sexta-feira, fevereiro 08, 2019

O regresso dos sovietes.

Esta é a terceira vez, em 51 anos, que sinto a urgência de combater o Socialismo.

Pensei que tinha ganho esta guerra em 1976, quando percebi que afinal os comunistas não iam ter qualquer hipótese de entregar a república recém nascida a um comité esquizofrénico de militares e apparatchiks, presidido por um caso clínico - Vasco Gonçalves - porque os portugueses recusaram na sua esmagadora maioria essa dantesca probabilidade; e pensei que tinha ganho, definitivamente, esta guerra em 1989, quando os desgraçados dos alemães que viviam sob o jugo de um estado socialista começaram a fugir desalmada e eloquentemente por entre as ranhuras de um muro vil, em colapso.

Pensei mal. Fui de vistas curtas. Esqueci-me que as gerações futuras poderiam não ter memória do que foi o Bloco de Leste. Do desastre que foi. Do inacreditável terror que foi. Julguei que não viveria o tempo suficiente para ver pessoas de 30 anos defenderem que o melhor futuro para a civilização ocidental é a sua sovietização.

Convenhamos: fui deveras inocente.

A certa altura do Discurso Sobre o Estado da Nação proferido no Congresso, terça-feira passada, Donald Trump viu-se obrigado a prometer aos cidadãos americanos que os Estados Unidos da América nunca serão uma república socialista (o vídeo em baixo sublinha esse momento). Houve muita gente que não aplaudiu: a maioria democrata do Congresso é significativamente constituída por socialistas.



Curiosamente e apesar desta maioria eleita, a verdade é que os americanos, na sua generalidade, estão de acordo com a promessa do seu Presidente porque, acreditando na CNN e na CBS, esclarecidas e oleadas máquinas de propaganda Never Trump, aconteceu isto:

Esta expressiva aprovação das audiências a um discurso, escrito por Stephen Miller, que é fortemente crítico do Socialismo, entre outros ismos, não invalida a melodramática ironia de os Estados Unidos serem hoje em dia o principal palco do combate entre as boas tradições liberais da governação ocidental e as mais niilistas revisões de Marx e de Lenine que se possam imaginar. O Socialismo está de volta com toda a força, como se não fosse uma escola de facínoras. Como se não fosse um projecto ruinoso em termos económicos, tanto como morais. Como se não fosse uma teoria falhada. Comprovadamente falhada. Historicamente falhada. Mil vezes falhada.

Falhou, espalhafatosamente, na Rússia. Falhou na Alemanha Oriental. Falhou na Roménia. Falhou na Hungria. Falhou na Polónia. Falhou na Checoslováquia. Até na Jugoslávia, que deve ser o exemplo menos falhado de todos, falhou completamente. Mas também falhou no Cambodja (e de que maneira, bom Deus), nos dois Vietnames de forma simétrica e, manifestamente, na China. Falhou no Brasil, falhou no Chile, falhou na geografia toda onde terá por breves e tristes momentos triunfado.

O Socialismo falhou e falha nos países nórdicos; falhou e falha em África; falha todos os dias e escandalosamente na Venezuela, na Bolívia, em Cuba e na Coreia do Norte. Não há, na gloriosa gesta socialista, uma puta de uma história de sucesso.

Mas o ressurgimento socialista, que é agora extremo nos Estados Unidos, é também crítico no Reino Unido: aposto um jantar no meu restaurante preferido que o próximo primeiro ministro ao serviço de Sua Majestade vai ser o infeliz Corbyn, que é um socialista dos antigos, ponto. E os londrinos até já têm um presidente da câmara que combina perigosamente a radicalização islâmica com o fanatismo marxista.

Este estranho e ignorante e ontologicamente irresponsável ressurgimento é há muitas décadas manifesto nos gabinetes de Bruxelas. Nos corredores do Eliseu. Nos lavabos do Bundestag. E, claro, por todo o lado da Assembleia da Terceira República Portuguesa. Para além do que é óbvio, convém não esquecer que o sinistro Francisco Louçã é Conselheiro de Estado e membro do Conselho Consultivo do Banco de Portugal. Sim, do Banco de Portugal.

Desde 1989 que penso, talvez de forma algo pretensiosa - admito, que estou do lado certo da História. Do lado da História que rejeita Hitler, tanto como Estaline. Do lado da História que preza acima de tudo a liberdade e - com ela - a responsabilidade individual e - com ela - a defesa do cidadão em relação à imanente e iminente ameaça totalitária dos governos e das ideologias. Do lado da História que separa a religião do estado e a política da justiça. Do lado da História que premeia as pessoas pelo que conseguem fazer na vida e não porque são de uma classe social específica, de um sexo específico, de uma raça específica, de uma tribo específica, de um clube de futebol específico, de uma agremiação de bandidos específica. Do lado da história que assume uma verdade fundamental: a condição humana define-se no confronto entre o bem e o mal. Em cada um de nós vive um potencial imenso de virtude e de infâmia. A cada um de nós cabe vencer essa interminável batalha.

Eu não quero que vençam essa batalha por mim. Até porque isso geralmente leva à abertura e subsequente preenchimento de incontáveis valas comuns. E não quero que vençam essa batalha pelos outros, que são meus aliados ou que são meus inimigos ou nem uma coisa nem outra. Até porque isso geralmente leva à inauguração e funcionalidade brava de bem organizados campos de extermínio. Viverei sob o sofrimento e a glória deste solitário combate, que não vai causar genocídios, porque é só a minha alma que está em jogo. E é esse jogo, acima de todos, que dá significado à vida.

É precisamente porque não quero entregar o significado da minha vida a ninguém, que nunca serei socialista. É precisamente por causa disso que, pela terceira vez na minha existência de 51 anos, sinto a urgência de combater o Socialismo.