sexta-feira, outubro 25, 2019

Kobayashi e as abelhas.



vou-me embora —
arrendei a minha casa
às abelhas



flor aberta
uma abelha penetra-a
com o ferrão



a minúscula abelha
pensa em grande
flores do aniversário de Buda



as abelhas do campo
passam zumbindo
por dentro do templo


as abelhas com filhos
trabalham freneticamente
e recebem o seu salário



as abelhas
em volta do poste
reunião de condomínio




Kobayashi Issa . Os Animais [haikus] 
Assírio & Alvim . Versão em pt: Joaquim M. Palma

Sim Racing Beauty.

A propósito do último post, aqui fica o espectacular trailer da actualização V1.1 do Assetto Corsa Competizione, testemunho puro e duro do estado da arte moderna em simulação de corridas.


quinta-feira, outubro 24, 2019

O real e o virtual à mistura.

O Sul-africano David Perel é piloto em duas dimensões: na vida real conduz o Ferrari 488 GT3 Pro Am da Rinaldi Racing na Blancpain GT Series; e no palco virtual é um habitual ganhador de corridas online no Gran-Turismo, no iRacing e no Assetto Corsa.
O que vemos nos primeiros minutos deste vídeo é bem eloquente sobre a mistura explosiva que ocorre hoje em dia no automobilismo: os pilotos das corridas reais começam a aparecer nas corridas virtuais e os pilotos das corridas virtuais começam a aparecer na corridas reais. Cada vez mais. Neste caso super giro, David Perel escolhe, no Asseto Corsa, o carro que conduz realmente. Um momento verdadeiramente meta-fenomenal.


domingo, outubro 20, 2019

Enquanto o co-piloto reza pela vidinha, Vatanen segue prego a fundo.

1983. Ari Vatanen, provavelmente o mais destemido e espectacular piloto de ralis da história do automobilismo, acelera o seu Opel Manta 400 pela Ilha de Mann como se não houvesse amanhã. A certa altura (2'09" do vídeo) bate num muro do seu lado esquerdo e - milagrosamente - consegue equilibrar o carro e evitar a colisão a alta velocidade com um portão. Ainda assim, o filandês continua teimosamente a carregar com o pé na tábua, independentemente do furo que a batida provocou, do nevoeiro que entretanto se instala, da estrada escorregadia com precipícios a centímetros do asfalto e de qualquer vestígio de bom senso. Cinco minutos épicos.


sábado, outubro 19, 2019

Sinais do tempo.

O patrão sinistro do sinistro Facebook concedeu recentemente à impecável Dana Perino uma muito surpreendente entrevista em que - pasme-se - defende a liberdade de expressão.
Não que a pratique: o Facebook é uma máquina de censura tão porreira que obedece perfeitamente ao critério do Partido Comunista Chinês, com que Zuckerberg adora fazer negócio.
Ainda assim - e sem problematizar muito os motivos que o levaram a proclamar a heresia - é de louvar este desvio à política oficial dos últimos anos.



No entretanto, os atrasados mentais do Extinction Rebellion decidiram bloquear o metro de Londres na estação de Canning Town, pelas 7 da manhã de ontem.
Parece que até o metro, que é eléctrico e transporta muito apertadinhas as classes mais desfavorecidas da grande babilónia britânica, é um veículo condenável para os histéricos do clima.
A escolha da estação também não foi propriamente genial: Canning Town é reconhecidamente um bairro de gente de barba rija. Ainda assim, os rapazinhos decidiram subir para cima das carruagens com aquela irritante superioridade moral e total indiferença perante a vida das pessoas que está a começar a tornar-se insustentável. O que aconteceu a seguir é absolutamente delicioso.
 



Não sou um defensor da violência, em princípio. Mas há aqui uns pontapés que são bem merecidos.
Uma nota: a violência foi iniciada por um dos "activistas pacifistas", que agride o rapaz que o tenta puxar para o chão.

quarta-feira, outubro 16, 2019

Budas das trevas.

Logo depois de Genghis Khan - o assassino que impera ímpar sobre a História Universal da Infâmia - vem Mao Zedong, exterminador de bastantes mais infelizes que o dueto sinistro de Hitler e Estaline em concerto afinado. Assim sendo, o actual Partido Comunista Chinês, accionista de facto de uma boa parte do capital de grandes corporações ocidentais e detentor de dívida soberana de uma quantidade aterradora de estados, é em simultâneo responsável material pelo segundo grande extermínio de que há registo na ensanguentada rábula dos homens.

Mas com a China ninguém se mete e a recente resolução do Parlamento Europeu, que equipara o horror do comunismo ao horror nazi, procura - formal e mediaticamente - evitar que qualquer salpico de crítica salte para o pano imaculável da bandeira do Império do Meio. Na notícia do Observador, boletim sempre muito obediente à cartilha mainstream, figuram apenas os dois satânicos marretas do costume: o russo e o alemão. Como se os totalitarismos de carácter marcadamente genocida, condenados na resolução, fossem uma particularidade geo-política: para cá dos Urais, matamos mais.

A anacrónica necessidade de votar uma resolução sobre este deprimente assunto é - em sim mesmo - espantosa. Pelos vistos, até aqui a posição oficial da União Europeia tem sido a de que o bom do Estaline tinha mais fama que proveito, que os Khmer Vermelhos eram anti-fascistas bem intencionados e que a família de presidentes da Coreia do Norte trabalha há três gerações para o bem da humanidade.

Mais a mais, a resolução permanece objectivamente falsa. Se os eurodeputados querem mesmo dedicar-se à discutível arte de medir o tamanho das pilinhas dos grandes homicidas, que o façam com rigor. O comunismo internacional matou duas ou três ou quatro vezes mais gente que o nazismo, até porque durou muito mais tempo; o tempo necessário para retirar qualidade de vida, liberdades e direitos a toda uma ópera de povos. Como produtor de infelicidade, o comunismo não tem rival pelo que a equiparação ao também tenebroso, mas muito menos bem sucedido regime nazi não é de todo credível.

Noto que a resolução recolheu 66 votos contra e 52 abstenções, pelo que temos 118 eurodeputados que são ineptos em Aritmética, ignorantes da História e destituídos de Moral. São muitos e são demais.

segunda-feira, outubro 14, 2019

Não há vida sem acto criador.

Ainda sobre o assunto do último post, o genial (é dizer pouco) James Tour, químico pós graduado em Perdue, Doutorado em Standford e Professor de Ciência de Materiais e Nano-Engenharia na Universidade de Rice, explica com enorme eloquência porque é que a ciência contemporânea chega facilmente à conclusão que existe um Criador por de trás da Criação.
Aconselho vivamente a toda a gente os próximos cinco minutos deste vídeo. A sério.



"Organisms care about life. Chemistry, on the contrary, is utterly indifferent to life. Without a biological derived entity acting upon them, molucules have never been shown to evolve toward life. Never."

James Tour . The Mistery of the Origin of Life

A pergunta fundamental.

Aos 52 anos, chego à conclusão que a questão ontológica fundamental é esta: pode a ciência provar a existência de Deus?

Stephen Meyer, filósofo e director do Discovery Institute's Center for Science and Culture dá um contributo muito sério para uma eventual resposta à minha prioritária pergunta. Quem tem interesse na relação entre a ciência e a religião, deve prestar a esta palestra a atenção que ela merece.

quarta-feira, outubro 09, 2019

Junk pop e os cientistas do vício.

O sacaninha do Rick Beato consegue por-me a ouvir coisas deliciosamente intragáveis, como esta aqui:



Mabel . Don't Call Me Up

É claro que este blog não costuma abrir janelas para o pop mainstream americano, espécie de junk food para os ouvidos que não consola nem eleva, mas que tem, aqui e ali, um encanto imediatista que é difícil de resitir. A excepção à regra deve-se ao Rick e ao eloquente vídeo que explica porque raio é que esta música da Mabel funciona cientificamente como um Big Mac melódico que sabe bem nas primeiras dentadas e deixa remorosos no estômago da sensibilidade.


segunda-feira, outubro 07, 2019

Thunderstruck rednecks.

Ou como os AC/DC podem ser revistos por uma banda folk. Brilhante.



Steve'n'Seagulls . Thunderstruck

Uma República pela metade.

Com a desonrosa excepção do CDS, que Cristas reconduziu espectacularmente à condição de partido taxista, toda a gente ganhou as legislativas de ontem. O PS, como era expectável, o PSD porque o inenarrável Rui Rio conseguiu escapar à mais que merecida humilhação (e isso, para a criatura, é em si mesmo uma vitória retumbante), o Bloco porque sim, porque é o Bloco e porque o Bloco é  por natureza um triunfo (como o dos porcos do Orwell), o PCP como sempre (não há memória de um partido comunista sair derrotado de um acto eleitoral que seja e é por isso que, historicamente, o comunismo sempre procurou anular rapidamente o fastidioso acto eleitoral), o PAN porque é um fenómeno poltergeist, o Chega porque é insuportável e isso sempre dá votos, o Livre porque quer ser o Bloco quando for grande e a Iniciativa Liberal porque ainda há gente em Portugal (muito pouca) com algum optimismo e inocência bastante.

É mais que nítido, no entanto, que o resultado verdadeiramente significativo da fantochada eleitoral foi a abstenção, que obteve uma esmagadora maioria, segundo o critério de Hondt. Na altura que escrevo este post, 4,5 dos 10 milhões de eleitores registados ignoraram completamente o assunto da governação do País (eu também). E se somarmos à abstenção os votos brancos e os votos nulos, ficamos com quase, quase 50% para cada lado: uma República partida pela sua metade. Mas pelas caras sorridentes que vi, horrorizado e durante dez segundos, na televisão, pergunto-me: até que ponto é que os desgraçados intérpretes desta República vão continuar a assobiar para o lado, como se nada fosse? Qual é a percentagem de abstenção necessária para que esta corja perca a vergonha e reconheça o problema da legitimidade democrática e institucional que realmente existe? 60%? 70%? 80% de abstenção? Não creio. Depois de 45 anos de descaramento, a rapaziada formaria governo com 10 mil votos apenas. E de cara alegre, como sempre, porque o poder, mesmo que ilegítimo, é sempre um festival de contentamentos.

Tenho 52 anos. A minha vida está estabilizada e eu gosto dela. Não nutro, por isso, grandes desejos de revolução. Mas desconfio bem que esta cambada de palhaços ricos vai acordar um dia para uma muito desagradável surpresa. É uma questão de tempo. O tempo necessário para que a indiferença se transforme em ira.

domingo, outubro 06, 2019

Os patrões do rock contemporâneo estão de volta.

Inacreditavelmente, só me apercebi ontem que os Black Keys editaram um novo disco, sendo que a Obra foi lançada em Maio deste ano. Imperdoável lapso. Ainda não ouvi o disco, confesso, mas fica já aqui uma malha, embrulhada num clip super divertido, principalmente se considerarmos a ironia do enredo. É que, ao contrário do que vemos no clip, Dan Auerbach e Patrick Carney são os melhores amigos de que há registo na história da humanidade e, teórica e praticamente, incapazes de uma zanga que seja.



A prova da afirmação polémica com que termino o parágrafo anterior é esta deliciosa entrevista que os dois bons e velhos camaradas concederam a Joe Rogan, no mês de Setembro último. Bem sei que, como todas as entrevistas de Rogan, a coisa se estende muito para além do razoável, mas que vale a pena, lá isso vale.


Em busca da matéria perdida.

Uma equipa constituída por cientistas e engenheiros de todo o mundo está a construir no Arizona uma espécie de telescópio 3D - o DESI - que irá permitir, talvez, a detecção e identificação da energia negra, a força que constitui 27% da matéria cósmica e que é responsável pela expansão, a um ritmo exponencial, do universo e à sua alucinante perda de densidade. Se a complexa máquina experimental der resultados, comprovará que o modelo standard da física contemporânea ainda serve para alguma coisa. Caso contrário, mais vale começarmos do zero.
A ver vamos.


sexta-feira, outubro 04, 2019

Bom apetite.

No contexto da histeria colectiva a que chegámos com a versão Século XXI do apocalipse climático (e eu lembro-me bem de ser ameaçado até ao desespero com os vários apocalipses climáticos do século XX), isto já nem espanta:


terça-feira, outubro 01, 2019

Um buraco inventado.

Parece que não sou só eu que tem muitas dúvidas sobre a credibilidade científica da recente e famosa imagem atribuída a um buraco negro. E outrossim parece que estou bem acompanhado ao desconfiar que esta imagem não corresponde de todo a qualquer buraco negro pela simples e muito provável razão de que os buracos negros nem sequer existem. E, se calhar, seria uma boa ideia fazer prova de que eles existem pelo recurso ao bom e velho método científico e não através de uma imagem que se faz circular, com euforia espampanante, nas capas dos jornais de todo o mundo. O Professor Pierre-Marie Robitaille elabora sobre o assunto. E ele sabe do que fala.