sexta-feira, março 31, 2006
quarta-feira, março 29, 2006
segunda-feira, março 27, 2006
Inimigos: uma história de amor.
"I didn't want to harm the man. I thought he was a very nice gentleman. I thought so right up to the moment I cut his throat."
Perry Smith
Não deixa de ser uma coincidência do diabo, mas ao iniciar um novo género de romance - a que chamou non-fiction novel - Truman Capote deparou logo com dois dos mais intrincados problemas da epistemologia da literatura. O problema número um foi ter-se apaixonado pelo personagem central da sua história, coisa indigna de um romancista direito e fraqueza que lhe tolheu a criatividade para nunca mais (In Cold Blood foi a última coisa que conseguiu terminar). O problema número dois foi Perry Smith não estar disposto a morrer exactamente quando Capote precisava que ele morresse. De tal forma que a obra-prima estava pronta, sem que, lamentavelmente, se lhe pudesse dar um fim. É claro que uma dor de cabeça derivou da outra, já que foi a imprudente paixão do autor que possibilitou ao condenado os recursos para ir protelando a inevitabilidade da forca. Mas a moral da rábula é mais paradoxal que prosaica: no limite da transcendência novelesca encontramos um conflito de interesses entre o amor e a morte. Que é como quem diz: entre a literatura e a vida.
sábado, março 25, 2006
A Marcha do Imperador.
Não é um documentário nem percebo a lógica desta classificação. A Marcha dos Pinguins é só um dos mais prodigiosos filmes da história do cinema e a demonstração inequívoca de que a inteligência, o amor, a elegância, a determinação, a dedicação, o altruísmo e a sensibilidade não são algoritmos exclusivos da equação humana. A vida épica do Pinguim Imperador deixou-me envergonhado de ser este estúpido, este mesquinho, este abstruso bicho sapiens. Na mais bonita cena de amor explícito que já vi, uma sequência que implode de sensualidade e ternura, saltaram-me lágrimas e, por um momento quântico, senti profundamente a razão divina da mãe natureza. A grandiosidade cenográfica da Antártida, a graciosidade transcendental da caminhada, a comoção pura da narrativa: Bravo, mil vezes bravo, Luc Jacquet!
O PINGUIM IMPERADOR NA WIKIPEDIA
"O pinguim imperador (Aptenodytes forsteri) é a maior ave da família Spheniscidae dos pinguins; os adultos podem medir até 1,1 metros de altura e pesar até 30 kg. Os machos desta espécie são dos poucos animais que passam o Inverno na Antártida.
O pinguim imperador caracteriza-se pela plumagem multicolorida: cinzento azulado nas costas, branco no abdómen, preto na cabeça e barbatanas. Esta espécie apresenta uma faixa alaranjada em torno dos ouvidos. A sua alimentação baseia-se em pequenos peixes, krill e lulas, que pescam em profundidades até aos 250 metros. O pinguim imperador pode estar cerca de vinte minutos sem respirar. Os predadores naturais do pinguim imperador inclui a orca, foca leopardo e tubarões.
O padrão reprodutivo desta espécie é bastante característico. As fémeas põem um único ovo em Maio-Junho, no fim do Outono, que abandonam imediatamente para passar o Inverno no mar. O ovo é incubado pelo macho durante os cerca de 65 dias seguintes que correspondem ao Inverno antártico. Para superar temperaturas de -40 °C e ventos de 200 km/h, os machos amontoam-se juntos e passam a maior parte do tempo a dormir para poupar energia. Eles nunca abandonam o ovo, que morreria de frio se o fizessem, e sobrevivem à base da camada de gordura acumulada durante o Verão. A fémea substitui o macho apenas quando regressa no princípio da Primavera. Se a cria choca antes do regresso da mãe, o macho do pinguim imperador alimenta o filho com secrecções de uma glândula especial existente no seu esófago."
sexta-feira, março 24, 2006
Eu gosto é do Verão.
Estou fartinho deste Inverno.
Trago a alma encharcada de aguaceiros
e anseio pelos dias soalheiros
de um Verão p'ra sempre eterno.
Já estou por aqui com o briol.
E cansa-me, no boletim metereológico,
o arzinho assim metodológico
com que nos desenganam do sol.
Não há meio de vir o calor.
Visto-me de gabardinas e sobretudos,
tremo pelos natais e p'los entrudos,
vivo as eras num torpor.
Raios partam outro dia de frio!
De respirar os odores do aquecimento
fico deveras pedrado, macilento
e com ataques de mau feitio.
Pois eu cá gosto é do Verão.
E estou bem saudoso dessa heresia
(quente e suprema alegria),
de apanhar um escaldão!
Trago a alma encharcada de aguaceiros
e anseio pelos dias soalheiros
de um Verão p'ra sempre eterno.
Já estou por aqui com o briol.
E cansa-me, no boletim metereológico,
o arzinho assim metodológico
com que nos desenganam do sol.
Não há meio de vir o calor.
Visto-me de gabardinas e sobretudos,
tremo pelos natais e p'los entrudos,
vivo as eras num torpor.
Raios partam outro dia de frio!
De respirar os odores do aquecimento
fico deveras pedrado, macilento
e com ataques de mau feitio.
Pois eu cá gosto é do Verão.
E estou bem saudoso dessa heresia
(quente e suprema alegria),
de apanhar um escaldão!
quinta-feira, março 23, 2006
quarta-feira, março 22, 2006
Blogues bons à brava: uma visão utilitarista.
O éternet nacional não sofre de faltas na qualidade. Então à direita do espectro ideológico, caramba, há para aí blogues danados de competentes que nunca mais acabam. Por paradoxo infeliz, esta massa crítica de valor intelectual que surge na blogosfera não tem ressonância no Portugal concreto, absolutamente carenciado de uma mecânica partidária que actue para além do Centrão entediante. Discute-se com erudição nestes blogues se o liberalismo é uma direita, quando o País não tem nem uma coisa nem outra. Afina-se a filosofia e a escolástica de ideais que o País não pensa. Dão-se catedráticas lições de história, de economia, de ciência política e o País permanece ignorante. Servem-se verdadeiros banquetes de cultura e o País passa fome disso. Pois eu cá acho o seguinte: quem tem valor assim, tem responsabilidades acrescidas. Até porque o sistema regimental que temos, não é vulnerável por fora. Mas está a cair de podre por dentro.
À escuta das Vozes da Poesia Europeia - VI
Celebrando a feliz edição da revista Colóquio Letras - que traz à estampa, em três cuidados volumes, as traduções que David Mourão-Ferreira fez da poesia europeia.
AL-MU'TAMID, O REI POETA.
Ao contrário do que se pode inferir pela legenda, Muhammad ibn 'Abbad al-Mu'tamid (1040-1095), o terceiro e último rei da dinastia dos Abadidas, governadores da taifa de Sevilha, foi um dos poetas mais importantes do Al-Andalus, tendo até ganho a reputação de militar moderado e homem santo. Na sua corte reuniram-se alguns dos maiores estudiosos e homens das artes da época, como o astronómo Al-Zarqali (Arzaquel), o geográfo Al-Bakri ou os poetas Ibn Hamdis, Ibn al-Labbana e Ibn Zaydun.
Nascido em Beja, aos treze anos comanda já um expedição militar que esmaga a revolta de Silves. O seu pai nomeia-o governador da região e é ali que al-Mu'tamid conhece o poeta Ibn Ammar. Entre os dois estabelece-se uma profunda relação passional. Em 1069 al-Mu'tamid sucede ao pai e uma das primeiras coisas que faz é nomear o seu amigo para vizir do reino. Ibn Ammar combate a seu lado na conquista de Murcia e al-Mu'tamid nomeia-o governador daquela região.
Até aqui, um conto de fadas gay. A partir de agora, uma novela gótica. Sucede que Ibn Ammar era um tipo desmedidamente ambicioso, frequentemente apanhado nas malhas da conspiração contra o seu rei. O canalha usaria mesmo as suas habilidades poéticas para escrever uma série de versos que ridicularizavam al-Mu'tamid e a sua amada, I'timad. Sem grande jogo de cintura para a lírica atrevida e já fartinho de um crápula daqueles, Al-Mu'tamid acaba por prender o ex-amante e, tomado por virulento ataque de fúria, entra na cela onde se encontra o malandro aferrolhado e mata-o com um machado. Zás, que nasce um poeta!
Em 1085,Afonso VI de Leão e Castela conquista a cidade de Toledo, vitória que inflinge um duro golpe no Islão peninsular. Cinco anos depois, o costumeiro aliado de al-Mu'tamid nas guerras que se sucederam, ibn Tashufin, não se limita a repelir os cristãos, mas aproveita também para anexar os taifados da península. Al-Mu'tamid é feito prisioneiro e desterrado para Aghmat, perto de Marráquexe, onde passará o resto da sua vida dedicando-se à actividade poética.
David Mourão Ferreira traduz porventura o seu poema mais célebre, lindíssimo tratado lírico e verdadeiro testemunho do apogeu cultural (e lúdico) de Silves.
EVOCAÇÃO DE SILVES
Eia, Abû Bakr, saúda os meus lares em Silves
e pergunta-lhes se, como penso,
ainda se lembram de mim.
Saúda o Palácio das Varandas
da parte de um donzel
que sente perpétua nostalgia desse alcácer.
Aí moravam guerreiros como leões,
e brancas gazelas
- em que belas selvas, em que belos covis!
À sua sombra, quantas noites passei
com mulheres de quadris opulentos
e de aparência extenuada!
Brancas e morenas
provocavam-me na alma
o efeito das espadas refulgentes
e das lanças escuras!
Quantas noites passei,
deliciado, numa volta do rio,
com uma donzela cuja pulseira
imitava a curva da corrente!
E servia-me vinho do seu olhar,
e o vinho do jarro,
e outras vezes o vinho da sua boca.
Assim passava o tempo!
Feridas pelo plectro,
as cordas do seu alaúde faziam-me estremecer,
e era como se ouvisse a melodia das espadas
nos tendões dos inimigos...
Ao despir o manto descobria o corpo,
florescente ramo de salgueiro,
como o capulho se abre
ao exibir a flor...
AL-MU'TAMID, O REI POETA.
Ao contrário do que se pode inferir pela legenda, Muhammad ibn 'Abbad al-Mu'tamid (1040-1095), o terceiro e último rei da dinastia dos Abadidas, governadores da taifa de Sevilha, foi um dos poetas mais importantes do Al-Andalus, tendo até ganho a reputação de militar moderado e homem santo. Na sua corte reuniram-se alguns dos maiores estudiosos e homens das artes da época, como o astronómo Al-Zarqali (Arzaquel), o geográfo Al-Bakri ou os poetas Ibn Hamdis, Ibn al-Labbana e Ibn Zaydun.
Nascido em Beja, aos treze anos comanda já um expedição militar que esmaga a revolta de Silves. O seu pai nomeia-o governador da região e é ali que al-Mu'tamid conhece o poeta Ibn Ammar. Entre os dois estabelece-se uma profunda relação passional. Em 1069 al-Mu'tamid sucede ao pai e uma das primeiras coisas que faz é nomear o seu amigo para vizir do reino. Ibn Ammar combate a seu lado na conquista de Murcia e al-Mu'tamid nomeia-o governador daquela região.
Até aqui, um conto de fadas gay. A partir de agora, uma novela gótica. Sucede que Ibn Ammar era um tipo desmedidamente ambicioso, frequentemente apanhado nas malhas da conspiração contra o seu rei. O canalha usaria mesmo as suas habilidades poéticas para escrever uma série de versos que ridicularizavam al-Mu'tamid e a sua amada, I'timad. Sem grande jogo de cintura para a lírica atrevida e já fartinho de um crápula daqueles, Al-Mu'tamid acaba por prender o ex-amante e, tomado por virulento ataque de fúria, entra na cela onde se encontra o malandro aferrolhado e mata-o com um machado. Zás, que nasce um poeta!
Em 1085,Afonso VI de Leão e Castela conquista a cidade de Toledo, vitória que inflinge um duro golpe no Islão peninsular. Cinco anos depois, o costumeiro aliado de al-Mu'tamid nas guerras que se sucederam, ibn Tashufin, não se limita a repelir os cristãos, mas aproveita também para anexar os taifados da península. Al-Mu'tamid é feito prisioneiro e desterrado para Aghmat, perto de Marráquexe, onde passará o resto da sua vida dedicando-se à actividade poética.
David Mourão Ferreira traduz porventura o seu poema mais célebre, lindíssimo tratado lírico e verdadeiro testemunho do apogeu cultural (e lúdico) de Silves.
EVOCAÇÃO DE SILVES
Eia, Abû Bakr, saúda os meus lares em Silves
e pergunta-lhes se, como penso,
ainda se lembram de mim.
Saúda o Palácio das Varandas
da parte de um donzel
que sente perpétua nostalgia desse alcácer.
Aí moravam guerreiros como leões,
e brancas gazelas
- em que belas selvas, em que belos covis!
À sua sombra, quantas noites passei
com mulheres de quadris opulentos
e de aparência extenuada!
Brancas e morenas
provocavam-me na alma
o efeito das espadas refulgentes
e das lanças escuras!
Quantas noites passei,
deliciado, numa volta do rio,
com uma donzela cuja pulseira
imitava a curva da corrente!
E servia-me vinho do seu olhar,
e o vinho do jarro,
e outras vezes o vinho da sua boca.
Assim passava o tempo!
Feridas pelo plectro,
as cordas do seu alaúde faziam-me estremecer,
e era como se ouvisse a melodia das espadas
nos tendões dos inimigos...
Ao despir o manto descobria o corpo,
florescente ramo de salgueiro,
como o capulho se abre
ao exibir a flor...
O que é bom também chateia.
Munique é um pedaço de cinema bastante razoável, mas enerva. Spielberg enche-se de remorsos e pergunta-nos sobre as virtudes da vingança. Desgraçadamente, não nos deixa pensar para responder: antecipa-se e fornece a tese lamechas de cineasta lamechas que sempre foi, em boa verdade. No entretanto, esquece-se de atribuir o inevitável relevo a partes importantes da história, que não lhe servem ao humanismo de pacotilha. Esquece-se de esclarecer, por exemplo, o deplorável papel que os alemães tiveram neste deplorável caso, optando pura e simplesmente por deixar morrer os reféns e por deitar rapidamente à liberdade os assassinos que sobreviveram (ainda foram uns quantos). Esquece-se de fazer brilhar o amadorismo terrível com que foram efectuadas as duas tentativas de resgate dos reféns. E esquece-se que a diferença grande está no facto do seu personagem se oferecer ao dilema moral, enquanto os homens que tenta desesperada e desastradamente assassinar são incapazes do exercício da dúvida metódica (também é verdade que Descartes não é árabe). Não lhes importa para nada essa coisa de ter uma consciência moral, muito porque a consciência religiosa que têm é suficiente carburante da volição e apreciavelmente curta de dialécticas. Dito com simplicidade: era impossível a Spielberg fazer este filme se o herói fosse palestiniano. Isso porém não o impede de deixar o seu herói judeu ficar mal na fotografia - triste figura de espião arrependido, alma penada já sem pátria nem ideia de deus, que não percebe o real significado dos seus actos. É por isso que esta fita, sendo até de primor técnico e inventivo, chateia um bocado.
terça-feira, março 21, 2006
segunda-feira, março 20, 2006
Instinto Fatal - 3
"Charles Henry Twain lived during the latter part of the seventeenth century, and was a zealous and distinguished missionary. He converted sixteen thousand South Sea islanders, and taught them that a dog-tooth necklace and a pair of spectacles was not enough clothing to come to divine service in. His poor flock loved him very, very dearly; and when his funeral was over, they got up in a body (and came out of the restaurant) with tears in their eyes, and saying, one to another, that he was a good tender missionary, and they wished they had some more of him."
Mark Twain - A Burlesque Autobiography
Mark Twain - A Burlesque Autobiography
sábado, março 18, 2006
sexta-feira, março 17, 2006
A verdadeira história de Adão e Eva.
Contrariamente ao conceito enraízado na cultura religiosa ocidental, a parra de Adão não lhe serve apenas para esconder as partes pudendas, antes resultando em justa parte da necessidade de esconder a presença (ou ausência) de uma outra, mais inocente, localidade fisiológica: o umbigo. Rubens, o autor da magnífica representação que acabo de desgraçar, não se lembrou de equacionar este pormenor, mas se Deus "formou Adão do pó do solo e soprou nas suas narinas o fôlego de vida"; e se Eva foi gerada a partir da costela desse homem iniciático com recurso à mais bárbara cirurgia (Adão estava a dormir quando lhe foi tirado o orgão) e fazendo um draconiano uso eugénico da engenharia estaminal (Eva é concebida para servir Adão), se um e outro não tiveram afinal vida uterina, PARA QUE RAIO PRECISAVAM ELES OS DOIS DE CORDÃO UMBILICAL? O umbigo de bom mamífero que Adão e Eva exibem distraídos pelos diversos palcos da semióptica judaico-cristã é de gargalhada, sendo que todo o mito criacionista sofre de plágios, é de fraquinha veia criativa e foi bastante infectado de paradoxos que vão da idiotia à comicidade. Não se percebe, por exemplo, como o criador presenteia os seus monstrinhos com generosos MOTORES SEXUAIS (proporcionalmente mais desenvolvidos do que na generalidade dos restantes mamíferos) só para depois os castigar, quando eles tomam CONHECIMENTO DA MECÂNICA. Como num conto de Mary Shelley, Adão e Eva são uns verdadeiros frankensteinzinhos que acabam por se virar contra o Pai, e daí a imperfeição ontológica para toda a posteridade. Boa desculpa para um aprendiz de feiticeiro que não soube simplesmente fazer a experiência como deve ser. Até porque houve nitidamente qualquer coisa que não correu bem e isso é natural. O que não é natural, nem moral, é deixar essa responsabilidade cair nos ombros dos QUASI MODO ACABADINHOS DE SAIR DA REDOMA. E, ainda por cima, condenar a infeliz descendência do casal primevo ao caos barbitúrico, ao desastre físico-químico deste BUG que é existir. Parece-me até isto uma infâmia, senhores! Mais a mais, um mito roubado às gentes da Mesopotâmia, Senhoras! Independentemente da qualidade literária da metáfora, à luz do Genesis acho mesmo que não tivemos sorte nenhuma com o DEUS-ASTRONAUTA-ESTAGIÁRIO que nos pariu em laboratório de má ciência.
Instinto Fatal - II
"No princípio do século XIX a equiparação dos Bosquímanos aos animais tornou-se tão arreigada que, durante uma caçada organizada por colonos holandeses, eles caçaram e comeram um bosquímano, pensando que se tratava do equivalente africano do orangotango malaio."
Stephen Jay Gould - O Sorriso do Flamingo
Stephen Jay Gould - O Sorriso do Flamingo
quarta-feira, março 15, 2006
O justo bode de expiação.
Já não é a primeira nem a segunda vez que crucifico aqui no blog este sr. fiasco, que nem para estagiário do Ramaldense tinha estatuto. Confesso até que, crucificá-lo assim, me dá algum alívio ao desespero de ver o Benfica a jogar à bola, excepção feita a duas ou três partidas, que, se correram bem, não foi certamente por responsabilidade deste senhor, que devia ir já para o país dele.
O Sr. Ronald Koeman é de uma compreensão lenta absolutamente recordista e, chegados à fase final - e crucial - da época ainda não percebeu nadinha de nada. Ainda não percebeu que só ganhou ao Liverpool porque o Petit teve a clarividência de se deixar lesionar num treino, caso contrário a sua primeira estratégia de três trincos teria provocado um dos maiores naufrágios da história da marinha mercante. Ainda não percebeu que o Quim tem que jogar em vez do desgraçado do Moreto, de forma a resolver o problema que ele próprio criou quando teve o delírio de colocar este último como titular ainda o homem não tinha acabado de desfazer a mala. Ainda não percebeu que o Nuno Gomes tem que ter um homem à frente dele, caso contrário, só sai merda. Ainda não percebeu que o Giovani é um péssimo extremo e um excelente falso avançado centro. Ainda não percebeu que o Sr. Laurent Robert só veio para Lisboa com a intenção de melhorar o seu Plano Poupança Reforma. Ainda não percebeu que o Beto é um troglodita sem qualquer capacidade futebolística para além de um clássico de solteiros contra casados disputado num batatal, de preferência com inclinação de 6% a favor dos solteiros, já que presumo não existir mulher no mundo que conceba casar com uma besta destas. Ainda não percebeu que não vale a pena jogar com seis tipos na defesa quando o adversário é a Naval Primeiro de Maio. Ainda não percebeu que os centrais devem, por maioria de razão e senso comum, jogar a centrais, que os defesas laterais devem jogar a defesas laterais, que os trincos devem jogar a trincos, que os médios de ataque devem atacar e assim sucessivamente. Ainda não percebeu que rotatividade não quer dizer 33 equipas em 36 jogos oficiais. Ainda não percebeu que uma equipa de futebol tem que ter uma estrutura táctica definida, com titulares indiscutíveis que implementem um estilo de jogo adaptado às suas potencialidades, e com modificações apenas em função das disponibilidades do plantel e das contigências de cada partida. E ainda não percebeu que está a trabalhar num clube enorme, muito maior do que alguma coisa remotamente parecida que possa existir na terra dele, esse pântano imerso, descaradamente roubado aos peixes.
O Sr. Ronald Koeman consegue até ser mais parado de inteligência que o seu compatriota e congénere do Futebol Clube do Porto e que o seleccionador-nacional-sargento-dos-trópicos; dois casos extremos de treinadores sub-sapiens. Ou muito me engano ou vai sair rapidamente de Portugal com zero títulos, deixando o Benfica no quarto ou quinto lugar da liga, honrosa posição que dará direito a uma prometedora participaçãozinha na Taça UEFA para a época 2006/2007.
Termino dedicando este post aos meus amigos benfiquistas e semi-benfiquistas (há bastantes) que, mostrando uma evidente ausência de razão crítica e graves disfunções do aparelho óptico (para usar de parcimónia), insistem em achar que o SLB até tem um treinador de futebol minimamente competente.
segunda-feira, março 13, 2006
sábado, março 11, 2006
Um pequeno milagre.
Um dos mais intrincados problemas da astrobiologia contemporânea é este: a vida, como a conhecemos, precisa de água como um cortador de relva necessita de gasóleo. E é apenas sensato pensar que, onde há água, haverá um qualquer bichinho vivo, nem que seja a porcaria de uma bactéria. Mas, por fatalidade, a água corre apenas num infinitésimo intervalo de temperaturas: abaixo dos 0ºC transforma-se em gelo, acima dos 100ºC passa ao estado gasoso. Ora, tendo em conta as abissais amplitudes térmicas dos sistemas cósmicos, as hipóteses de dar de caras com um diabo de um planeta onde se verifique a existência de água são ainda mais improváveis do que descobrir a agulha logo à entrada do palheiro, certo? Errado. A Cassini acaba de registar a erupção daquilo que tem todas as possibilidades de ser, nada mais, nada menos, um excelente geiser no polo sul de uma geladíssima e quase irrelevante lua de Saturno. A notícia surge como uma chapadona sonora, pesadinha e certeira na cara macilenta da comunidade científica mundial. Se existe água em Enceladus, é porque, mesmo em sistemas dominados por condições ambientais extremas, são criadas condições para o evento de temperaturas amenas, do género das que conhecemos na Terra. Se existe água em Enceladus não é nada imbecil supor que, de facto, a vida orgânica manifesta-se para além do que temos por garantido no terceiro calhau a contar do sol. Se existe água em Enceladus, é justo especular sobre a existência de condições propícias à vida noutros locais do sistema solar, como por exemplo em Io, uma exótica lua de Júpiter que tem dasafiado a imaginação, até agora delirante, de um bom número de astrofísicos. Se existe água em Enceladus, podemos finalmente respirar de alívio: não somos os exclusivos detentores do impulso biológico no universo. Se existe água em Enceladus, deus esqueceu-se de nos dizer a verdade.
Mais (e melhor) informação sobre esta notícia absolutamente boa aqui.
sexta-feira, março 10, 2006
Sem legendas.
Columbano Bordalo Pinheiro. Quatro e picos da tarde. Um negócio de manequins para o retalho de pronto-a-vestir, exibe, desnudados, os seus modelos em acrílico, polipropileno, fibra de vidro e esferovite. Estáticas, as estátuas lançam um olhar provocador para um homem de meia idade e barba cerrada que interrompe seu caminho e, atónito, fixa o rosto alvo e imaculado de um destes magníficos exemplares. Passo por ele e oiço-o: "És mesmo tu, Odette?" E depois, resignado à realidade de um mundo sem fantasia, enquanto reinicia a caminhada: "Que Diacho, não podes ser tu."
Não estou a inventar nada. Na verdade, continuei no sentido oposto do amigo da Odette, até que este se afastou para fora do horizonte da percepção. Voltei para trás e acabei por ficar ali uns minutos, contemplando a Odette (era mesmo ela), o Gismundo (que reconheci logo depois), o Alberto (que não via há que tempos) e a Rosário (que permaneceu indiferente aos piropos que lhe dirigi). Todos eles - os manequins - estavam assustados e incrédulos. A Odette era capaz de jurar que tinha acabado de ver o seu Júlio do outro lado da montra. O Gismundo pensou logo em voltar à chatice dos tratamentos psiquiátricos, o Alberto insistia que se tratava de uma experiência religiosa e a Rosário, altiva, repetia as leis da termodinâmica, acentuando o disparate impossível que registava a contragosto. "Toda a gente sabe - e a ciência está aí para o demonstrar - que os humanos não falam, nem sentem, nem são atrevidos. Está mais que provado que esta gente só sabe subir e descer calçadas. Isto é apenas uma alucinação colectiva e já passa, vão ver." Como detesto arruinar os sistemas metafísicos dos outros, fui à minha vida.
quinta-feira, março 09, 2006
O futebol é lindo.
O golo de Simão Sabrosa em Anfield Road é uma obra prima de calibre estético renascentista. Este é um daqueles momentos em que gostar de futebol (e ser benfiquista) compensa à brava. Toda a expressão plástica do animal humano que dá beleza aos desportos de alta competição cabe nestes escassos segundos de prazer onírico. A coisa é tão bem feita que tem algo de irreal; há um certa transcendência quando a bola entra redondinha no canto superior direito da baliza. Para além da noite histórica, para além da alegria brutal da vitória limpinha sobre o campeão europeu, para além do júbilo imenso de ver, mais uma vez, o futebol português afirmar-se no quadro da alta competição europeia; fica este golo-maravilha. Este golo-prodígio. Este épico pontapé no rabo dos deuses do futebol (que, como toda a gente sabe, são ingleses).
quarta-feira, março 08, 2006
terça-feira, março 07, 2006
A saudade inevitável.
À medida que o passar dos dias me vai corroendo o corpo, a alma e a consciência - essa santíssima trindade de sonhos traídos - agigantam-se mais e mais certos fotogramas de uma existência remota, retratos que permaneceram semi-ocultos na cortina do fumo estupefaciente da memória e que agora flasham, pretéritos, sobre o cenário concreto do presente do indicativo, ganhando dimensões sobre o relevo das horas, penetrando com tenacidade nos labores da razão prática, alterando policromaticamente a tela do mundo. As aventuras que deixei para trás, as pessoas que perdi no trajecto alucinante da vida, a pólvora genomática da juventude que fiz por rebentar sem cerimónias - explosivo que já não tenho em arsenal - certos caminhos da floresta que partilhei com outros lobos, determinados minutos de transcendência e fé, vastos calendários de promessas e episódios de redenção: tem-me subido tudo isto à cabeça e estou ébrio desse vinho sagrado com que fui matando a sede de viver.
Ontem, enquanto gozava a companhia quente de um amigo antigo, morreu o avô de uma velha amiga. No entretanto disto, o fotomaton recessivo do passado exibia-se em reposição de 88mm para os meus olhos de dentro. Volto a escrever isto: o que me intriga, o que me assusta na condição humana, não é a inevitabilidade da morte. É a inevitabilidade da vida.
Sobre direitos de autor.
Já não é a primeira vez que surgem equívocos sobre a autoria de algumas das imagens que edito neste blog e eu não gosto de equívocos. Explico-me: utilizo, ali e aqui, algumas imagens que não são minhas. Vou buscá-las ao banco royalty free da getty-images ou da wikipedia e não as credito da mesma forma que também não credito as fotografias minhas que vou editando pelo correr dos dias. No que respeita a imagens de figuras públicas, uso o que vem à rede sem problema nenhum. Ficam de qualquer forma avisados os ilustres visitantes que as rúbricas que se fundamentam na imagem são, para o bem e para o mal, obviamente, da minha inteirinha autoria (exceptuando o retrato de obras de arte que é originário de museus virtuais explicitamente rights-free).
Dito isto, que não me tomem, por favor, como um gajo de gostos piratas. Pago a minha música. Pago os meus filmes. Pago os meus livros. Não pago para estar aqui. E, assim sendo, entendo a blogosfera como uma causa comum sem fins lucrativos, nem legitimidade para rigores jurídicos deste irritante género. Obrigado pela atenção.
Dito isto, que não me tomem, por favor, como um gajo de gostos piratas. Pago a minha música. Pago os meus filmes. Pago os meus livros. Não pago para estar aqui. E, assim sendo, entendo a blogosfera como uma causa comum sem fins lucrativos, nem legitimidade para rigores jurídicos deste irritante género. Obrigado pela atenção.
domingo, março 05, 2006
À escuta das Vozes da Poesia Europeia - V
Celebrando a feliz edição da revista Colóquio Letras - que traz à estampa, em três cuidados volumes, as traduções que David Mourão-Ferreira fez da poesia europeia.
MARCIAL E A MÁ LÍNGUA.
Nascido na Ibéria ao tempo insano de Calígula e chegado a Roma em pleno inferno de Nero, Marco Valério Marcial (86-103 D.C) testemunhou in loco toda a demência ontológica inerente ao início do declínio do Império, incluindo o grande incêndio, as orgias de sexo e morte, as intrigas da corte, os assassinatos políticos, o regabofe absoluto na moral e nos costumes, o descrédito dos rituais e das instituições e, claro está, o triunfo da má língua.
Poeta da calúnia, ácido comentador das fraquezas mundanas, Marcial é um sobrevivente: exibindo despreocupadamente flagrantes falhas de carácter, o poeta mostrou-se sempre servil e pressuroso para com os seus péssimos reis, mas apenas até ao momento da morte destes, altura em que tratava de lhes corroer e enxovalhar alarvemente a memória. Mantendo-se cuidadosamente silencioso sob a poderosa protecção de Séneca, enquanto duraram os tempos bárbaros dos imperadores com atraso mental, inicia a publicação dos seus imortais Epigramas apenas com a subida ao poder de Tito Flávio e depois, de Domiciano, sumos pontífices igualmente incompetentes, embora mais tolerantes para com bobos e trovadores. Marcial também não era reconhecido pelos seus escrúpulos: vivia literalmente à custa de patronos de quem dependia até no que se refere ao vestuário, traía frequentemente amizades e segredos pela pertinácia de um verso e não revelava qualquer vestígio de pudor ao escrever sobre a ausência de pelos púbicos de um nobre, os trajes de quarto de uma cortesã ou a veneranda impotência de um senador. Mais a mais, fazia questão de os referenciar, nos versos, pelos seus nomes próprios.
A sua reputação até poderá ser algo injusta, dado o contexto psico-social da época, mas a verdade estará concerteza no que nos deixa de literatura e essa é, em paralelo, ordinária e genial, vulgar e brilhante; formalmente perfeita (o epigrama é um género grego que exige altos recursos estilísticos e impõe um regime métrico de complexidade quântica) mas com virulentos ataques de mau gosto e de maus fígados.
David Mourão Ferreira respeita bem a memória polémica de Marcial e opta por traduzir precisamente alguns dos mais picantes e mal criados epigramas, onde porém se expressa em tom sublime o humor, o virtuosismo, o sensacionalismo colunista do pai de todos os poetas de escárnio e mal-dizer que a humanidade em boa hora soube parir.
Deixo-vos pois, com Marco Valério Marcial e o desvario estético do esgoto sociológico de Roma.
Passam por teus os versos que recitas,
e que afinal são meus.
Tão mal, porém, tu os recitas
que passam a ser teus...
Epigramas - Livro I
Se depilas o peito, as pernas mais os braços,
se teu pénis também em torno é depilado,
é porque à tua amante assim melhor agradas...
Mas em quem pensas tu, ao depilar o rabo?
Epigramas - Livro II
"Não custa nada, não é nada",
dizes-me sempre, Cina,
de cada vez que me fazes algum pedido...
Se não é nada Cina,
nada então te recuso, meu amigo.
Epigramas - Livro III
Já sessenta anos tem o Orador Cascélio:
e já começa a dar vidas de ter talento...
Quando será, enfim, um orador a sério?
Epigramas - Livro VII
De seu membro viril 'stá doente o teu escravo;
tu, Névolo, do rabo.
Adivinho não sou; mas presumo o que fazes.
Epigramas - Livro VII
Não te envio, Pontiliano, os livros meus,
para que tu, assim, me não envies os teus.
Epigramas - Livro VII
A Partos, a Germanos, a Dácios dás-te Célia;
nem os da Capadócia, ou Cilícia recusas;
vêem mesmo de Mênfis para te fornicar,
e os negros indianos, pelo Vermelho Mar;
aos judeus circuncisos tão-pouco o leito negas;
e à tua porta apeia-se o cavaleiro alano...
Então por que motivo, moça romana sendo,
só enfim não te agradam as piças dos romanos?
Epigramas - Livro VII
MARCIAL E A MÁ LÍNGUA.
Nascido na Ibéria ao tempo insano de Calígula e chegado a Roma em pleno inferno de Nero, Marco Valério Marcial (86-103 D.C) testemunhou in loco toda a demência ontológica inerente ao início do declínio do Império, incluindo o grande incêndio, as orgias de sexo e morte, as intrigas da corte, os assassinatos políticos, o regabofe absoluto na moral e nos costumes, o descrédito dos rituais e das instituições e, claro está, o triunfo da má língua.
Poeta da calúnia, ácido comentador das fraquezas mundanas, Marcial é um sobrevivente: exibindo despreocupadamente flagrantes falhas de carácter, o poeta mostrou-se sempre servil e pressuroso para com os seus péssimos reis, mas apenas até ao momento da morte destes, altura em que tratava de lhes corroer e enxovalhar alarvemente a memória. Mantendo-se cuidadosamente silencioso sob a poderosa protecção de Séneca, enquanto duraram os tempos bárbaros dos imperadores com atraso mental, inicia a publicação dos seus imortais Epigramas apenas com a subida ao poder de Tito Flávio e depois, de Domiciano, sumos pontífices igualmente incompetentes, embora mais tolerantes para com bobos e trovadores. Marcial também não era reconhecido pelos seus escrúpulos: vivia literalmente à custa de patronos de quem dependia até no que se refere ao vestuário, traía frequentemente amizades e segredos pela pertinácia de um verso e não revelava qualquer vestígio de pudor ao escrever sobre a ausência de pelos púbicos de um nobre, os trajes de quarto de uma cortesã ou a veneranda impotência de um senador. Mais a mais, fazia questão de os referenciar, nos versos, pelos seus nomes próprios.
A sua reputação até poderá ser algo injusta, dado o contexto psico-social da época, mas a verdade estará concerteza no que nos deixa de literatura e essa é, em paralelo, ordinária e genial, vulgar e brilhante; formalmente perfeita (o epigrama é um género grego que exige altos recursos estilísticos e impõe um regime métrico de complexidade quântica) mas com virulentos ataques de mau gosto e de maus fígados.
David Mourão Ferreira respeita bem a memória polémica de Marcial e opta por traduzir precisamente alguns dos mais picantes e mal criados epigramas, onde porém se expressa em tom sublime o humor, o virtuosismo, o sensacionalismo colunista do pai de todos os poetas de escárnio e mal-dizer que a humanidade em boa hora soube parir.
Deixo-vos pois, com Marco Valério Marcial e o desvario estético do esgoto sociológico de Roma.
Passam por teus os versos que recitas,
e que afinal são meus.
Tão mal, porém, tu os recitas
que passam a ser teus...
Epigramas - Livro I
Se depilas o peito, as pernas mais os braços,
se teu pénis também em torno é depilado,
é porque à tua amante assim melhor agradas...
Mas em quem pensas tu, ao depilar o rabo?
Epigramas - Livro II
"Não custa nada, não é nada",
dizes-me sempre, Cina,
de cada vez que me fazes algum pedido...
Se não é nada Cina,
nada então te recuso, meu amigo.
Epigramas - Livro III
Já sessenta anos tem o Orador Cascélio:
e já começa a dar vidas de ter talento...
Quando será, enfim, um orador a sério?
Epigramas - Livro VII
De seu membro viril 'stá doente o teu escravo;
tu, Névolo, do rabo.
Adivinho não sou; mas presumo o que fazes.
Epigramas - Livro VII
Não te envio, Pontiliano, os livros meus,
para que tu, assim, me não envies os teus.
Epigramas - Livro VII
A Partos, a Germanos, a Dácios dás-te Célia;
nem os da Capadócia, ou Cilícia recusas;
vêem mesmo de Mênfis para te fornicar,
e os negros indianos, pelo Vermelho Mar;
aos judeus circuncisos tão-pouco o leito negas;
e à tua porta apeia-se o cavaleiro alano...
Então por que motivo, moça romana sendo,
só enfim não te agradam as piças dos romanos?
Epigramas - Livro VII
Ontem descobri este senhor.
"Como compreender psicologicamente, socialmente, a capacidade dos seres humanos de interpretarem e serem sensíveis, por exemplo, a Bach ou Schubert, à noite, e de torturarem outros seres humanos na manhã seguinte?”
George Steiner, Errata.
George Steiner, Errata.
quarta-feira, março 01, 2006
"Há alguns dias levei um macho de Mantis Carolina a um amigo que possuía uma fêmea solitária como animal de estimação. Uma vez colocados no mesmo boião, o macho, alarmado, tentou escapar. Em poucos minutos a fêmea conseguiu imobilizá-lo. Ela começou por lhe arrancar o tarso anterior esquerdo e devorou a tíbia e o fémur. Em seguida arrancou-lhe o olho esquerdo. Neste momento, o macho pareceu aperceber-se da proximidade de um insecto do sexo oposto e iniciou uma série de vãs tentativas de acasalar. A fêmea, entretanto, comeu-lhe a pata anterior direita e em seguida decapitou-o completamente, devorando-lhe a cabeça e abrindo caminho para o interior do tórax. Apenas se deteve para repousar quando já havia comido todo o tórax do macho, à excepção de 3mm. Tudo se passou enquanto o macho tentava obter entrada nas válvulas, o que acabou por conseguir, uma vez que a fêmea voluntariamente a isso se dispôs, e o acasalamento consumou-se. Ela permaneceu sossegada durante 4 horas, enquanto os restos do macho, ocasionalmente, davam sinais de vida por meio de movimentos de um dos restantes tarsos. Na manhã seguinte, a fêmea tinha-se desembaraçado completamente do seu esposo e dele só sobraram as asas."
L. O. Howards - 1886
In "O Sorriso do Flamingo" - Stephen Jay Gould - 1985
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