domingo, julho 30, 2006

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- FASCÍCULO TRÊS -

Segismundo d'Ávila movia-se, de sorriso cáustico e cigarrilha fumegante, por entre a mole que cercava os bolinhos e os biscoitos com um afã que o escrivão da Junta registaria na acta como inequívoca colagem à arte, sem precedentes na história de outros sucessos e assembleias gerais regulamentares.
Foi por esta altura, quando os bandulhos estavam já agradavelmente confortados, que Segismundo se deu de frente com D. Hortense Luz - olhos nos olhos - ela ofegante, entumecida de calores e emoções a que, seguramente, o Padre Tristão não teria acesso no confessionário; ele crispado, tomado de fulgores que lhe ruborizavam o carão. Conta-se que lhe segredou algo junto do auditivo. Segundo depoimentos credíveis de circunstantes mais próximos terá declarado sem peias que as pendurezas em exibição não valiam a bosta de um boi, uma merda para reter nos anais da arte menor e, ainda, que o nabo e as nabiças mereciam menos do que simplesmente serem plantados nos escarninhos da sua opulenta rabada.
Consta que se gerou um movimento de viva contestação e no momento em que José Fagundes, no exercício das suas elevadas funções se aproximou, temeroso, para quebrantar o burburinho, já Segismundo d'Ávila rasgava brutalmente e de um só golpe o decote da artista até à cueca relampejante de multicoloridas lantejoulas e outras enternecedoras fantasias chinesas. O espanto geral deu lugar a um silêncio aterrador. Ruben Perdigoto, titubeante, de careta franzida e cinzenta palidez arrostou a fleuma da Segismundo.
- Herege!
Segismundo d'Ávila ajustou a gravata tom de abóbora madura e encarou-o, circunspecto.
- Sou agnóstico. A presunção de heresia não me atinge. Não há deus nem nesse seu cú sem vergonha.
Hortense, ainda mal refeita do golpe, erguia as mãos numa muda súplica, enquanto Segismundo alapava todo o peso da sua mão na pálida bochecha do temente rato de sacristia que, por deplorável acréscimo, ainda oscilante, recebeu, sem outros arrebiques de palavrosa agressividade, a lustrosa biqueira de fino sapato da Charles no delicado e justo lugar do vaso testicular, caindo logo após na fria pedra do salão nobre da junta do senhor Fagundes.
Pelo que se diz, pouco restou de apendice testicular à piedosa criatura, o que, valha a verdade, sempre era coisa de menor valia.

(cont.)

domingo, julho 23, 2006

A primeira praia.

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Esta é a primeira praia marítima de Portugal, para quem desce da Galiza, ou a última, para quem sobe de Viana do Castelo. Chama-se Praia do Moledo e a imagem não lhe faz justiça porque foi tirada da marginal, que não acompanha a sua magnífica extensão nem alcança a espectacular foz do Rio Minho, onde há quilómetros de um areal imaculado, deserto, selvagem e encantador. Onde tive apenas por companhia o Forte do Cão, insular ameaça de canhões apontados para a margem espanhola; o oceano, que rebenta em branco puro sobre o verde profundo da maré; a brisa suave, que me acariciou o corpo e que me refrescou a emoção; a areia grossa, autêntica, brilhante; o cheiro marinho do meu país que assim começa.
Sempre achei que a norte do Tejo não havia condições de veraneio, mas aqui, no Moledo, localidade vizinha de Caminha (722 anos de foral!), orla mágica do Minho, princípio e fim de Portugal, encontrei uma das praias mais bonitas que já vi. Sim, aqui mesmo, ofereceram-me os deuses do olimpo lusitano um dia simplesmente perfeito.

sábado, julho 22, 2006

Sobre a moral da guerra.

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Tenho ultimamente ouvido - e lido - grandes desvarios sobre os acontecimentos do Médio Oriente. O desvario que mais tem pegado é o de que Israel está a reagir às actividades pacifistas do Hezbolah sem o devido sentido das proporções. No Expresso, a D. Clara Ferreira Alves, sabe-se lá porque raio de delírio diftérico, pôs-se a escrever umas coisas sobre o assunto (estou-lhe mesmo a ver a expressão sobranceira de quem leva a luz às massas): pelos vistos, os israelitas deveriam estar conformados com o facto de serem o alvo natural dos rockets que, com regularidade suiça e pontaria desastrada largam do sul do Líbano. O Estado de Israel deveria habituar-se às bombas que explodem - estas sim - indiscriminadamente nas suas ruas. Não é agora por uns soldadinhos terem caído na ratoeira que há desculpa para ripostar. A D. Clara Ferreira Alves confirma, do alto de seu saber perito, que é despropocionada a ofensiva militar, cujo comandante em chefe é um homem laico, eleito por processos democráticos no contexto de um estado de direito. A D. Clara Ferreira Alves não acha que é despropocionada a selvajaria primeira, perpetrada por uma corja de bandidos profissionais, bárbaros sacerdotes e assassinos de deus, uma organização que é fascista a sério, criada e alimentada pelo Irão, país simpático e cordato, que toma há décadas como refém o povo do sul do Libano (a Síria tem coutada mais a Norte). Que eu saiba, a D. Clara Ferreira Alves nunca escreveu sobre os libaneses que morreram às mãos de Arafat ou de Khomeini ou de Hafez el Assad, mas faz questão agora de se lamentar por Beirute.
É verdade e, caramba, imensamente lamentável, que estão a morrer inocentes nas ruas desta cidade mártir. Mas, pelos anjos da lógica, que dizer dos inocentes que morrem todos os dias em Israel, noutras muitas cidades sacrificadas?
Mais a mais, toda a gente de senso sabe muito bem que é precisamente atrás de estruturas civis e de vidas humanas que se esconde a Hezzbolah. Que é com crianças que faz a guerra. Que é com inocentes que encena os sacrifícios. É natural que a D. Clara Ferreira Alves ignore que não há uma forma limpa de combater a sujidade maior do terrorismo. Perdendo algum tempo na leitura das suas crónicas, percebe-se que esta senhora ignora realidades várias. O que já não é admissível é que a sua ignorância nos seja revelada assim, com ares professorais e pretensões de seriedade.

A guerra é sempre imoral. É por natureza imoral. Afirmar que a morte de civis e a destruição de infra-estruturas não militares é um acto contrário às leis morais da guerra, como o fez hoje na SIC Notícias o inevitável Sr. Dr. Nuno Rogeiro, é de uma vilania arrepiante. É que o Sr. Dr. Nuno Rogeiro, experimentado pirata, sabe muito bem que é precisamente com as baixas civis - dos dois lados da barricada - que estes terríveis islamitas fazem a guerra e manipulam a opinião ingénua e impressionável da plateia global. Mais: o Sr. Dr. Nuno Rogeiro tem plena consciência que não há registo na história universal do ódio de uma guerra que não tenha sacrificado sangue inocente. O Sr. Dr. não ignora os inocentes de Dresden, concerteza, aposto que até se lembra da forma prática como os americanos acabaram com a guerra no Pacífico e não acredito que se tenha já esquecido do divertimento preferido dos exércitos de Napoleão ou da proverbial simpatia do invasor russo. Prefere porém, o Sr. Dr., a verdade de plástico e a ética do soundbyte. Uma vergonha.

O que está em causa no médio-oriente é o choque entre dois modelos civilizacionais. Ou - se quiserem - dois paradigmas oníricos: a sociedade com que eu sonho é antípoda da sociedade com que sonha o radical islâmico. Acontece que são precisamente os radicais islâmicos aqueles que dominam hoje o mundo muçulmano. Acontece que são precisamente os radicais islâmicos que amaldiçoam e ameaçam a minha possibilidade de sonhar. Que desrespeitam a minha diferença. Que insultam a minha inteligência. Que fragilizam a minha liberdade com bombas, com misseís, com raptos, com reptos, com pragas, com interdições e com merdas e com vinganças e com o despotismo de deus. Já ninguém se lembra dos incontáveis milhões de inocentes que morreram na Europa para acabar com o despotismo de deus? Por muito menos do que isto, já tanta gente foi despachada para o inferno, senhores. Motivos bem mais ligeiros, acabaram por elevar multidões de almas ao céu, senhoras.

Israel tem motivos de sobra para fazer esta guerra. E a Europa devia entender isso porque Israel trava por nós uma batalha decisiva. São os israelitas que estão na linha da frente. São eles que primeiro explodem nos autocarros.
Podemos e devemos sofrer por cada vida que cai por terra, no horror diário da guerra. Mas temos também a responsabilidade de honrar o venerável compromisso das liberdades individuais, da democracia laica e do estado de direito. Custe o que custar.


Nota: a imagem em cima foi retirada de um site de propaganda do Hezzbolah. Para esta organização escuteira, boa publicidade é uma parada militar com crianças armadas, pisando bandeiras.

Um deus descartável.

"O Coronel Sanders cruzou os braços e fitou Hoshino nos olhos.
- Quem é Deus?
A questão obrigou Hoshino a pensar. O Coronel Sanders não lhe deu tréguas.
- Sim, qual é o aspecto Dele? O que é que ele faz?
- Não me pergunte a mim. Deus é Deus. Está em toda a parte, vê tudo o que fazemos, distingue o bem do mal.
- Mais parece um árbitro de futebol.
- Sim, não anda longe disso.
- Isso quer dizer que Deus usa calções, corre de apito na boca e sempre de olho no relógio?
- O senhor sabe bem que não é isso que quero dizer - Replicou Hoshino.
- E os deuses japoneses são da família dos deuses estrangeiros? Ou serão antes inimigos?
- Como é que eu hei-de saber?
- Escuta uma coisa que te vou dizer, meu caro Hoshino. Deus só existe na cabeça das pessoas. Aqui no Japão, o conceito de Deus sempre foi entendido de uma maneira aberta. Vê só o que aconteceu a seguir à guerra. Douglas McArthur ordenou ao divino imperador que deixasse de ser Deus, e ele obedeceu, fazendo um discurso em que se dizia um homem vulgar, igual aos outros. E foi assim que, depois de 1946, ele deixou de ser Deus. São assim os deuses japoneses - adaptam-se e ajustam-se à realidade. Aparece um militar americano qualquer pendurado num cachimbo barato, altera a ordem e pronto, muda tudo - não há Deus para ninguém. Uma atitude muito pós-moderna. Quando dá jeito que Deus esteja aqui, Ele está. Quando não dá, Ele deixa de estar. Se é isso que é ser Deus, vou ali e já venho."

HARUKI MURAKAMI
-KAFKA À BEIRA-MAR-

quinta-feira, julho 13, 2006

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- FASCÍCULO DOIS -

Foi o caso que decidiu a Junta de Freguesia, por altura dos idos de Março, acordar o sempre lamentável torpor estético dos fregueses - somente os devidamente registados no último censo - reunindo-os para desfrutarem da exposição de pintura de naturezas mortas, organizada para prover a algumas carências da prendada autora, D. Hortense Luz, viúva, notável poetisa e espírita conceituada. Anunciado generoso beberete, arrancadas à naftalina fatiotas de uso para solenidades maiores, deslocaram-se as gentes para o serão cultural.
Segismundo d'Ávila figurava na ponderada lista de convivas, sendo que se lhe solicitara, com respeito, na sua qualidade de homem das artes, uma dissertação crítica final, quanto às capacidades de D. Hortense Luz na difícil representação da natureza morta, inspiração que vestia de magnífico luto dada a recente e dolorosa partida do notabilíssimo esposo, notário reformado, homem muito religioso e contribuinte assíduo para o seminário da diocese.
Considerou Segismundo que o convite tão dignificantemente posto pela cáfila de palermas da Junta não afectaria a sua indiferença por eventos daquela pequenez e, antes, lhe proporcionaria uma oportunidade para desnudar certas complexidades e dogmas da arte menor que antevia no horror do nabo morto, esparramado no barro de hilariantes arabescos, da murcha gardénia tristemente espartilhada em qualquer jarrão de plástico de feira e de outras obscenidades que sabia inevitáveis naqueles objectos de mansa estupidez.
Não lhe era indiferente a artista D. Hortense. Com efeito, havia-a lobrigado antes, empanturrando a trágica viuvez em cremes de chantili pelos lugares do costume, lubricamente embrulhada de negro curto, decote vasto, salto alto para sugestivo suporte da acentuada rabadilha e outras magnificências que surpreendentemente o haviam perturbado, que lhe tinham movido a gélida fleuma e penetrado a férrea armadura da sua impassibilidade.
Naquele dia, as vermelhuscas bochechas de José Fagundes, benquisto Presidente da Junta, sacudiam-se de gozo na recepção janota, aprimorado de cravo rubro na lapela, sensibilizado pelo transparente entusiasmo dos seus correligionários, congregados em notável euforia junto do bufete pungente de cor e acaramelados mimos, expressamente encomendados na Primorosa do Chiado. Acotovelavam-se os grupinhos, esfarrapavam-se os finos biscoitos e os celebrados queques de manteiga, olhavam-se compenetradamente as naturezas mortas a 2 euros o metro quadrado, entre múrmurios cautelosos e pálidos sorrisos. Saracoteava-se a festejada D. Hortense, dente aberto num sorriso escancarado, oferecendo queques e chá, movimentando as contundentes nádegas enquanto anotava, conscensiosamente, alguns metros quadrados de venda apalavrada.
Sempre colado à insigne criatura, o ex-seminarista Ruben Perdigoto - que fora, em tempos, do foro íntimo do notário tão dolorosamente arrancado à vida e era agora acólito do bom padre Tristão nas missas de Domingo - sorria, servil. Devotado às coisas da sacristia, presença abençoada, dizia-se, na preparação das sagradas coisas do culto de Deus, notório homossexual, gábiru de orgias inconfessáveis que não teriam merecido o consenso da rígida directoria do seminário; do qual, pela indecente figura, fora afastado; a Ruben Perdigoto interessava-lhe mais a comissão estabelecida com D. Hortense sobre a venda da arte que elogiava, recomendava e impunha aos mais cépticos.

(cont.)

terça-feira, julho 11, 2006

A bola pode continuar redonda.

Assim como está, o futebol adormece qualquer cocainómano. Na final de ontem, o Campeão do Mundo fez uma segunda parte de anedotário: os italianos não conseguiram simplesmente jogar a bola e este triste facto é bem ilustrativo de um Mundial que foi, como já tinha sido o anterior, consistentemente lamentável. A beleza do jogo - que se fundamenta essencialmente na espectacularidade plástica dos movimentos de ataque - foi subjugada por um realismo cínico, interesseiro e cobardolas que está rapidamente a aniquilar o objecto da maior paixão de massas dos últimos 60 anos. Parece-me assim que as iluminárias da FIFA devem considerar seriamente a prossecução de uma reforma profunda nas regras do jogo, libertando-o das mordaças tácticas e devolvendo-lhe a dignidade perdida.

Eis assim, uma humilde mas indignada contribuição para o think tank do sr. Blatter:


SETE FINTAS BLOGVILLE

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Finta 1 - Composição da Equipa - Uma equipa de futebol deve apresentar-se em campo com dez jogadores. Para já, porque é a única maneira de ter mais equipas a jogar só com um trinco, o que aumentará logo a qualidade do espectáculo. Depois, por aquilo que se ganha em espaço para jogar e em tempo para pensar o jogo.

Finta 2 - Tempo de jogo - A cronometragem da partida deve obedecer ao apito do árbitro. O cronómetro pára a contagem no momento em que o juíz interrompe um lance e recomeça-a quando o juíz manda jogar. Se a bola sai, o cronómetro pára. Se é golo, o cronómetro pára. Se um jogador está lesionado, o cronómetro pára.
Com duas partes de 30 minutos de tempo real de jogo já não havia cá fitas e fingimentos e merdas que só são uma grandessíssima vergonha. E os espectador, que pagou bilhete ou sporttv, sempre terá a certeza que vai de facto ver uma hora de jogo jogado.

Finta 3 - Disciplina - A lógica disciplinar dos cartões e das expulsões é - e sempre foi - desadequada. É desadequada porque se parte do princípio que o espectáculo sobrevive à expulsão dos seus artistas. É desadequada porque não pode ter em atenção o calor da disputa, o erro humano, a emoção e a carga de nervos. A frustração e o desespero. É desadequada porque é humilhante. Não me interessa nada que o trauliteiro italiano leve uma cabeçada (deve ter sido bem merecida), mas desagrada-me bastante a expulsão de Zidane, no último jogo da sua magnífica carreira de futebolista.
De qualquer forma, a redução proposta no item 1 implica também uma revisão nas leis disciplinares, de forma a não corrermos o risco de ter jogos a serem disputados por cinco ou seis gatos pingados para cada lado.
A solução encontrada no hóquei em gelo é porventura mais adequada, se for introduzida com os necessários ajustamentos: uma falta violenta ou três faltas consecutivas conduzem o jogador à "box" onde permanecerá cinco minutos, após os quais pode voltar à partida. Em caso de agressão, o jogador permanecerá na box durante dez minutos. Enquanto um jogador permanece na box a equipa não o pode substituir.
Esta solução permitirá a génese de uma nova dimensão no jogo, aquilo a que no hóquei em gelo se designa por "PowerPlay". As equipas em vantagem numérica têm sempre uma pressão acrescida para jogar ao ataque e marcam-se, naturalmente, mais golos nestas situações. Em vez de estigmatizar o jogador, assumimos o futebol como um desporto de contacto e, tirando partido da natural apetência do ser humaqno para a violência, enriquecemos a dinâmica do jogo e a qualidade do espectáculo.

Finta 4 - Reposição da bola em jogo - O lançamento da linha lateral tem que começar rapidamente a ser efectuado com os pés. Afinal, não é por causa das mãozinhas que o Ronaldinho Gaúcho é conhecido. E depois, a introdução da bola com um pontapé tornará inevitavelmente esta situação de jogo muito mais interessante para o avançado e bem mais desagradável para o defesa. Diminuiam os cortes para a bancada, aumentavam os centros perigosos para a área, subia a média de golos por jogo.

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Finta 5 - Dimensões do terreno e da baliza - Não faz sentido que um campo de jogo tenha medidas definidas entre 90 e 120 de comprimento e 45 e 90 de largura. As medidas devem ser fixadas sem intervalos. Como não concordo com o aumento das dimensões para além destes limites máximos (receio perder consistência de passe e homogenuidade de movimentos e as regras 1 e 3 também não o aconselham), proponho 80x110.
Acho porém que não faz mal nenhum aumentarmos as medidas das balizas, muito pelo contrário. Há no entanto que ter o cuidado de não desvalorizar o papel do Guarda-Redes, que é uma verdadeira pérola da geometria descritiva, uma quixotesca figura de novela-prima e substância essencial para um bom espectáculo de futebol (na figura 1 retirei a pequena área porque acho que o Guarda-Redes deve ser protegido em toda a sua zona de intervenção). As medidas que proponho estão na figura em cima, e resultam de aturados estudos estatísticos e análises de ergonomia (leia-se: 2 minutos de senso comum).

Finta 6 - Fora de Jogo - A regra do fora-de-jogo deve ser aplicada apenas nos últimos 30 metros de cada metade do terreno. Assim, facilitariamos as transições, promovendo partidas mais agressivas e mais rápidas, sem sacrificar a coerência estrutural do jogo.

Finta 7 - Arbitragem e tecnologia - O jogo deve ser arbitrado por uma equipa de 6 juízes, a saber: dois no campo (um para cada metade do terreno), dois fiscais de linha e dois assistentes fora das 4 linhas - um no campo, outro na Régie. Os árbitros estão telecomunicantes e - sempre que se justifique - o jogo pára para verificação do lance em vídeo, sendo perfeitamente possível concluir o procedimento em 30 segundos, um minuto no máximo.
Porque o ser humano não tem a capacidade ubíqua de registar visualmente dois campos de acção em simultâneo, a cibernética deve ser incorporada na determinação dos foras-de-jogo (chips no equipamento dos jogadores) e há de uma vez por todas que desenvolver um qualquer sistema de leitura óptica da linha de golo.


É claro que há muito mais fintas na minha cabeça. Mas não quero ser exaustivo e o princípio básico é o do título deste post: a bola deve continuar "redonda para os dois lados". O resto pode mudar. Diz-nos a experiência e a inteligência que é precisamente isso que se faz àquilo que está mal.
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sexta-feira, julho 07, 2006

Para variar, um post importante.

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Foi hoje lançado no Porto o livro "Pequenas histórias sem importância" do meu querido Pedro Serrazina, que deve ser para aí mais uma obra prima deste menino-prodígio-e-pessoa-absolutamente-impecável. Façam o favor de comprar já e ler logo a seguir.

Por estes dias, segundo creio, sairá a muito aguardada edição em livro do Nova Frente, o notabilíssimo blog do meu não menos estimado amigo Bruno Oliveira Santos. Façam o favor de ficar atentos.

Muito agradecido.

terça-feira, julho 04, 2006

Cinco Quinas de Desprezo.

"Quanto mais estrangeiros vi, mais amei a minha Pátria."
-Dormont De Belloy-

Holandeses, ingleses e franceses, espanhóis, ucranianos e suecos perfazem todos, cabeça por cabeça, um verdadeiro rebanho de boas razões para se ser Português. Depois de a Selecção Nacional ter cometido apenas 3 faltas nos primeiros 45 minutos dos quartos-de-final (suprema bofetada na tromba imbecil da imprensa britânica), ainda vêm agora estas bestas contorcer-se em conferências de imprensa manhosas, cuidadosamente arquitectadas no balneário da indignidade humana e nas redacções dos esgotos de Paris. O que se pergunta e o que se responde, em combinado passo-de-tango-no-bordel, é discurso pestilento de gente verdadeiramente embrenhada na orgia da estupidez, de gente apenasmente assustada com a coragem que a malta das quinas tem demonstrado em campo. Este mundial tem enjoado bastante, no que diz respeito à falabaratice estrangeira.

A citação que ilustra este postal - e a minha indignação - é de um francês, bem sei. Mas todas as nações, por muito deficitárias que sejam em qualidade humana - e a França é um bastante exemplo de mediocridade - têm os seus génios de trazer por casa. Como patinho feio da Europa, Portugal não devia ter chegado a este patamar da competição. Eu percebo isso. Mas não poderiam todos estes turistas da treta que mostraram até aqui um futebolzinho envergonhado, velhote, sorporífero e cobarde (qualquer bardamerda eliminava aquele Brasil tristonho) fazer-me o favor piedoso de parar com os peidos mediáticos de quadrúpede metabolismo e vegetal inteligência? Por muito pouco natural que seja a presença da Selecção Portuguesa no sacrossanto beliche da elite do futebol mundial, não poderiam todos estes craques de polipropileno aparecer menos na televisão e aproveitar esse precioso bocado de tempo para ir mais aos treinos? Não poderiam poupar-se e poupar-me ao espectáculo excrescente da sua própria vilania?

Independentemente do que aconteça na meia-final, a conquista é já evidente e não tem nada a ver com futebol. Este mundial foi uma excelente maneira de tornar evidente aos portugueses que os países da grande civilização ocidental estão também consideravelmente infestados de sapiens da mais baixa condição. Que o problema da heroicidade ausente e da decadência das elites não é um exclusivo português. Que o nível da imprensa internacional está bem abaixo daquele que a muito custo ainda conseguimos manter. Que outros para além de nós também sofrem do caos filosófico, moral e operacional em que nos afundamos todos, neste antigo pântano de tribos fraticidas que é a Europa.