domingo, dezembro 29, 2019

Mensagem de Ano Novo.


O meu desejo sincero e intenso para 2020 é um absoluto regresso à normalidade. A sério. Desejo para mim e para ti, gentil leitor, um ano de tal forma convencional que até se torne aborrecido. Desejo coisas absolutamente prosaicas, a saber: que os banqueiros banquem, que os bombeiros bombem, que os policias policiem, que os sábios saibam, que os escritores escrevam, que os engenheiros engendrem, que os criativos imaginem, que os compositores componham, que os médicos exerçam medicina e que os jornalistas prefiram a verdade à ficção. Aquilo que é normal.

Desejo um ano novo carregadinho dos mais corriqueiros pressupostos: que a Igreja Católica seja liderada por um pontífice que acredite no deus católico. Que os partidos de direita sejam interpretados por pessoas de direita e que os partidos de esquerda sejam articulados por pessoas de esquerda. Que a esquerda defenda quem trabalha e que a direita defenda quem emprega. Que os tribunos não tenham problemas de fala, que os soldados guardem o paiol, que os políticos se preocupem mais com as pessoas que perdem os seus empregos do que com as pessoas que mudam de sexo; que o Presidente da República dispense a dose quotidiana de fama; que as feministas critiquem, por uma vez, a forma como os muçulmanos tratam as mulheres e que a Greta Thunberg vá maçar os chineses, que vivem na nação mais poluidora do planeta, de longe. Tudo isto é do mais elementar bom senso e podes até ter oportunidade para bocejar, querida leitora, num mundo assim lindamente desinteressante.

Para 2020 desejo também - e em vão, bem sei - que os ministros das finanças da comunidade internacional se unam sob a virtuosa bandeira da moderação fiscal, motor histórico de toda a prosperidade. Que os cientistas substituam a convicção de que Deus não existe por certezas demonstráveis sobre as disciplinas que estudam; que os professores ensinem em vez de doutrinar; que os pilotos voem em vez de protestar; que os enfermeiros cuidem em vez de reivindicar e que os astronautas façam aquilo que é suposto: escapar à órbita terrestre. Desejo menos leis, para que a Lei se cumpra; menos condecorações, para que a virtude seja distinguida; menos queixas, para que seja possível ouvir os lamentos de quem sofre de facto.

Não aspiro a mais que o tédio das coisas fazerem sentido. Que Hollywood seja uma indústria de entretenimento ao invés de uma máquina de propaganda ideológica; que os desportistas façam desporto ao invés de fazerem de conta que são intelectuais; que os juízes julguem segundo os códigos jurídicos e não segundo a raça, o sexo ou a classe social; que os criminosos sejam presos e que os inocentes vivam em liberdade. Outrossim anseio comedidamente por 365 dias em que os fumadores não sejam tratados como leprosos e que os leprosos sejam tratados; e, já agora, que me deixem em paz com o meu bife de vaca, com a minha carne de porco, com o meu sal e o meu pão e a minha bola de berlim e o meu whisky e o meu automóvel de combustão interna e os meus cigarros e os meus vícios e as minhas idiossincrasias que não chocam com as idiossincrasias de ninguém.

Sonho com aquilo que é possível e as minhas expectativas são modestas: que os países sejam demarcados por fronteiras porque foi para separar as pessoas umas das outras que foram inventados os países; que os profetas do apocalipse percebam que o apocalipse é uma mania de séculos, por todos os séculos fraudulenta; que os radicais encontrem a moderação e que os histéricos das causas fracturantes sejam medicamentados como os restantes histéricos; que os censores deixem a malta dizer o que pensa, mesmo que aquilo que se diz seja incorrecto, porque o erro é o único parteiro da verdade; que o preço dos combustíveis varie de acordo com as leis da concorrência e que os turistas não descubram Telheiras, para que eu possa viver no meu bairro sem ser filmado por japoneses, insultado por ingleses, incomodado por franceses, reeducado por suecos e condicionado por alemães.

Sim, sim, o que desejo é o mais aborrecido e sonolento ano novo que se possa imaginar. É que começo a ficar realmente cansado de viver tempos interessantes, num mundo ao contrário.

sábado, dezembro 28, 2019

Espírito de Ano Novo.

Vampiros extremamente bem dispostos acertam em cheio no groove certo para 2020:



Vampire Weekend . This Life

terça-feira, dezembro 24, 2019

Percepção vs Realidade

Diz a esquerda que Boris Johnson é um bruto, racista, ignorante, sexista, manhoso, fascista sem carácter. A esquerda sonha, porque a realidade é esta:



Todos os intérpretes políticos de direita na história de humanidade são uns brutos ignorantes, para a esquerda sonhadora. A realidade é ao contrário, claro. A realidade é que o actual primeiro ministro do Reino Unido é um intelectual puro e duro. Que disserta sobre Homero como nunca vi - ou ouvi - nenhum líder político, à esquerda ou à direita, dissertar.

Desejo boa sorte aos saudosos de Tony Blair e de Mário Soares e de José Sócrates e de François Miterrand e de Jimmy Carter e assim por diante. Desejo boa sorte a toda a gente que chama bruto a este senhor. Vão precisar dela.

terça-feira, dezembro 17, 2019

Toonville . Size matters.

Political Cartoons by Pat Cross

Bela e rápida prenda de Natal para quem gosta de automóveis.



Subaru STI Type RA Time Attack Car & the Transfăgărășan Highway

Do mito da Santa Inquisição como organização genocida: contributos críticos e comparativos para o restabelecimento da verdade histórica.


O Baptismo do Fogo . Avvakum . 1682


"Não podemos pedir perdão por actos que não foram cometidos." 
Cardeal Georges Corttier


Uma das rábulas sobre a história da Igreja Católica que sempre me fizeram espécie, que sempre me pareceram mais propagandísticos do que factuais, é a da Santa Inquisição. A opinião pública contemporânea tem a mesma ideia da Inquisição que tem dos campos de extermínio nazis ou coisa que o valha. Ora, seria talvez conveniente voltarmos aos dados estatísticos e à informação de campo que de facto temos, para fazer uma ideia do terror inquisitorial mais baseada na realidade e menos inspirada pela propaganda anti-católica.

Em primeiro lugar: a queima de pessoas como castigo último é tudo menos uma prática recorrente do cristianismo em geral e da Igreja Católica em particular. A morte pelo fogo é uma prática tão antiga como as primeiras civilizações do próximo oriente e foi introduzida na Europa pelos romanos primeiro e pelos celtas depois. Antes da Igreja Católica queimar fosse quem fosse, já os ortodoxos russos o faziam com bastante regularidade e é muito provável, à luz das estatísticas mais recentes, que a religião protestante tenha queimado muito, mas muito mais bruxas do que a Católica queimou hereges (já lá iremos).

Logo de seguida há que equacionar que as inquisições espanhola, portuguesa e romana queimavam muita gente em modo effigiantur, ou seja, não queimando os impenitentes propriamente ditos, mas sim figuras em palha que os representavam. A Inquisição Portuguesa queimou um terço dos condenados à fogueira desta forma. É recorrente que estes números seja atirados para a estatística dos mortos, quando, obviamente lá não deviam estar.

A terceira alínea desta quadro céptico tem que ser esta: todas ou quase todas as projecções estatísticas sobre o número de pessoas condenadas a morrer na fogueira pela Inquisição são apenas isso: projecções. A maior parte dos registos oficiais da igreja perderam-se ou foram destruídos.

Depois, convém fazer uma separação clara entre aqueles que foram queimados na fogueira pela Inquisição e aqueles que lá foram parar conduzidos pelas mais que diversas turbas, milícias, polícias, assembleias e salas de tribunal que infestaram a vida social, política, religiosa, judiciária e militar nos séculos XVI a XIX. O facto torna-se ainda mais significativo quando falamos da queima de bruxas, fenómeno histérico-social que durou cerca de um milénio e que, na verdade, pouco teve a ver com a actividade inquisitorial da Igreja, até porque ocorreu, em 95% dos casos em países onde a Inquisição não tinha sede nem exercia a sua dúbia justiça. A partir do século XVI, os campeões deste género específico de churrasco foram os protestantes.

Esta catalogação correcta da natureza e da volição dos incendiários é raras vezes feita pelos historiadores e pelos romancistas e pelos jornalistas e pelos cineastas e pelos formadores da opinião contemporânea, mas a verdade é que a Igreja assou muito menos gente do que o improviso secular, os aparelhos burocráticos, a justiça real ou o radicalismo calvinista. Por exemplo, Henry Kamen estima que até 1530 foram condenadas à fogueira por todos os tribunais espanhóis, cerca de 2000 desgraçados. Porém, William Monter calcula que entre 1540 e 1740 a inquisição espanhola foi "apenas" responsável por 1240 queimados vivos. Ora, considerando que organização foi fundada pelos reis católicos apenas em 1478, percebemos que morreu mais gente na fogueira a mando dos tribunais da coroa do que dos tribunais da inquisição.

Por último, os números possíveis: a Inquisição Portuguesa, que cumpriu a sua horrível missão entre 1540 e 1794, condenou à fogueira, nos tribunais de Lisboa, Porto, Coimbra e Évora, 1175 pessoas (menos do que 5 pessoas por ano de actividade), segundo um estudo de Henry Charles Lea. A Inquisição Espanhola, acreditando no exaustivo trabalho de Gustav Henningsen, levou a tribunal 44,674 casos, que resultaram em 826 execuções pelo fogo (cerca de 3 pessoas por ano de actividade; 0,06% dos casos julgados).

Sobre a inquisição Romana e Francesa, bem como sobre as suas sucursais na colónias à volta do mundo, os números variam imenso e têm muito pouca sustentação factual, mas um recente estudo do Professor Agostino Borromeo, considerado fidedigno por uma significativa quantidade de historiadores contemporâneos, demonstra que os números têm sido grandemente exagerados e calcula que ao todo, nos países onde esteve presente e durante os 300 anos de carta verde, a Inquisição julgou125.000 casos, condenando à morte pela fogueira cerca de 1% dos julgados, pelo que ficamos com um número de referência: 1250 pessoas.

Ora, é precisamente aqui que a porca da história torce o seu interminável rabo elíptico. Se compararmos estes números com outros do mesmo género, dentro do mesmo período histórico, percebemos que a Inquisição não foi de todo protagonista no cenário contextual de chacinas e mortandade em que exercia a sua actividade. Dou uns poucos exemplos referentes apenas aos séculos XVI - XVIII, para ser consistente em termos cronológicos:

1517-1648 - Europa: A Reforma Protestante foi um dos movimentos mais mortíferos da história da humanidade. Só na Guerra dos 30 anos, consequência directa deste cisma cristão, a Alemanha perdeu 25 a 40% da sua população. Os números não são certos, mas estima-se que tenham morrido na Europa, por causas directas ou indirectas (guerra, massacres, fome e doenças) desta revolução religiosa direccionada contra a Igreja Católica, 8 milhões de pessoas.

1570 - Chipre: as forças otomanas, em guerra contra Veneza, chacinaram a totalidade dos cristãos sitiados no Chipre. Calcula-se que foram mortas entre 30 a 50.000 pessoas.

23, 24 de Agosto de 1572 - Paris: sob a égide de Catarina de Medicis, 5.000 a 30.000 huguenotes (protestantes franceses) foram chacinados na Noite de S. Bartolomeu.

1645 - Yangzhou, China: As tropas do Imperador Quing mataram cerca de 800.000 residentes desta cidade, por terem aderido à resistência contra a dinastia no poder.

1645-46 - Sichuan, China - 1 a 3 milhões de habitantes desta província foram exterminados pelo exército de Zhang Xianzhong.

Setembro/Outubro 1758 - Lisboa: O Processo dos Távoras, liderado por Sebastião José de Carvalho e Melo (mais tarde Marquês de Pombal), leva ao cadafalso cerca de 20 a 30 desgraçados - incluindo crianças - com ligações a uma única família, e à prisão perpétua ou degredo de centenas de civis e padres jesuítas. Tudo isto com notáveis requintes de malvadez, que incluem torturas imaginativas de inspiração medieval e mortes bárbaras (estrangulamento e desmembramento simultâneo). Ninguém teve direito a algo parecido com um julgamento ou possibilidade de apelo.

1794 - Varsóvia - 20.000 polacos são assassinados por um exército russo em expedição de pilhagem.

Feitas as contas e colocadas as devidas dúvidas sobre os números "oficiais" e "oficiosos" percebemos rapidamente que a realidade da Inquisição, sendo com certeza sinistra, não é de todo comparável, tanto em escala de mortos como em impacto fascista sobre as sociedades, a uma multitude de outros fenómenos, muitos deles de brevíssima duração. E não merece por isso o ódio exclusivo e a desinformação insana a que tem sido sujeita. Todas as igrejas matam. Umas matam mais que outras (o terror islâmico já matou mais de 2300 pessoas na Europa, desde Setembro de 2001). A Católica, se calhar e com boa matemática, até é das que menos matam, muito por causa do carácter extremamente pacifista do seu profeta fundador.

Tudo isto não impede porém que os próprios representantes contemporâneos da Igreja cavalguem de rédea solta sobre a falaciosa hipérbole. Escrevo este post precisamente porque ainda agora estava a ler o Padre Carreira das Neves, que na edição do Expresso sobre a Bíblia, comenta assim, no fecho do volume sobre a natureza do sacrifício nas escrituras:

"Jesus corta certeiro o vendaval da violência mimética, de toda e qualquer rivalidade, a nível pessoal, tribal, nacional, internacional. É um sistema em acção contínua, totalmente oposto ao sistema dos terroristas islâmicos, nazismos, socialismos estalinistas, mas também inquisições da Igreja Católica. Quanto tempo levará ainda para aprendermos a lição?"

Ora, comparar os trabalhos funerários da Inquisição aos exercícios genocidas de radicais islâmicos, nacional-socialistas e bolcheviques sanguinários é um disparate factual de tal forma exuberante que, à primeira vista, é de difícil explicação. Porém, basta consultarmos a opinião publicada por este padre, ou lermos os diversos volumes desta edição do Expresso, para percebermos que Carreira das Neves só é padre porque não encontrou entretanto na sua vida uma profissão mais promissora. Fundamentalmente ateu, abertamente anti-católico, o Padre Carreira das Neves devia ser despedido, se o Vaticano fosse uma organização minimamente funcional. Se o Vaticano não fosse actualmente liderado por outro padre ateu. Assim, passa por credível crítico e moderado analista dos sagrados testamentos. E mente sobre a Inquisição com quantos dentes tem a sua pena e como qualquer leigo marxista. Não porque ignora os factos, claro. Mas porque é inimigo da Igreja. E da verdade histórica.

domingo, dezembro 15, 2019

O Natal é Frank Sinatra ou outra excepção à regra dos cantos ortodoxos.

O pior actor da história barra melhor cantor de sempre é sempre: natalício.



A anacronia destas imagens é brutal. Isto parece uma coisa filmada num outro planeta. Ou neste, mas há trinta mil séculos atrás. Não passou porém assim tanto tempo. A verdade histórica explica que o iato entre o apogeu e a queda das civilizações é, regra geral, de relativa brevidade cronológica. Num dia o teu império nunca vê o sol descer sobre o horizonte e no outro estás com o pescoço entalado no gargalo de Robespierre.

Acho que a maior parte da malta ainda não percebeu que a Civilização Ocidental já foi. E que nem há volta a dar. Algures entre Robespierre e Frank Sinatra, perdemos a aposta com o diabo.

sexta-feira, dezembro 13, 2019

O povo é quem mais ordena.

marxist

Corbyn, o soviete-anti-semita-amigo-de-terroristas conseguiu obter o pior resultado do Partido Trabalhista desde 1935. Bum.

O Natal é canto ortodoxo.



Esta malta canta que é uma maravilha e o resto é conversa. Já há uns anos que considero que só há uma banda sonora para o Natal: canto ortodoxo.

Valaam Brethren Choir . Agni Parthene

A verdade do voto.

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As eleições de hoje no Reino Unido, talvez as mais importantes desde que Margaret Thatcher subiu ao poder, servem eloquentemente alguns pontos de vista que tenho expresso aqui no blog, a saber:

- Uma muito expressiva maioria de cidadãos britânicos querem sair da União Europeia. É o que vai rapidamente acontecer, agora que Boris Johnson tem uma maioria enorme.

- O populismo é hoje, ideologicamente, a mais substancial força política do Ocidente.

- O marxismo que tem assaltado a esquerda europeia e americana nos últimos anos é capaz de não ser assim tão popular como parece que é no twitter, na BBC, na Sky, na CNN e nos jornais "de referência" europeus e americanos. Corbyn levou hoje uma sova grande. Desconfio que em Novembro de 2020, o Partido Democrata americano - que é hoje para todos os efeitos um partido de extrema esquerda - também vai levar um histórico excerto de porrada eleitoral.

- A imprensa é, nos dias que correm e de uma maneira geral, um instrumento ao serviço de elites que vivem num lodo híbrido de capitalismo espúrio e bolchevismo radical. Os jornalistas esforçam-se loucamente por levar a cabo o sexo oral que lhes é exigido, mas a verdade é que já ninguém lhes liga nenhuma. O The Guardian, por exemplo, teve um papel completamente patético, nestas eleições, chegando ao ponto de pedir aos seus leitores para votarem trabalhista. Os eleitores escolheram ignorar a deprimente petição.

- Apesar dos esforços recorrentes para eliminar a liberdade de expressão e do fascismo politicamente correcto que impera institucionalmente, das academias aos jornais, dos aparelhos burocráticos dos estados às grandes corporações económicas, a verdade é que, até acabarem com as repúblicas fundadas na democracia representativa, as facções totalitárias terão grande dificuldade em ultrapassar a força e o bom senso dos eleitores. Há uma misteriosa sabedoria na manifestação eleitoral dos povos, que apresenta raras excepções de estupidez. Se alguma coisa continua válida nos regimes do Ocidente, é essa sabedoria. Seria bom que continuássemos a respeitá-la. A ver vamos.

quarta-feira, dezembro 11, 2019

O Natal é uma slot SCX.


Autista do ano.


A dúbia e infame distinção anual da revista Time é um assunto recorrente neste blog. Este ano, os rapazes não fugiram à regra espúria e elegeram nada mais nada menos que uma adolescente autista como personalidade do ano. Não tenho nada contra autistas, nem contra adolescentes, obviamente. Mas parece-me que este elogio político de uma miúda com deficiência é completamente imbecil. Greta Thunberg tem 16 anos. Não sabe nada de política e muito menos de ciência e ainda menos de ciência climática, na medida em que ninguém na verdade sabe grande coisa sobre o assunto. Nem os doutorados na matéria que não são adolescentes nem autistas fazem uma pequena ideia.
A eleição de Greta é uma manobra de propaganda ideológica super rasca e não passa disso. Não é por estarmos sempre a ser assaltados e incomodados pela indignação encenada e constrangedora desta infeliz rapariga que vamos debitar menos dióxido de carbono para a atmosfera, como é óbvio; e há muito boa gente, como eu, que ainda está para ser convencida de que essa libertação de dióxido de carbono é uma coisa má para a atmosfera. Nem é por fazermos desta criatura uma espécie deficitária de profeta do apocalipse que evitamos as alterações climáticas, porque o planeta sempre as produziu em quantidade abundante e porque o planeta é indiferente ao que dizem os adolescentes autistas, os cientistas do clima e os redactores da Revista Time. O planeta já aqui estava muito antes dos redactores da revista Time terem qualquer hipótese de eleger personalidades do ano e aqui permanecerá incólume muito depois da revista Time fechar por falência técnica, ou moral. O planeta não é frágil perante as "agressões" da raça humana, como gostam de dizer estes alarmistas manhosos. A raça humana é que é frágil perante a indiferença do planeta e a Revista Time conta tanto para o totobola das variações climáticas, como Greta para a lotaria da opinião pública. Daqui a uns meses, já ninguém se vai lembrar desta triste figura, a quem a natureza já tinha roubado a hipótese de uma adolescência normal e a imprensa furta agora a possibilidade da inocência. Mas vale tudo, em nome da virtude de plástico dos tempos que correm. E o pior ainda está para vir.

Sobre a crise da cosmologia contemporânea: novos contributos.

‘Enquanto a mãe Ignorância viver, não é seguro que a sua filha Ciência especule sobre as causas ocultas da realidade.‘ 
Johannes Kepler  


Não há limite para a ignorância humana, e muito principalmente para a ignorância do género científico. Semana sim, semana sim surgem notícias catastróficas para a Física, por exemplo. Para além de não sabermos nada sobre a origem, a natureza e a geografia de uma esmagadora quantidade de matéria cósmica, parece agora que também desconhecemos a sua idade.

Nos últimos 50 anos os cosmólogos têm chegado a conclusões divergentes sobre a idade do Universo. Em função do método usado (decaimento para o vermelho, radiação cósmica de fundo ou galáxias locais) a conta foi oscilando entre os 13 e os 14 biliões de anos. Mas ainda assim, as divergências podiam, com uma certa dose de optimismo, estar dentro da margem de erro provável para estas contas de aniversário, dada a ambiciosa e complexa tarefa.

Muito recentemente, porém, Eleonora Di Valentino, Alessandro Melchiorri e Joseph Silk publicaram um artigo na Nature Astronomy que caiu como uma bomba de hidrogénio na comunidade atarantada dos astrofísicos. Se considerarmos, como novos dados evidenciam, que o Universo é fechado (tem uma forma e um perímetro), e se alterarmos a equação que mensura a idade do universo de acordo com esse princípio axiomático, o universo terá afinal 18 biliões de anos. São muitos biliões para que o Modelo Standard da Física continue a valer como se nada fosse. Ainda por cima, os autores deste paper explosivo anunciam que, a acreditar nesta matemática, a quantidade de matéria negra terá também que ser superior ao que supomos, mais na ordem dos 50% do que dos 25%. Quer isto dizer que, se calhar, aquela parte de 7% da matéria que achávamos que conhecíamos, deve ser ainda mais ínfima do que ingenuamente acreditávamos.

Assim sendo, somamos a uma ignorância grande, uma outra em excesso. A simpática e articulada astrofísica Rebecca Smethurst dá uma idea da hecatombe epistemológica aqui:



Os cosmólogos de hoje em dia, com raras excepções, até dão pena: o universo é para eles um verdadeiro mistério. Não percebem nada do assunto e estão sempre a ficar chocados com as evidências e como as evidências não encaixam nos seus cálculos dogmáticos, de aprendizes de feiticeiro. Apesar de não conseguirem fazer uma pequena ideia do que é a realidade, insistem na velha e singular certeza de sempre: Deus não existe. Deus não existe, ouviram bem? Deus não existe de certeza absoluta.

Ora, quanto mais leio e pesquiso e estudo ciência, mas convencido estou da existência de um Deus Criador. E que há verdades que não nos são dadas, precisamente aquelas que a ciência procura, e verdades que nos são bem servidas, como as inscritas numa obra de arte, expressas num aparelho moral ou consagradas numa confissão religiosa.

A este propósito, arrisco até a hipótese de que a ciência, no seu frenesim, faz perguntas para as quais já existem ancestrais respostas. Gerald Schroeder provou, nos anos noventa, que o Universo tem de facto 6 dias de existência, como está determinado no Antigo Testamento. E fez essa prova recorrendo à matemática de Einstein. Porque o fluxo temporal de expansão do universo é observado de formas diferentes em função da perspectiva e localização do observador, e porque, continuando na senda da Teoria da Relatividade Geral, um dia passado no local exacto onde o BigBang teve a sua ignição equivale a 1 trilião de dias passados na Terra, as contas da bíblia batem certo com os cálculos da física contemporânea sobre a idade do universo, de que falei nos primeiros parágrafos deste post. 6 dias para Deus, 14 biliões de anos para nós.

Como o espectacular Professor James Tour faz notar com rara eloquência e entusiasmo abundante no clip com que fecho este post, a ciência não serve para aniquilar a fé. Muito pelo contrário. Nos seus melhores momentos, reforça-a.

Sou cada vez mais agnóstico. Cada vez menos ateu. E qualquer dia dou por mim, bicho sem fé, a acreditar numa ideia de criação divina.