terça-feira, dezembro 31, 2013

Mensagem de Ano Novo.



The Polyphonic Spree  |  Lithium (Nirvana cover)

Jornal de Letras | Abril/Dezembro 2013


Porque Falham As Nações - Daron Acemoglu e James A. Robinson - Círculo de Leitores
A tese sobre o sucesso e o falhanço das nações, defendida por estes dois académicos do MIT e de Harvard (respectivamente),  assenta numa premissa de grande simplicidade: as nações triunfam quando apresentam estruturas inclusivas (leia-se, estruturas de estado de direito, democrático, semi-liberal, que premeiam o investimento e o mérito e que permitem a mobilidade social e a distribuição do rendimento pelas diversas classes sociais) e as nações que fracassam apresentam estruturas extractivas (repúblicas totalitárias, monarquias absolutistas, estados de feudo tribal, unidades geopolíticas não centralizadas, etc., cujos motores económicos são constituídos para promover os ganhos das elites). 
A tese é simpática e optimista e os autores dão-se a um exaustivo e sério trabalho de case study. Fiquei a saber muita coisa que não sabia, o que é sempre bom, mas, durante a leitura, a minha fraca cabeça estava sempre a interromper-me a concentração com objecções irritantes e básicas que não são satisfatoriamente resolvidas neste calhamaçozinho: O império romano era tudo menos inclusivo e triunfou largamente sobre o hemisfério ocidental durante, pelos menos, seis séculos. Os Hans da dinastia Ming eram de um absolutismo feroz e dominaram o outro lado do mundo durante três séculos. O império soviético, que assentava num esquema meramente extractivo, impôs a sua regra durante grande parte do século XX e a china contemporânea, primeiro motor de crescimento económico mundial, tem muito mais de extractivo que de inclusivo. Isto só para dar alguns exemplos. Podia estar aqui a noite toda.


Vida e Destino - Vassili Grossman - D. Quixote
Fabulosa aguarela tolstoiana sobre a batalha de Estalinegrado, este é o derradeiro épico da literatura russa do Século XX. Vassili Grossman, que era um jornalista de confiança do regime, foi mandado para a frente do Volga, para reportar o pesadelo dentro do enquadramento propagandístico estalinista. Quando voltou escreveu esta obra prima e deitou tudo a perder. O livro foi espartilhado e proibido, censurado e confiscado e esteve até, durante 20 anos, desaparecido. É uma coisa prodigiosa, com 850 páginas de extensão.


Obra Poética de Ruy Belo - Volume 1 - Editorial Presença
Sobre esta antologia de poemas do Ruy Belo, cuja leitura já tinha assinalado aqui e aqui no blog, resta-me só dizer o seguinte: a este homem, que inventou uma relação iniciática entre o deus católico e a poesia portuguesa, a terceira república não soube dar mais que o anonimato e um emprego de sobrevivência num obscuro liceu de província. Ruy Belo, que é um imortal, merecia mais que isso. Ruy Belo, que lutou contra o fascismo e viveu exilado da sua pátria por causa do seu compromisso com a liberdade, merecia mais do que isso. Mas, talvez apenas porque não era ateu, talvez apenas porque não era marxista, talvez apenas porque não era alinhado, foi deixado cair no esquecimento. Mas para génios destes, a posteridade guarda sempre o seu lugar. E se não é da moda destes tempos, o Ruy irá ser grande para outros séculos.

Morte ao Meio Dia

No meu país não acontece nada
à terra vai-se pela estrada em frente
Novembro é quanta cor o céu consente
às casas com que o frio abre a praça

Dezembro vibra vidros brande as folhas
a brisa sopra e corre e varre o adro menos mal
que o mais zeloso varredor municipal
Mas que fazer de toda esta cor azul

que cobre os campos neste meu país do sul?
A gente é previdente tem saúde e assistência cala-se e mais nada
A boca é pra comer e pra trazer fechada
o único caminho é direito ao sol

No meu país não acontece nada
o corpo curva ao peso de uma alma que não sente
Todos temos janela para o mar voltada
o fisco vela e a palavra era para toda a gente

E juntam-se na casa portuguesa
a saudade e o transístor sob o céu azul
A indústria prospera e fazem-se ao abrigo
da velha lei mental pastilhas de mentol

O português paga calado cada prestação
Para banhos de sol nem casa se precisa
E cai-nos sobre os ombros quer a arma quer a sisa
e o colégio do ódio é a patriótica organização

Morre-se a ocidente como o sol à tarde
Cai a sirene sob o sol a pino
Da inspecção do rosto o próprio olhar nos arde
Nesta orla costeira qual de nós foi um dia menino?

Há neste mundo seres para quem
a vida não contém contentamento
E a nação faz um apelo à mãe
atenta a gravidade do momento

O meu país é o que o mar não quer
é o pescador cuspido à praia à luz do dia
pois a areia cresceu e o povo em vão requer
curvado o que de fronte erguida já lhe pertencia

A minha terra é uma grande estrada
que põe a pedra entre o homem e a mulher
O homem vende a vida e verga sob a enxada
O meu país é o que o mar não quer




Poesias Escolhidas de Púchkin - Editora Nova Fronteira
Esta antologia brasileira não tem um critério muito nítido e a poesia de Púchkin deve ser lida no seu contexto, mas, ainda assim, deu-me prazer a leitura deste corpo de poemas que transitam entre a ingenuidade do romantismo russo e a vibrante pena de um dos seus autores mais grandiloquentes.

Elegia

Dos anos loucos a alegria extinta
Ressaca vaga, faz que eu mal me sinta.
Mas, como o vinho, é o remorso meu
Que mais forte ficou, se envelheceu.

É triste minha estrada. E me anuncia
O mar ruim do porvir dor e agonia.
Mas não desejo, amigos meus, morrer;
Quero ser para pensar e sofrer.

E sei que há gozos para mim guardados
Entre aflições, desgostos e cuidados:
Inda a concórdia poderei cantar,
Sobre prantos fingidos triunfar,

E talvez com sorrir de despedida
Brilhe o amor no sol-pôr de minha vida.




Peito Grande, Ancas Largas - Mo Yan - Ulisseia
A operática história da família Shangguan compete com "Os Cisnes Selvagens" para o grande prémio da literatura dos horrores do Século XX chinês.
Mo Yan tem, indiscutivelmente, mais piada que Jung Chang, e a tragédia pula para comédia página sim, página sim. Logo no princípio, Shangguan Lu, a protagonista, está em trabalho de parto em simultâneo com a burra da família. A família ajuda a burra a parir enquanto Shangguan Lu se desenrasca sozinha. No fim, Jintong, o co-narrador e idiota de serviço, paradigma da inutilidade do homem perante a terrífica função cósmica, saco de pancadaria do destino, sobrevive a tudo e a todos. E levanta-se, desempoeirado, do chão da ignominia no projecto da próxima queda, pela enésima vez. É que a vida quer ser vivida. A vida quer continuar.


Entre os Assassinatos - Aravind Adiga - Editorial Presença
Muito provavelmente o mais etnográfico e o mais espalhafatosamente marxista dos livros de Aravind Adiga que já li, este fabuloso guia da cidade de Kittur, confusão terrível de credos e raças e castas e estrume da história, só confirma que este é daqueles romancistas que não têm medo de ninguém. Nem da sua própria sombra. Bravo.


António Gedeão - Poemas escolhidos - Antologia do autor - Edições João Sá da Costa
Esta não é a edição que me deu a conhecer o mestre. Mas como é uma antologia seleccionada pelo próprio Rómulo de Carvalho, peguei nela. Deve ser a centésima vez que li estes poemas. Estes poemas que são tanto dele, Rómulo, como meus. E se digo que são meus tanto como são dele, é porque fazem realmente parte da minha vida.


Poema do Fecho Éclair

Filipe II tinha um colar de oiro
tinha um colar de oiro com pedras
rubis.
Cingia a cintura com cinto de coiro,
com fivela de oiro,
olho de perdiz.

Comia num prato
de prata lavrada
girafa trufada,
rissóis de serpente.
O copo era um gomo
que em flor desabrocha,
de cristal de rocha
do mais transparente.

Andava nas salas
forradas de Arrás,
com panos por cima,
pela frente e por trás.
Tapetes flamengos,
combates de galos,
alões e podengos,
falcões e cavalos.

Dormia na cama
de prata maciça
com dossel de lhama
de franja roliça.
Na mesa do canto
vermelho damasco
a tíbia de um santo
guardada num frasco.

Foi dono da terra,
foi senhor do mundo,
nada lhe faltava,
Filipe Segundo.

Tinha oiro e prata,
pedras nunca vistas,
safira, topázios,
rubis, ametistas.

Tinha tudo, tudo
sem peso nem conta,
bragas de veludo,
peliças de lontra.

Um homem tão grande
tem tudo o que quer.

O que ele não tinha
era um fecho éclair.


Uma Carta para Garcia seguido de Sobre Livros e Anúncios - Elbert Hubbard - Padrões Culturais Editora
Este pequeno texto, escrito numa noite de fevereiro de 1899, faz parte da tradição literária ocidental porque é, segundo parece, o opúsculo mais lido da história da humanidade. Trata-se do elogio de um tal de Rowan a quem a Casa Branca, durante a guerra entre a Espanha e os Estados Unidos, atribuí a hercúlea tarefa de entregar uma carta urgente ao General Garcia, que liderava os rebeldes independentistas cubanos e que se encontrava incomunicável, fortificado algures nas montanhas inexpugnáveis da ilha do caribe. Três semanas depois, Rowan entrega a carta ao seu destinatário, depois de enfrentar um conjunto de dificuldades que Hubbard não especifica. O que interessa ao autor não é a aventura do herói mas o seu brio profissional. Rowan não faz perguntas nem se desfaz em desculpas: tem uma carta para entregar e vai a entregá-la. Sem reticências nem queixas sindicais. Sem medos nem existencialismos. Segue com a sua missão e é tudo. E é isso mesmo que faz dele um herói eterno. 
Se este opúsculo, espécie de anti-Bartleby - o personagem de Melville que recusava cumprir fosse que tarefa fosse - já era pertinente no fim do século XIX, agora então, no princípio deste preguiçoso e inquisitivo e reivindicativo século XXI, torna-se verdadeiramente num tesouro filosófico. O elogio de Rowan serve muito bem para pontapear e envergonhar a mentalidade reinante no mundo ocidental conteporâneo. São 8 páginas de ouro, seguidas de um outro breve texto também bastante interessante, que se interroga sobre a natureza do sucesso editorial, mistério que continua insondável, 120 anos depois.


John Milton - Paraíso Perdido - Cotovia
A expulsão do paraíso e a implosão do conceito onírico subjacente ao Éden numa das obras fundamentais da literatura ocidental (Pessoa defendia a superioridade de Milton em relação a Shakespeare e Borges propunha Milton como o Homero anglo-saxão), foi muito mal tratada pela tradução incompreensivelmente abstrusa de Daniel Jonas. 
Para não estar aqui a perder tempo com a mediocridade alheia, dou só um exemplo da esquizofrenia que se manifesta logo na tradução do primeiro verso. Para Daniel Jonas, a melhor forma de traduzir "Of Man's first disobedience" é isto: "Da rebelia adâmica". Hã? A sério? Mas porquê? Ainda se podia tolerar a metamorfose maluca se o tradutor procurasse uma conformidade formal, mas como não a consegue de todo, mas como nem parece que esteja preocupado com isso, fica só a frustração de uma oportunidade perdida.
A Cotovia tem vindo a desenvolver um trabalho absolutamente notável na publicação dos clássicos da literatura ocidental e, até por isso, não se percebe lá muito bem como é que podem acontecer desastres destes.



Poesia Simbolista Portuguesa - Editorial Comunicação
Não sendo de todo a minha escola preferida, dediquei alguma atenção a esta antologia, embora a própria classificação, tão elástica que abrange autores como Cesário Verde e Teixeira de Pascoaes, seja de critério bastante discutível. Talvez por isso, e também por nunca ter simpatizado grandemente com os Camilo Pessanha e os António Nobre deste mundo, não foi esta leitura tão aprazível como por certo seria a leitura isolada de alguns grandes da literatura portuguesa que aqui estão inclusos, no meio do ruído simbolista.




O Livro do Ano - Afonso Cruz - Alfaguara
Líndissimo trabalho naiv do prolixo e prolífico Afonso Cruz. Onde podemos encontrar, pela voz doce de uma menina poeta, coisas lindíssimas assim: "A terra é o céu das raízes, não é?"


Espelhos que vivem uns dos outros - Jenaro Talens - Livraria Camões
A obra poética de Jenaro Talens combina elementos de radicalidade formal com um certo diletantismo temático que, sendo encantador, acaba por deixar muito pouco património no imaginário do leitor. Fiquei sem saber o que pensar. Acho que tenho que voltar a este livro.


Paisagens Originais - Olivier Rolin - Edições Asa
O Autor de "O Bar da Ressaca" entra aqui no campo do ensaio, com uma viagem bem interessante aos cenários de infância de Hemingway, Nabokov, Borges, Michaux e Kawabata. É tudo muito bem escrito, muito bem pensado, muito agradável. Acontece apenas que, ao contrário do que parece ser a intenção inicial do autor, os diferentes cenários não se cruzam, não geram frutos entre si, não encontram comunhão. E é uma pena, porque de resto, o livro recomenda-se.

quinta-feira, dezembro 19, 2013


A boutique da lei.



Em Portugal, os advogados não podem investir em publicidade. Podem ser corruptos, podem ser manhosos, podem ser incompetentes, podem ser ladrões, mas não podem (ou não devem?) vender publicamente os seus serviços. Em Portugal, acha-se que a advocacia está acima destas coisas do comércio, como se os advogados não fizessem o seu corso como qualquer outro ser humano. Serão os advogados porventura mais sérios, mais desinteressados, mais impolutos, do que os gestores de empresas, os directores de marketing, os gestores de produto, os vendedores de automóveis ou os retalhistas de electrodomésticos? A sério?
Na verdade, a razão de fundo que inibe aos advogados a possibilidade de divulgação dos seus serviços está no interesse dos escritórios multi-milionários, que não precisam de facto de divulgar seja o que for porque lhes basta terem como clientes os governos da república. E para esse mercado alvo, a publicidade não serve. Servem outros meios, outros métodos e outros investimentos, geralmente bem mais infames que a proverbial campanha publicitária.
Ora estas senhoras aqui decidiram enfrentar o status quo com um filminho que é de gosto duvidoso mas de eficácia garantida. E eu acho-lhes alguma piada, para ser muito sincero. Gosto da competência em mini-saias e da maquilhagem em slow motion. Enternece-me o decaimento para o cat walk nas ruínas do antigo palácio da justiça e o kitch Prada em saltos altos dá-me sorrisos. Aprecio a coragem que estas raparigas mostram sinais de ter, por baixo da mini-saia e da maquilhagem e do gosto duvidoso. E aplaudo sobretudo o verdadeiro pontapé no estômago que aplicaram na comunidade de mortos-vivos que é a sociedade portuguesa.
Parece que a advogada em chefe, quando trabalhava para a televisão pública, tinha um jaguar como carro de serviço (preciosa informação gentilmente cedida pelo Público). Se isto é verdade, esta doutora é uma deusa. É preciso ter muita pinta para sacar um jaguar aos mandarins da RTP.

domingo, dezembro 15, 2013

Demorou, mas já estou a perceber.



Arcade Fire
 |  Joan of Arc


Este último disco dos Arcade Fire, confesso, fez-me alguma comichão nos intestinos da sensibilidade, muito por causa daquela atitude tonta com que os senhores decidiram apresentar a obra. Depois de vencido o nojo, começo a perceber que o disco não é mau de todo. Ou melhor: até é capaz de ser audível, se nos abstrairmos do folclore imagético. Que é, de todo em todo, parvo. Até porque é de curto fôlego. O estardalhaço psicadélico foi grande, mas depois do estardalhaço queremos encontrar um clip decente para a porcaria do melhor tema do disco e não se encontra mais que uma coisa um bocado manhosa, oficiosa, tirada aos ferros da genial fita do Dreyer. Se perdessem menos tempo com os compromissos televisivos e ganhassem outra disponibilidade para os compromissos artísticos, os Arcade Fire ficavam de certeza mais bonitos na fotografia. Assim, são só mais um pop! no grande barulho da música contemporânea.

quarta-feira, dezembro 11, 2013

Cântico de Natal.



Placebo  |  Too Many Friends  |  Live at RAK Studios

Ensaio sobre a estupidez humana.

O que nos separa dos animais não pode ser a inteligência.

A boçalidade triunfa com pungente urgência
e o facto manifesto no quotidiano, ano após ano,
confirma e valida a triste evidência.

Somos especiais porque sabemos contar até três
e a verdade primeira na história derradeira,
dá por muito rara e por muito cara a lucidez:

o que nos separa dos animais tem que ser a estupidez.

terça-feira, dezembro 03, 2013

Conteúdo sem conteúdo.



Cloud Control | Happy Birthday

Chateia-me até ao fim dos nervos não ter clips decentes para as músicas que quero passar aqui no blog. Por exemplo: como é que é possível ninguém ter pensado em criar um vídeo para esta melodia pop fabulosa? Sinceramente.

segunda-feira, dezembro 02, 2013

A espera.

De acordo com Lawrence Ferlinghetti.


Estou à espera que o meu país volte a ser um país.
Estou à espera que o Vitorino Nemésio regresse ao prime time e estou à espera
do Almada Negreiros no Zip Zip
e estou à espera do renascer do espanto.
Estou à espera que o Carlos Cruz saia da prisão
e que os outros saiam da cova, para irem entrevistar outra vez o Almada Negreiros.
Estou à espera que a televisão se arrependa e
volte para o preto e branco e
estou à espera que os pivots ganhem vergonha.

Estou à espera que saía para a rua
um jornal decente.

Estou à espera dos inteligentes e dos capazes, dos visionários
e dos profetas, dos príncipes e dos guerreiros e
estou à espera do renascer do espanto.

Estou à espera da chegada dos extra-terrestres
e estou à espera da verdade para todos os mistérios.
Estou ainda à espera que Deus morra.
Estou ainda à espera que os cientistas se demitam
e que os padres resignem.
Estou à espera que os filósofos se suicidem e que os poetas
se encarreguem dos respectivos funerais.
Estou à espera que Deus deixe entrar no céu os filósofos,
apesar de se terem suicidado.
Estou à espera que os poetas também sejam bem recebidos,
apesar de tudo.

Estou à espera do renascer do espanto.

Estou à espera do juízo final, do armagedão, do apocalipse, do colapso, do término, do fim
e estou à espera de começar outra vez.

Estou à espera que o cosmos faça sentido.
Posso esperar sentado, mas levanto-me, pro-activo, empreendedor
e em desespero.

Estou à espera que o estado me deixe comprar um Mercedes.
Estou à espera que o fisco reverta o ónus da prova.
Estou à espera que as portagens decaiam para o mundo subatómico
e que as estradas se abram para a minha velocidade.

Estou à espera da falência.
Estou à espera do que perdi porque não esperei.
Estou à espera do que ganhei por ter esperado.
Estou à espera do comboio da meia-noite que vai chegar com
o renascer do espanto.

Estou à espera que o Benfica volte a ser campeão europeu
e estou à espera que corram com os atrasados mentais.

Estou à espera da re-instauração da República de Platão.

Estou à espera de não ter que pagar o funeral da minha mãe
e estou à espera de morrer durante o sono e deixar ao cangalheiro o que for suficiente
para o enterro.
Estou à espera que o meu amigo não morra.
Estou à espera de acordar para fora deste ciclo REM.

Estou à espera que o Fernando Pessoa explique a charada e
estou à espera de uma audiência com o Borges.
Sim, estou à espera de ser atendido,
estou à espera de amar e de ser amado e estou à espera do amor e do ódio
e estou à espera que o meu destino seja revelado nos números da lotaria
e estou à espera
da tempestade perfeita e do
renascer do espanto.

domingo, novembro 24, 2013

No paleolítico inferior já percebiam qualquer coisa da música que se ia fazer no século XXI.



Aqui está uma banda vinda dos confins do tempo, para nos esclarecer sobre a música que se fez nos últimos 40 anos. E que se faz agora.

Sly and The Family Stone | Thank You

quarta-feira, novembro 20, 2013

Incentivos ao consumo de Pepsi Cola no mercado sueco.



Este bonequinho aqui pretende exorcizar o Cristiano Ronaldo, pelo que é submetido a um conjunto de alegorias de gosto muito duvidoso, que incluem o esmagamento, o esquartejamento por atropelo de locomotiva e a magia negra. Os criativos contratados pela Pepsi sueca criaram este objecto viral na expectativa, correcta, de que vendem mais Pepsi na relação proporcional das sevícias a que submeterem o melhor jogador de futebol do mundo. Isto porque os suecos, por lamentável acaso, acham que competem também para o título com uma menina bósnia. E marginalmente porque, até ontem, achavam que tinham uma equipa de futebol que impedisse o melhor jogador do mundo de o ser.
Outra vez: se uma agência a operar em Portugal se lembrasse de fazer qualquer coisa deste repugnante género com a tal menina bósnia, que gestor de produto, no seu direito juízo, aprovaria isso? Os portugueses são excessivamente bem educados. E iam beber menos Pepsi.

Rock quase Jazz.



 The Wave Pictures  |  Lisbon

Quando forem grandes, os suecos querem ser pessoas educadas como nós, os latinos.

Depois de recorrerem a vários truques manhosos para perturbarem os atletas da selecção portuguesa em geral e o CR7 em particular, os suecos embrulharam 3 batatinhas quentes e suculentas e foram para casa digerir o fartote, meio enjoados, meio lacrimosos. No fim, o rapazinho do rabo de cavalo disse que o mundial sem ele não ia ter interesse nenhum. Se fosse Cristiano Ronaldo a dizer isto, se fossem os portugueses a não deixarem os suecos dormir, se fossemos nós a assobiar o hino sueco, era o escândalo do costume. Mas como os mal criados são suecos, e os suecos são muito bem criados, a coisa passa sem celeuma. O paradigma de telejornal que nos tenta convencer que os povos do norte da Europa são mais educados, são mais "civilizados" do que os povos latinos sempre me enervou um bocado. Não é justo nem verdadeiro. E só quem nunca leu um livro de história na vida é que acredita nisto. Pelo contrário, são os povos latinos que sempre andaram com a civilização às costas e isso nota-se ainda hoje e até em fenómenos pequeninos como este feliz play off. E já agora que falamos de povos do norte da Europa, deixem-me fazer um parêntesis à proverbial boa educação portuguesa para deixar aqui um recado ao grande imbecil suíço que manda na FIFA e que, claro, só podia mesmo ser suíço: caro sr. Blatter, tenha a gentileza de ir bardamerda.

terça-feira, novembro 19, 2013

Em direcção ao sol.


O cometa ISON, originário da nuvem de Oort, uma cintura de destroços celestes localizada a 93 triliões de milhas da Terra, está a passar por nós a 234 milhas por segundo, na direcção do Sol. O fenómeno já é visível a olho nu, no céu nocturno. A 28 de Novembro, este monstro de gelo e pó vai ficar tão próximo da superfície solar (apenas 720 mil milhas) que ninguém sabe se sobreviverá à tangente. Se sobreviver, o trajecto de regresso constituirá o maior espectáculo celeste a que a humanidade já assistiu, desde 1680. É que o ISON, a 26 de Dezembro, estará apenas a 40 milhões de milhas da Terra. E vai iluminar os céus.

Mais informação sobre o ISON aqui e aqui.

domingo, novembro 17, 2013

O que encontras no fim da estrada não é propriamente um arco-íris.



Na ressaca do sucesso de "On The Road", a coroa de glória do movimento beatnick, Jack Kerouac perde-se no Big Sur, entre o alcoolismo militante e a falência filosófica de uma geração sem projecto filosófico. O filme de Michael Polish, baseado no livro de Kerouac com o mesmo nome, é belo e eficaz, tanto mais que não tem medo das palavras. E as palavras de Kerouac, que jorram da fonte do desespero como água envenenada por Deus, valem mais que todos os 25 frames por segundo que o cinema possa inventar.

Nem tudo está perdido.

Finalmente, uma boa notícia: cinco anos depois de ter chegado à Casa Branca, Obama está em queda livre. Depois da humilhação às mãos de Putin, na questão Síria, a grande trapalhada do ObamaCare está a deixar os americanos à beira de um ataque de nervos. Obama está a tentar impor, a toda a força e custe o que custar (mais exactamente - 36 triliões de dólares até 2023), um Serviço Nacional de Saúde cuja viabilidade impossibilita aos cidadãos a opção por um seguro privado, num país onde mais de 60% das pessoas já têm um. Num país onde se descobre agora que a maior parte das pessoas não quer um Serviço Nacional de Saúde. Isto é esquizofrénico e anti-americano o bastante para criar rupturas de gravidade assustadora, mas não é o pior. Ainda o plano não está sequer aprovado e já o caos rebenta por todos os lados. Por um lado, muitos americanos cobertos por seguros privados têm entretanto recebido notas de cancelamento das seguradoras, porque o mercado da saúde está na expectativa do grande negócio prometido por Obama já para 2014 (a saúde pública é sempre mais cara que a privada e o grande capital não brinca em serviço). Por outro, o site que tenta "vender" a ideia aos americanos não consegue funcionar devidamente, talvez porque os aparatchics que a Casa Branca decidiu contratar para o desenvolver apresentam um consistente e escandaloso histórico de fracassos em projectos de tecnologias de informação do governo federal. Se um simples site de vocação evangelizadora não funciona, como é que o serviço público funcionará? É de gargalhada. Isto embora os democratas não achem piada nenhuma e 39 dos congressistas do partido votaram ontem com os republicanos uma versão da lei que Obama considera inaceitável. Quando chegar a altura do Senado votar, a coisa ainda vai correr pior porque os senadores democratas estão mais cépticos de que os seus colegas no Congresso, o que, por si só, é espantoso. Mas o problema da actual administração americana é mais profundo do que os votos e os vetos de congressistas e senadores. O problema é que toda a incompetência, toda a desonestidade, todo o nepotismo de Barak Obama está agora e finalmente à mostra e o eleitorado não perdoa: a popularidade deste incapaz chegou, na semana passada, ao ponto mais baixo de sempre e a maioria dos americanos vê o seu Presidente como uma pessoa desonesta (sim, estas palavras são música para os meus ouvidos).
Até o Público, que tem venerado de forma vil e vergonhosa, o primeiro marxista da história da Casa Branca, não consegue esconder a sua desilusão, como podemos constatar aqui e aqui. Mas, obviamente, o leitor esclarecido procurará confirmar a veracidade deste post na imprensa americana. A Casa Branca está em tão maus lençóis que até o órgão oficial do Partido Democrata, a que chamamos Washington Post, serve perfeitamente como showcase do bordel instalado. E quem quiser aprofundar o seu conhecimento sobre o que, a este propósito, se está a passar na América deve ler este artigo do Atlantic. Ou este, porque vale sempre a pena ler o The Economist.
Deus é grande e tem insónias e, na verdade, Obama é tão mau presidente que talvez possibilite um milagre: o regresso da América à sua natural posição ideológica.

sexta-feira, novembro 15, 2013

O pequeno Marcel Proust não tem tempo a perder.

Depois de André Gide ter exposto a homossexualidade de Proust, através das cartas que este lhe escrevia, chegou agora o momento de sabermos que o famoso autor do Tempo Perdido, enquanto adolescente, era um onanista incorrigível. A carta escrita em grande aflição, ao seu avô, foi recentemente publicada aqui. E é de uma comicidade trágica. 
Realmente, já não se pode estar morto. 


18 May 1888

Thursday evening.

My dear little grandfather,

I appeal to your kindness for the sum of 13 francs that I wished to ask Mr. Nathan for, but which Mama prefers I request from you. Here is why. I so needed to see if a woman could stop my awful masturbation habit that Papa gave me 10 francs to go to a brothel. But first, in my agitation, I broke a chamber pot: 3 francs; then, still agitated, I was unable to screw. So here I am, back to square one, waiting more and more as hours pass for 10 francs to relieve myself, plus 3 francs for the pot. But I dare not ask Papa for more money so soon and so I hoped you could come to my aid in a circumstance which, as you know, is not merely exceptional but also unique. It cannot happen twice in one lifetime that a person is too flustered to screw.

I kiss you a thousand times and dare to thank you in advance.

I will be home tomorrow morning at 11am. If you are moved by my situation and can answer my prayers, I will hopefully find you with the amount. Regardless, thank you for your decision which I know will come from a place of friendship.

Marcel.

terça-feira, novembro 12, 2013

Why science goes wrong.

O Economist, como sempre desempoeirado e brilhante, decidiu abordar alguns dos problemas da ciência contemporânea. Só este este gráfico aqui diz muito, mas o artigo é mesmo A-s-s-u-s-t-a-d-o-r.

E só um aparte: agora que o Público, com a pretensão própria do Público, vai começar a pedir dinheiro pela edição online (não contem comigo para pagar um cêntimo pelo péssimo jornalismo que me querem vender),  o Economist mostra que é possível ter uma edição em print que dá lucro, uma edição online que é paga e uma outra edição online, com muita qualidade, que é de borla.
O que é preciso é que os conteúdos sejam bons. O resto vem por acréscimo.

segunda-feira, novembro 11, 2013

Outra vez os bastardos sem coração.



Heartless Bastards  |  Only for you

Em Fevereiro de 2012, procurei em vão um clip para esta música gloriosa. Mais que gloriosa, até. Na altura, não havia nada para além da música e da capa do disco. Agora já há video oficial e tudo. Agora que, se calhar, já nem vale a pena.  Não toco o vídeo oficial porque é oficial e tudo o que é oficial é aborrecido. Mas esta versãozinha entra bem no meu estado de espírito (que é de bastardo). E faz justiça à grande malha.

Aviso.

Hey, I'm not synthetica.

Movimento do Tempo Parado

O céu nocturno, carregado, mal disposto, ilumina-se subitamente com as luzes que não se apagaram nos outros bairros de Lisboa. As nuvens desfilam, em farrapos de alta velocidade e, de vez em quando, uma ou outra estrela consegue brilhar sobre o tempo e o espaço para vir fazer parte da claridade e da escuridão.

Devia ter sempre comigo uma lista de coisas que se podem fazer sem electricidade.

Sem electricidade parece que a vida pára. E eu não sei viver assim, apagado. Enquanto a lanterna do telemóvel durar sobre a urgência da bateria, posso ir escrevendo este movimento do tempo parado, mas e depois?

A cidade que tem luz ignora-me; a cidade que a EDP poupou ao drama é indiferente para com o cidadão desprovido de fotões e continua animada de brilhos e barulhos que não deixam sossegar a madrugada.

O Eixo Norte-Sul deve estar a gozar comigo.

E o Mexia pode ir para a puta que o pariu.

segunda-feira, novembro 04, 2013

Radiação Cósmica de Fundo ou a Grande Muralha de Deus Nosso Senhor.



Toda a gente sabe que obervar o universo é viajar no tempo. Há medida que os telescópios e rádio-telescópios foram ficando mais poderosos, a humanidade foi espreitando para um universo cada vez mais antigo. E seria de esperar que um dia alguém construísse um telescópio tão poderoso, mas tão poderoso, que fosse espreitar o big bang, o ínicio de todas as coisas. Nem mais, nem menos.

Acontece que esse telescópio já foi construído, só que temos um pequeno problema: com cerca de 400.000 de idade, o cosmos criou uma parede para além da qual não conseguimos ver nadinha. Chama-se Radiação Cósmica de Fundo e tem o aspecto que vemos na imagem. Trata-se de uma esfera com um diâmetro de cerca de 28 bilhões de parsecs (cerca de 92 bilhões de anos-luz, ou 920 sextilhões de kms). 

A Radiação Cósmica de Fundo está hoje presente em todo o universo e podemos ouvi-la na estática das ondas de rádio. Resulta de um plasma primordial, quente, de fotões, electrões bariões. À medida que o universo se expandiu, o desvio para o vermelho cosmológico fez com que o plasma arrefecesse até que foi possível aos electrões a combinação com os núcleos atómicos de hidrogénio e hélio. Estavam formados os primeiros átomos da história universal. Isso aconteceu quando o universo tinha aproximadamente 380 000 anos de idade. Foi nesse momento que os fotões começaram a viajar livremente pelo espaço. Foi nesse momento que se fez luz e, por isso, mesmo que pudéssemos olhar para além desta barreira, não havia nada para ver. Parece que estava tudo às escuras até aqui.

É claro que as mentes mais avisadas já tinham percebido que não seria assim tão simples   vislumbrar o umbigo de Deus.  Zenão de Eleia, por exemplo, que viveu há coisa de 2500 anos atrás, demonstrou que as distâncias são bastante ilusivas, com a sua  famosa Dicotomia do Estádio, que dividia os 60 metros do sprint olímpico da altura em partes infinitas, de tal forma que seria impossível ao atleta a conclusão da sua corrida. E, paralelamente, podemos ter atletas a correr os 100 metros durante um milhão de anos, e podemos ter recordes do mundo batidos todos os anos, que não é por isso que alguém vai cumprir a distância em zero segundos, não é? Este problema coloca-se de forma dramática à cibernética contemporânea, com as margens de progressão da capacidade de processamento a atingirem os seus limites técnicos. E não porque não sejamos capazes de criar transístores cada vez mais pequenos. Acontece apenas que, uma vez chegados a determinadas velocidades de processamento, a física troca-se toda e as coisas começam a correr realmente muito mal. Da mesma forma, não é por retirarmos dioptrias à nossa miopia tecnológica que vamos mais dentro do grande mistério cosmogónico.

É que este cosmos não é para aprendizes de feiticeiro, não é generoso com certezas absolutas e não gosta mesmo nada de revelar os seus segredos. E deus, pelos vistos, serve só para nos impedir de saber a verdade.

sexta-feira, novembro 01, 2013

A arquitectura da densidade.




Estas 3 imagens são apenas um fragmento do incrível "Lif in Cities", um projecto de Michael Wolf que retrata a cenografia física e humana de cidades como Hong Kong e Tóquio. Está tudo aqui e vale mesmo a pena dedicar cinco minutos de atenção ao trabalho deste senhor.

quarta-feira, outubro 30, 2013

Satellites ou o elogio do anonimato.



Satellites | Railway Line

Esta banda de Copenhaga é um caso muito sério. Da primeira vez que ouvi isto, achei a coisa demasiado Tindersticks para os meus ouvidos, que não são clementes com choraminguices, mas aos poucos comecei a perceber que, por trás do tom melancólico, há uma vitalidade lírica e uma capacidade orquestral absolutamente impressionantes. Estes rapazes, ou melhor, este rapaz Johny Vic, tem talento para dar e vender. Isto apesar de não gostar muito de ser ouvido. Ou visto. Quando os Satellites editam, não publicam mais que umas centenas de cópias. Não têm site nem sítio no Myspace. A Wikipédia não fala deles. No Youtube, os vídeos não têm referência ao nome da banda, mas apenas aos temas. É praticamente impossível descobrir seja o que for sobre o projecto e a única referência que encontrei foi, curiosamente, aqui. Seja como for, recomendo vivamente. E para quem gosta de letras poderosas, reparem só na pinta destes versos:

"I Live in a city
But I don't speak the language
Though everybody speaks mine.
Not the best environment for a paranoid mind."

Energia Timo #2



Timo Räisänen | Second Cut

Escritos na areia #2


COMPOSIÇÃO E DECOMPOSIÇÃO DA ENSEADA

Estar de férias, que coisa complicada! São muitas horas a ser de companhia. São muitas horas a morrer ao sol. São dias e dias a negar o corropio da vida e que sentido faz negá-lo? A complicação das férias é não haver maneira de escapar ao destino, mesmo quando se está de férias. Não podemos simplesmente marcar 15 dias de excepção às leis do cosmos. O caos sempre há-de prevalecer, em Lisboa como nas Caraíbas.
Ah, estar de férias! Estar com os livros mais de perto mas ainda assim tão longe da estante!! Construir muralhas no risco da maré e fazer fé que o pé de Neptuno não derrube o atrevimento. Ah, ouvir ao longe a conversa das ondas e especular sobre o assunto, quando toda a gente sabe que as ondas só sabem falar de regressos. Ah, o Verão tardio que me abençoa com noites perfeitas enquanto eu só penso no Gran Turismo Ponto Seis! Ah, a minha mulher marítima, a minha mulher tufão, que se farta das férias ainda antes de mim, ainda antes que eu perceba a ironia, ainda antes que eu realize que há, nas férias, uma ambição insensata.



MILES AWAY

Apita para aí, meu! Dou-te a liberdade de dois acordes. E tu rapaz, apita para aí que nem um doido maluco. Estás no teu direito de génio, estás no teu domínio dos deuses, apita para aí! Apita como se a tua intestina produção de esperma dependesse da insanidade do apito com que apitas, valente! Apita para aí, gladiador atónico, feiticeiro de um refrão único-múltiplo, com a melodia à flor da pele impossível. Apita, meu, continua a apitar, porque enquanto eu ouço esse apito, repito a tua liberdade de dois acordes e permito que tu inventes tudo o resto, meu amigo.



ARGUMENTO ONTOLÓGICO A DESFAVOR DA POESIA

E o que é o poeta senão um tipo incapaz de escrever romances? Este velho e poderoso veneno do poema que vai exterminando em mim, pouco a pouco, o impulso criativo e que não é mais em mim, que uma vontade suicida; este antigo remorso de estar vivo, paralisia da paz de espírito, inquietude absurda sobre a eterna ordem estática das palavras; este escrevinhar triste de estrofes coitadas, objectos inconfundíveis do meu desastre; este rumor sem rumo, serve-me de quê? Mais a mais, toda a poesia do mundo não é capaz de competir em glórias com o apetite das gaivotas. Pode um poema, mais que um fim de tarde, provar a existência de Deus?

sexta-feira, outubro 25, 2013

Hannah Arendt e a natureza do mal.



"The sad truth is that most evil is done by people who never make up their minds to be good or evil."
Hannah ArendtEichmann in Jerusalem: A Report on the Banality of Evil - 1963

1961. Depois de uma bem sucedida operação da Mossad, Eichmann, o burocrata nazi responsável pela logística do holocausto, é capturado na Argentina e trazido clandestinamente para Israel, onde é julgado e condenado à forca. Hannah Arendt, já então uma incontornável referência no âmbito da ciência política, judia alemã refugiada nos Estados Unidos e professora em Chicago, escreve para o New Yorker oferecendo-se para fazer a cobertura do julgamento, em Jerusalém. Depois de assistir a grande parte das audiências e de ler bem lidas as 3600 páginas do inquérito judicial, Arendt chega a uma conclusão só: Eichmann não é parente de satã. Eichmann é, antes, um simples idiota que se limita a cumprir ordens sem querer saber das consequências. Este alheamento é, para Arendt, uma recusa da condição humana. Discípula e amante de Heidegger, ela acredita que o homem se define pela capacidade de pensar. Porque permite o exercício moral, o pensamento define a condição humana, não no sentido cartesiano e racionalista, mas na acepção transcendental. Eichmann, o mais banal dos genocidas, não é maldoso. É um burocrata sub-humano.   


O extenso artigo no New Yorker, e o livro que a este propósito edita pouco tempo depois, caem com aparato atómico nos círculos intelectuais e académicos americanos, bem como em Israel, onde será considerada persona non grata durante décadas (o "Relatório Sobre a Banalidade do Mal" só foi ali publicado muito recentemente). Arendt ousa até implicar as lideranças judaicas no holocausto, expondo situações de conluio e argumentando que, se as estruturas sionistas e os grupos tribais fossem menos organizados, os nazis teriam mais dificuldade em matar tanta gente. 

Este assunto do mal absoluto é mais antigo que o homem, na verdade, porque nasceu no mesmo dia e à mesma hora que Deus. Seja como for, sempre foi muito difícil entender as razões da vilania humana, tanto para o filósofo, como para o teólogo. De Santo Agostinho a Nietzsche, há muita teoria por onde escolher, mas nenhuma ajuda grande coisa. Para os teólogos, deve fazer alguma confusão que Deus - como entidade omnipresente e omnipotente - permita a uns tipos mais ou menos grotescos a liberdade de assassinarem milhões de pessoas (por exemplo, porque há mais males absolutos para além do genocídio). Para os filósofos, torna-se excessivamente irritante não conseguir libertar o homem dos seus piores instintos. Modelo filosófico sobre modelo filosófico, todos abrem falência perante a barbaridade inerente à raça dos homens. Ainda por cima, os grandes vilões da história parecem não obedecer a qualquer tentativa de sistematização: são cultos e ignorantes, brutos e sensíveis, estúpidos e brilhantes, banais e extraordinários. Não se percebe. 

Hannah Arendt, que não se preocupava muito com aquilo que os outros poderiam pensar, pensou bastante no assunto. E não tinha problema nenhum em escrever exactamente o que pensava. Da mesma forma que já tinha tido a coragem de enfiar Hitler e Estaline no mesmo saco da epistemologia do mal (em 1951 isto era escandaloso) no seu trabalho de referência, "As Origens do Totalitarismo", a autora alemã estipula uma tese sobre a ruindade que, não sendo politicamente correcta, resolve vários problemas: o mal não está na condição humana, na vertente do ser pensante, consciente e moralmente capaz. Ao contrário, o mal triunfa apenas quando o ser recusa o exercício moral e logo, a sua condição humana.

Convenhamos: isto é mais elegante que a equação da Relatividade Restrita.


Dia não.

Acordo três horas depois da hora a que devia ter acordado.
Estou a beber café sem açúcar, o que dificulta deveras a boa disposição e além do mais
tenho a página de emails a resmungar forte e feio.
Deus telefona-me, mas eu estou ocupado com artes finais.
Troco os códigos do homebanking enquanto a cadela foge, pela abertura do caos.
Argumento e contraponho, zango-me e acalmo-me e bebo café.
Vou comprar tabaco e chove como se Noé já tivesse acabado a arca.
Deus liga outra vez. Mas é engano.
Grito com a cadela e com o destino e fumo cigarros.
Estou encharcado de raivas.
Devem-me dinheiro e não me pagam e às tantas da manhã falta a luz.
Tenho para aqui trabalho que nunca mais acaba e não tenho luz.
Às escuras, a única coisa que me resta fazer é:
as pazes com a cadela.

Foda-se, que dia.

quinta-feira, outubro 17, 2013

The Great American Divide.

"A house divided against itself cannot stand. I believe this government cannot endure, permanently half slave and half free. I do not expect the Union to be dissolved - I do not expect the house to fall - but I do expect it will cease to be divided. It will became all one thing or all the other."


Abraham Lincoln - Discurso na Convenção Republicana - 1858.


Agora que está provisoriamente afastada a possibilidade, muito real, do governo americano entrar, pela primeira vez na sua história, em incumprimento, enviando alegremente a economia mundial para uma nova recessão e ameaçando o muito precário equilíbrio geo-político do planeta (é preciso não esquecer que o primeiro credor da dívida americana é a República Popular da China), sinto-me compelido a deixar aqui no blog algumas considerações sobre o assunto, a saber:


1 - I Owe You: a questão da dívida.

Os Estados Unidos da América têm hoje uma dívida pública que representa 102% do seu Produto Interno Bruto. Esta situação só tem paralelo com o que aconteceu na Segunda-Guerra Mundial, altura em que os EUA venderam títulos do tesouro à louca, de forma a sustentar os custos de um conflito que decorreu em duas frentes complicadas e onerosas.
A dívida tem crescido quase exponencialmente desde que Reagan decidiu ganhar a guerra fria, aumentando os custos ligados à tecnologia militar e levando a União soviética à desagregação económica e, logo, política. Bush pai, que veio depois, seguiu o trend despesista, muito por causa da factura da primeira guerra do Iraque. Clinton, verdade seja dita, conseguiu estancar a hemorrogia, mas também porque exerceu os seus dois mandatos num clima muito favorável: nos anos 90 a história tinha chegado ao fim, diziam os crédulos, nos anos 90 a América tinha acabado de vencer o seu último inimigo, diziam os ingénuos, e todo o mundo seria mais tarde ou mais cedo uma grande América, diziam os doentes mentais. O resultado deste optimismo insano - e do consequente relaxe pacifista da administração Clinton - foi o que aconteceu a 11 de Setembro de 2001. Mas nessa altura, já não era o famoso Bill que ocupava a cadeira do poder, claro está: a história e a justiça são velhas desavindas.
Com a islamita declaração de guerra à América, Bush filho fez subir a fasquia da dívida de forma consistente e ininterrupta durante os oito anos do mandato. Mas mesmo apesar desta insaciável vontadade de gastar dinheiros públicos, os americanos foram mantendo a dívida abaixo do Produto Interno Bruto, facto que, de alguma forma, sempre servia a tranquilidade dos mercados, a saúde da economia e o equilíbrio da Força.
Isto até que chegou à Casa Branca, imagine-se, um marxista. Acto contínuo, a despesa começa a subir desenfreadamente e - pela primeira vez na história americana - não por razões ligadas à defesa, mas por mandato puramente ideológico e profundamente anti-americano. O socialismo de Obama torna-se manifesto com o crescimento da dimensão do estado e dos custos correspondentes e, sem nenhuma reforma ou programação estratégica que o justifique, a dívida começa logo a disparar. Isto sem que a sua grande causa (e a mais cara das causas) tenha sido posta em prática: o ObamaCare, uma espécie de Serviço Nacional de Saúde fora do tempo e da razão prática, universal e mandatório num país onde cerca de 60% dos cidadãos já têm cobertura privada. O plano vai custar para cima de 1.36 triliões de dólares até 2023 e aumentar a dívida pública americana para um patamar apocalíptico, o que faz sentido: o sonho de Obama é deixar cair a América para a poder sovietizar. Ou islamizar. A esquerda radical pensa invariavelmente que quanto pior, melhor. 

O cenário de uma América falida é equivalente a um armagedão de primeira categoria. Os Estados Unidos continuam a ser o primeiro motor económico mundial e são também o primeiro devedor líquido, sendo que a dívida americana é já, por muitos, considerada incobrável, e dada a sua dimensão, se esta economia colapsar não há reserva federal, não há troika maluca, não há dinheiro no mundo que consiga tapar o buraco. E vamos todos cair nele, porque a economia mundial não resistiria à falência do seu primeiro agente.




2 -
Two sides to every story: a ruptura ideológica.

O alinhamento partidário tem, nos Estados unidos, uma leitura geográfica: os estados litorais a nordeste e oeste, mais densamente povoados, são, grosso modo, democratas. Os estados do interior, são, tendencialmente, republicanos. Ora, este alinhamento geográfico é muito perigoso. Basta recordarmos a Guerra da Secessão, uma guerra civil entre "nações" territorialmente determináveis, para percebermos o perigo disto.
Acontece que, desde o princípio deste século, o eleitorado de centro tem vindo a cair para a esquerda e o eleitorado de esquerda tem vindo a declinar ideologicamente para uma filosofia política socializante, ao jeito europeu, fenómeno que não tem qualquer tradição substantiva no Partido Democrata. A 11 de Setembro de 2001 ninguém se atreveria a prever que em 2008 os Estados Unidos iam ter um presidente negro, socialista e muçulmano, mas a verdade é que o ataque às torres gémeas teve como resultado uma deriva à esquerda da sociedade urbana americana, o que não deixa de ser estranho. O assunto merece ser discutido com detalhe, mas não aqui e agora, senão nunca mais consigo acabar o post.
Esta recente deriva teve como consequência imediata o agravamento de uma ferida ideológica que sempre dividiu a América: de um lado da barricada, a classe média liberal das grandes cidades (liberal no sentido americano da palavra), próspera e pacifista, laica, que vê o estado como agente natural da ordem sobre o caos e que encara os impostos como um mal necessário à civilização. Do outro, o conservadorismo rural, que preza os bons costumes cristãos e a independência face ao estado (convicção que, por si só, justifica a presença de metralhadoras na dispensa), entende os impostos como um roubo e Washington como uma máquina totalitária, destinada a impedir a concretização do sonho americano que se consubstancia nisto: liberdade, prosperidade e quanto ao resto, cada um que trate da sua vida. Este eleitorado rural é capaz de mandar os filhos para o inferno das montanhas do Afeganistão sem pensar duas vezes, mas nunca vai perceber bem porque é que tem de pagar a operação ao rim de um compatriota em Boston. 
A radicalização desta divergência de fundo entre o americano liberal e o americano conservador plasma-se na guerra aberta que se tem travado nos últimos anos entre duas máquinas poderosas: a administração de Obama e o Tea Party.


3 - We The People: esclarecimento sobre o Tea Party.

Ao contrário da imagem propagada pelos media europeus e pelos media americanos ligados ao Partido Democrata (se exceptuarmos a Fox, todos os outros aparelhos multimediáticos estão sobre a esfera de influência dos democratas - Da CNN a Hollywood), o Tea Party não é um movimento armado de ignorantes-racistas-radicais-criacionistas-de-extrema-direita. O Tea Party é até o mais democrático, saudável e desorganizado fenómeno de tomada do poder político por parte dos cidadãos de que há registo desde o pós-guerra.
Nós na Europa, quando nos zangamos com os políticos, elegemos artistas de circo, humoristas, comentadores desportivos e ambientalistas. Os americanos, na mesma situação, elegem o dentista de Coyote Falls, o prospector do El Paso, a farmacêutica de New Everton e o caçador de crocodilos das Everglades O que têm em comum todos eles é serem conservadores não filiados no Partido Republicano e insatisfeitos com a performance deste partido na defesa dos valores que consideram fundamentais para o modo de vida americano, o primeiro dos quais, a Constituição. O Tea Party é um acérrimo defensor da Constituição de 1787, no sentido em que esta foi desenhada para proteger os cidadãos do Estado e dos seus abusos. O termo Tea Party é uma referência directa ao icónico evento que despoletou a revolução independentista de 1777, e diz muito sobre os objectivos da (des)organização. Em certo sentido, trata-se de um movimento libertário, embora resultante de uma mentalidade conservadora.
Sucede que este movimento teve uma larga e imediata aceitação no eleitorado republicano e ganhou, do dia para a noite, expressão institucional no seio do Partido. De tal forma que, principalmente no Congresso, os republicanos convencionais se tornaram de facto reféns dos congressistas eleitos pelo Tea Party. A ironia, é que o descoforto sentido por alguns senadores e congressistas republicanos em relação à nova geração de políticos amadores que se posicionou à sua direita, só decorre do decaimento do Partido Republicano para o centro, enquanto a esquerda decaía para o seu extremo.
Acresce que ninguém fala no elefante magenta que está no meio do salão dos acontecimentos: se é verdade que o Tea Party veio puxar o Partido Republicano para a Direita (que no fundo, é o seu lugar natural), a influência que extremistas de esquerda como Noam Chomsky e Michael Moore têm exercido sobre o eleitorado Democrata e que resultaram na eleição de Obama, tem empurrado o Partido Democrata para um lugar que lhe é desconhecido. Quero lembrar a gentil audiência que o Partido Democrata, até ao fim do Século XX, não era um partido de esquerda. Era um partido liberal. Por oposição ao partido conservador (o Republicano).


4 - Cut to the chase: o que de facto aconteceu entretanto.

O recente braço de ferro entre a bancada republicana do Congresso e a Administração de Obama tem sido tão deturpado pela imprensa que dá vontade de rir. Não li uma notícia que não culpasse directamente o Tea Party em particular e o Partido Republicano em geral pela crise orçamental, quando, objectivamente, a única das partes que se apresentou irredutível foi a residente na Casa Branca. Obama não negoceia o seu Plano de saúde com ninguém e muito menos com terroristas internos (leia-se: a tal milícia armada de ignorantes-racistas-radicais-criacionistas-de-extrema-direita). Ao jeito de Sócrates (o paralelo é inevitável), Obama ligou várias vezes para o infeliz speaker do Congresso, o republicano John Bohener, com ameaças, insultos e ataques de mau feitio. Obama, convenhamos, quer fazer do Obamacare uma espécie de caminho para a posteridade e, ele sim, está disposto a tudo para a garantir. 
E se equacionarmos a natureza da discórdia com a máxima clareza e a objectividade possível, percebemos que a posição do Tea Party é bem mais moderada. O que está em cima da mesa é o primeiro orçamento ObamaCare. Um orçamento que vai  aumentar brutalmente as despesas do estado, num quadro de contas públicas deficitárias, que faz da nação mais poderosa do mundo um país dependente da boa vontade dos credores. Um orçamento que vai subir os impostos num contexto económico difícil. Obama quer fazer passar este orçamento sem negociar. O Tea Party só o fará se certas características do ObamaCare forem revistas. Por exemplo: o Obamacare pretende ser universal. Mas não precisa realmente de o ser, já que grande parte da população americana está a coberto de seguros de saúde privados. 
Assim colocadas as coisas, quem é que é o radical aqui? E quem é que está a usar o orçamento como arma branca?


5 - End game: sobre o Estado a que as coisas chegaram.

É  minha convicção de que os próximos anos vão ser de guerra orçamental. E que a questão do orçamento deste ano está ainda muito longe de ser resolvida (em Dezembro vamos ter porrada outra vez). Não há motivação para a cedência por parte dos contendentes e a recompensa pela moderação não é de todo equivalente à glória da vitória final. Os congressitas americanos não são deputados europeus. São intermediários entre os seus eleitores e as esferas do poder central. São de facto influenciados pelo que pensam as pessoas que os elegeram porque estas pessoas estão atentas, mandam cartas, submetem petições, vão à luta. E há muita gente na América que não quer o Obamacare. Há muita gente na América que não quer pagar mais impostos, que não quer ficar a dever mais dinheiro a ninguém - principalmente a estranhos civilizacionais como a China - que não quer um estado gordo, endividado, dependente, um estado paizinho que toma conta das pessoas como se elas não soubessem tomar conta delas próprias. Há muita gente na América que não vai aceitar a socialização da América, e a velocidade a que se desloca a ruptura entre conservadores transformados em libertários de direita e liberais que agora são marxistas não dá sinais de abrandamento.
É minha convicção que os Estados Unidos estão a somar à decadência do seu império a implosão da unidade interna, a pulverização da identidade nacional e a falência do regime. 
Porque a divisão ideológica entre o povo americano está a tornar-se irresolúvel e porque essa divisão tem o seu correspondente geográfico, facilitando a lógica de trincheira e a razão de fronteira, é minha convicção que uma segunda guerra civil americana* será, a médio-longo prazo, inevitável. Como a primeira, será travada pela supremacia de um modelo económico: no século XIX, o modelo esclavagista desafiou o aparelho industrial e perdeu. No século XXI, o impulso libertário vai desafiar a imposição anacrónica de um estado social. E esta vai ser uma guerra que ninguém vai ganhar. Vai ser uma guerra de desintegração federal.
No entretanto, caminhamos inexoravelmente para o caos. Boa viagem.


* Informação pertinente sobre este cenário aqui, aqui e aqui.

domingo, outubro 06, 2013

Podes ser quem és.



Shout Out louds. Uma banda que não tem medo de ser fácil. Que não tem medo de ser difícil. Que não tem medo que o céu lhe caia em cima da cabeça. Vão a todas. Tocam de tudo. Do jingle à intensidade operática podem ser os The Cure agora, porque vão ser os The National daqui a nada; podem ser U2, podem ser Coldplay, podem ser The Killers, podem ser Wilco, podem ser pirosos, podem ser eruditos, podem ser macambúzios, podem ser eufóricos. São livres. São valentes. São música para os meus ouvidos.

sábado, outubro 05, 2013

O que diz, realmente, o relatório do IPCC.

Só um aviso à navegação: apesar do alarmante tratamento jornalístico dado ao último relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, este relatório, na verdade, o que nos diz (muito a contragosto) é isto:
  • No increase in hurricanes (tropical cyclones) and drought: “Low confidence” in both a “human contribution to observed changes” and “likelihood of future changes.”

  • “There may also be ... an overestimate of the response to increasing greenhouse gas and other anthropogenic forcing”

  • “Due to natural variability, trends based on short records are very sensitive to the beginning and end dates and do not in general reflect long-term climate trends”

  • “Models do not generally reproduce the observed reduction in surface warming trend over the last 10–15 years.”*

É claro que os políticos do IPCC, não tanto os cientistas, que não têm voz na revisão final do documento (algumas discrepâncias entre o draft dos cientistas e o manifesto político 
podem ser analisadas aqui), encarregaram-se de esconder ao máximo factos eloquentes, como a descida das temperaturas nos últimos 15 anos, o impacto do movimento orbital da Terra e dos ciclos de emissão solar sobre o clima do planeta, a irrelevância do dióxido de carbono no comportamento térmico da atmosfera, etc., etc.), mas mesmo assim, este relatório anuncia para breve o desmascarar da fraude do aquecimento global. Arrisco uma previsão: o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas não dura mais uma década.

Mais informação credível e científica sobre este assunto no excelente The Resilient Earth.

*Items retirados textualmente do relatório do IPCC.

Louvor de Walter White


Mr. White - Aquiles e Panoramix num boneco só,
fora da lei em vez de prémio nobel, cozinheiro dos deuses,
és o meu campeão do mundo da química aplicada,
és o meu alter ego, mas sem laboratórios no deserto, és
cristal 100%, azul turquesa.

Com cancro ou sem cancro, foste o Heisenberg
que todos os vilões querem ser e não são capazes,
o Heisenberg que o Von Braun invejava;
esse Heisenberg atómico, ameaçador, o mais perigoso dos homens em 1943;
esse Heisenberg do princípio da incerteza que tu não usas
porque tu tens certezas, sacaninha.
Porque tu és o mais perigoso dos homens em 2013.

Tu, intrépido espadachim, não acreditas na quântica. Tu não és nenhum teórico.
Tu fazes o que tem que ser feito.
E mataste para cima de uma quantidade enorme
de imbecis e bandidos e inúteis,
que não percebem nada da tabela periódica
nem têm ética profissional.

A vida é muito mais complicada
do que pode imaginar um ordinário qualquer.
Mas tu Walter White, tu resolves, pá.