domingo, junho 22, 2008
Sobre a morte certa.
Esta música tem origem num conteúdo lírico que publiquei aqui no blog e que desagradou bastante a algumas pessoas por ser mais ou menos sinistro. Ora, não há nada mais sinistro que a vida, pelo que a morte - neste contexto - mantém um director de marketing extremamente incompetente que não consege capitalizar as reais valias do produto e que deve ser despedido com apropriada celeridade. Atendendo à condição humana, à história das civilizações e ao actual estado do mundo, não se percebe porque é ainda há gente que tem medo de morrer.
Seja como for, e dado o teor gótico da letra (concedo), optei por uma composição musical não redundante, que procura referências no rock independente americano do princípio da década de 90. Espero que vos agrade, gentil plateia.
Vala comum.
Nascem os homens apenas para a decomposição do futuro
e é somente justo que esta espada que seguro
sirva ao meu carrasco de guilhotina.
Tudo está certo neste mundo quando a vida termina
e não há tipo mais porreiro, que o meu amigo coveiro.
E não há tipo mais porreiro, que o meu amigo coveiro.
Enquanto há morte, há esperança - um sonho de redenção;
só faz sentido a vida enquanto dura o ramadão.
Os deuses, graças a deus, também sabem morrer danados,
esquecidos, banhados em sangue e humilhados,
incapazes de sobreviver à criação.
A imortalidade não tem mais que uns dias de duração
e caem que nem folhas como todos os trolhas.
Caem que nem folhas como todos os trolhas.
Ninguém quer viver para sempre, é uma chatice, uma ilusão;
só faz sentido a vida enquanto dura o ramadão.
Cometas, planetas, galáxias verdes e maduras
apodrecem outrossim em quânticas curvaturas.
Quanto mais curioso o telescópio mais defuntas as realidades:
o universo é um belo cemitério de eternidades
em decadência formal, até ao último funeral.
Até ao último funeral.
Enquanto há morte, há esperança - um sonho de redenção;
só faz sentido a vida enquanto dura o ramadão.
Ninguém quer viver para sempre, é uma chatice, uma ilusão;
só faz sentido a vida enquanto dura o ramadão.
E não há tipo mais porreiro, que o meu amigo coveiro.
quinta-feira, junho 19, 2008
Só mais uma pequena certeza absoluta.
Peço desculpa ao horrível futebol dos italianos. Os gregos, senhores, os gregos é que deviam ser condenados à eterna maratona, para que não tivessem tempo nem forças para dar sequer um único que fosse pontapé na desgraçada e infeliz bola, que maltratam como ninguém mais na Europa ousa maltratar.
quarta-feira, junho 18, 2008
Algumas pequenas e absolutas certezas.
A morte. A derrota de Portugal, amanhã, frente à Alemanha. A humilhação inevitável da ciência, face ao carácter incognoscível da realidade. A inexistência de deus. A inexistência do diabo (o mal não triunfa por estados diabólicos de alma, mas por disfunção e estupidez*). A virtude dos inúteis. A ideia de que o império romano se deveu essencialmente ao labor dos seus generais e ao sangue dos seus soldados. A consciência de que os italianos deviam ser proibidos de jogar à bola. A mediocridade de Manuela Ferreira Leite e de 98% das elites nacionais. A vaidade de Manuel alegre. O roubo perpetrado quotidianamente pela Galp. O erro fatal chamado Barak Obhama. A sobrevivência da força imoral dos talibans no Afeganistão e dos radicais islamitas por esse mundo fora. A incrível e impune afirmação do Irão como potência nuclear. A guerra devastadora, global, sem precedentes históricos, que nos espera a curto ou médio prazo. A suave inocência e encantadora rebeldia do meu cão, que me faz feliz. O desespero através dos dias.
*Vide "As Benovolentes" de Jonathan Littell
domingo, junho 08, 2008
A Quântica segundo Alberto Caeiro
Dizem os sábios d'agora que a luz
- A luz do sol que nos convida para o dia,
Que nos aquece concretamente o rosto encarquilhado -
É uma onda e uma partícula ao mesmo tempo
E ao mesmo tempo o fotão, ubíqua obra da imaginação laboratorialista,
Pode estar aqui e ali.
Digo eu: balelas!
Balelas porque a luz que me aquece o rosto
Está aqui e eu sinto-a nas rugas,
Não está, a mesma luz, nas rugas da Maria da Fonte.
E digo eu: Balelas!
Porque saber se a luz é onda ou partícula
Não é tarefa de gente; não faz ninguém feliz
Nem leva a criança embirrenta para a cama
Quando já são horas de terem os pais algum sossego;
Nem é por ser ou não ser ondulatória a energia,
Nem é por ser ou não ser imprevisível a matéria,
Que o castanheiro vai deixar de me oferecer a frescura da sesta,
Ou que os sinos da minha aldeia deixam de cantar o meio dia,
Por muito que me doam as badaladas nas orelhas da alma.
(Se preguiçasse o sacristão, seria eu mais grato a Heisenberg?).
E digo eu: Balelas!
O milho que cresce serenamente nos campos doirados,
Será um dia colhido e dele fará o Tio Joaquim da Felismina
Uma belíssima broa
E não há Princípio da Incerteza que nos valha:
A broa existe e é belíssima e é tudo.
Não sou crente nos conceitos, bastam-me as cousas naturais,
As cousas que observo e cheiro e sinto na pele dos sentidos
São já sublimes e metafísicas o bastante;
Para apreciar o vinho doce da D. Alice da Venda
Não preciso de saber nada sobre a fluidez espontânea do Bosão
E para que me dê prazer imenso a leitura do Cesário,
Não me faz falta nenhuma o conhecimento da exacta posição
Desse enigmático protão que circula na magia negra da órbita atómica
Num dado e misterioso momento cósmogónico.
A ciência é uma religião e a religião cansa-me excessivamente.
- A luz do sol que nos convida para o dia,
Que nos aquece concretamente o rosto encarquilhado -
É uma onda e uma partícula ao mesmo tempo
E ao mesmo tempo o fotão, ubíqua obra da imaginação laboratorialista,
Pode estar aqui e ali.
Digo eu: balelas!
Balelas porque a luz que me aquece o rosto
Está aqui e eu sinto-a nas rugas,
Não está, a mesma luz, nas rugas da Maria da Fonte.
E digo eu: Balelas!
Porque saber se a luz é onda ou partícula
Não é tarefa de gente; não faz ninguém feliz
Nem leva a criança embirrenta para a cama
Quando já são horas de terem os pais algum sossego;
Nem é por ser ou não ser ondulatória a energia,
Nem é por ser ou não ser imprevisível a matéria,
Que o castanheiro vai deixar de me oferecer a frescura da sesta,
Ou que os sinos da minha aldeia deixam de cantar o meio dia,
Por muito que me doam as badaladas nas orelhas da alma.
(Se preguiçasse o sacristão, seria eu mais grato a Heisenberg?).
E digo eu: Balelas!
O milho que cresce serenamente nos campos doirados,
Será um dia colhido e dele fará o Tio Joaquim da Felismina
Uma belíssima broa
E não há Princípio da Incerteza que nos valha:
A broa existe e é belíssima e é tudo.
Não sou crente nos conceitos, bastam-me as cousas naturais,
As cousas que observo e cheiro e sinto na pele dos sentidos
São já sublimes e metafísicas o bastante;
Para apreciar o vinho doce da D. Alice da Venda
Não preciso de saber nada sobre a fluidez espontânea do Bosão
E para que me dê prazer imenso a leitura do Cesário,
Não me faz falta nenhuma o conhecimento da exacta posição
Desse enigmático protão que circula na magia negra da órbita atómica
Num dado e misterioso momento cósmogónico.
A ciência é uma religião e a religião cansa-me excessivamente.
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