sexta-feira, abril 03, 2020

O vírus mais letal.



Dennis Prager, o afável, combativo e valoroso fundador da PragerU está tão pasmado como eu: como é que se faz parar o mundo assim, por causa de um vírus que tem a mesma perigosidade da gripe? E é este um precedente para futuros vírus do género ou para futuras epidemias deste vírus? Vamos destruir a civilização de seis em seis meses? E - nesse caso - não devemos parar tudo por causa de outras doenças e outros fenómenos que causam equivalente mortandade?

Por exemplo, devemos deixar de utilizar automóveis porque, todos os anos, morrem bem mais de um milhão de pessoas no mundo em acidentes rodoviários? E considerando que 2,3 milhões de infelizes morrem todos os anos em acidentes de trabalho ou por causa de doenças decorrentes das suas profissões, devemos todos deixar de trabalhar?

E por que raio é que os jornais e as televisões não mostram quadros comparativos entre aqueles que morrem do vírús chinês e os que morrem da gripe comum? É que este ano, só nos Estados Unidos, já morreram 20.000 pessoas (entre as quais 136 crianças) por causa do vírus da Influenza. E em Portugal, no ano passado, morreram 3 mil pela mesma razão. E no mundo, são 250 a 500 milhões que deixam a existência, em cada ciclo à volta do sol.

A estratégia de combate ao C-19 adoptada por 99% das lideranças mundiais é deveras estranha. E estou cada vez mais convencido que visa acima de tudo e mais que as vidas humanas, proteger dois sistemas: o sistema dos serviços nacionais de saúde, porque o C-19 ameaça de facto a capacidade operacional destas estruturas - sejam públicas ou privadas - e o sistema regimental dos estados, pela simples razão de que as cúpulas políticas, empresariais e mediáticas das sociedades contemporâneas não estão nem psicológica nem operacionalmente preparadas para assumir baixas.

O problema, claro, é que o estado em que este irresponsável e suicida dirigismo vai deixar a o mundo, depois de debelada a epidemia (se é que é possível debelá-la) vai, de longe, gerar índices de mortalidade muito superiores ao que o C-19 conseguirá atingir. Não há nada mais mortífero que uma depressão económica. Multidões vão morrer às carradas por subnutrição, doenças, consumo de drogas e álcool, conflitos militares à escala regional e - no pior dos casos - à escala global. Se não temos maneira de prever quantas pessoas vão perecer por causa do C-19, mais difícil ainda é calcular a mortandade devastadora que esta paralisia civilizacional vai certamente provocar.

Mas se as grandes cabeças deste mundo acham que a quarentena é a única solução, quem sou eu para desafiar estas grandes cabeças?A não ser, claro, que estas grandes cabeças não sejam tão grandes assim. A não ser, claro, que entre as últimas décadas do século XX e as primeiras do Século XXI tenha surgido um fenómeno mais letal ainda que epidemias e depressões: a total desqualificação moral e intelectual das lideranças.

Porque não há pior vírus que o da estupidez.