sexta-feira, maio 30, 2014

Rocketville #8 - SpaceX Dragon 2



Elon Musk, o novo mago do sonho americano (nada mal, para um canadiano nascido na África do Sul), mostrou agorinha mesmo, às 3 da manhã, o Dragon 2 da SpaceX, a cápsula de transporte espacial que vai substituir, pelo menos no futuro imediato, o Space Shuttle. A máquina é bastante cool, como convém. O chassis, apesar do desenho convencional, é supreendentemente simples e elegante, o mecanismo de abertura da porta de acesso à cabine é uma obra prima da engenharia contemporânea e o interior é um autêntico tratado de estética sci-fi. O Dragon 2 transporta até 7 astronautas e resolve vários problemas que encareciam e complicavam a reentrada e a aterragem. Por exemplo: ao recorrer à aterragem vertical por propulsores, será capaz de pousar suavemente em qualquer lugar no mundo. Esta capacidade, por si só, vai revolucionar a indústria aero-espacial, abrindo o caminho para a explosão do turismo de órbita.
O Dragon 2 não é a nave interplanetária de classe Tesla com que sonhamos conquistar o sistema solar, não. Mas é um projecto válido e económico - próprio da iniciativa privada - para descomplicar e relançar a odisseia no espaço.

quinta-feira, maio 29, 2014

Quem é que afinal pagou a crise?




















Os trabalhadores do sector privado, claro e como sempre, e não os do sector público, como é comum pensar-se.
O poderoso édito que José Manuel Fernandes escreve hoje sobre o assunto é mais uma martelada na cabeça dos senhores juízes do Tribunal Constitucional, que são hoje uma espécie de comissários políticos da "esquerda bem pensante" (a expressão entre aspas é uma contradição em termos).

quarta-feira, maio 28, 2014

Nigel Farage diz duas ou três a Durão Barroso.



O Parlamento Europeu pode ser muito mais entretido do que parece. Estes cinco minutos repletos daquele género de verdades que os políticos não dizem (bom, quase todos os políticos) são disso exemplo eloquente. Nigel Farage, o actual causador de terramotos, dá uma boa e divertida ensaboaleda ao Comissário Europeu, no já estranhamente distante ano de 2010. E tudo o que Durão Barroso pode fazer é engolir em seco.

Finalmente, um jornal direito.

Pela iniciativa feliz de António Carrapatoso e José Manuel Fernandes, temos hoje (até que enfim!), um jornal digital, gratuíto, que edita com seriedade e à direita do miserável panorama mediático nacional. O Observador é o belo e a consolação, para mim. E tem tudo para dar certo. Com os veteranos e venerandos J. M. Fenandes e Maria João Avillez e, depois, com uma pequena equipa de putos bastante competentes, já estão a dar cartas: há uma semana que os sigo e a rapidez e assertividade com que colocam as notícias no ar - próprias de um jornal online contemporâneo e na linha do que se está a fazer de melhor nos Estados Unidos e em Inglaterra - deve estar a dar enormes dores de cabeça à concorrência. Ainda hoje foram, de longe e por horas, os primeiros em cima do Acontecimento Costa. Nem que seja porque J. M. Fenandes estava lá, na cerimónia de homenagem póstuma a Maria José Nogueira Pinto, momento em que, sabe-se lá porquê, o Dr. Costa achou conveniente declarar ao país a sua sebastiânica "disponibilidade". O texto, escrito em cima do momento pelo publisher do Observador, é de academia; puro e duro e eu juro que deve ser lido.

O Observador tem problemas de juventude, claro, mas esforça-se e improvisa e tem brio e tem personalidade e determinação e é por causa deste género de portugueses que Portugal está melhor.
Porque Portugal está melhor, de facto.

segunda-feira, maio 26, 2014

A união céptica.



"I think frankly when it comes to chaos you ain't seen nothing yet."
Nigel Farage


Nunca como ontem as eleições para o Parlamento Europeu foram tão sumarentas. Uma verdadeira mina de conteúdos. Senão vejamos:

A abstenção tem significado.
Dois em cada três portugueses não foram votar, registando a abstenção valores máximos históricos. Por muito que os dirigentes políticos queiram assobiar para o lado, torna-se evidente que a legitimidade democrática, já de si muito subtil no contexto da União Europeia, está a desaparecer por completo. Mandatos enfraquecidos pela indiferença do eleitorado não podem criar políticos fortes. E políticos fracos não podem esperar mais que a abstenção massiva. É um ciclo vicioso que os regimes europeus e os burocratas de Bruxelas não conseguem contrariar. E, se analisarmos o trend das últimas décadas, a perspectiva assustadora de níveis de absentismo na casa dos 70 e dos 80% é bem real. A democracia ocidental, como a conhecemos, pode morrer assim.

Seguro não tem futuro.
Francisco Assis primeiro e António José Seguro depois dedicaram-se ontem, de forma alarve e desavergonhada,  à arte da pantomina, mas dificilmente desviaram fosse quem fosse da verdade escarrapachada nos números: o partido que ganhou estas eleições foi também o seu principal derrotado. Apesar de fazer oposição a um governo inepto e desastrado, apesar de contar com a insatisfação de uma grande fatia do eleitorado, apesar de ser levado ao colo pelos media e por algumas empresas de sondagens que deviam ser extintas pela hilariante Comissão Nacional de Eleições há já muitos anos, apesar de não haver ninguém no PS com coragem para o remover da cadeira da estupidez onde está sentado, Seguro não foi além dos 31,4%. A aliança da direita, mesmo somando números mínimos na história da Terceira República, ficou dentro da margem de erro, principalmente se tivermos em conta que 66,1% do eleitorado não foi votar. Seguro é um líder tão fraquinho, tão fraquinho, mas tão fraquinho, que é impossível não ter pena dele. Só que, felizmente, os portugueses não votam por pena.
Hoje, está a levar porrada de todos os lados do partido que, com eloquente mediocridade, lidera: do insuportável Galamba ao perigosamente desocupado Carlos César, é malha que ferve. E merecida. O P.S. vai realmente deixar que este sujeito corra o risco de ser Primeiro Ministro? E, nesse caso, o país vai realmente eleger este indivíduo para primeiro ministro? Espero, muito sinceramente, que não. Se os socialistas já habituaram a história aos maiores disparates, o eleitorado português tem, ao longo dos últimos 40 anos, demonstrado algum tino.

Portugal não tem governo.
Os cenários que se podem projectar a partir destas eleições para as legislativas que se seguem são de pesadelo:
- Cenário de pesadelo 1 - Vitória do P.S. de Seguro sem maioria absoluta. Implicará a necessidade de constituição de um governo de coligação à direita, com o PSD ou com o CDS. Seguro e Passos ou Seguro e Portas. Haverá piores visões do inferno?
- Cenário de pesadelo 2 - Vitória do P.S. de António Costa sem maioria absoluta. Implicará a necessidade de constituição de um governo de coligação à direita, com o PSD ou com o CDS. Costa e Passos ou Costa e Portas. Haverá piores visões do inferno?
- Cenário de pesadelo 3 - Vitória do P.S. de António Costa com maioria absoluta. Liberta o P.S. para nos colocar outra vez na bancarrota.
- Cenário de pesadelo 4 - Vitória da coligação PSD / CDS sem maioria absoluta. Implicará a necessidade de constituição de um governo de coligação à esquerda, com o PS. Passos, Portas e Seguro. Haverá pior visão do inferno?

O Bloco de Esquerda morreu.
O mais belo momento operático da noite de ontem foi-nos generosamente concedido pelo Bloco de Esquerda. Entre a incompreensível euforia inicial e o conformismo derradeiro, triunfou, claro, a verdade dos factos. O Bloco morreu e paz à sua alma.

O Partido Comunista ainda está vivo.
Ao contrário, o Partido Comunista Português dá sinais de uma vitalidade verdadeiramente notável. Com um candidato competente na presença mediática e a retórica do costume, apocalíptica e alienada, conseguiu um dos melhores resultados eleitorais de sempre. E agarrou a iniciativa política, com o anúncio de uma Moção de Censura que vai inevitavelmente rebocar o infeliz do Seguro para um parque ideológico bastante comprometedor.
O P.C. é um fenómeno que merecia toda uma academia de doutoramentos em ciência política. Ou em psicologia social. A forma como resiste à erosão da história, sem mudar uma vírgula na forma e ainda menos no conteúdo, é simplesmente inexplicável e só tem paralelo na Igreja Católica.

Os epifenómenos não passam disso mesmo.
Hoje, o Observador deu-se ao trabalho de projectar que a votação de Marinho e Pinto, se fosse transposta para as eleições legislativas, colocaria 12 deputados na Assembleia da República. Eu aprecio o zelo, mas o exercício é espúrio. Nas eleições legislativas O MPT não terá sequer metade dos votos que teve agora porque os eleitores não são completamente estúpidos e votam em função da importância de cada eleição e da especificidade de cada mandato. Epifenómenos como Marinho e Pinto acabam invariavelmente submersos pela espuma da realidade das coisas. Mais eleição, menos eleição e já ninguém se lembra disto.

A sobrevivência do centro direita europeu, numa conjuntura difícil.
O parlamento europeu vai continuar a ser dominado pelo centro direita. Na generalidade, os partidos nacionais democrata-cristãos resistiram a um contexto muito difícil, já que se encontram, também na sua maior parte, no exercício do poder e ainda a braços com uma crise financeira que deveria trazer proveitos à esquerda socialista e social-democrata. Não foi isso que aconteceu. E mais por demérito da esquerda que por mérito da direita, na verdade. Parece-me já há alguns anos que, confortavelmente instalada na poltrona da superioridade moral, a esquerda europeia não percebe que os seus velhos fundamentos ideológicos, nascidos da natural ingenuidade do pós-guerra, não são apelativos à burguesia de agora, muito simplesmente porque a burguesia de agora não está disposta a continuar a pagar a factura do estado social e dos devaneios humanistas, relativos a um mundo que já não existe.

A eclosão e a diversidade das "extremas direitas".
Entre as novas e velhas extremas direitas e extremas esquerdas eleitas para o Parlamento Europeu, também há muitos epifenómenos que não têm mais significado que o da situação. E a situação é a de que está toda a gente bastante irritada com a miserável performance das lideranças políticas, tanto no seio das nações como nos corredores da organização que esforçada, mas desastradamente, as tenta manter unidas.
Os casos da senhora Le Pen e de Nigel Farage, têm porém muito que se lhes diga. A Frente Nacional e o UKIP são partidos muito diferentes, com acentuadas divergências ideológicas e de praxis política. A família Le Pen defende um conservadorismo autoritário e xenófobo que tem raízes profundas no tecido social francês, evidentes nos últimos 150 anos da sua história. Farage movimenta-se num outro território, entre o populista e o liberal, numa Inglaterra que não tem de facto espaço para autoritarismos desde 1688. Aliás, o UKIP é condenado pela taxinomia mediática à extrema direita apenas porque os fascismos de direita do século XX foram mais destruidores na Europa Ocidental do que os fascimos de esquerda. Todo o desgraçado que se sente à direita de um partido democrata cristão (na Europa continental) ou conservador (no Reino Unido) é imediatamente rotulado como extremista. O que é, obviamente, redutor. E falacioso. Tanto mais que não faltam por aí radicais de esquerda, profundamente anti-democráticos e anti-sistémicos, que são tratados - e classificados - de forma muito mais simpática.
Salvaguardadas as diferenças, o UKIP e a Frente Nacional partilham ainda assim um importante cavalo de batalha: a emigração. E, a confiar na quantidade maluca de votos que recolheram, seria bom que os responsáveis pelas políticas de emigração dos países da União parassem um bocadinho para repensar este assunto. É que quando o emprego começa a escassear, quando os rendimentos dos nativos diminuem perante a prosperidade dos emigrantes, quando a segurança e a qualidade de vida é ameaçada, o instinto sobrepõe-se rapidamente à capacidade filosófica e as coisas podem de repente ganhar uma dimensão dantesca. Como já, muitas vezes, aconteceu na Europa.

Uma união de egoístas.
A República Checa tem dez anos de União. Mas os dois partidos mais votados são eurocépticos. A ironia disto é típica de deuses galhofeiros como são os deuses da democracia. A própria expressão "eurocéptico" dá-me vontade de rir. Se há países eurocépticos na União Europeia, porque raio é que se mantêm na União? E se há partidos eurocépticos que dominam o panorama político dos seus países, porque diabo é que não fazem o favor de tomar decisões no sentido de abandonarem a organização de que tanto desconfiam? E que bem pode fazer a uma união de nações a integração de países que não acreditam no seu projecto e espírito?
É claro que um eurocéptico, na verdade, é apenas alguém que acha que a União serve muito bem enquanto for apenas um instrumento que possibilite bons proveitos económicos, ao jeito colbertiano. O cinismo é admissível e faz parte da condição humana e da triste história das nações, mas irrita bastante. E condena a União Europeia a um reflexo fantasmático do que poderia realmente ser.

Devem estar a brincar comigo.
Cada vez me parece mais injusto que, numa união de egoístas, seja a Alemanha constantemente acusada de agir no seu exclusivo interesse. É preciso ter lata.

quarta-feira, maio 21, 2014

Poema do metal pesado.

"Na ponta de cada baioneta luzem os olhos de Kant."
Fernando Pessoa [António Mora]

Montado nos nervos do Bucéfalo altivo, seu primeiro escudo e derradeiro espadim,
Alexandre, grande, grave e persuasivo, arenga às tropas assim:
Hoje morremos, como soldados fraternos,
ou vivemos, como deuses eternos.
Ao júbilo gutural das fileiras, segue-se o estalar do metal pesado,
armas e armaduras que ressoam de bravatas e bravuras, lado a lado,
tenentes e praças num TONG-TONG de ameaças, percussão de plebeus.

O grito e o ritmo são música para os ouvidos de Deus.

Cipião africano encara Aníbal profano, já depois de lhe ter queimado a sal
a terra de Cartago. No olhar que trocam, carago, caberá o andamento marcial
da Nona de Beethoven. Pode continuar a combater até à eternidade Cipião,
mas Aníbal não.
A inevitabilidade da Segunda Guerra Púnica é de única verdade poética.
Não precisa de gramática nem tem que respeitar a métrica.

Rommel, a raposa, faz 50 panzers e um buldozzer com volkswagens e papelão
e Montgomery, no deserto da sua imaginação,
só vê blindados de metal pesado na cavalaria de cartonado.
Há nisto tudo uma ode romana de que Horácio seria talvez capaz
se não estivesse entretido com os genitais de um rapaz.
Há nisto tudo uma verdade nua crua cruel, feita de pólvora e estilhaços
e corpos aos bocados, decepados espalhados palhaços.

A guerra aberta, sem quartel, de todos contra todos e em cada um de nós;
a guerra total, absurda surda muda, cega e feroz;
a guerra-holocausto, atómica e pós-atómica, apocalíptica, fim da humanidade,
a guerra tem ainda assim poesia e verdade:
A infantaria do Condestável serve a um poema amável,
considerando a catana da cavalaria castelhana - metal pesado em blitz.
E não há nada de mais verdadeiro que o fúnebre terreiro de Austerlitz.

A guerra é mãe de religiões, deuses e profetas
e a constante musa dos estetas.
A recorrente hemorragia da batalha, a insistente razia da metralha
serve ao intelecto humano de acendalha:
foi com o trovar dos canhões, cuspidores de caos e desventura,
que o homem inventou e continuou a literatura.
Não fora a luxúria de Páris, e de Helena a beleza;
não fora a fúria de Menelau, e do infame Agamémnon a natureza;
que serviço prestaria à posteridade Ulisses, astuto e austero?
Heitor, desprovido da morte que Aquiles lhe deu (que lhe deu Homero),
é herói de grau zero.

Os grandes actores da história, por ordem aleatória, são ases kamikazes guerreiros:
Que triunfo para Churchill em tempo de cordeiros?
Que glória para César sem as suas legiões de fila?
Que memória de Esparta sem a morte farta na ponta da termópila?
Uma vez despojado de um egipto, que resta a Napoleão?
E se não tivesse dizimado até ao infinito, quem recordaria Gengis Cão?
Ghandi, o campeão pacifista, não seria artista para além de advogado sério
se os ingleses não tivessem inventado, com sangue derramado, o seu real império;
e o Ronald Reagan teria muito menos piada
se a outra metade do mundo não andasse armada
com uma Kalachnykov.

E, já agora, que faria Tolstoi a esta hora, sem um general Kutuzov?

Solimão e Ricardo, Átila e Marciano, Crasso e Spartacus;
boxers e templários, marines e mercenários, samurais e cossacos;
pattons múltiplos e wellingtons inconcebíveis de inúmeras e invencíveis armadas,
metal pesado trágico marítimo sacrossanto, em Lepanto as esquadras;
são os derradeiros, os verdadeiros guardiões da virtude.
E quem seríamos hoje na Europa, em Portugal, sem a firme atitude
do habsburgo imperial, quando o Turco às portas de Viena fez sala?
É vero facto, é verso lato que devemos a civilização à lei da bala.

As guerras púnicas e médicas, primeiras e segundas, jugurtinas e peloponesas;
as guerras civis e religiosas, mais odiosas, carlistas e camponesas;
as guerras de guerrilha, de fronteira, de conquista e feira, para lá do horizonte;
as guerras do ópio e do petróleo, as que pagam com o espólio aos bandidos a monte;
as guerras revoluções sovietes marionetes maria da fonte,
as guerras revoluções jacobinas, burguesas com guilhotinas,
independentistas e tribais, bolivianas, liberais e libertinas;
as guerras frias e as guerras de nervos, com meticulosos acervos de metal pesado,
são motores da epistemologia, arsenais de valentia para o alívio do pecado.

Há mais poesia na Legião Estrangeira do que versos na tradição de Hesíodo e mais
verdade em Dunquerque que na história universal das capas dos jornais.
É sobretudo o exercício bélico, pura ironia, que liberta os homens da lei da morte,
que eleva plebeus à aristocracia, último argumento da democracia entre o fraco e o forte.
A guerra corrige a cobardia com a coragem e a heresia com a cruzada.
E que seria de Camões, se não soubesse andar à porrada?

Haverá gesta mais perene, mais purificadora; haverá peregrinação mais redentora;
terão os deuses melhores planos, que uma guerra de cem anos?

sexta-feira, maio 16, 2014

Virtual power. Real Fun.

Um Mundial no inferno.

A triste coreografia de horrores com que os brasileiros têm presenteado a plateia global anuncia a saborosa falência técnica de vários mitos; a saber:

O mito do milagre económico de Lula.
A estratégia facilitista, manhosa e fatalmente apontada ao fracasso que foi seguida pela esquerda sul americana e acarinhada pelo "bom" pensamento europeu está a dar os seus frutos (podres). Beneficiando de um trend global esquizofrénico que encheu os cofres dos países do terceiro mundo produtores de energia e de mão de obra baratas, personagens sinistros como Hugo Chavez,  Evo Morales ou Lula da Silva decidiram despejar parte do lucro fácil pela populaça, como os césares deitavam pão ao povo. Este disparate tem, historicamente, um resultado apenas: a populaça enche a barriga e fica à espera que o pão continue a cair na lama das ruas. E quanto mais pão se despeja nas ruas, mais fome de bifes à borla tem a populaça, a acreditarmos na aritmética de Maslow. Enquanto permaneceram ignorantes e néscios como sempre, incapazes e corruptos como nunca, os brasileiros subiram porém a fasquia dos seus direitos e das suas necessidades. Só que, entretanto, o trend económico oscilou um pouco, o suficiente para oferecer uma clara imagem da realidade. Na verdade, os brasileiros continuam estruturalmente miseráveis, num país que é deveras rico em recursos.
A engenharia social é um perigo grande e não há um exemplo histórico, um só, que a recomende. Sempre que procuramos manipular, por ideologia ou mera volição tecnocrática, o núcleo genético das dinâmicas sociais; sempre que procuramos igualizar ou erradicar, seleccionar ou proteger, sempre que nos damos ao trabalho de condicionar e artificializar a natureza do comportamento social do homem, as coisas mostram uma teimosa tendência para correr muito mal e acabamos, na maior parte das vezes, por morrer alarvemente, em número generoso, nas trincheiras do processo.
Acresce que tentar igualizar uma sociedade distribuindo rendimentos pelas classes desfavorecidas é uma forma bastante capciosa de engenharia social, porque é naturalmente motivada por inescapáveis argumentos eleitorais. E a democracia deixa de existir quando os votos são comprados à cabeça.  

O mito do Brasil como país feliz, com gente simpática e encantadora lá dentro.
Lamentavelmente, o Brasil é um país tão feliz como os outros todos, embora tenha o problema acrescido de estar infectado por 200 milhões de brasileiros. E a percentagem de nativos simpáticos e encantadores deve estar dentro da média mundial, que é baixa. Não há assim tanta gente simpática e encantadora no planeta, convenhamos. 
Ao invés, o que o Brasil deste momento mostra ao mundo é a infelicidade de um povo pobre e carnavalesco, ávido de um materialismo de pilha galinhas. O Brasil deste momento é um país que entroniza o caos como um valor identitário e que dá a corrupção por inevitável. O Brasil deste momento é a barbárie a que são submetidos os desgraçados que morrem a construir os estádios e que são honrados da forma mais desonrada possível pelas multidões que saem à rua em demonstrações de grosseria tribal, sem se perceber exactamente o que afinal pretendem e quem é que está aos comandos da má criação. O Brasil deste momento é um espectáculo operático de gosto muito duvidoso. Uma espécie de reality show do inferno.

O mito de que realizar mundiais no Terceiro Mundo é uma boa ideia.
É uma péssima ideia. Como são péssimas todas as ideias politicamente correctas, precisamente a classe de ideias de que os senhores da FIFA não são capazes de se cansar. É certo que todas as grandes organizações humanas são disfuncionais, e muito prosaicamente na proporção do seu tamanho, mas a FIFA está, tanto na escala da falência moral como da estupidez operacional, quase-quase ao nível da ONU. Parabéns.

Breve História do Universo - Um modelo.

Ode matutina.

Vem, Lídia, dá-te comigo
aos abertos caminhos da existência vã;
Ignora a metafísica e abracemos juntos
a inutilidade da manhã.

Quero de ti menos verdade,
menos substância que a do vento matutino;
e se outros passam preocupados, sejamos nós
livres para olvidar o destino.

O cuidar disto ou daquilo,
o lembrar do dever ou da obrigação espúria
é arrelia de escravos, e nós fomos por Apolo
libertos para a alegria e a fúria.

Por isso, vem, Lídia, comigo,
por este caminho que abrimos agora
esquecidos da guerra e dispostos apenas
à consumação da hora.

quarta-feira, maio 14, 2014

Poema do homem único.

O Benfica não existe.
Vocês, os outros, não existem.
Este universo foi criado como um pesadelo privado, só para mim.
Eu sou a vítima de um Deus que existe exclusivamente
para ser o meu Deus malvado para mim.
Um Deus que faz apenas questão de se divertir comigo.
Não existe nada mais do que eu e o meu Deus folgazão.
O universo sou eu, o vácuo e alguém
que se está a rir à gargalhada.
Tudo o resto é ficção.

segunda-feira, maio 12, 2014

Manchester Orchestra Redux



Andy Hull performs an acoustic version of "All That I Really Wanted" 

Estrada para a perdição.

Passam as horas, a angústia não.
Envelhece comigo esta moinha danada, pesada
nuvem de monção.

Passam os dias, a desventura não.
Permanece dorida a alma penada, panada
com penas e alcatrão.

Passam os anos, o desespero não.
Fica comigo a insónia após a madrugada, acordada
em aflição.

A vida passa, o destino não.
Permanece imutável na velocidade disparada da estrada
para a perdição.