terça-feira, abril 30, 2013

sexta-feira, abril 26, 2013

Tudo o que não sabemos.


A dimensão da ignorância humana é absolutamente devastadora. No gráfico em cima, que representa, grosso modo, a repartição comparativa da matéria cósmica, ilustra-se bem a tragédia da ciência contemporânea. Sabemos alguma coisa sobre a matéria atómica e subatómica, mas não o bastante para uma teoria unificada de campo. Alguns vêem na Teoria das Cordas essa solução compatibilizadora entre comportamentos atómicos e sub-atómicos. Mas ainda assim, esta teoria refere-se a cerca de  4% do tecido do cosmos. Quanto aos restantes 96%, zero de conhecimento. Sabemos só que existe energia negra e matéria negra, porque a arquitectura do modelo standard assim o exige e porque alguma coisa tem andado a contrariar as forças da gravidade no universo, caso contrário a sua expansão seria impossível. Mas mais nada. Rigorosamente mais nada.
Homo Sapiens. A sério?

quinta-feira, abril 18, 2013

Elogio do erro #2



Telekinesis  |  Power Lines

Este clip parece que foi criado para confirmar o post anterior. Os rapazes (e a rapariga) não podiam ser mais feinhos e desajeitados. A cenografia é de sentido estético próximo do zero absoluto e os artistas fazem questão em vestir-se como se fossem montar uma estante na garagem. O vocalista apresenta um lamentável problema epidérmico e todos em uníssono desafinam até dizer chega. Mas o tema é brilhante. É simplesmente brilhante. E no fim, sempre descobrimos o belo e a consolação.

When I was young, 
I thought I was a power line.


quarta-feira, abril 17, 2013

Elogio do erro ou "Eu sózinho consigo levantar este automóvel na boa".



Walk The Moon  |  I Can Lift a Car

Well, no misunderstanding,
I'm not saying that you came
but you did.
I can lift a car up all by myself.

Uma coisa maravilhosa que tem o rock é que perdoa, admite e inclui o erro humano. Aqui estes heróis do momento falham, erram e desafinam umas quantas vezes, num registo que é muito menos que perfeito. Muito menos que perfeito e resulta, ainda assim, na perfeição. Esta música, mesmo como aqui está, dá vontade de levantar não sei quantos automóveis.

Agora imaginem que a mesma margem de erro era aplicada a uma interpretação dos Concertos de Brandenburgo. Seria o desastre total, verdade? Depois de assistir a semelhante cataclismo, ninguém teria energia para levantar um carrinho de supermercado que fosse. Felizmente para Bach, o barroco não admite deslizes.

Já o rock é mais simpático. Sem deixar de ser genial, conforme figura em anexo.

segunda-feira, abril 08, 2013

Bye bye Maggie, god bless.

“Essa coisa da sociedade não existe. Existem homens e mulheres e as suas famílias."
Margaret Tatcher - 1987

Non stop.



Leagues | Spotlight

A um dado momento, alguém neste planeta está a compor uma grande canção. E este pensamento reconforta-me. Faz-me gostar um bocadinho mais da raça humana. Mas só um bocadinho.

sábado, abril 06, 2013

Jornal de Letras | Janeiro/Março 2013

Com os Holandeses - J. Rentes de Carvalho - Quetzal
Mal soube que este senhor tinha escrito um livrinho que denuncia os holandeses pelo que eles são - uma corja de cínicos, sacanas, agiotas e interesseiros que se esconde debaixo de um sobretudo politicamente correcto, fui logo a correr lê-lo. E li-o nun instantinho porque é delicioso e, o que é mais, verdadeiro.
J. Rentes de Carvalho fala por experiência. É um infeliz que vive com os holandeses há dezenas de anos e isso é, afinal, a única coisa neste ensaio brilhante que fica por explicar: se enjoas tanto, J., porque é que insistes, amigo?

Istambul. Memórias de Uma Cidade - Orhan Pamuk - Editorial Presença
Este livro é uma chatice tão grande, mas tão grande, que até eu, um leitor obstinado que só muito raramente desiste de uma leitura, desisti dele. Por qualquer razão cujo entendimento me transcende, o senhor Pamuk acha que é interessante para os outros, principalmente para os outros que não são turcos ou membros da Academia Sueca, a enumeração pueril das suas memórias de infância e adolescência, passadas numa cidade decadente e melancólica, ávida e ciumenta do Ocidente, chorosa do império que em boa hora perdeu. Está enganado, claro. Uma lamechice a evitar a todo o custo.

O Museu da Inocência - Orhan Pamuk - Editorial Presença
Depois do que disse anteriormente, o gentil visitante deste blog estará a perguntar-se o que eu pergunto a J. Rentes de Carvalho: se Pamuk é secante, porquê insistir no Pamuk? Porque sou teimoso e gosto de ter fundamentos para amaldiçoar a Academia Sueca que em 2006 teve o desplante de atribuir o seu Prémio manhoso ao sujeito.
Este romance interminável, não por causa das 650 páginas, mas por causa da ausência de qualquer tipo de progresso narrativo, parte de uma premissa que até é prometedora: o protagonista, à medida que nos conta a história de um amor infeliz, mas obsessivo, conduz-nos pelo museu que reúne não-sei-quantos-mil objectos, no sentido de materializar a memória dessa paixão. Até aqui tudo bem. O problema é que a rábula se arrasta por quinze anos da mesma coisa servil e abjecta, doente e repititiva, numa espécie de Servidão Humana em formato Tempo Perdido, que poderia resultar se Pamuk fosse um Somerset Maughan ou um Marcel Proust. Não é, evidentemente, o caso. Cheguei ao fim com vontade de não ter começado.

O Último Homem na Torre - Aravind Adiga - Editorial Presença
Primeiro: sou um fã incondicional do Aravind. Porque tem talento para dar e vender, porque evita a armadilha do humanismo e porque não está interessado em vender bilhetes postais da Índia. Nas páginas de Aravind Adiga vive a natureza humana e não o que gostaríamos que fosse a natureza humana. Nas histórias de Aravind Adiga, vibra a Índia pobre, infecta, maliciosa, escravizante; a Índia das castas, do caos urbano, da corrupção. E se o Tigre Branco já me tinha enchido todas as medidas do gosto e da sensibilidade, este Último Homem na Torre é uma coisa absolutamente devastadora. Um grande escritor. Um grande romance.

Siddhartha - Herman Hesse - Casa das Letras
A ignorância humana é um abismo inescapável e devo confessar, envergonhado, que vivi quase 46 anos sem ler este livro. E quanto mais profundamente me embrenhei nele, mais revoltado fiquei comigo. Siddharta é um poema penta-essencial e até custa a crer que um alemão consiga contar esta história, que é absolutamente hindu. A não  ser que consideremos que a história que é contada, para além de ser absolutamente hindu, é verdadeiramente universal. 
A fábula do filho do Brâmane que não acredita em doutrinas nem em nirvanas nem em palavras, que não segue ninguém, que não respeita o destino e que encontra apenas uma tardia e ingrata redenção no amor paternal, incondicional e purificador, é de uma beleza, afinal, divina. É a literatura no seu estado alquímico. 

Poesias - Fernando Pessoa - Edições Ática
Sendo provavelmente a terceira ou quarta vez que leio este manual prático para a conquista da eternidade, foi a primeira vez que o li de uma assentada, de fio a pavio. Há muita gente que acha que certo tipo de literatura não é para ser lida de fio a pavio. Eu discordo. Então quando se trata do Fernandinho, acho muito simplesmente que tudo o que ele escreveu - tudo mesmo, sem excepção alguma - deve ser lido de fio a pavio. Várias vezes seguidas.
Até porque há sempre um poema maravilhoso que nos escapou antes. Há sempre um momento genial que não tínhamos percebido completamente. Há sempre um novo Fernando Pessoa à espreita, a rir-se da nossa triste condição de mortais. Por exemplo:

A morte chega cedo,  
Pois breve é toda vida. 
O instante é o arremedo  
De uma coisa perdida.   

O amor foi começado,  
O ideal não acabou,  
E quem tenha alcançado  
Não sabe o que alcançou.   

E tudo isto a morte  
Risca por não estar certo  
No caderno da sorte  
Que Deus deixou aberto.

Mais que as mães.



Walk the Moon | Anna Sun

Outro cogumelo pop. Que é um verdadeiro suplemento energético. Não sei se tenho saudades dos tempos em que podíamos dizer, num dado momento, que gostávamos sobretudo de duas ou três bandas. Acho que não, não tenho saudades desses tempos. Isto assim é muito mais divertido.

terça-feira, abril 02, 2013

Mais um cogumelo exuberante.



Stellastarr - Freak Out (Live on KEXP)

Fado Folhetim

Os deuses do caos governam cegos
A tragédia do sapiens menino.
São espoliados todos os egos
Da propriedade do destino.

No meu caso particular, confesso:
Confio mais na gestão divina
Que no equívoco excesso
Com que esfrego a lamparina.

Sou como uma andorinha
Que voa tonta contra a janela.
Se a vida fosse minha,
Não sabia o que fazer com ela.

Não sou eu quem desalinha
O velado novelo desta novela.
Se a vida fosse minha,
Não sabia o que fazer com ela.

É na verdade mil vezes abençoado
Quem esvoaça sem controlo.
Desde que o rumo se sustente alado
E que o piloto seja Apolo.

Quanto a mim, digo o seguinte:
Sei que o desastre é inerente
E sei que a virtude do pedinte
É pedir para toda a gente.

Há uma mágica varinha
Que exerce aleatória a tutela.
Se a vida fosse minha,
Não sabia o que fazer com ela.

Manda a fada madrinha
No enredo que guarda e vela.
Se a vida fosse minha,
Não sabia o que fazer com ela.

Ah, a santa irresponsabilidade,
A liberdade suprema, o nirvana
De apostar tudo na probabilidade
Da dúvida cartesiana!

Em boa verdade devo ser grato:
Como o verão passa a inverno
Assim também me dão trato
os que governam este desgoverno.

No Olimpo seguem a linha
de um folhetim da Venezuela.
Se a vida fosse minha,
Não sabia o que fazer com ela.

Reina misteriosa rainha
sobre o guião da telenovela.
Se a vida fosse minha,
Não sabia o que fazer com ela.

Sim, dou graças aos céus
Por não ser proprietário do eu.
Não tenho nenhum uso
Para o fogo de Prometeu.

Sim, agradeço à metafísica
Por não ser dono de mim.
Por já ter sido escrita a música
Deste fado folhetim.

Sou como aquela andorinha
Que se estampa contra a janela.
Se a vida fosse minha,
Não sabia o que fazer com ela.

Não sei quem desalinha
O velado veludo da novela.
Se a vida fosse minha,
Não sabia o que fazer com ela.

Se a vida fosse minha e fosse bela,
Não sabia o que fazer com ela.

Não sabia o que fazer com ela.