sábado, dezembro 29, 2007

quinta-feira, dezembro 20, 2007

sexta-feira, dezembro 14, 2007

Sobre a União Europeia.

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Não sou nenhum europeísta maluco, talvez porque não saiba o que quer dizer a palavra, mas faço questão, ainda assim, de massacrar a gentil audiência de euro-cépticos com os seguintes fenómenos da física dos objectos políticos:

I - O Momento Histórico - Esta é, para todos os efeitos, a primeira constituição federal da história do Continente. Lembro que andámos para aqui uns bons 2500 anos à batatada, na perseguição desse sonho de uma Europa una. Pois bem,já a temos. Sem batatada nenhuma e através de um processo mais ou menos representativo (estes príncipes foram eleitos, afinal).

II - A Paz Duradoura - Exceptuando os conflitos dos Balcãs e da Tetchenia, que resultaram da queda do império soviético, sendo por isso fenómenos mais ou menos expectáveis (à luz de outros declínios imperiais, podia ter sido bem pior), a Europa vive em paz há 62 anos. Não tenho a certeza, mas deve ser um recorde absoluto. E é para mim cristalino, que estas longas férias da guerra são essencialmente devidas ao projecto de uma Europa Federal.

III - A Febre Referendária - Proveniente de sectores que, geralmente, desprezam o método, este clamar pelo referendo é um bocadinho irresponsável, eu acho. É um bocadinho irresponsável referendar um tratado que, para além de ser o produto bruto de séculos de volição histórica, é a nota de rodapé de uma constituição também indexada a princípios enunciados noutros tratados ainda, todos eles escritos na alienígena filologia da burocracia central europeia, todos eles produtos complexos e vis da intrincada vilania que é a diplomacia das nações. Que legitimidade pode resultar de uma resposta que é dada a uma pergunta impossível? E, já agora, se o problema é o da ausência de legitimidade popular directa, interrogo-vos: os jacobinos tinham essa legitimidade popular e foi o que foi. Os nazis também a chegaram a ter e o espectáculo foi o que se viu. Liberais e absolutistas, republicanos e monárquicos, comunistas e fascistas, facínoras de todos os géneros sempre acabaram por ter, a dado passo, o favor das massas. Regra geral, deu-se um festim de ferro, fogo e sangue. Ao invés, a actual Constituição da República Portuguesa, que eu saiba, não foi referendada. A magna Carta também não foi sujeita ao critério público e, em 1787, os pais fundadores não foram perguntar aos americanos como é que eles queriam que fosse esgalhado o documento iniciático da sua federação. Devemos, por princípio e dentro dos limites que nos impõe a moral democrática, desconfiar do juízo do povo e valorizar o peso da sua imensa ignorância.
Mais a mais, no caso presente, bastava que em dois ou três países de média escala, a coisa desse para o torto para que toda a Coisa desse para o torto. E depois, como que é que ficávamos? Com o perigosíssimo mosaico de nacionalidades apoiado numa mera integração económica, equilíbrio precário de interesses e rivalidades? Regressados à decadência óbvia em que nos encontrávamos a meio do Século XX, seria mais sorridente o nosso futuro?
Meus caros, a integração federal europeia é sobretudo uma inevitabilidade.

IV - O Argumento Humorístico - O argumento de que a União não é mais que a coutada dos interesses económicos e políticos de três ou quatro potencias de significado global faz-me rir. O pressuposto parece sugerir que, sem a União, estas nações predadoras assumiriam um comportamento filantrópico. Que deixariam de vitimizar e subjugar aos seus caprichos capitalistas os países de escala menor. Sinceramente, não percebo como é que este ponto de vista tem tantos adeptos, dada a falência do seu sistema lógico e as evidências históricas. Mas basta o exemplo da Rússia contemporânea e da sua relação com os estados vizinhos e com a UE, para perceber o equívoco.

V - O Argumento Patético - Outro dos argumentos brilhantes contra o tratado agora assinado é o de que o dito documento implica o fim do tristemente célebre Modelo Social Europeu, trucidado às mãos dos valores maléficos do neo-liberalismo. Dá-me vontade de voz dizer, almas que tanto receiam por esse socialismo decrépito: acordem. O Modelo Social Europeu, se algum dia fez sentido, foi no contexto de uma Europa em reconstrução, com taxas de natalidade utópicas e margens de progressão económica espectaculares. Hoje em dia não passa de um travão à competitividade e prosperidade, um incentivo à paralisia, um atentado ao mérito individual e um obstáculo ao desenvolvimento e à realização dos povos. Se os europeus são hoje uma cambada de putos mal criados, mimados e gordos, muito exigentes nos seus direitos e muito avaros nas suas obrigações, se são hoje cidadãos sem valores ideológicos que transcendam o seu conforto e as suas regalias, sem sentido critico nem juízo moral, muito se deve a esse malfadado modelo que os educou num facilitismo materialista e super protector, carregado de um humanismo gorduroso absolutamente execrável. Se este tratado permitir de facto uma revolução do Modelo Social Europeu, coisa de que duvido muito, essa será, de longe, a sua primeira grande virtude.

VI - O Problema das Identidades - É claro que a União Europeia é uma super-estrutura que irrita qualquer um. É disfuncional e distante, aparatosa de protocolos, exuberante de burocracias e anafada de cinismos. É imbecil de pequenos fascismos e arrogâncias desnecessárias e é óbvio que tem dificuldades práticas na difícil missão de sustentar a convergência universal entre povos diferentes e culturas contrárias. É verdade que o caminho da integração federal passa pelo desaparecimento de rituais e de manias, de tradições e de convenções, de valores e de identidades. Mas, pergunto-vos, conhecem algum processo civilizacional que triunfe historicamente sem o sacrifício dos seus resíduos de idiossincrasia? E não faria a globalização, em última análise, esse mesmo desagradável trabalho caso persistíssemos no rendilhado esotérico dos nacionalismos irredutíveis e das teimosias de tribo? E não tenho eu, tuguinha, mais em comum com um finlandês do que terei com um asiático? E não correremos nós o risco, sem uma Europa forte e íntegra, de uma colonização económica e cultural, a prazo, levada a cabo por povos efectivamente antípodas? Parece-me melhor ser parceiro de um polaco do que criado de um chinês.
Mal ou bem, na Europa partilhamos um belo e vasto imaginário de valores. As origens religiosas e filosóficas, o património histórico de alianças e desavenças, desgraças e glórias: um conteúdo ontológico comum, que transcende objectivamente as divergências.

VII - A Questão Inglesa - Os ingleses são um povo soberbo pelo qual tenho uma imensa simpatia. São até os meus bárbaros preferidos, mas, caramba, têm de uma vez por todas que se decidir. Ou bem que desistem do seu querido provincianismo de ilhéus e adoptam um comportamento decente, ou tomam uma decisão adulta, uma vez na sua história de infantes, e abandonam a União. Ao fazer-se esperar para a assinatura do tratado, traindo a tradição secular da pontualidade britânica - o senhor Gordon Brown - personagem aliás detestável como detestável bastante era o anterior residente do rés-do-chão número 10 da Downing Street (é lindo que o primeiro ministro de Sua Majestade viva e trabalhe numa espécie de T3) - quis manifestar solenemente uma relutância desdenhosa por toda esta coisa do Tratado. O senhor Gordon Brown, como a maior parte dos Ingleses, acha desagradável que o que começou por ser um excelente negócio se tenha transformado agora numa inconveniência. Uma coisa é mugir a vaca; outra é levá-la ao pasto. Este cinismo de crápula é abjecto. Estou zangado.

VIII - A Questão Turca - No dia em que a Turquia muçulmana assinar o tratado de adesão à União Europeia eu volto aqui a este postal para o apagar. Escreverei então outro, abrindo inscrições para uma milícia armada que tome de assalto em simultâneo a Comissão Europeia e o Parlamento Europeu e sodomize de pronto todos os seus funcionários, do porteiro ao Durão Barroso.

IX - A Presidência Portuguesa - Por muito que me custe - e custa - devo confessar que fiquei impressionado com a performance do aparelho diplomático português e com o talento de José Sócrates para mestre de cerimónias. Direi do primeiro ministro aproximadamente aquilo que Borges disse do chimpanzé, se lhe fosse dada um quantidade infinita de tempo: deste, que poderia escrever a Odisseia, do outro que rescreveria a história para que a esta se subtraissem as ideias e se somassem as vaidades. Felizmente para leitores e eleitores, Borges especulava apenas sobre a dúbia matemática das probabilidades e Sócrates, que sabe receber muito bem, não faz a mínima ideia do que conspiram os seus convidados. E sabem que mais? Ainda bem.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Adenda: os cento e quarenta e seis livros que mudaram a minha vida.

138 - Cultura, de Dietrich Schwanitz
139 - Diplomacia, de Henry Kissinger
140 - O Comportamento Sexual do Homem, de Alfred C. Kinsey
141 - A Força da Razão, de Oriana Fallaci
142 - Os Versículos Satânicos, de Salman Rushdie
143 - O Fogo de Prometeu, de Charles Lumsden e Edward Wilson
144 - Genética e Política, De R.C. Lewontin, S. Rose e L. J. Kamin
145 - O Futuro da Liberdade, de Fareed Zakaria
146 - Guerreiros de Deus - Ricardo Coração de Leão e Saladino, de James Reston Jr.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Adenda: os cento e trinta e sete livros que mudaram a minha vida.

119 - Bartleby, de Herman Melville
120 - Crítica da Razão Pura, de Immanuel Kant
121 - A Conversa de Bolzano, de Sándor Márai
122 - Homens e Bichos, de Axel Munthe
123 - O Livro de S. Michel, de Axel Munthe
124 - Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde
125 - 08/15 - A Caserna, de Hans Hellmut Kirst
127 - Sancirilo, de A. M. Pires Cabral
128 - O Único e a Sua Propriedade, de Max Stirner
129 - Mitologia da Saudade, de Eduardo Lourenço
130 - Introdução à História, de Marc Bloch
131 - Sonetos, de Florbela Espanca
132 - Expedição à Terra, de Arthur C. Clarke
133 - A Ilha misteriosa, de Júlio Verne
134 - Um Lugar ao Sol, de Erico Veríssimo.
135 - Estranho Estrangeiro - Uma Biografia de Fernando Pessoa, de Robert Bréchon
136 - Queres fazer o favor de te calares, de Raymond Carver.
137 - A Ilha, de Aldous Huxley

Não me sai da cabeça:


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