terça-feira, julho 28, 2020

O assunto parangona que não passa de rodapé.

 
Neste artigo do NYT podemos ler um incrível parágrafo: 
 
"Mr. Davis, who now works for Aerospace Corporation, a defense contractor, said he gave a classified briefing to a Defense Department agency as recently as March about retrievals from off-world vehicles not made on this earth. (...) Mr. Davis said he also gave classified briefings on retrievals of unexplained objects to staff members of the Senate Armed Services Committee on Oct. 21, 2019, and to staff members of the Senate Intelligence Committee two days later."
 
Este Mr. Davis é o Dr. Eric W. Davis, astrofísico doutorado pela Universidade do Arizona, investigador de sistemas de propulsão no Institute for Advanced Studies de Austin e CEO de uma empresa - a Warp Drive Metrics - que presta serviços de consultadoria para a NASA e o Pentágono, para além de ser, conforme nota o NYT, colaborador da Aerospace Corporation, um dos principais fornecedores californianos de consultadoria técnica para missões espaciais. Portanto: não é um palhaço qualquer. Não é um avatar anónimo. Dado que trabalha para as instituições que acabei de referir, também não se trata de um professor excêntrico ou de um atrasado mental. E, apesar de ter bastante a perder e nada a ganhar, deu a cara para ser citado num artigo do New York Times, afirmando que brifou o departamento de defesa americano e representantes do comité de inteligência do senado sobre materiais recuperados de veículos alienígenas. Mais a mais, até agora, ninguém o desmentiu.
 
Num mundo são e normal, o headline da notícia seria retirado do excerto que acabei de trancrever e não construído à volta de uma vaga especulação sobre o que vai ou não vai o Pentágono fazer num futuro indeterminado com o seu dossier sobre Objectos Voadores Não Identificados, que é provavelmente um "nothingburger". Num mundo são e normal este artigo seria "breaking news" em todo o lado. Como claramente não vivemos num mundo são e normal, a notícia passou completamente despercebida e aquele que é, talvez, o mais credível testemunho de que, alínea a, existem outras civilizações no universo e de que, alínea b, somos visitados por elas, redundou num silêncio mediático que é, no mínimo, preocupante sobre o estado hipnótico em que se encontram as sociedades contemporâneas: por um lado, a overdose informacional dos dias que correm leva a uma total ausência de curiosidade, enquanto a falência de credibilidade de orgãos de comunicação social outrora sacrossantos conduzem à mais diletante indiferença. Por outro, assuntos irrelevantes são projectados como de importância existencial ao mesmo tempo que as questões mais profundas sobre a condição humana e o seu enquadramento ontológico no cosmos são marginalizadas para o rodapé insignificante do que não está na agenda mainstream (leia-se: racismo e políticas de identidade, homofobia e guerra dos sexos, justiça social e equalização marxista, covid-19 e normalização da opinião pública).
 
Eu não sei se o universo abriga outras civilizações capazes de estabelecer contacto connosco ou não. E mesmo que outras civilizações existam, não sei sequer se o contacto e a comunicação entre inteligências com origens planetárias diferentes será possível, dadas as distâncias inconcebíveis no espaço e no tempo, os limites da física no que se refere ao trânsito cósmico e as divisões biológicas, antropológicas, linguísticas e culturais que concerteza nos separam de seres provenientes de localidades remotas e ecologicamente díspares da nossa. Já acreditei mais nisso do que acredito hoje em dia, e cada vez mais desconfio que estamos mesmo sozinhos (por sermos os únicos ou por estarmos condenados à solidão por um universo onde a interacção é interdita ou muito improvável). Mas a minha ignorância só alimenta a curiosidade e o meu pessimismo nunca vencerá a vontade de saber mais. E eu quero saber mais sobre aquilo que o Dr. Eric W. Davis sabe ou não sabe. E não, não consigo entender porque raio é que esta notícia não é a Notícia do momento.

sábado, julho 25, 2020

A discoteca da minha vida: discos 41 a 45

#41 - Nevermind - Nirvana

Cabum: entra em palco o rei suicida, que trocou a guitarra por um lança-chamas e fez disso o seu totem. Disso e da heroína, claro. “Nevermind”, o segundo dos breves 3 discos de estúdio dos Nirvana, vem gravado em aço inoxidável que os ácidos versos de Cobain não conseguem corroer. Não pode ser uma coisa mais desiludida com a existência, mais despreocupada com a conta da electricidade ou mais dentro do cânone grunge que rebentava na altura entre Seattle e San Francisco. É um disco eterno e eu, que sempre tive pancada por bandas de 3 músicos apenas, acho que esta é das melhorzinhas que há.




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#42 - Public Fruit - Curve


Em 1992 este disco era a definição de som da frente: “Pubic Fruit” faz colidir os vários e bombásticos curta duração que os incríveis Curve tinham publicado nos dois anos anteriores e que vão influenciar bandas posteriores como os Prodigy, os Leftfield ou os Underworld. O “Noise Pop” inventado por Toni Halliday e Dean Garcia consistia num inovador palco sonoro - condensado cacofónico de ruídos electrónicos lançados a uma velocidade maluca pela percussão em upbeat delirante - e num trabalho vocal de ambição lírica e consistência melódica que compensava largamente o barulho de fundo.
Oiço “Blindfold” e ainda acho, 30 anos depois, que os Curve soam a vanguarda por todo o lado. Essa é que é essa.



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#43 - Automatic For The People - REM


Entre promessas de interrupção da boa actividade pulmonar, a prototípica depressão do folk confederado e o pós-moderno sentido de humor de Andy Kaufman - o homem na lua; os REM conseguiram encontrar um caminho para a posteridade e, não tendo nada contra os outros 14 trabalhos de estúdio desta banda operária, “Automatic For The People”, a oitava tentativa de perfeição, é um disquinho imortal.
E se Michael Stipe trauteasse só um pouco melhor os versos de  “Nightswimming” já não era um homem, mas um deus, que estaria a cantar.



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#44- Siamese Dream - Smashing Pumpkins

Este é muito provavelmente o disco de rock que mais amei na vida. E que mantém o poder de me transportar no tempo. Lembro-me por exemplo e como se fosse hoje de uma noite diluviana, na apinhada Praça de Touros de Cascais: Billy Corgan diz que a música pode fazer parar a chuva. Toca os primeiros acordes de “Today” e a chuva cessa. A praça de touros entra em êxtase, numa moche compacta de 15.000 macacos e este foi o mais belo concerto a que alguma vez assisti e eu fui a muitos, mas mesmo muitos concertos. No terceiro encore, a banda começa a tocar sem D'arcy Wretzky-Brown, a baixista, que quando retoma o seu lugar em palco, interrompe toda a gente, furiosa, porque os homens não conseguem entender que ao fim de 3 horas de sublime selvajaria, uma rapariga precisa de ir à casa de banho.
Saí deste concerto a desconfiar que Deus toca guitarra. Eléctrica.
“Siamese Children” não tem comparação com nada. Os Smashing Pumpkins não têm comparação com ninguém. Os meus tímpanos estão sempre com saudades deles. E volto a este disco - e aos outros todos que eles gravaram entre 1991 e 2000 – recorrentemente, para aliviar a dor. Para recuperar a glória.
O Rock é isto e o resto é conversa.

 
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#45- Jar Of Flies - Alice In Chains
 
"And yet I find
Repeating in my head
If I can't be my own

I'd feel better dead"

Mais Grunge porque estamos em 1993 e o que está a dar é isto: Alice no País das Moscas. Alice, nascida e acorrentada em Seattle, muito mais lixada com o destino do que a Alice original, mas, surpreendentemente, com um balanço redentor, que esmaga qualquer bruxa de copas, qualquer varejeira rainha que se apresente à frente de um par de colunas. “Jar of Flies” é uma coisa danada, malta. Como é que criaturas que gostam tão pouco de viver - e de si próprias - conseguem criar música tão fixe? A filosofia não sabe explicar isto e a ciência muito menos. É um mistério. Os Alice In Chains são impossivelmente uma boa dor de cabeça. Impossivelmente uma ressaca agradável. Um suicídio que corre mal, felizmente. E trazem à sua dedicada audiência uma verdade certeira: a música resolve muita coisa. Se calhar e lá muito de vez em quando, até resolve a vida.
 

São os heróis que fazem justiça.


https://pbs.twimg.com/media/Edqe8bqWsAEAddY?format=jpg&name=900x900

Há coisa de um ano e meio contei aqui a história escandalosa da fraude mediática perpetrada pelos media e pelas big tech em criminoso desfavor dos miúdos da escola católica de Covington, código postal Geórgia, Estados Desunidos da América.
O episódio, que consubstancia os fundamentos da calúnia sistemática contra brancos cristãos que é todos os dias produzida pelos orgãos de comunicação do mainstream ocidental, é na verdade calamitoso nos 360 graus da calamidade, mas 18 meses depois percebemos que nem tudo está perdido e que podemos ainda, aqui e ali, contar com alguns dos méritos sagrados das repúblicas democráticas ocidentais que ainda não foram completamente destruídos.
No dia em que completou 18 anos, Nicholas Sandmann, anunciou que chegou a acordo com o Washington Post. Como já tinha chegado a acordo com a CNN. Porque se tratam de processos que iam cair em tribunal à procura de indemnizações de 250 milhões de dólares para cima, é expectável que neste momento o bom e inocente do Nick já esteja no patamar dos multi-milionários e só vamos no segundo vilão mediático, das seis infames instituições que Nicholas tem na sua mira judicial. E que vão pressurosa e necessariamente pagar um preço alto para não serem condenados judicialmente de acordo com a objectiva patifaria.
A esta circunstância chamo eu: Justiça.

Pelos vistos, e contra tudo o que é expectável, parece ainda existir uma possibilidade de redenção, neste mundo cão.
https://twitter.com/LLinWood/status/1286515407185235969?s=20
https://twitter.com/LLinWood/status/1286515407185235969?s=20

sexta-feira, julho 24, 2020

Como é óbvio.

É evidente que a resposta dada ao Covid-19 por muitos dos estados ocidentais, inclusivamente o Estados Unidos, tem sido conduzida por valores políticos - isto é, de conquista e manutenção de poder - mais que por valores científicos ou humanistas.
Muito porque é o homem com maior audiência na história das cable news, Tucker Carlson não tem medo de ninguém. E expõe, como nenhuma outra cabeça falante, o processo revolucionário em curso.

quarta-feira, julho 15, 2020

Haikus da revolução.



Por uma vez na História
esta é a revolução das elites
contra a vontade popular



Se Sir Winston Churchill é racista
que insulto reservas
a Adolf Hitler?



A Lego tem vergonha
da sua esquadra de polícia



Enquanto revolucionários fazem a revolução
revolucionados passam uma esplêndida
tarde de praia



Não é xadrez
mas há gente que ainda não percebeu
o que está em jogo



Hoje cancelam a polícia
amanhã, os bombeiros
só as cinzas sobrevivem ao telejornal



Sim, consegues
destruir numa geração o que levou
milénios a construir



O fardo do homem branco
é mais pesado de glórias
que de vilanias



A estátua agora derrubada
é História a seguir esquecida



A escória humana sempre serviu as revoluções
mas nunca tanto
como a esta



Os heróis que vandalizam a propriedade dos outros
serão vilões quando aviltam
a tua



A violência é boa ou má
dependendo da cor da pele?



Nunca foram tão ignorantes os sábios
nunca foram tão sábios os ignorantes



Enquanto Roma arde
Jeff Bezos toca a sua lira



Lenine não faria melhor
e Estaline vem a seguir

terça-feira, julho 14, 2020

O que diz Weiss.

Ninguém melhor para denunciar a vergonha que é o New York Times de hoje em dia do que a sua editora de opinião, Bari Weiss, que se demitiu hoje: 

"(...) The lessons that ought to have followed the election—lessons about the importance of understanding other Americans, the necessity of resisting tribalism, and the centrality of the free exchange of ideas to a democratic society—have not been learned. Instead, a new consensus has emerged in the press, but perhaps especially at this paper: that truth isn’t a process of collective discovery, but an orthodoxy already known to an enlightened few whose job is to inform everyone else.

Twitter is not on the masthead of The New York Times. But Twitter has become its ultimate editor. As the ethics and mores of that platform have become those of the paper, the paper itself has increasingly become a kind of performance space. Stories are chosen and told in a way to satisfy the narrowest of audiences, rather than to allow a curious public to read about the world and then draw their own conclusions. I was always taught that journalists were charged with writing the first rough draft of history. Now, history itself is one more ephemeral thing molded to fit the needs of a predetermined narrative.

My own forays into Wrongthink have made me the subject of constant bullying by colleagues who disagree with my views. They have called me a Nazi and a racist; I have learned to brush off comments about how I’m “writing about the Jews again.” Several colleagues perceived to be friendly with me were badgered by coworkers. My work and my character are openly demeaned on company-wide Slack channels where masthead editors regularly weigh in. There, some coworkers insist I need to be rooted out if this company is to be a truly “inclusive” one, while others post ax emojis next to my name. Still other New York Times employees publicly smear me as a liar and a bigot on Twitter with no fear that harassing me will be met with appropriate action. They never are.

There are terms for all of this: unlawful discrimination, hostile work environment, and constructive discharge. I’m no legal expert. But I know that this is wrong.

I do not understand how you have allowed this kind of behavior to go on inside your company in full view of the paper’s entire staff and the public. And I certainly can’t square how you and other Times leaders have stood by while simultaneously praising me in private for my courage. Showing up for work as a centrist at an American newspaper should not require bravery. (...)"

domingo, julho 12, 2020

A discoteca da minha vida: discos 36 a 40.


#36 - Doolittle - Pixies

“If man is five, if man is five, if man is five
Then the devil is six, then the devil is six
The devil is six, the devil is six and if the devil is six
Then God is seven , then God is seven, the God is seven
This monkey's gone to Heaven”

Pixies, 1989. Não é preciso dizer mais nada, pois não?
Ah, talvez isto: “Doolittle” inicia a intrusão da lendária editora 4AD nas minhas membranas timpânicas.





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#37 - Children - The Mission
 
Ainda nos anos 80 e tenho que dar um pequeno passo atrás, para 1988. Não é um passo de dança porque os The Mission não são uma banda de Cabaret e "Children" não foi criado para entreter os tornozelos. O poder épico desta banda está todo direccionado para um árduo mas glorioso trajecto rumo ao olho da tempestade. Ou ao fulgor de uma batalha. E este disco é uma torre inexpugnável na formidável fortaleza do rock.
Sim, também gostava bastante dos Sisters of Mercy, experiência prévia de onde saíram Wayne Hussey e Craig Adams. Sim, também fui fã dos Fields of the Nephilim, banda gémea em forma e conteúdo. Mas é desta missão que gosto mais. É esta missão gótica e grandiosa, sem medo de ninguém e apontada para o abismo, que ficou comigo para sempre.
Mais a mais, a capa deste disco é absolutamente linda.




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#38 - New York - Lou Reed
 
Este é o disco que fecha, na discoteca da minha vida, os anos 80. Nada mais, nada menos que o décimo quinto álbum de Lou Reed: “New York”, de 1989. Sim, à sua décima quinta tentativa – sem contar com as 4 esquizofrénicas experiências dos Velvet Underground – o rapazinho consegue acertar em cheio na minha pobre sensibilidade musical. Não que os outros 14 prévios redondinhos fossem de deitar para o lixo, nem pouco mais ou menos - Lou Reed é autor de uma boa mão cheia de hinos rock que são equitativamente distribuídos por essa interminável discografia, mas este é o momento em que a maturidade, e o abandono dos ácidos, cobra os seus dividendos. “New York” é um masterclass em rock urbano, Brooklyn em vinil, sarjeta e boulevard da cidade com insónias; opereta falada, quase falhada e completamente triunfante, como um poema de Alan Ginsberg. Um solene epílogo para a mais escaganifobética década da história da música.







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#39 - Wrong Way Up - Brian Eno / John Cale

Viramos a década, finalmente. 1990 é o ano redondo em que os senhores Brian Eno e John Cale decidem voltar a fazer colidir magníficos esforços de forma a proporcionar à audiência da galáxia uma obra de arte a meias: "Wrong Way Up" é um objecto belo e ressacado, improvável e imprevisto como uma curva apertada que não consta no roadmap da existência. Uma nota alienígena na grande pauta do génio humano. E a prova provada que a influência de Andy Warhol nos Velvet Underground sempre foi nefasta. Sozinhos, em dupla ou fosse como fosse, a boa parte dos seus músicos superaram largamente o que tinham feito na banda que queria ser uma lata de sopa Campbell. “Wrong Way Up” não é pós-modernista. É modernista, apenas. E é aí que reside a sua virtude incomparável.




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#40 - A Life With Brian - Flowered Up
 
O Indie pop aos pulos, grandiloquente e circense, subsidiado por generosas doses de heroína e ligado a uma poderosa fonte de alta voltagem é, substancialmente, isto: “A Life With Brian”, de 1991, primeiro e único longa duração dos inacreditáveis Flowered Up, que podiam ter sido deuses mas escolheram morrer por overdose de tudo. Um disco para os anais.

quarta-feira, julho 08, 2020

Lando Laps.

A transacta época de F1 já tinha dado sinais de que as coisas estão no bom caminho, no que diz respeito à qualidade do espectáculo oferecido pela principal competição automobilística do calendário mundial. A julgar pela primeira corrida desta temporada, que aconteceu no domingo passado em Spielberg, parece de facto que a F1 está a ressuscitar do seu longo período de letargia.

Para além de muitos outros momentos emocionantes, as duas últimas voltas de Lando Norris, alucinadas pelo facto de poder chegar ao pódio por penalização de 5 segundos justamente aplicada a Hamilton, são de antologia. Da sinergia entre o engenheiro e o piloto às trajectórias rasgadinhas do ás britânico, que conseguiu bater o recorde de volta precisamente na última volta da corrida, fazem deste clip um objecto sagrado para quem gosta de automobilismo.



terça-feira, julho 07, 2020

Da razão apocalíptica.

Como sou fraco de cabeça, só ontem consegui perceber porque raio é que o "establishment" defende quarentenas e motins ao mesmo tempo. Porque raio está tão interessado na ruína da civilização, que a recomenda, de uma maneira ou de outra e simultaneamente, de forma assim veemente e despudorada, como se não tivesse sido tão difícil construir esta impossível experiência em que por sorte incrível nascemos e fomos educados. Enquanto é fácil interpretar a razão da turba - a turba, por definição, não tem nada a perder - tem sido nos últimos meses um quebra-cabeças do caraças, para este vosso amigo, descodificar completamente a apologia do apocalipse por parte das elites.

Como sou fraco de cabeça, só ontem consegui perceber que ao processo de armagedão em curso vão sobreviver apenas as grandes corporações. E as grandes corporações da actualidade são tecnológicas. Se ficares em casa, com medo da gripe ou com medo da turba, ficas condenado a consumir tecnologia.

Todos sabemos intimamente que o objectivo último da Netflix é um mundo de consumidores solteiros, assexuados, ateus, indignados com o seu destino e - por isso - infelizes com o universo. Ora, quanto mais infelizes e isolados e amedrontados e fechados a sete chaves nos sete metros quadrados da sua existência forem os clientes da Netflix, melhor para a Netflix. Melhor para a Google. E para o Youtube. Melhor para o Facebook. E para o Instagram. Melhor para o Whatsapp. E para o Tik Tok e assim sucessivamente.

Como sou fraco de cabeça, só ontem consegui perceber que a queda do edifício civilizacional é melhor para as edições digitais da imprensa, no preciso momento em que finalmente, 30 anos depois da web ser a web, começam a entender o que é uma edição digital. Tanto mais que, livres da antiga escolástica do jornalismo independente e criterioso, podem mentir à vontade, soar o falso alarme à vontade, forçar a propaganda ideológica à vontade e servir os interesses dos aparelhos de poder sem qualquer problema moral e - o que é mais - em crescendo moralista.

Como sou fraco de cabeça, só ontem consegui perceber que a extinção da mais bem sucedida cultura da História Universal é melhor para as redes de distribuição, que podem passar a operar sem os custos das grandes superfícies comerciais, seguindo os passos sagrados da Amazon, o grande armazém do fim de todas as coisas. É melhor para os serviços de entrega de plástico ao domicílio, comestível ou não, que empregam mão de obra barata enquanto geram biliões para accionistas incógnitos e manhosos; é melhor para os serviços de saúde, ironicamente, que podem desculpar-se da sua eterna incompetência, da sua inevitável falência técnica, simulando crises epidémicas e projectando os seus quadros como heróis no palco de uma guerra inexistente, enquanto tratam os utentes como leprosos e as famílias dos doentes como párias e os contribuintes como otários; é melhor para os grandes grupos financeiros, que se podem dedicar enfim e apenas à mais espúria especulação, porque já não têm que financiar os pequenos investidores, as pequenas empresas e todo o aborrecido tecido micro-económico que fez do Ocidente um inédito modelo de prosperidade.

É melhor para os aparelhos burocráticos estatais que na verdade nunca conviveram bem com os valores libertários de algumas poucas mais realizadas democracias e que podem enfim ceder às tentações totalitárias e controlar completamente a vida dos cidadãos, num triunfo de Bruxelas sobre a idiossincrasia cultural da Europa, e de Washington sobre a classe média americana.

Melhor para as elites políticas, que acreditam que podem simplesmente fechar os eleitores em casa e garantir ainda assim o seu voto ao subsidiá-los com moeda impressa a torto e a direito, sem qualquer relação com a realidade económica (até porque afinal a economia é uma ilusão).

É melhor para o Partido Comunista Chinês, que depois de debilitar o Ocidente de todas as maneiras possíveis e imaginárias - inclusivamente a maneira biológica - pode finalmente exercer de forma plenipotenciária o seu domínio sobre o planeta, sem escrutínio, sem oposição filosófica ou militar, sem vergonha da sua terrível história de genocídios e despotismos.

É melhor para as academias, enfim livres para perseguir os seus corruptos e pós-modernos sonhos de criação de uma elite estática e marxista, que aniquila o mérito, a transcendência, a liberdade de expressão e o pensamento dialéctico, Que prescinde do método científico e da tradição judaico-cristã de forma a consagrar o niilismo de valores distópicos, impostos sem contraditório.

É melhor, obviamente, para as indústrias médicas e farmacêuticas que, entre testes e vacinas, verdades e mentiras, encontraram um novo filão áureo.

É pior para todos os outros, noventa por cento da espécie humana, que é como quem diz: pior para ti, para os teus filhos e para as pessoas que amas, que passam a viver isoladas, desempregadas, desenraizadas, aterrorizadas pelo telejornal e hipnotizadas pelas redes sociais, onde aprendem que afinal são racistas e homofóbicas e que os seus antepassados não passavam de bárbaros esclavagistas e que a história das suas nações é uma rábula de sangue sem sentido nem honra; sem coragem, nem glória.

É pior para as famílias, que deixam de existir, porque o elo de sangue, imprescindível e fundamental  cimento das sociedades, passa a ser obsceno; porque a diferença entre sexos - uma das grandes riquezas da condição humana - passa a igualdade de género; porque a sexualidade é sexista.

É pior para as sociedades, que perdem a sua mobilidade e as suas dinâmicas naturais. Que perdem criatividade e vitalidade e resiliência. Que passam a mera retórica, num contexto de limitação máxima do contacto físico e espiritual entre os seres humanos.

É pior para os pequenos e médios negócios, reféns de medidas sanitárias draconianas, que mudam de quinze em quinze dias, aniquilados pelos sucessivos e compulsivos confinamentos, suprimidos pela extinção da livre iniciativa, que é o motor de todo o são capitalismo.

É pior para o individuo, que, espoliado de um sentido para a vida e de uma função na sociedade, roubado da metafísica e desprovido dos direitos constitucionais que o impediam de ser esmagado pela força gravítica do colectivo, será censurado no seu arbítrio, condicionado nas suas opiniões, manietado de todas as formas e acorrentado a uma verdade oficial indiscutível, mas estéril.

É pior para a humanidade em geral, agora submetida a uma nova idade das trevas, talvez a mais terrífica, talvez a mais duradoura. Uma época neo-medieva em que a internet não promove o conhecimento, mas a ignorância. Em que a tecnologia não serve o progresso, mas a regressão. Em que a inteligência artificial não complementa nem valoriza o factor humano, reduzindo-o à irrelevância. Em que industrialização não alimenta a civilização, mas alimenta-se do seu declínio. Em que a educação é condicionamento ideológico, a informação é propaganda, o entretenimento é moralista e a moral foi falsificada.

Já é tarde de mais, parece-me, para inverter o processo. Ficámos todos confortavelmente instalados no sofá da nossa irresponsabilidade - ou cobardia - a ver as coisas acontecer, numa passividade obscena. E assim, nem vos posso desejar boa sorte. Não há sorte que salve a civilização ocidental deste destino funesto.

Podem talvez rezar. Rezar com fervor pelo futuro dos vossos filhos.

sábado, julho 04, 2020

Ainda há homens #03

Andrew Lawrence está-se completamente nas tintas para os poderes instituídos e a narrativa oficial. E não como Ricky Gervais, que na verdade não tem nada a perder. Este genial comediante não é um bilionário bobo da corte. Tem um pouco frequentado canal no Youtube que o Youtube odeia. Luta todos os dias para encontrar um bar onde possa dizer umas piadas dele. E não é que não tenha piada, porque tem imensa. É porque os valores da civilização ocidental já foram, e vivemos agora num totalitarismo cultural absolutamente terrífico. 
Seja como for, se não consegues rir com esta versão alternativa à última mensagem anódina e constrangedora do coitado do Prince Harry, o que é que estás a fazer neste blog, pá?