segunda-feira, junho 30, 2014

Tudo o que sabemos está errado. E tudo o que não sabemos também.

Albert, stop telling God what to do!
Niehls Bohr to Abert Einstein - Solvay, 1927

Desde a célebre Conferência de Solvay de 1927 que a física vive um pesadelo bipolar entre as verdades newtonianas e as probabilidades da Mecânica Quântica. Apesar dos esforços da Teoria das Cordas, o universo parece apresentar leis diferentes para os astros e para as partículas que os constituem. E isso tem dado cabo da cabeça de muita gente.
Eis senão quando, o que pensávamos que sabíamos e o que pensávamos que não sabiamos sobre a matéria volta a sofrer uma convulsão epistemológica. É que uma experiência iniciada em 2006 por Yves Couder da Universidade Diderot, em Paris, e depois confirmada por outras autoridades da comunidade científica (MIT incluído), observou que o comportamento de gotas de óleo que "saltam" e "andam" sobre um fluído e das respectivas ondas piloto, é, em muitas variáveis, parecido com o comportamento das partículas elementares.
Recuperando a estigmatizada Teoria de Broglie-Bohm, que tentava eliminar o carácter fantasmático da Mecânica Quântica através de uma Interpretação que relevava a interacção entre a onda e a partícula (ao contrário da clássica Interpretação de Copenhaga, fundada por Niehls Bohr, em que a partícula é apenas definida pela onda e não interage com ela), esta experiência permite colocar a seguinte questão: se a gota e a onda são mutuamente influenciadas, observando-se no processo fenómenos de ordem quântica, é possível que esta interacção seja também verdadeira ao nível das partículas elementares, encontrando-se aí a dificuldade na leitura dos seus comportamentos. Não é a partícula que é esqueizofrénica, nós é que somos enganados pela interacção que esta mantém com a onda, quando a obervamos num dado momento. Assim, a natureza probabilística e indeterminada dos elementos subatómicos deve-se apenas à relativa escassez de informação que temos sobre as dinâmicas que se criam entre a partícula e a onda. Por exemplo, se conseguirmos determinar o ponto de origem de uma partícula, poderemos, respeitando o modelo Broglie-Bohm e integrando o de
Schrodinger, calcular a sua trajectória e a sua posição num determinado momento futuro. E isto já está bem dentro de um esquema cósmico que faz um mínimo de sentido, postulado por Newton e Einstein, e que tinha sido destruído em Solvay. Se calhar, Deus não gosta nada de jogar aos dados.
É claro que as conclusões desta descoberta estão por amadurecer e esta linha de raciocínio teorético tem muitos detractores (a Física instituída aceita geralmente a interpretação de Bohr e os físicos, na sua maioria, são um pouco paternalistas com a Teoria Broglie-Bohm). Mas, quer se queira quer não, este é talvez o mais importante avanço laboratorial na demanda de uma lei que unifique os dois universos desavindos.



Fontes:
"Have We Been Interpreting Quantum Mechanics Wrong This Whole Time?" - Wired
Single Particle Diffraction and Interference at a Macroscopic Scale - Aps Physics
Bohamian Mechanics - Standford Encyclopedia of Philosophy

sábado, junho 28, 2014

Fifa as it is.



John Oliver desfaz a organização mafiosa que dirige o futebol mundial em 13 esclarecidos minutos. Hilariante e assustador, ao mesmo tempo.

terça-feira, junho 24, 2014

Rui, o Anti-Cristiano.

Depois de fazer uma última etapa própria do campeão do mundo que é, Rui costa ganhou no Domingo, pela terceira vez consecutiva, o Tour da Suiça. A sequência de vitórias é inédita na história da prova e o chefe de fila da Lampre é um atleta de que os portugueses se podem orgulhar. E cujo exemplo de brilhantismo, constância e dignidade devia envergonhar Cristiano Ronaldo, o apátrida.

segunda-feira, junho 23, 2014

O pior verão da minha vida.

Os banqueiros escondem-se em condomínios de luxo
na fossa das Marianas;
o Cristiano Ronaldo mudou de penteado
e tem agora uma larva enorme onde antes estava o cerebelo.
Deus retirou a primavera do calendário,
o Anti-ciclone dos Açores já não funciona e este
é o pior verão da minha vida.

Os sobreviventes do Titanic deram à costa da Nazaré
e entre eles há um tal de Sebastião que não quer falar à SIC.
Platão estava certo, mas é Aristóteles que está a ganhar à Alemanha.
Não há soldados nem generais nem maneira de combater os bárbaros e este
é o pior verão da minha vida.

No Olimpo, já ninguém se lembra de Prometeu
e cá em baixo todos se esqueceram do que é preciso
para fazer fogo.
Afinal parece que Kant batia na mãe e sodomizava os discípulos e
nas notícias está um sindicalista a dizer que Ulisses
nunca chegou a voltar a casa e que Penélope acabou por casar
com o António José Seguro e este
é o pior verão da minha vida.

A Costa Rica vai ser campeã do mundo
enquanto a FIFA se entretém a envenenar os cavalos.
No Iraque, o Diabo agradece a Obama a gentileza de ser um cobarde de merda
e avança com guilhotinas.
A NASA tem 24 funcionários, entre os quais três cientistas
cuja tarefa consiste em encomendar foguetões a um canadiano que
constroi carros eléctricos.
Conto os trocos para comprar cigarros e a soma não chega para os impostos e este
é o pior verão da minha vida.

Heisenberg sabia mais de física do que Einstein mas como perdeu a guerra,
perdeu a razão.
Por isso, pensei que me podia suicidar se excedesse a velocidade da luz
mas o GTI que comprei não passa dos 220 e este
é o pior verão da minha vida.

Marx dá pontapés no cálculo diferencial e o papa evangeliza através do Facebook.
Os versos do Whitmann estão em greve de luta pelo direito a serem
prosa de Hemingway
e as estrofes do Camões querem ser
parágrafos do Saramago e
chego atrasado ao enterro do Álvaro de Campos
por causa do trânsito nos Anéis de Saturno.
Fico suspenso, com um ramo de flores carnívoras na mão e com a certeza que este
é o pior verão da minha vida.

Recebo no correio um postal ilustrado de Heródoto, mas como não sei grego
não percebo a ilustração.
Ibiza já não é o que era, diz ele.
O sol já não encontra um fim no horizonte, diz ele e
já não há pachorra para o eixo Paris - Buenos Aires.
A Terra é plana e este
é o pior verão da minha vida.

Um puto que desenhou uma bandeira nacional enforcada
foi a tribunal para ser absolvido e no outro dia
comprei as obras completas do Jorge Luís Borges,
como se isso fosse possível.
O labirinto nunca se completa e acaba sempre noutro labirinto
onde está o Tigre inacabado e este
é o pior verão da minha vida.

No arquivo secreto de Alexandria
constam 56 contratos firmados com assassinos profissionais,
mas ninguém consegue dar um tiro no José Sócrates.
A Wired até explica como é que se consegue imprimir uma pistola
perfeitamente operacional para dar um tiro perfeitamente certeiro
no José Sócrates mas este
é o pior verão da minha vida.

O Miguel Veloso é o lateral esquerdo da selecção
e o João Pereira é o lateral direito e, como se não bastasse,
o Manuel Alegre está escandalizado porque uns militantes do PS
chamaram cabrão-filho-de-uma-cadela ao Costa e este
é o pior verão da minha vida.

Já fui à praia, mas estava a chover e o mar encolhia-se ao contacto
do meu corpo.
As baleias-palhaço voaram durante uns minutos
até ficarem sem gasolina.
As gaivotas contaram anedotas e beberam cerveja e
cagaram na areia.
Eu pedi champanhe mas trouxeram-me licor de algas não fosse este
o pior verão da minha vida.

Na esplanada da praia a que fui, estou a ler a viagem do Bloom
que é uma espécie de Vasco da Gama comunista,
e estou a ler sobre o desastre marítimo de Portugal
segundo opiniões de professores portugueses e estrangeiros
e estou a ler a enciclopédia do Afonso Cruz e
o sangue que escorre d'Os Nús e os Mortos mancha-me o fato de banho
e quando peço a conta (um licor de algas, dois cafés e uma anedota)
a menina de serviço à caixa identifica-me como
o senhor que estava a ler na esplanada
porque estar a ler na esplanada é espantoso e este
é o pior verão da minha vida.

Os árbitros desistiram de marcar penaltis e,
por causa do aquecimento global, os marcianos adiaram uma vez mais
a necessária invasão (Eisenhower hesita entre um cigarro e o próximo);
a praia normanda precisa de cadáveres para fazer história e
a tabacaria fechou quando eu finalmente tinha os trocos certos para comprar
os cigarros exactos e este
é o pior verão da minha vida.

Oiço trinta bandas por semana, mas não consigo gostar realmente
de uma canção.
Vejo cinquenta filmes por dia, mas nenhum até ao fim.
Leio os filósofos todos e nem uma página de verdade.
Até os diccionários mentem com todos os dentes da filologia
e as palavras estão cansadas de serem ditas
e os sons perderam o seu significado
e o mundo inteiro é uma parábola amoral e eu,
como um desertor em terra de ninguém, encolho-me
no aconchego de uma cratera.
A não ser que um morteiro traia a lógica das probabilidades, este
é o pior verão da minha vida.

terça-feira, junho 17, 2014

O que me chateia mais

não é o facto de ter sido goleado pela Alemanha.
O que me chateia mais é ter sido goleado no Brasil.

GT Academy: novo recorde.



Estranhamente, a cada ano que passa estou mais rápido na GT Academy. Este ano fiz 82º na classificação portuguesa e 2431ª no total mundial. Os melhores resultados de sempre.
Em 2015 vou tentar um lugar entre os 50 primeiros da classificação nacional.

Le Mans em apogeu.



Nas primeiras 18 horas da competição tudo parecia indicar que, finalmente, a Toyota ia conseguir a vitória que tanto procura. Mas, ao amanhecer, era a Audi que estava confortavelmente instalada na liderança da mais dura, carismática e espectacular prova da história do automobilismo. Porém, a 4 horas do fim, era já a Porsche que liderava. Os responsáveis da marca alemã, que detém o recorde de vitórias em Le Mans e que fazia a sua primeira corrida em 16 anos, não acreditavam simplesmente no que estava a acontecer. De facto, era demasiado incrível para ser verdade. No fim, porém, a lei do mais forte imperou, como invarievelmente impera no circuito de La Sarthe e, depois de 24 horas numa montanha russa de emoções, coube à Audi a glória de chegar primeiro.
Mais uma corrida inesquecível. 

sexta-feira, junho 13, 2014

Rocketville #9 - ISX-Enterprise






Já podemos sonhar com naves interestelares sem cair no ridículo:

NASA has unveiled conceptual designs for their theoretical warp drive propelled starship. The IXS Enterprise concept was developed at the NASA Eagleworks Advanced Propulsion Physics Laboratory, based on the theoretical work of Dr. Harold White. The conceptual starship designs were rendered by artist Mark Rademaker with help from Star Trek designer and technical consultant Michael Okuda.
The IXS Enterprise is certainly not something we are likely to see built and flown to the stars anytime soon. It is, however, based on Dr. White’s equations for what a warp capable ship might look like if NASA were to build one today.
That is, if they could produce the proper amount of energy to warp spacetime using such a magnificent looking interstellar vehicle. The good news is that more recent research has determined that the initial energy requirements for such an effort are not as demanding as previously calculated.
In May of 1994, theoretical physicist Miguel Alcubierre Moya* published a paper on a similar pie in the sky concept of a faster-than-light warp drive. This “Alcubierre drive” concept was not unlike the warp drive featured in Star Trek. The problem, it would require an insanely massive output of energy, somewhat near the mass-energy of the planet Jupiter.
Now, according to more recent calculations and research conducted by Harold White, the required mass-energy needed for this kind of warp drive is more on order of a Voyager 1 sized space probe. 

quinta-feira, junho 12, 2014

Palavras sábias, de um velho crápula.

"A ordem mundial do século XXI será drasticamente diferente da do século XX. A fundamentação lógica para a Europa de hoje não é a paz, mas sim o poder."

Tony BlairUm manifesto pela mudança europeia

terça-feira, junho 10, 2014

Contado ninguém acredita.



Antecipando o próximo fim de semana em Le Mans:
Alex Buncombe ultrapassa 17, sim dezassete, adversários na primeira volta da primeira corrida do Blanc Pain Endurance Series deste ano, disputada em Monza. Parece uma coisa do GT6, mas não é. Parece um campeonato de amadores, mas não é. É automobilismo a sério, numa das suas competições de topo (o principal campeonato de resistência a nível mundial). Absolutamente incrível.

domingo, junho 08, 2014

We call it diplomacy, Minister.

Sir Humphrey: Minister, Britain has had the same foreign policy objective for at least the last five hundred years: to create a disunited Europe. In that cause we have fought with the Dutch against the Spanish, with the Germans against the French, with the French and Italians against the Germans, and with the French against the Germans and Italians. Divide and rule, you see. Why should we change now, when it's worked so well?
Minister Hacker: That's all ancient history, surely?
Sir Humphrey: Yes, and current policy. We 'had' to break the whole thing up, so we had to get inside. We tried to break it up from the outside, but that wouldn't work. Now that we're inside we can make a complete pig's breakfast of the whole thing: set the Germans against the French, the French against the Italians, the Italians against the Dutch. The Foreign Office is terribly pleased; it's just like old times.
Minister Hacker: But surely we're all committed to the European ideal?
Sir Humphrey: [chuckles] Really, Minister.
Minister Hacker: If not, why are we pushing for an increase in the membership?
Sir Humphrey: Well, for the same reason. It's just like the United Nations, in fact; the more members it has, the more arguments it can stir up, the more futile and impotent it becomes.
Minister Hacker What appalling cynicism.
Sir Humphrey: Yes... We call it diplomacy, Minister.

Yes Minister - Antony Jay & Jonathan Lynn - 1987

sexta-feira, junho 06, 2014

Dia D: a glória e a vergonha.



Há 70 anos atrás, existiam homens de um género que agora não há. Homens maiores que deuses, capazes de desenhar o destino do mundo. Homens que acreditavam num modelo de civilização e que estavam preparados para pagar o preço, mesmo que fosse preciso morrer na praia. Homens eternos, maiores que a vida, como Wiston Churchill e Dwight Eisenhower, e homens cujo nome a história esquece, mais heróis ainda, que se deram à fúria da batalha em nome da liberdade e da dignidade humana.
Mas há 70 anos atrás, já existiam também os homenzinhos de agora. Homenzinhos desprovidos de honra, de carácter, de coragem e de visão, homenzinhos ideologicamente neutros, intelectualmente nulos, entregues apenas ao diabo da ambição pessoal; homenzinhos como De Gaulle, que no célebre discurso de libertação, em Paris, não foi capaz de dedicar uma só palavra aos que morreram para libertar a França. Homenzinhos como a maior parte dos franceses, que se adaptaram rapidamente ao domínio Nazi, fazendo da sua pátria, na prática, um aliado fundamental do esforço de guerra alemão. Homenzinhos como Petain e Miterrand, homenzinhos e mais homenzinhos que eram na altura a semente infame e virulenta dos líderes que temos agora. E quem morreria hoje na praia normanda, a mando dos líderes que temos agora?

domingo, junho 01, 2014

Ópera do Oeste Gelado.






Mesmo quando contracena com os glaciares do Alasca,
James Maitland Stewart é um homem enorme. O corpo dele é astronómico.
Todo o Klondike encolhe um pouco
de cada vez que o herói anti herói entra em cena.

O herói anti herói que não quer saber senão de si e que não está cá para
mariquices e que não deixa que uma merda de um juíz bandido
lhe fique com o gado.

O herói anti herói que não é objector de consciência, desde que lhe seja o gatilho útil
ao interesse próprio. Não há causas nobres. E muito menos
em Dawson City, causa plebeia, canadiana, fim da linha para a febre do ouro.

E se a avalanche cair sobre quem foi avisado da possibilidade de uma avalanche,
de que vale voltar atrás para cuidar dos pobres
imbecis?

O espectador tem paciência com o herói anti herói porque
o James Maitland Stewart é maior que a tela.
Se não fosse o tamanho do James Maitland Stewart, toda a gente ia  achar que ali
estava um vilão. Mas um vilão não pode ser assim
tão grande.

No entretanto, vão caindo mortos os que estão ali para serem inocentes e
não é de frio que caem. É a tiro de bala.

O herói anti herói porém, não parece lá
muito comovido. E o espectador que expecta, paciente, a justa vingança,
impacienta-se. Mas não dúvida. Ao gigante resta apenas ser o bom
gigante.

Chegará enfim o fim e, para alívio grato e genuíno da audiência, o herói
anti herói encontra a inevitável redenção, a tiro de bala.

E tudo por causa de um sininho de latão, que tilinta pela paz
irrecuperável.




The Far Country (1954) de Anthony Mann, com James Stewart, Ruth Roman, Corinne Calvet, Walter Brennan

Um contributo turco para desdramatizar Portugal.

O governo turco convocou hoje 25 mil polícias, sim 25.000, e 50 canhões de água, sim, cinquenta, para controlar uma manifestação em Istambul. A Turquia é considerada um estado de direito, laico, que assenta em valores constitucionais democraticamente consagrados. Esta manifestação não foi realizada perto de qualquer dos orgãos de soberania da república Turca, nem consta que existisse a ameaça de grupos armados na multidão manifestante.
E agora digam-me, damas e cavalheiros da esquerda indignada, não é Portugal um país fantástico, meigo, tolerante, pacífico, humanista e profundamente democrático?
E, mesmo sabendo que a inclusão da Turquia no espaço da União Europeia já não está na agenda dos universalistas de Bruxelas, também tenho que perguntar: como foi possível sequer pensarem que este país, profundamente inimigo de todos os valores ocidentais, pudesse alguma vez fazer parte do clube? How f**king naive can you get?