Aquilino Ribeiro escalpeliza muito claramente os dilemas e os falhanços da República de Weimar, que se encontrou invariavelmente entre o mandato brutal de Versalhes e as ambições geo-estratégicas de Moscovo. Não é preciso ser um perito em história contrafactual para perceber que a Alemanha, nos anos imediatos à conclusão da guerra, esteve a um passo da revolução marxista-leninista e que, como em muitas outras situações, as coisas podiam ter ocorrido de forma completamente diferente. Na visão do grande prosador de Sernancelhe, a república de Weimar, ideologicamente depauperada e condenada ao compromisso, foi servil com os aliados mas nunca recebeu destes a gratidão devida por evitar o comunismo nos territórios germânicos.

Os Navios, cinco mil locomotivas, cento e cinquenta mil vagões, toda a espécie de armas, obras de arte dos grandes mestres, uma parte de Schleswig, a Alsácia de cepa germânica, as comunas de Eupen e Malmedy, a província de Posem, o hinterland de Danzig, condicionalmente a bacia do Sarre, as entregas fabulosas de carvão, a ocupação do Reno custeada pela Alemanha à razão de 17 milhares de marcos ao nao, as colónias todas, talvez a Silésia, mais agulhas e alfinetres, e ainda uma indemnização de quantitativo a fixar, hiperfabulosa. (…) Não sei, mas estou em crer que da paz forjicada tão torpemente em Versalhes ou sai uma Alemanha com todos os instintos da fera que foi traquejada, pronta a dar o salto no momento oportuno, ou uma Alemanha que há-de acabar por se entregar a Lenine de alma e coração.

Aquilino Ribeiro é um germanista confesso – o que não deixa de ser curioso, para alguém que tinha sido preso no seu país por acusações de anarquia – e a sua visão é muito crítica dos aliados. Na maior parte dos casos, por maioria da razão que a história lhe veio dar, em outros por ignorância das realidades históricas, das quais estava demasiado próximo no tempo e no afecto para fazer uma leitura objectiva. Aquilino acredita que a Inglaterra queria a guerra quando hoje sabemos bem que não foi esse propriamente o caso. Edward Grey, o célebre ministro do Foreign Office e um dos principais actores do verão louco de 1914, acabou de facto por contribuir para o desenrolar catastrófico dos acontecimentos. Mas, essencialmente, por não querer a guerra, e por nem ser capaz de imaginar que os alemães fossem realmente desejá-la.

“Alemanha Ensanguetada” é uma obra geralmente apresentada como a crónica de uma viagem à Alemanha quando, na verdade, são duas as viagens que relata. Em 1927, Aquilino faz o sinistro roteiro dos campos de batalha do nordeste francês e acrescenta, a este já pesado diário, as insustentáveis toneladas desses dias. O registo oscila entre a mestria descritiva e o tom necessariamente lúgrube e a coisa vai fluindo mais ou menos assim: “Raro se lobriga ramo nos horizontes, a metralha ceifou as árvores e as que restam são mais sinistras que justiçados abandonados aos corvos no viso dos outeiros. Ler Aquilino Ribeiro é sempre gratificante. Até quando ele caminha sobre cadáveres.

Por fim, em Lacouture, o autor confronta-se, horrorizado, com o seu país e a sua língua. Ergue-se neste campo fúnebre, adubado de sangue português, um desastrado monumento (inscrito com um canto do Camões, barbaramente traduzido) e que presta rendida homenagem de Portugal à França. Na presença póstuma da heroicidade lusitana, o governo português decidiu agradecer aos franceses por serem franceses, e não aos seus soldados por terem morrido a defender a França. E isto, para epílogo, não está nada mal.

José Gomes Ferreira dizia de Aquilino que sabia mentir a verdade. “Alemanha Ensanguentada” está carregada de verdades. E algumas delas duram para sempre. Ficam para a grande mentira que é a história.

sábado, agosto 08, 2015

No silly season #3



Uma pequena e pioneira viagem por Ceres (a partir das imagens capturadas pela sonda Darwin), o planeta anão localizado entre Marte e Júpiter.

sexta-feira, agosto 07, 2015

Poema do Cão Simão

Tenho um cão que é cego surdo.
Está aqui intacto aos meus pés e para chegar aqui intacto
deu uma série de cabeçadas no universo.

Poc. Poc. Poc.

Tenho um cão que é cego surdo.
Estende-se sobre as rodas instáveis da minha horrível cadeira de trabalho
como se nada fosse.

Zzzzz.

Tenho um cão que é cego surdo.
Adormece as dores da idade num suspiro bronco de paz tranquila
e é na verdade um cão feliz.

Ronc.

A música como deve ser a música.



George Frideric Handel a bombar sobre um filme de Stanley Kubrick. Que mais podemos querer da vida?

No silly season #2



Filmar a violência, segundo Kubrick. Ou a Laranja Mecânica no século XVIII. Ou o cinema como deve ser o cinema.

quinta-feira, agosto 06, 2015

O cinema como deve ser o cinema.



Confesso que sou um ignorante e um imbecil. Mas, desde ontem, sou um pouco menos ignorante e, assim, talvez menos imbecil do que fui até aqui. Apesar de Stanley Kubrick ser, de longe, o meu cineasta preferido, nunca tinha visto este filme absolutamente lindo. Este filme absolutamente irrepreensível. Este filme obra prima, que data do ano paleolítico de 1975 mas que bomba como se fosse um épico do século vinte e dois. A quantidade incrível de momentos de perfeição plástica que cabem nestas 3 horas de génio não tem paralelo em nada que tenha visto na vida. E a história gloriosa e dramática deste oportunista filho da mãe, a ascenção e a queda deste operático boneco de trapos que é Barry Lyndon, vale por não sei quantas décadas de merda e mais merda que temos que suportar na senda de um filme que realmente valha a pena ver.
Quem gosta de cinema tem aqui uma espécie de subida aos céus. Um bocadinho de eternidade.

No silly season #1


terça-feira, agosto 04, 2015

Leonard Zombie.



Já tinha deixado de ligar ao grande Leonard Cohen há umas décadas, mas esta música, que cai com perfeição no poderoso genérico da segunda época de True Detective, trouxe-me outra vez à sua feliz companhia. Espantoso.

Tabacaria Dois Mil e Quinze

Volto ao zero,
donde nunca saí, submisso.
Não cheguei a ser o que pensei que seria,
nem mostrei vero,
o que é omisso:
não há tabaco na tabacaria.

Regresso ao fracasso
e ao compromisso,
falido de futuro e falhado da fantasia.
Já fui duro como o aço,
mas deixei-me disso:
não há tabaco na tabacaria.

Decaio no abismo
com um pára-quedas postiço.
Apesar do medo, da vertigem e d'alergia,
recuso o alarmismo
e aceito o enguiço:
não há tabaco na tabacaria.

Volto pela estrada
que nunca fiz, ao serviço
de todos os campeões da vilania.
Não sou nada, nunca serei nada
e, à parte isso,
não há tabaco na tabacaria.

Não sou nada, nunca serei nada
e, à parte isso,
não há tabaco na tabacaria.