sábado, dezembro 29, 2007

quinta-feira, dezembro 20, 2007

sexta-feira, dezembro 14, 2007

Sobre a União Europeia.

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Não sou nenhum europeísta maluco, talvez porque não saiba o que quer dizer a palavra, mas faço questão, ainda assim, de massacrar a gentil audiência de euro-cépticos com os seguintes fenómenos da física dos objectos políticos:

I - O Momento Histórico - Esta é, para todos os efeitos, a primeira constituição federal da história do Continente. Lembro que andámos para aqui uns bons 2500 anos à batatada, na perseguição desse sonho de uma Europa una. Pois bem,já a temos. Sem batatada nenhuma e através de um processo mais ou menos representativo (estes príncipes foram eleitos, afinal).

II - A Paz Duradoura - Exceptuando os conflitos dos Balcãs e da Tetchenia, que resultaram da queda do império soviético, sendo por isso fenómenos mais ou menos expectáveis (à luz de outros declínios imperiais, podia ter sido bem pior), a Europa vive em paz há 62 anos. Não tenho a certeza, mas deve ser um recorde absoluto. E é para mim cristalino, que estas longas férias da guerra são essencialmente devidas ao projecto de uma Europa Federal.

III - A Febre Referendária - Proveniente de sectores que, geralmente, desprezam o método, este clamar pelo referendo é um bocadinho irresponsável, eu acho. É um bocadinho irresponsável referendar um tratado que, para além de ser o produto bruto de séculos de volição histórica, é a nota de rodapé de uma constituição também indexada a princípios enunciados noutros tratados ainda, todos eles escritos na alienígena filologia da burocracia central europeia, todos eles produtos complexos e vis da intrincada vilania que é a diplomacia das nações. Que legitimidade pode resultar de uma resposta que é dada a uma pergunta impossível? E, já agora, se o problema é o da ausência de legitimidade popular directa, interrogo-vos: os jacobinos tinham essa legitimidade popular e foi o que foi. Os nazis também a chegaram a ter e o espectáculo foi o que se viu. Liberais e absolutistas, republicanos e monárquicos, comunistas e fascistas, facínoras de todos os géneros sempre acabaram por ter, a dado passo, o favor das massas. Regra geral, deu-se um festim de ferro, fogo e sangue. Ao invés, a actual Constituição da República Portuguesa, que eu saiba, não foi referendada. A magna Carta também não foi sujeita ao critério público e, em 1787, os pais fundadores não foram perguntar aos americanos como é que eles queriam que fosse esgalhado o documento iniciático da sua federação. Devemos, por princípio e dentro dos limites que nos impõe a moral democrática, desconfiar do juízo do povo e valorizar o peso da sua imensa ignorância.
Mais a mais, no caso presente, bastava que em dois ou três países de média escala, a coisa desse para o torto para que toda a Coisa desse para o torto. E depois, como que é que ficávamos? Com o perigosíssimo mosaico de nacionalidades apoiado numa mera integração económica, equilíbrio precário de interesses e rivalidades? Regressados à decadência óbvia em que nos encontrávamos a meio do Século XX, seria mais sorridente o nosso futuro?
Meus caros, a integração federal europeia é sobretudo uma inevitabilidade.

IV - O Argumento Humorístico - O argumento de que a União não é mais que a coutada dos interesses económicos e políticos de três ou quatro potencias de significado global faz-me rir. O pressuposto parece sugerir que, sem a União, estas nações predadoras assumiriam um comportamento filantrópico. Que deixariam de vitimizar e subjugar aos seus caprichos capitalistas os países de escala menor. Sinceramente, não percebo como é que este ponto de vista tem tantos adeptos, dada a falência do seu sistema lógico e as evidências históricas. Mas basta o exemplo da Rússia contemporânea e da sua relação com os estados vizinhos e com a UE, para perceber o equívoco.

V - O Argumento Patético - Outro dos argumentos brilhantes contra o tratado agora assinado é o de que o dito documento implica o fim do tristemente célebre Modelo Social Europeu, trucidado às mãos dos valores maléficos do neo-liberalismo. Dá-me vontade de voz dizer, almas que tanto receiam por esse socialismo decrépito: acordem. O Modelo Social Europeu, se algum dia fez sentido, foi no contexto de uma Europa em reconstrução, com taxas de natalidade utópicas e margens de progressão económica espectaculares. Hoje em dia não passa de um travão à competitividade e prosperidade, um incentivo à paralisia, um atentado ao mérito individual e um obstáculo ao desenvolvimento e à realização dos povos. Se os europeus são hoje uma cambada de putos mal criados, mimados e gordos, muito exigentes nos seus direitos e muito avaros nas suas obrigações, se são hoje cidadãos sem valores ideológicos que transcendam o seu conforto e as suas regalias, sem sentido critico nem juízo moral, muito se deve a esse malfadado modelo que os educou num facilitismo materialista e super protector, carregado de um humanismo gorduroso absolutamente execrável. Se este tratado permitir de facto uma revolução do Modelo Social Europeu, coisa de que duvido muito, essa será, de longe, a sua primeira grande virtude.

VI - O Problema das Identidades - É claro que a União Europeia é uma super-estrutura que irrita qualquer um. É disfuncional e distante, aparatosa de protocolos, exuberante de burocracias e anafada de cinismos. É imbecil de pequenos fascismos e arrogâncias desnecessárias e é óbvio que tem dificuldades práticas na difícil missão de sustentar a convergência universal entre povos diferentes e culturas contrárias. É verdade que o caminho da integração federal passa pelo desaparecimento de rituais e de manias, de tradições e de convenções, de valores e de identidades. Mas, pergunto-vos, conhecem algum processo civilizacional que triunfe historicamente sem o sacrifício dos seus resíduos de idiossincrasia? E não faria a globalização, em última análise, esse mesmo desagradável trabalho caso persistíssemos no rendilhado esotérico dos nacionalismos irredutíveis e das teimosias de tribo? E não tenho eu, tuguinha, mais em comum com um finlandês do que terei com um asiático? E não correremos nós o risco, sem uma Europa forte e íntegra, de uma colonização económica e cultural, a prazo, levada a cabo por povos efectivamente antípodas? Parece-me melhor ser parceiro de um polaco do que criado de um chinês.
Mal ou bem, na Europa partilhamos um belo e vasto imaginário de valores. As origens religiosas e filosóficas, o património histórico de alianças e desavenças, desgraças e glórias: um conteúdo ontológico comum, que transcende objectivamente as divergências.

VII - A Questão Inglesa - Os ingleses são um povo soberbo pelo qual tenho uma imensa simpatia. São até os meus bárbaros preferidos, mas, caramba, têm de uma vez por todas que se decidir. Ou bem que desistem do seu querido provincianismo de ilhéus e adoptam um comportamento decente, ou tomam uma decisão adulta, uma vez na sua história de infantes, e abandonam a União. Ao fazer-se esperar para a assinatura do tratado, traindo a tradição secular da pontualidade britânica - o senhor Gordon Brown - personagem aliás detestável como detestável bastante era o anterior residente do rés-do-chão número 10 da Downing Street (é lindo que o primeiro ministro de Sua Majestade viva e trabalhe numa espécie de T3) - quis manifestar solenemente uma relutância desdenhosa por toda esta coisa do Tratado. O senhor Gordon Brown, como a maior parte dos Ingleses, acha desagradável que o que começou por ser um excelente negócio se tenha transformado agora numa inconveniência. Uma coisa é mugir a vaca; outra é levá-la ao pasto. Este cinismo de crápula é abjecto. Estou zangado.

VIII - A Questão Turca - No dia em que a Turquia muçulmana assinar o tratado de adesão à União Europeia eu volto aqui a este postal para o apagar. Escreverei então outro, abrindo inscrições para uma milícia armada que tome de assalto em simultâneo a Comissão Europeia e o Parlamento Europeu e sodomize de pronto todos os seus funcionários, do porteiro ao Durão Barroso.

IX - A Presidência Portuguesa - Por muito que me custe - e custa - devo confessar que fiquei impressionado com a performance do aparelho diplomático português e com o talento de José Sócrates para mestre de cerimónias. Direi do primeiro ministro aproximadamente aquilo que Borges disse do chimpanzé, se lhe fosse dada um quantidade infinita de tempo: deste, que poderia escrever a Odisseia, do outro que rescreveria a história para que a esta se subtraissem as ideias e se somassem as vaidades. Felizmente para leitores e eleitores, Borges especulava apenas sobre a dúbia matemática das probabilidades e Sócrates, que sabe receber muito bem, não faz a mínima ideia do que conspiram os seus convidados. E sabem que mais? Ainda bem.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Adenda: os cento e quarenta e seis livros que mudaram a minha vida.

138 - Cultura, de Dietrich Schwanitz
139 - Diplomacia, de Henry Kissinger
140 - O Comportamento Sexual do Homem, de Alfred C. Kinsey
141 - A Força da Razão, de Oriana Fallaci
142 - Os Versículos Satânicos, de Salman Rushdie
143 - O Fogo de Prometeu, de Charles Lumsden e Edward Wilson
144 - Genética e Política, De R.C. Lewontin, S. Rose e L. J. Kamin
145 - O Futuro da Liberdade, de Fareed Zakaria
146 - Guerreiros de Deus - Ricardo Coração de Leão e Saladino, de James Reston Jr.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Adenda: os cento e trinta e sete livros que mudaram a minha vida.

119 - Bartleby, de Herman Melville
120 - Crítica da Razão Pura, de Immanuel Kant
121 - A Conversa de Bolzano, de Sándor Márai
122 - Homens e Bichos, de Axel Munthe
123 - O Livro de S. Michel, de Axel Munthe
124 - Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde
125 - 08/15 - A Caserna, de Hans Hellmut Kirst
127 - Sancirilo, de A. M. Pires Cabral
128 - O Único e a Sua Propriedade, de Max Stirner
129 - Mitologia da Saudade, de Eduardo Lourenço
130 - Introdução à História, de Marc Bloch
131 - Sonetos, de Florbela Espanca
132 - Expedição à Terra, de Arthur C. Clarke
133 - A Ilha misteriosa, de Júlio Verne
134 - Um Lugar ao Sol, de Erico Veríssimo.
135 - Estranho Estrangeiro - Uma Biografia de Fernando Pessoa, de Robert Bréchon
136 - Queres fazer o favor de te calares, de Raymond Carver.
137 - A Ilha, de Aldous Huxley

Não me sai da cabeça:


Impossible Germany - Wilco

sábado, novembro 24, 2007

Os cento e dezoito livros que mudaram mesmo a minha vidinha.

Estive para aqui hesitante. Montes de tempo. Desde que falei por convite Da Condição Humana sobre os dez livros que não mexeram nadinha comigo, fiquei a pensar nos outros todos que mudaram à brava a minha pequenina concepção das coisas. É mais que certo o facto de me falharem para aí umas trezentas obras primas, mas para já a lista dos livros da minha vida, enumerados sem qualquer tipo de ordem que transcenda o produto caótico da memória e incluindo história, filosofia, romance e poesia, tudo ao barulho, é esta:

1 - Ilíada, de Homero
2 - Odisseia, de Homero
3 - Poesias Completas, de Álvaro de Campos
4 - História Universal da Infâmia, de Jorge Luís Borges
5 - O Vermelho e o Negro, de Stendhal
6 - Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust*
7 - Ulisses, de James Joyce
8 - Folhas de Erva, de Walt Whitman
9 - A Obra ao Negro, de Margerite Yourcenar
10 - Memórias de Adriano, de Margerite Yourcenar
11 - Juliano, de Gore Vidal
12 - As Vinhas da Ira, de John Steinbeck
13 - Bairro de Lata, de John Steinbeck
14 - Declínio e Queda do Império Romano, de Edward Gibbon
15 - As Origens Sociais da Ditadura e da Democracia, de Barrington Moore Junior
16 - Memórias do Mediterrâneo, de Fernand Braudel
17 - Gramática das Civilizações, de Fernand Braudel
18 - O Coração das Trevas, de Joseph Conrad
19 - O Fantasma do Rei Leopoldo, de Adam Hochschild
20 - A Selva, de Ferreira de Castro
21 - Memorial do Convento, de José Saramago
22 - História do Cerco de Lisboa, de José Saramago
23 - Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago
24 - O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queiroz
25 - Os Maias, de Eça de Queiroz
26 - Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley
27 - Sobre a Democracia e Outros Assuntos, de Aldous Huxley
28 - Doutor Fausto, de Thomas Mann
29 - Fausto, de Christopher Marlowe
30 - A Montanha Mágica, de Thomas Mann
31 - Servidão Humana, de Somerset Maughan
32 - D. Quixote de La Mancha, de Cervantes
33 - Crime e Castigo, de Fédor Dostoievski
34 - Guerra e Paz, de Leão Tolstoi
35 - A Familia Golovlev, de Saltykov-Chtchedrine
36 - Novelas do Defunto Ivan Petróvitch Bélkin, de Aleksandr Púchkin
37 - Short Stories, de Anton Tchekov
38 - O Deus das Pequenas Coisas, de Arundhati Roy
39 - A República, de Platão
40 - O Anticristo, de Nietzsche
41 - O Perfume, de Patrick Suskind
42 - Quem Governa? de António Marques Beça
43 - Iluminações - Uma Cerveja no Inferno, de Jean Arthur Rimbaud
44 - Em Busca de Klingsor, de Jorge Volpi
45 - A Dor Industriosa, de Andrew Miller
46 - Cândido, de Voltaire
47 - A Imortalidade, de Milan Kundera
48 - A Filosofia do Não, de Gaston Bachelard
49 - As Palavras das Cantigas, de Ary dos Santos
50 - O Pintor de Batalhas, de Arturo Pérez-Reverte
51 - Um Estranho Numa Terra Estranha, de Robert A. Heinlein
52 - O Senhor dos Aneis, de J. R. R. Tolkien
53 - Os Doze Césares, de Suetonio
54 - Esta Noite a Liberdade, de Dominique Lapierre e Larry Collins
55 - O Castelo, de Franz Kafka
56 - O Processo, de Franz Kafka
57 - A Metamorfose, de Franz Kafka
58 - Nome de Guerra, de Almada Negreiros
59 - Eurico o Presbítero, de Alexandre Herculano
60 - O Livro do Desassossego, de Bernardo Soares
61 - A Mensagem, de Fernando Pessoa
62 - Tomai lá do O’neil, de Alexandre O'neil
63 - Nós, de Levgueni Ziamantine
64 - Utopia, de Thomas More
65 - 1984, de George Orwell
66 - O Pavilhão dos Cancerosos, de Alexandre Soljenitsine
67 - A Luz em Agosto, de William Faulkner
68 - O Som e a Fúria, de William Faulkner
69 - A Sangue Frio, de Truman Capote
70 - Hamlet de William Shakespeare
71 - A Paixão do Jovem Werther, de Goethe
72 - Kafka à Beira Mar, de Haruki Murakami
73 - Os Lusíadas, de Luís de Camões
74 - Sonetos, de Florbela Espanca
75 - Textos de Intervenção Cultural e Social, de Fernando Pessoa
76 - Trópico de Capricórnio, de Henry Miller
77 - Cosmos, de Carl Sagan
78 - Uma Breve História do Tempo, de Stephen W. Hawking
79 - O Sorriso do Flamingo, de Stephen Jay Gould
80 - O Erro de Descartes, de António Damásio
81 - Da Falsificação de Euros aos Pequenos Mundos, de Jorge Buesco
82 - Mais Rápido que a Luz, de João Magueijo
83 - Borges e a Matemática, de Guillermo Martinez
84 - Cultura, de Dietrich Schwnitz
85 - Fausto, de Christopher Marlowe
86 - Paraíso Perdido, de John Milton
87 - Decameron, de Giovanni Boccaccio
88 - O Nome da Rosa, de Umberto Eco
89 - Irei Cuspir-vos nos Túmulos, de Boris Vian
90 - O Caso da Rapariga Sem Rumo, de Erle Stanley Gardner
91 - Diário Minimo, de Umberto Eco
92 - História da Beleza, de Umberto Eco**
93 - Três Homens num Bote, de J. K. Jerome
94 - Uma Conspiração de Estúpidos, de John Kennedy Toole
95 - Inimigos, Uma História de Amor, de Isaac Bashevis Singer
96 - A Música do Acaso, de Paul Auster
97 - A Mancha Humana, de Philip Roth
98 - História da Vida Privada, de Philippe Ariés e Georges Dubys
99 - O Limpo e o Sujo - A Higiene do Corpo desde a Idade Média, de Georges Vigarello
100 - A Fogueira das Vaidades, de Tom Wolfe
101 - As Ligações Perigosas, de Laclos
102 - A Peste, de Albert Camus
103 - A Náusea, de Jean Paul Sartre
104 - Poesia, de Almada Negreiros
105 - Antologia do Cadáver Esquisito, de Mário Cesariny
106 - A Confissão de Lúcio, de Mário de Sá Carneiro
107 - Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marquez
108 - Amor em Tempos de Cólera, de Gabriel Garcia Marquez
109 - Teresa Baptista Cansada da Guerra, de Jorge Amado
110 - A Tia Júlia e o Escrevedor, de Mario Vargas Llosa
111 - História de Uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar, de Luis Sepúlveda
112 - O Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder
113 - Money, de Martin Amis
114 - História de Portugal, de A. H. de Oliveira Marques
115 - Aventuras de João Sem Medo, de José Gomes Ferreira
116 - O Cavaleiro da Dinamarca, de Sophia de Mello Breyner Andresen
117 - Moby Dick, de Herman Melville
118 - O Apelo da Selva, de Jack London

* Vou no quarto volume.
** Estou quase a acabar.

terça-feira, novembro 13, 2007

Elogio do silêncio.

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Apesar de ser republicano, devo confessar que, nos últimos anos, não houve líder político que me tenha dado uma alegria comparável à recente alegria que me deu o bom do Rei dos espanhóis: porque não te calas ò labrego de serviço e palhaço rico da esquerda terceiro mundista, tu de verdade e precisamente o grande fascista parasita da estupidez humana, ditadorzeco compra votos, tiranete de ouro negro, mas não tão negro como o teu humor televisivo aos domingos de manhã ou aos sábados à tarde que o inferno não tem feiras, espécie de big brother no passeio dos tristes, canalha sem vergonha nem propósito para além da ordinarice de seres um rasca? Porque não te calas ò infeliz? E, já agora, que se recomenda o silêncio, porque não emudeces tu também, Fidel que nunca mais emudeces? E tu Lula, Mobutu, Musharraf, Ahmadinejad, Bento XVI, porque tanto pias? E tu Mário Soares e tu Lopes, Menezes, Sócrates, Louçã, Loureiro, Jardim, e tu Portas - fecha a matraca! E tu Filipe Vieira, Pinto da Costa, Rui Santos, queres fazer o favor de te calares? Diogo Freitas do Amaral, Teixeira dos Santos, Rui Pereira, porque não fazes silêncio, fala barato de má origem? E tu Miguel Esteves Cardoso, José António Saraiva, Baptista Bastos, Rui Zink, Herman José, não preferes fazer pouco barulho porquê? Sim, tu eterno feminino em Ana Gomes, Joana Amaral Dias, Odete Santos, Manuela Eanes, Hillary Clinton, Cristina Kirchner, Júlia Pinheiro, Ana Bola, Clara Ferreira Alves, Fátima Campos Ferreira, sim, Fátima Campos Ferreira, pá, deixa falar os outros ò grande martelo pneumático da incontinência oral! E tu ainda Al Gore, Michael Moore, Noam Chomsky, cala-te e cala-te ò picareta imparável do dislate!
É que, se o silêncio é de ouro, camarada, o teu calar é diamantino.

terça-feira, novembro 06, 2007

Santos

Está claro que o tempo perdido é parisiense.
Nenhum sonhador lisboense
se preocuparia com o lado de Guermantes
e até o bom do Swan subiria a penantes
por esta rua alva incendiada da prantos,
travessa que atravessa o bairro de Santos.

O que cantava o outro sobre as manhãs de Setembro,
digo eu de Novembro.
Esta claridade de Lisboa, este S. Martinho Sem Frio
iluminado de céu e de rio,
este choque cromático entre o branco e o azul:
é uma quimera de Sul.

O poeta da tarde mais tarde que a tarde física,
esqueceu-se da metafísica.
É numa manhã assim, numa manhã madrugada,
transparente e tatuada
de sombras acesas contra o triunfo da luz,
que nos salvamos da cruz.

E o maluco do alemão que foi vender ao diabo
a sua única flor de nabo,
nunca acordou em Lisboa nestes dias de Outono
que nos roubam o sono,
que nos devolvem a glória e o oxigénio.
Aqui, senhores, é o sol que é o génio.

E quem diz que é no Verão mais fácil a vida,
ainda não desceu esta avenida.

segunda-feira, outubro 29, 2007

Assim, sou obrigado a acreditar nos benefícios da pena de morte.

No que diz respeito à Teoria Geral do Direito da Morte, este vosso dedicado amigo é um tipo um bocado inconsistente. Sou, por princípio, contra a pena capital e tenho muitas dúvidas e resistências em relação ao aborto. Mas sou a favor da eutanásia e concordo com o suicídio (não acho nada cobarde um gajo optar por se matar e penso até ser de valentia um gesto assim higiénico). Há aqui, mesmo assim, uma lógica: acredito que ninguém tem direito a tirar a vida a outra pessoa, mas toda a gente tem legitimidade para terminar com a sua própria existência.
Porém, quando leio no Expresso que um canalha qualquer teve a indecência espantosa de prender um cão faminto a uma parede de uma galeria de arte para fazer da morte do animal um objecto da exposição, tenho que dizer: este homem devia morrer já. Mas é que era já. Puta que o pariu, dêem-lhe imediatamente um tiro.

Ciclo do rapaz mal desenhado - 3


Once around the block - Badly Drawn Boy

Edições Blogville #10

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Esta linda é do meu amigo Nuno Miguel Silva:

"Este ano, o Prémio Nobel da Paz foi atribuído a um powerpoint."

quinta-feira, outubro 25, 2007

Idealismo ao vivo.



An end Has a Start - EDITORS

Este blog sofre de repetição. Não por higiene estética - sou mais sujo do que isso - mas por causa do idealismo alemão. Insisto no mesmo esquema dialéctico de razões:

"I don’t think that it’s
Gonna rain again today,
There's a devil at your side,
But an angel on the way

Someone hit the light,
Cause there's more here to be seen,
When you caught my eye,
I saw everywhere I'd been

And what I go to...

You came on your own,
And that's how you'll leave,
With hope in your hands,
And air to breathe,

I won’t disappoint you,
As you fall apart,
Some things should be simple,
Even an end has a start,

Someone hit the light,
Cause there's more here to be seen,
When you caught my eye,
I saw everywhere I'd been

And what I go to...

You came on your own,
And that's how you'll leave,
With hope in your hands,
And air to breathe,
You'll lose everything,
But in the end,
Still my broken limbs,
Will find time to mend

More and more people I
Know are getting ill
(Put something good on the,
Ashes now be still)

You came on your own,
That's how you'll leave,
With hope in your hands,
And air to breathe,
You'll lose everything,
But in the end,
Still my broken limbs,
Will find time to mend

You came on your own,
That's how you'll leave, x2

You came on your own x2

quarta-feira, outubro 24, 2007

O Mito Mediterrânico

INTERROMPIDO POR APOLOGIAS À OPINIÃO DOMINANTE
E ILUSTRADO COM SUPER-HERÓIS DO ATLÂNTICO.
Em louvor de minha Mãe, Maria Adelaide Hasse, que combate pela discórdia.


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Lamento imenso mas Portugal não é um país mediterrânico. A maior parte das pessoas inteligentes que conheço não estão de acordo comigo - o que é uma pena, porque deviam - mas, peço desculpa, reitero e repito: Portugal é um país Atlântico.
Com os vales raros do Mediterrâneo podemos partilhar a vinha, mas o vinho é português. De Marrocos podemos ter a azeitona e a laranja e a paisagem algarvia mas não somos do Magrebe. Não somos berberes, nem tuaregues, nem o diabo. Somos romanos e visigodos, somos celtas e vândalos e suevos, somos judeus, persas e xiitas - também - mas não somos de Meca nem nos prometemos a Jerusalém.

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Eu tenho muita pena mas se ainda se dá por um muito vago sotaque mourisco, a verdade é que já não somos árabes há uns tempos e foi só até Coimbra, bem vistas as coisas. Podemos ter, para lá do Sado, a arquitectura clara e minimal da Europa helénica, mas não somos de lá e é claro que somos lentos e lerdos como os balcânicos, mas não somos dos Balcâs e se o alfabeto chegou pelo comerciante fenício, pelo escriba de Alexandria ou pelo governador de Pompeia, nem por isso somos sírios, egípcios ou etruscos, caramba! Somos mais o produto do esperma de saxões e visigodos, bárbaros do norte todos. Não pariram aqui as prostitutas da Babilónia, não chegaram cá os bulícios genéticos da Macedónia ou os maneirismos culturais de Constantinopla, um poucochinho só de Cartágo e da Grécia Clássica o mito iniciático da cidade de Lisboa, apenas. Veneza, Génova, Barcelona, que cagalhão deixaram pelas praias ocidentais? Zero: somos mais de Sagres, apesar de Joyce, somos mais de Dublin que qualquer grego, somos mais celtas, bretões e normandos e galegos e bascos, porque somos mais da costa norte, agreste em vez de temperamental. Dramática ao invés de trágica. Porque as nossas praias acabam em falésias em vez de montanhas, porque às ilhas não se chega de remos, porque o pastor não desce pelos mesmos caminhos, porque o peixe é diverso e outrossim a faina, porque não inventámos a literatura, porque lhe demos um banho salgado de alto mar e de alto risco: só à brisa fresca deste oceano se inventa a sardinha e se cozinha o petisco.

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Que me desculpem os pragmáticos e os funcionalistas, mas a mais sagrada cruz que o português tem de suportar, contente, é a da vigília do Atlântico. Estamos aqui alerta, estamos por aqui quietos a olhar o mar, num desafio de guarda nacional republicana. E esta vigília não é curta de milhas nem tresanda de civilizações: o horizonte é imenso, virgem e inescapável. Ulisses nunca poderia ser um herói português muito simplesmente porque a sua ambição máxima é a de voltar, vivo, a casa. Isto faz sentido num Mediterrâneo intenso, sobrepovoado de diferenças e problemas imobiliários, onde a casa de um homem é o seu castelo. Fernão Mendes Pinto, esse sim, é um herói português porque tem ambições oceânicas: a sua odisseia é a da peregrinação propriamente dita, a aventura desalmada, mal afortunada, lá do outro lado do esférico. O regresso é de somenos. Pero vaz de Caminha deixa-se ficar pelas arábias e Fernão de Magalhães entretém-se a circumnavegar até à morte. Até Camões, que amava Homero, só faz regressar o Bom do Vasco ao Canto penúltimo. Nenhum português se daria aos trabalhos insanos a que se submeteu Odisseu, porque a casa da mariquinhas não é um castelo, é uma plataforma de lançamento. Uma ideia argonauta própria de quem passa a vida com os olhos embalados pelas marés do Atlântico. O Grego sonha em voltar. O Português sonha em partir. É diferente. Toda a diferença de uma linha costeira: se tem o mar de frente ou um oceano por fronteira.

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Lamentavelmente, ainda há uns ilustres que concordam comigo, que me redimem desta solidão fenomenológica: Braudel, Pessoa, Almada, o meu querido Professor António Marques Beça, e mais uns indecisos como Oliveira Marques ou Eduardo Lourenço. Talvez porque equacionam que o Mediterrâneo rico e imperial, o Mediterrâneo dividido em riquezas, engarrafamento étnico de grandes interesses civilizacionais, acabou quando D. João II se decidiu a sonhar, já talvez enfadado daquele marinho horizonte de aventuras por cumprir. Ou apenas porque sabem que o clima, em Portugal, não é mediterrânico; que o relevo é antípoda; que a península ibérica está rodeada sobretudo pelo Oceano Atlântico e que Portugal é o país mais ocidental da Europa. Ou provavelmente porque intuem que o marinheiro português tem mais em comum com um lars viking do que com um sinbad bizantino. E todo o português é um marinheiro. Daí a deriva. Daí o nevoeiro.

A história de Portugal só fez sentido enquanto foi virada para o Atlântico. E quem não percebe isto é que é romântico.

domingo, outubro 14, 2007

Gente em vez de malta.

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Não quero estar a bater sempre no mesmo ceguinho, mas a recente coroação de Al Gore como o grande campeão da paz ambiental, o príncipe perfeito entre os mais perfeitos profetas do apocalipse - versão terceiro milénio actualizada e revista - é um fenómeno tristemente divertido e bem próprio destes dias insanos. É claro e apenas justo que não seja um cientista, mas um palhaço rico vindo directamente do grande circo da política internacional a receber este Nobel. A verdade incoveniente do Sr. Gore é uma verdade eleitoralista, plastificada, mediática, charmosa, insubstantiva; é um gingle, uma campanha, um disfarce, uma manobra, uma invenção, em resumo: um entertenimento. Mas não será nunca científica. Ao excelso Comité Norueguês entrego os meus mais calorosos cumprimentos, por ter contribuído, à sua pequena e rasteira maneira, para a total descredibilização do grande mito climático. Um embuste em traje de gala mostra sempre que os reis vão nús.
De qualquer forma, a curto ou médio prazo, as grandes cabeças do Comité arriscam-se a ter um Prémio Nobel da Paz que acumula o cargo com a Presidência dos Estados Unidos da América e a chefia maior das forças armadas do Império. É de gargalhada imaginar esta pomba Gore na Situation Room, avaliando os diferentes planos de ataque aéreo a Teerão. Quantos são, quantos são? Quantos são os que vão morrer hoje?

Já ver Santana Lopes em triunfo no Congresso parece-me bem estranho. E é mesmo paranormal que este senhor Filipe Menezes tenha chegado aonde chegou sem uma boa ideia que seja. Nada vezes nada e, pelos deuses da república, há-de subir a primeiro ministro! É de natureza esotérica o declínio miserável do Partido Social Democrata e é transcendente que ainda não exista um Partido Liberal nesta terra, mas o que é realmente de literatura fantástica é este facto-milagre-de-fátima: a Europa entregou a Durão Barroso e a José Sócrates o poder executivo para concretizar a sua primeira Constituição Federal, nada mais, nada menos. Agora contem lá isto ao extraterrestre que passar aí por casa, a ver se ele acredita. Do Atlântico aos Urais, não há nada de melhorzinho?

A autêntica falência das lideranças no mundo Ocidental é provavelmente o nosso mais dramático - e risível - problema. A certo momento dá-me sempre a ideia que os grandes intérpretes da história contemporânea não passam de pequenos Faustos, condenados pela luxúria do poder a um mediocre inferno de banalidades e invejas de pátio. E se isto é verdade lá fora, em Portugal, deus meu, a coisa é insuportável. Políticos à parte, porque são os marretas que são, e excluindo aquela gente que é sempre a mesma e que é importante porque diz, como um comentador da bola, coisas bonitas e inteligentes na televisão, onde é que estão os os líderes morais, económicos, associativos, desportivos e sindicais de um Portugal novo? Onde é que está a geração que realmente reformará um dia este país? É que aquilo que existe é tão fraquinho e mal criado que não inspira nem um Whitman que seja.

É muito triste dizer isto, mas em Portugal nem os banqueiros têm maneiras.

quinta-feira, setembro 27, 2007

Os insondáveis desígnios da República.

Mendes e Menezes estão a transformar as directas num folhetim à sua verdadeira dimensão: gente rasteira gosta destas coisas. E se Mendes é um rato, Menezes é uma barata. Como animais, são brilhantes sobreviventes; como líderes políticos, uma lástima impressionante. O que talvez seja bom. Porque a direita existe e tem significado na sociedade portuguesa, mas está orfã de representação competente nas estruturas institucionais da república, talvez a morte clínica do PSD gere o pudor suficiente para que se crie, finalmente, um partido liberal em Portugal. Por isso, e pensando bem, vão em frente coveiros, continuem o belo trabalhinho e não se interrompam por nada deste mundo. O que levam a enterrar, no fim, para além de vós próprios, será sempre coisa desprovida de valor.

quarta-feira, setembro 19, 2007

A Idade Média não é a Idade das Trevas.

OU O LIVRO DAS HORAS DO DUQUE DE BERRY
EM DEFESA E ARGUMENTO DA CROMÁTICA MEDIEVAL .





Ainda há muita malta que pensa em cinzentos quando julga a Idade Média. Ainda há grandes cabeças que sonham uma medievalidade infernal de fogueiras e descolorida de cenografias. O que não falta é gente esperta a ignorar a revolução comercial (a mais importante de todas, a bem ver, porque criou a burguesia - mãe de todas as revoluções posteriores) ou a invenção da polifonia, sem a qual os nossos ouvidos por certo morreriam de sede. Mas a maior injustiça de todas é a de ignorar a génese das cores primárias. O mundo Medieval, como é encomendadeo por Jean Valois, o Magnífico, Duque de Berry e patrono das artes, neste seu livro das horas "Les Trés Riches Heures", é um verdadeiro triunfo do Pantone. Vibram ultravioletas e contrastes, incendeiam-se cenários e guarda-roupas, tudo salta cá para fora num festim de cores directas. Ou o dito duque tomava ácidos ou algo está errado: não consigo ver trevas, só vejo luz.


É claro que a percepção disfuncional é de razão relativamente prosaica: a malta confunde a Antiguidade Tardia com a Alta Idade Média, a malta reduz tudo à fogueira da Inquisição e ao fascismo dos príncipes, a malta não vê para além das pestes e das fomes e espalha-se ao comprido. A malta não percebe, ou ignora, que a Idade Média é ainda época do Império Romano (do Oriente), esse Bizâncio criativo e prolixo que enfeitava com fausto grande parte de um Mediterrâneo hiperactivo e capitalista.


Quem faz carreira académica à custa de uma visão conveniente e preguiçosa da história, devia ser obrigado a decorar as confissões de Santo Agostinho e as sumas de S. Tomás de Aquino. Devia perceber as diferenças na ética e na estética para depois não vir dizer que andámos qinze séculos com o Aristóteles às costas e sem imaginação nas carótidas. Não acredito nada na versão manhosa, embrulhada em embalagem de mercearia escolástica, que nos vendem os vendilhões da espistemologia.


É preciso, talvez, equacionar que essa tal tristonha, ditadora, tenebrosa e fundamentalmente estúpida Idade Média pariu aquilo a que hoje chamamos o Estado. Inventou a prensa e a imprensa, a novela, o relógio mecânico, a caravela, a fundição do ferro, o moinho de água. Aperfeiçou a óptica e a arquitectura, desenvolveu a bússola e o astrolábio, revolucionou a cartografia, fundou as primeiras universidades, canonizou a arte poética.


É preciso olhar para estas iluminuras do bom duque e ver, através delas, um outro mundo médio. Uma outra escala de tons.


terça-feira, setembro 18, 2007

Carta aberta a Tenzin Gyatso.


Perdoa-me a liberdade impúdica desta carta pública, mestre, mas devo dizer-te duas ou três. É um dever ético confessar-te que me fazes lembrar um personagem roubado ao Tintin no Tibete: essas sobrancelhas de vilão BD, com vida própria lá no alto da tua jovial inquisição, essa compostura miópe e bem disposta de caixa-de-óculos-de-deus, esse manto púrpuro de imperador da razão prática, essas tuas pitorescas idiossincrasias de guru deixam-me completamente nas nuvens, santidade. Agrada-me sobremaneira a tua elegância verdadeiramente metafísica. Enfrentas políticos e jornalistas, tiranos e idólatras, bispos e apóstatas com a mesma complacência com que, lá nas tuas montanhas do paraíso, se apascentam as cabras mais irrequietas. Parece que nada te chateia, querido lama. Dá a impressão de achares que tudo faz sentido neste impossível universo e dir-se-ia até que não estás lá muito preocupado com o drama da condição humana. És um autêntico Merlin e não vai ser agora a grande távola da ignorância tribal que te vai incomodar o feitiço. Sim, devo dizer-te que gosto da tua versão mimética do eterno sorriso de Buda, das tuas gargalhadas sobre o protocolo, da tua aura de super alma e tu tens uma aura de facto, meu amigo. Nesse sentido, desconfio que serás parente de Gabriel, esse assim como tu luminoso arcanjo e campeão da ironia, com provas dadas no interminável anedotário das religiões. És em definitivo o único líder espiritual que eu conheço que me faz rir no telejornal e fico muito contente por teres vindo a Portugal sem que te obrigassem a aturar os cavacos e os sócrates da pocilga do estado. Estou em crer, ò sublime manifesto vivo do Bodhisattva da Compaixão, que a infâmia dos bandidos oficiais não te perturba o sono. E que o fardo da divindade não te pesa nessas pernas cansadas de bom e velho monge, espécie de Master Yoda em sandálias. É que a Força está mesmo contigo e, o que é mais, Dalai Lama: és um fixe, man.

Edições Blogville #8

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segunda-feira, setembro 10, 2007

Billie Jean. Agora em Português.



Ela era mais do tipo miss malveira, bela fiteira
Eu disse tudo bem mas nem penses que eu sou o tal
que vai dançar e rodar pelo chão
Ela disse que eu sou o tal que vai dançar e rodar pelo chão

Disse que se chamava Joana Trama e fez um drama
p'ra todos verem que podem sonhar ser o tal
que vai dançar e rodar pelo chão

Sempre me disseram p’ra ter cuidado com o que faço
não andar por aí a destruir corações às miúdas
A minha mãe sempre me disse p’ra ter cuidado com quem amo
p’ra ter cuidado com o que faço, porque mentir é um embaraço

Ei, ei
A joana não é minha amante
ela é que pensa que o culpado sou eu
mas o puto não é meu.
Ela diz que o pai sou eu, mas o filho não é meu.

Dias e dias e a noite é bela com a lei do lado dela
Já não se atura a criatura cheia de cenas e planos
só porque dançámos e rodámos pelo chão
Por isso ouve meu irmão, pensa duas vezes nesta canção
(Pensa duas vezes)

Contou à outra que dançámos até às três, olhou de revés
e mostrou a foto: a outra passou-se porque o puto tem os meus olhos
Vais dançar e rodar pelo chão

Sempre me disseram p’ra ter cuidado com o que faço
não andar por aí a destruir corações às miúdas
Mas ela apareceu a meu lado toda doce e perfumada
isto aconteceu de madrugada e ela deu-me uma morada

Ei, ei
A joana não é minha amante
ela é que pensa que eu sou um tal de romeu
mas o puto não é meu.

A joana não é minha amante
ela é que pensa que o culpado sou eu
mas o puto não é meu.

Ela diz que o pai sou eu, mas o filho não é meu.

A joana não é minha amante
A joana não é minha amante
A joana não é minha amante
A joana não é minha amante

Os filhos da meia noite (III).

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"Power will go to the hands of rascals, rogues and freebooters. All Indian leaders will be of low calibre and men of straw."
Winston Churchill, on the eve of Indian Independence - 1947

Em guerra com a Índia desde sempre, potência regional por geografia e nuclear por desgraça, nação de bandidos e fanáticos governada por vilões e mal feitores, o Paquistão, infeliz invenção do Senhor Jinnah (em má hora nascido e morrido tarde demais), é um problema grande. É uma dor de cabeça. E um perigo para a saúde pública.
Depois do 11 de Setembro, a administração Bush cometeu a suprema loucura de considerar este nefasto país como um aliado na guerra contra o terrorismo. Ora, o Paquistão consubstancia, hoje em dia, a maior ameaça terrorista no Planeta Terra, ponto final, parágrafo. Daqui nunca veio e nunca virá nada de bom. E a aparente boa notícia de que o senhor Pervez Musharraf está para cair de pantanas do cimo do seu militarizado poleirinho é afinal uma péssima notícia. Por muito incompetente e tiranozóide que possa ser este generaleco de baixa caserna, de certeza absoluta que um outro grande líder do género Aiatolá-taliban-islamita-esquizofrénico surgirá do lodo da história para aterrorizar o resto do mundo.
Winston Churchill, que tinha muito olho para estas coisas, sempre esteve certo. A independência da Índia, como foi feita e na altura em que foi feita, revela-se, a cada ano que passa, uma catástrofe das grandes.

Dez livros que NÃO mudaram a minha vida.

Não sou grande maluco destes desafios em cadeia, que se usam na blogosfera. Além disso, preferia de longe falar dos 10 livros que mudaram a minha vida (boa ideia para um post), mas vindo o convite de quem vem, não há senão que cumprir. É claro que me vão falhar algumas preciosidades, e devo alertar que incluo na lista apenas aqueles escritos que tive a coragem de ler até ao fim (valha-me deus!).

1 - A Conquista da Felicidade, de Bertrand Russel. Carregadinha de um humanismo absolutamente insuportável, esta obra essencial da filosofia de algibeira do século XX é de evitar, para higiene do pensamento.

2 - O Físico Prodigioso, de Jorge de Sena. Esta pequenita peça de literatura, em versão leite condensado, foi-me vivamente aconselhada por uma montanha de esclarecidos amigos. Em vão, claro. Não me aqueceu nem me arrefeceu.

3 - O Amante, de Marguerite Duras. Muito simplesmente porque não há cú que aguente esta senhora.

4 - Retalhos da Vida de um Médico, de Fernando Namora. Salvo honrosas e excelentes excepções, o neo-realismo português nunca mexeu muito comigo. Este livrinho então, meu deus, deixou-me perfeitamente estático.

5 - Constantino, Guardador de Vacas e de Sonhos, de Alves Redol. Aqui há coisa de 30 anos atrás, torturavam as crianças com esta obra ao negro. É por estas e por outras que há muita malta da minha geração que pensa que Homero é um avançado do Panatinaikos.

6 - Fora de Horas, de Paulo Castilho. Um exemplo de como um mau romance pode ganhar prémios, agradar à critica e vender ao quilo. Uma seca do princípio ao fim.

7 - Psicopata Americano, de Bret Easton Ellis. Neste livro há um capítulo inteiro dedicado ao amor que o personagem central dedica aos Genesis. Nem é preciso dizer mais nada. Muito mau.

8 - Eva Luna, de Isabel Allende. O realismo mágico e a teologia da libertação. A América do Sul não é isto, caramba. Gasp!

9 - Só, de António Nobre. Nas palavras do Autor: "O livro mais triste que há um Portugal!". Eu concordo. Que tristeza, senhores.

10 - A Profecia Celestina, de James Redfield. Uma chatice, uma fraude, uma apoplexia.

terça-feira, agosto 28, 2007

Como naquele quadro do Hopper em que lemos sexo mas a palavra não é essa.

DEZ RELATOS DO ABSURDO COPIADOS DA VIDA E COLIGIDOS EM ANEDOTÁRIO - 1991/2002

Um. No cruzamento dos semáforos que apanho para sair do meu bairro costuma estar sempre um doido sinaleiro que manda avançar os automóveis quando cai o vermelho e insulta profusamente os condutores que arrancam com o sinal verde. Numa destas manhãs submersas o insano sinalético não compareceu no seu local de trabalho. Parei no verde, arranquei no vermelho e fodi o carrinho todo contra um autocarro.

Dois. Estou no segundo dia do meu primeiro emprego. No momento em que o chefe, pessoa muito educada, entra no meu gabinete para me cumprimentar, solto um violento espirro. A mão com que protejo o ambiente do cosmos de perdigotos é presenteada com uma virulenta, pegajosa e inominável mole de ranho. O chefe estende-me a dele para o cumprimento, sem reparar que o membro que pretende apertar traz agarrado um verme muco, de verde flourescência. Viro-me para o computador e finjo que não é nada comigo mas o bom do dr. insiste no cumprimento e fica, de mão estendida e paciente, na expectativa. E agora?

Três. Que horas são? Atendo o telefone e pergunto que horas são. A tipa diz-me que são oito e vinte da manhã e que está no aeroporto e que o bilhete de identidade dela ficou na minha carteira e que precisa dele para fazer o check-in e que eu tenho que levantar mas é o rabo da cama e levar-lho lá e que o avião parte às oito e quarenta e cinco. Desligo e visto umas calças que estavam no chão, pego na carteira e nas chaves do carro e corro para a porta e estou descalço caralho, estou descalço e são oito e vinte e três. Volto atrás, calço os chinelos e saio de casa, entro no carro e bute que já são oito e vinte cinco. Eu vivo em Benfica. Acesso à segunda circular entre o caos e a inconsciência, oito e trinta e três. Quando vou entre a Luz e o Colombo passo-me e desato a buzinar como se estivesse grávido ou anunciasse o armagedão. Resultou. Fodasse para aqui e anda com essa merda para ali e estou na Rotunda do Aeroporto às oito e quarenta e três. Já não dá tempo, fodasse, já não dá tempo e estou nas partidas internacionais mas de gaja nem vê-la. Oito e quarenta e oito. Abro a carteira, procuro, procuro e não encontro. Chegou a Zurique à hora marcada. Disse-me depois que se lembrou a tempo que tinha o bilhete de identidade junto com os documentos do carro.

Quatro. A malta foi toda em excursão de camionagem prometer e pagar as devidas promessas a Nossa Senhora de Fátima. Para lá uns pasteis de bacalhau entre a reza dos terços, uns padres nossos em favor do garrafão e outros tantos avés marias com arroz de tomate. Para cá seria o mesmo menu, não fosse o motorista ter adormecido em serviço e a desgovernada camioneta seguir abismo abaixo rumo à morte de todos. No gigantesco velório, o padre da aldeia que de um dia para o outro se tinha visto sem trinta e duas das sessenta e uma almas do seu rebanho, falou sobre os insondáveis desígnios de Deus, embora não se tenha pronunciado sobre a gratidão de Nossa Senhora.

Cinco. Eles conhecem-se desde que se lembram um do outro mas só começaram a namorar quando ele comprou um carro. Entretanto descobriram o crédito à habitação e casaram-se. Compraram logo uma televisão, um video, uma aparelhagem e a mobília de quarto. Os pais dela contribuiram com a mobília da sala e os dele ofereceram os electrodomésticos para a cozinha. Um ano depois já tinham um filho e dois automóveis. Passados uns tempos adquiriram um computador, uma máquina de Café Expresso e uma viagem às Caraíbas. Cinco anos mais tarde separaram-se por causa de um cão que tinham comprado no centro comercial. Pouco depois ela abandonou o cão para se recasar com ele. Fartaram-se de fazer compras pela net e como já não havia cão tiveram mais um filho, mudaram de casa, de automóveis, de mobílias e divorciaram-se de seguida.

Seis. O tipo tinha para aí uns cinquenta anos de uma existência sem vícios. Não fumava, não bebia, fornicava o pouco que é o normal para quem era casado há trinta anos e nunca foi às putas. Por medos da sífilis. Cedo se deitava e cedo se erguia, tinha cuidados com o sal e outras especiarias inconvenientes à vida saudável. Fazia umas corridas na mata, para se manter em forma, e morreu ontem com um cancro nos pulmões.

Sete. Trata-se de um daqueles jantares que acontecem para que um gajo saque uma queca de vez em quando: ninguém se conhece muito bem mas toda a gente espera foder. Por entre as conversas de circunstância e o bacalhau com natas vem o Artur Albarran à baila e claro, a má língua. E toda a gente maldisse o que tinha a maldizer até que alguém descobriu que a dona da casa tinha sido casada com o próprio e que a criancinha que já estava na cama era filha dele. A silenciosa anfitriã passou rapidamente às sobremesas e nessa noite, ninguém fodeu.

Oito. Vou pela rua abaixo e um filho da mãe que vem a subir vira-se para mim a querer saber as horas e eu digo-lhas. Ele olha para o relógio dele, corrige as horas que eu lhe disse que eram e continua calçada acima. E eu fico parado, estúpido, sem me lembrar porque raio é que estava a descer a rua.

Nove. Conheço esta matrona que correu com um marido que tinha porque:
a) O gajo não a fodia;
b) Tinha mau vinho e muita sede;
c) Já não havia comunicação.
Posto isto iniciou a sua vida de solteira, até que na terceira semana começou a sentir as cócegas viscerais da solidão. Fez muitos telefonemas, socializou muito, embebedou-se outrossim e recomeçou a fumar ganza. Quatro semanas mais tarde não aguentava mais, comprou um computador e ligou-se à web que é onde agora toda a gente se deve ligar. Não tinha o diabo acabado de coçar o seu único olho e já conhecera um potencial namorado no acolhedor ambiente de um chatroom erótico cheio de nível. Disponível o parceiro virtual, com celeridade o trouxe para a mais tangível das realidades domésticas, sendo que hoje tem um marido que:
a) Não a fode;
b) Tem mau vinho e muita sede;
c) Não comunica;
d) Vive à custa.

Dez. Um gajo perde o telemóvel. E, sem saber, apenas decidiu que o perdeu. Até que chega um dia, três telemóveis e alguns anos depois, que entra no sotão, abre o bau das ferramentas, retira a caixa do berbequim e lá dentro, metafísico, insondável e já sofrendo de desactualização aguda, está esse megafone portátil, desencontrado nos contratempos de um passado difuso. E que, como é claro, já não serve para coisa alguma se não para alimentar o Mistério.

terça-feira, agosto 21, 2007

Danko Jones ou o Pedal para ganhar a Volta a França cinco vezes por ano:


- I Want You -


- I Love Living in the City -


- Lovercall -


- Baby Hates Me -

Os filhos da meia-noite (II).

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"A missão de governar as Índias foi, por qualquer misterioso desígnio da Providência, posta aos ombros da raça inglesa."
- Rudyard Kipling. 1889 -

1 - Causa e consequência
É preciso vir o Presidente da República dizer que quem comete um crime deve ser tratado como um criminoso. É preciso meter a jogar, em simultâneo e na mesma posição, dois laterais direitos para se ser despedido. É preciso paciência. Daquela chinesa.

2 - O Deus das Pequenas Coisas
A Indía nunca existiu. O Paquistão nunca existiu. Até àquela trágica meia noite de 15 de Agosto de 1947, a única coisa parecida com uma nação que os nativos conheciam era muito simplesmente a Inglaterra. 60 anos depois, o Paquistão continua dominado pelo despotismo, militar ou religioso, e a Índia só parece sexy porque os editores ocidentais não sabem do que é que estão a falar. A India não é bonita. A India é de castas, senhores. A Índia é um inferno, é desumana, é injusta, é pobre, pobre, pobre, é miserável. Ah, e a propósito, é preciso ter muita fé para ser Gandhi. É preciso mover montanhas ou saber contar quantos seixos habitam o rio.

3 - Esta noite, a liberdade
Este livrinho dos excelentes Dominique Lapierre e Larry Collins (também autores de outras jóias da história do Século XX como "Oh, Jerusalém" e "Paris já está a arder?"), tem muito do que é preciso saber sobre o assunto da Independência da Índia. Para além da morte de 2 millhões de pessoas em 48 horas e o êxodo esfomeado de mais dez milhões de almas, o relato é colorido por quatro terríficos personagens: Lord Mountbatten, como Rei Artur em desespero de causa; Gandhi, que interpreta o feiticeiro Gandalf, Nehru que faz de Fausto e o inevitável Jinnah, que se sai muito bem na pele do Diabo. A Liberdade, claro está, acaba por custar os olhos da cara. Seja como for, este é um belo livro para levar para a praia.

Interpol e o mundo natural.


Heinrich Maneuver - Interpol

 
I "How are things on the West Coast?!
hear you movin' real fine
You wear those shoes like a dove
Now strut those shoes
We'll go roaming in the night

Well how are things on the West Coast?!
You keep it movin' to your soul's delight
Now I've tried the brakes
I've tried but you know it's a lonely ride
How are things on the West Coast?
Oh and move heaven behind those eyes...

Today my heart swings
Yeah, today my heart swings"





Diz-se por aí que este magnífico "Our Love to Admire" é uma pena. É uma pena porque os Interpol não foram gravar outro "Antics", é o que se argumenta. É uma pena, afirmam sobranceiros, que uma banda assim desiluda com um disco diferente. Pois eu, que não chego a ser melómano, que nem passo bem de um groupie sedentário, devo dizer que este último disquinho dos Interpol é uma maravilha das grandes precisamente porque houve muita coragem dos senhores, ao decidirem fazer diferente. Bravo.





Interpol é uma banda que devia simplesmente ser canonizada, levada ao altar, fundir-se com deus, para terapia deste último. Não me lembro de um acorde que não seja merecedor de uma missa e, caramba, até Bach iria por certo direitinho à Fnac comprar os discos, caso a imortalidade se corporizasse em excesso.





Metafísica à parte, a música dos Interpol é sobretudo uma força da natureza. Uma manifestação telúrica ligada ao amplificador.






Já estou só a escrever para meter texto entre as imagens magníficas, retiradas do Digital Booklet de "Our Love to Admire", esplêndido objecto gráfico a que a malta do eMule não tem direito. Bem feita.



quinta-feira, agosto 16, 2007

Os filhos da meia-noite.

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1 - O Mistério de Estocolmo
Confesso envergonhado que foi preciso viver 40 anos para abrir pela primeira vez um livro escrito por Salman Rushdie. Não sei se existe redenção para isto, já que se trata para aí de um dos 5 autores mais importantes do Século XX. Mas se eu não tenho desculpa, que dizer daquela academiazeca nórdica que distribui anualmente, por desgraça moral e para triunfo dos maus costumes, o tristemente célebre troféu fiduciário que conhecemos por Nobel? O facto de Rushdie nunca ter ganho este pestilento prémio só lhe fica bem (o mesmo aconteceu com Borges e Joyce), mas, por todos os deuses da lucidez estética, expliquem-me então o mérito maluco dos seguintes ganhadores que, aparentemente, são merecedores da posteridadezinha que lhe é recusada:
Theodor Mommsen, Bjørnstjerne Bjørnson, Henryk Sienkiewicz, Giosuè Carducci, Rudolf Christoph Eucken, Selma Lagerlöf, Paul Johann Ludwig von Heyse, Sir Rabindranath Tagore, Carl Gustaf Verner von Heidenstam, Karl Adolph Gjellerup, Henrik Pontoppidan, Carl Spitteler, Jacinto Benavente, Wladyslaw Reymont, Grazia Deledda, Henri Bergson, Sigrid Undset, Erik Axel Karlfeldt, John Galsworthy, Frans Eemil Sillanpää, Johannes Vilhelm Jensen, Pär Lagerkvist, Halldór Laxness, Salvatore Quasimodo, Saint-John Perse, Ivo Andric, Miguel Ángel Asturias, Yasunari Kawabata, Patrick White, Eyvind Johnson, Harry Martinson, Vicente Aleixandre, Odysseas Elytis, Czeslaw Milosz, Elias Canetti, Jaroslav Seifert, Wole Soyinka, Toni Morrison, Kenzaburo Oe, Wislawa Szymborska, Gao Xingjian, Imre Kertész e Elfriede Jelinek.
A resolução do mistério é elementar: nenhum destes ilustres teve a coragem de tratar os persas pelos filhos da puta que são. E a academia sueca que, na sua sabedoria de clube recreativo, se acomoda nesta cobardia, não percebe que Salman Rushdie nem embirra especialmente com os persas. Do que ele não gosta mesmo é do fascismo de deus.

2 - Maomé e o Pato Donald
O canal de televisão da magnífica e humanista organização chamada Hamas tem um programa infantil cujo guião inclui a morte por espancamento do Rato Mickey às mãos de um polícia israelita e a ressurreição da Abelha Maia como mártir do islão. Eu estou a falar a sério. Sei que é difícil de acreditar mas, neste programa, as crianças são explicitamente convidadas ao ódio, ao fanatismo étnico e religioso e à prática terrorista através do recurso aos ícones do imaginário infantil ocidental. É uma coisa absolutamente terrível, garanto-vos, uma barbaridade da cair para o lado, mas eu vi-a, com estes dois olhos que, seguramente, a terra irá devorar. E se não acreditam em mim, podem fazer como S. Tomé, aqui. Agora, por favor, não me fodam mais a paciência com os palestinianos!

3 - Uma prova
Sobre a revolução filosófica que advém das conclusões alucinantes da Mecânica Quântica já eu estou para aqui fartinho de escrevinhar e mais me fartarei, claro está, no futuro. Mas por agora fica só o episódio das minas de Utah. A pressão gerada pelos media e pela opinião pública americana no sentido de encontrar vivos os mineiros encurralados, levou os responsáveis pela operação de salvamento a correrem enormes riscos de segurança. Como resultado temos mais gente a morrer. O observador tem implicação directa nos resultados. Eis, portanto, o famoso Princípio de Werner Karl Heisenberg: o produto da incerteza associada ao valor de uma coordenada xi e a incerteza associada ao seu correspondente momento linear pi não pode ser inferior, em grandeza, à constante de Planck normalizada.

Edições Blogville #6

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Como roubar quatro milhões de euros (and get away with it).

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A Câmara Municipal de Lisboa decidiu resolver o seu vergonhoso problema financeiro com o golpe do século. Num só mês, roubou os Lisboetas 64.000 vezes. O crime perfeito é, inclusivamente, anunciado com mal disfarçado orgulho, com comunicados à imprensa e tudo. Se os lisboetas não fossem um lastimável rebanho de gado estéril, recusavam-se simplesmente a pagar estas multas e deixavam que os radares entupissem os tribunais de processos pueris. Assim sendo, o exemplo sertá rapidamente seguido por outras autarquias e o radar depressa se transformará num exemplar instrumento tributário de escala nacional. O Ministério das Finanças já não está sózinho na refinada arte de roubar os portugueses.

quarta-feira, agosto 08, 2007

Porque é que o Senhor Fernando Santos é uma besta quadrada?

Porque não sabe sequer fazer contas: se jogamos com dois centrais, dois laterais e três trincos, temos 7 bonecos a defender, certo? Mais o guarda-redes, são 8 marretas. Assim sendo, ficamos com 3 marionetes para preencher de mau futebol o meio campo e o ataque. Como, este ano, o terrível plantel obrigará a ter constantemente dois palhaços là à frente, sobra um cromo para fazer o jogo todo. E dado que os cromos disponíveis para preencher este iato na grande caderneta da estupidez humana são, nem mais nem menos que o Campeão do Mundo de Ping Pong Nuno Assis e o Bom do Ruca Avô Cantigas, eu pergunto, com a necessária delicadeza: uma revoluçãozinha Khmer vinha mesmo a calhar, não vinha?

Ediçoes Blogville #5

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Som de Verão é assim:


Mario Biondi - "This is what you are"

sexta-feira, agosto 03, 2007

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1. UMA IDEIA DE DEUS

A aranha aventura-se numa velocidade rasteira, pelo alcatrão incendidado. Quer chegar ao outro lado da rua, metade certa do seu universo incerto e, por deus, leva pressa! O asfalto vulcânico queima-lhe a lógica do trajecto (ai, ui, ai, ui, chiça!) e a distância prolonga-se numa eternidade de Odisseia, mas a aranha lá vai, como Livingstone à procura da nascente primordial. Não se detém por coisa alguma, danado bicho com uma causa de travessia. Entretanto, Ulisses passa de mercedes benz e acena um sorriso. Para trás deixa uma vaga sensação de divino e uma aranha esmagada, fundida sobre a escuridão escaldante da estrada.


2. BODY TALK

Para além do umbigo, Cleópatra só desvendou a sua beleza grega perante imperadores romanos. Madalena, mesmo apedrejada, não desnudou o seio e Joana d’Arc nunca mostrou o cú ao inimigo. A Rainha Isabel andou a vida toda com um fecho éclair até ao pescoço (que não a favorecia nada) e Catarina a Grande vestia demasiadas saias para se poder despir convenientemente. Não é por acaso que até a lua, essa velha meretriz, tem um lado escondido. Exibicionistas são as flores. Por isso acalma-te e apaga a luz.


3. PRAIA MAR

O que fazer perante a voz do atlântico, o rugido
da falésia em espasmo, o barulho, o bramido?

Era gajo para ficar até sempre aqui, exilado
entre a fúria do mar e a praia do amado.

Mas o que pensar do azul, o que fazer da disputa
que respira na orla, que grita, que luta?

Era capaz de nascer outra vez para voltar a ter fé
no triunfo do atlântico e na glória da maré.


4. TERRA VERMELHA

Esta terra vermelha que pariu Adão à imagem de Deus, esta terra enrugada, palco da História Universal do Horror, receptáculo cenográfico de delícias e profecias; esta Terra Mãe, esta terra mártir que nos suporta a angústia pedestre, que nos alivia o peso da vida; esta terra queimada, adubada de almas e minérios; esta terra prometida de desertos de dor; esta terra, boa e velha, há-de consumir-nos a todos, no fim.


5. BUDA BAR

Espanta-me a tua metafísica de nenúfar. O teu ponto g é um lago zen, feito perfeito ainda antes da criação. O sorriso de buda abre-se sobre o teu pântano de lilazes e de lótus: deixas de acreditar no tempo e és enfim imortal sobre a decadência celular do cosmos.


6. TOUR DE FORCE

Dia sim, dia não, trepam cinco montanhas à procura das barbas de deus e a ver quem chega primeiro. Êmbolos no pedal e é de zuca, zuca, zuca por ali acima numa alegria de vitaminas e xaropes. Ah glória pedrada e suada, olímpica, sobretudo sobre-humana, de rins à mostra em cima da bicicleta, animal indolente que não quer já sair dali, onde chegou com supremo esforço mecânico de correntes e cremalheiras, insultando Newton a cada torre geodésica que fica para trás no alívio da descida em curva contra curva contra o tempo. Parece que estes homens locomotiva, estes bravos do pelotão, tomam drogas. Ora, que remédio!

quinta-feira, julho 05, 2007

Uma pauta não é um calendário.

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Devia ser para aí 1984. Ou 85. Eu e o B. matávamos o tempo que um preguiçoso 12º ano fazia sobrar em abundância com uns charros e uns discos. Umas conversas sobre isto e aquilo e umas tardes tranquilas, que nunca mais acabavam. Estávamos para ali sentados em frente à estereofonia, como gente feliz. Ouvíamos imenso um disquinho raro, Steeltown, de uma banda escocesa - nesse tempo ainda mais ou menos incógnita - chamada Big Country. A coisa soava assim como se os Duran Duran fossem trabalhar para as minas e saissem de lá só para gravar uma obra prima num pub escondido da mais alta terra das terras altas. Aquilo sim era rock de barba rija. Masculino e ferrugento, com palito na boca e camisola de alças, suada. Aquilo sim era algo de novo que não vinha a saber a plástico, ou a FM americano. Aquilo sim, caramba.
Um quarto de século depois, oiço Editors (e também, de certa maneira, Interpol), e só me vem à memória do ouvido o som puro daquelas tardes infindáveis na companhia do meu amigo e das guitarras durinhas e cruas, dos versos desesperados, rurais, dos Big Country. Há aqui uma convergência de sensibilidades que não tem só a ver com o aparente regresso do rock desencantado de outros tempos. Que tem a ver sobretudo com uma visão lírica da vida que, não sendo de todo a minha, faz parte de mim.
Infelizmente não encontrei os clips deste último disco dos Editors que mais têm a ver com esta conversa (provavelmente porque ainda não existem, o albúm saiu a 25 de Junho), mas junto mais um tema ao "Smokers Outside the Hospital Doors" que já editei no outro dia, na esperança de que me percebam. Isto, muito embora tenha plena consciência de que só realmente o B. é que vai entender alguma coisa do que para aqui estou a escrevinhar, não é, amigo?


Big Country - Just a Shadow - 1984


Editors - The Racing Rats - 2007

quarta-feira, julho 04, 2007

Se não gostarem desta música, ouçam outra vez, por favor.

(não estranhem os primeiros segundos de silêncio)

Editors - "Smokers Outside The Hospital Doors"
Se não gostarem à terceira vez, não é preciso voltarem a este blog. É que não vale mesmo a pena. Estamos a viver por antípodas. Antecipadamente grato pela atenção e etc.

Verdade, verdadinha.

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"Tudo o que é preciso para fazer um filme é uma arma e uma rapariga."
Jean-Luc Godard

domingo, junho 24, 2007

A Síndrome do Infante.


Não é por acaso que aquele que foi, muito provavelmente, o mais inteligente dos portugueses, tenha dedicado grande parte da sua vida a esgalhar um plano de fuga. Como o desditoso Henrique, todo o português que se preze tem o secreto ou aberto sonho de se evadir de Portugal. Sempre achámos e continuamos a achar que o sétimo céu se esconde num canto recôndito do mundo. Como a D. João II, inquieta-nos esta pequenez marginal, esta solidão perante o mar. Como Milton, sonhamos com a queda de Lúcifer, desde que Lúcifer não faça a desfeita de cair em território nacional. O paraíso perdido está algures do outro lado da fronteira. Ou do outro lado da praia. Devo advertir a audiência que este postal não encontra razões na wikipédia nem conta com argumentos google. A partir daqui falo só de experiência humana minha: conheço gente vária que viveu em áfrica e que nunca conseguiu recuperar à infâmia do regresso. Conheço gente outra que foi acampar para a escócia e inventar utopias hippies na catalunha, que se escapou para negócios complicados em moçambique, que foi trabalhar para frança, que foi vender vinho para angola, que foi estudar para os estados unidos, que foi ganhar dinheiro para a áfrica do sul. Conheço pessoas muitas que seguiram pelo ancestral êxodo de macau e que, retornados também, sonham e anseiam por voltar àquele bocadinho chinês de terra portuguesa (este caso é mesmo muito estranho). Conheço malta com família em sidney, newark, ontário, instambul, que trabalhou em roma, que viveu em liverpool, que desapareceu para o deserto a propósito de ir comprar tabaco (só um português poderia chegar a marrocos com o pretexto dos cigarros). Conheço por excesso pessoas da minha terra, do meu bairro, da minha vida que deram de fuga. Foram para madrid, foram para londres, foram para boston, foram por onde as estradas do mundo esquecem o seu destino. E o que não me falta de gente em trânsito é gente que foi para o brasil, claro. Mas também para a argentina. Para o chile. Para a venezuela(!). A diáspora é de tal forma o quinto império deste meu bom povo que de portugueses está o mundo repleto. A acontecer, num determinado momento, num qualquer lugar tirado à sorte pela lotaria dos deuses, um desastre grande ou um supremo momento de júbilo, estará lá - asseguro-vos - pelo menos um tuga por testemunha! Kuala lumpur, nairobi, cidade do méxico, genebra, copenhaga, cairo, kathmandu. Não interessa a toponimia, há-de por deus encontrar-se por lá um zé, um antónio, um francisco e, com toda a certeza, uma maria. A verdade é que o português não gosta de Portugal. É até alérgico: porque raio de amor à pátria vai o Vasco contra ventos e correntes, contra a lógica e o bom senso, inventar um caminho marítimo para a índia? Porque, convenhamos, devia já estar fartinho de Portugal. Como Eça de Queiroz (ele próprio um diplomata), os portugueses acham que o seu país é mal frequentado e doentio. Os que partem sentem-se melhor, os que ficam são condenados aos serviços públicos de saúde, o que também não é nada bom. Reparem: eu conheço portugueses que preferem morar em nova deli. Que defendem a gastronomia de manchester. Que movem influências por um emprego do outro lado do mundo, o mais distante que seja possível por cartografia, o mais antípoda que poderá permitir a ciência geográfica e a criatividade do emigrante. É preciso sair daqui. A todo o custo. Qualquer lugar obscuro e suspeito, qualquer bocado de terra infernal e selvagem, qualquer quimera de supermercado serve de combustível ao motor desta incontornável, permanente e obsessiva volição.
Um dia destes fico para aqui sózinho.

sábado, junho 23, 2007

quinta-feira, junho 21, 2007

Alfredo, amigo, o Prost foi um granda mago, man.

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"Posso ser considerado herético, mas sempre suspeitei que Alain tinha uma habilidade maior."
Frank Williams - ex-patrão dos dois pilotos - comparando Alain Prost com Ayrton Senna

Deixou-me um divertídissimo recado, o meu querido amigo A.F., a propósito das curtas palavras que editei sobre Prost, no postal em que faço o elogio de Hamilton. Ora acontece que o A.F. não tem consideração nenhuma pelo grande campeão francês, o que é comum em Portugal e não só. Eu bem sei que o personagem não é simpático. Que toda a gente gostava era do Senna, ou do Piquet (deuses, que pezudo!), ou do Alan Jones, ou do Nigel Mansell (há gostos para tudo) ou de muitos outros que nem um lugarzinho pequenino na história do automobilismo internacional souberam conquistar: os alboretos deste mundo.
E porque me recuso a aceitar a validade dos argumentos do A.F. - que reduz Prost à categoria de condutor de carrinha limpa neves; e porque, mais a mais, o A. F. queixa-se deveras que eu nunca dou resposta aos comentários da sua lavra que tenho a honra de receber aqui neste blog, decidi-me ao contraditório. Principalmente, confesso, porque é facílimo contradizer o A.F. nesta matéria (deve ser a única). Basta enumerar os factos.
Por ser muito desajeitado, Alain Prost correu para as 4 principais equipas da F1 contemporânea: Renault, McLaren, Ferrari e Williams. Como não prestava para nada só ganhou títulos mundiais para duas dessas marcas. Na Renault, de que foi o grande responsável pelo futuro sucesso, venceu apenas 8 grandes prémios pilotando umas caranguejolas turbolentas que só ele mesmo conseguia levar até ao fim das corridas (René Arnoux sempre foi excelente a partir motores e Jean Pierre Jaboille deve ter terminado para aí duas provas na sua vidinha de azarado profissional). Na Ferrari então foi o desatre total: nos dois anos que lá esteve foi vice-campeão em 1990 e quinto em 1991. É claro que a Ferrari desses dias não era a Ferrari de hoje (a Scuderia não conseguiu ser campeã com ninguém entre 1983 e 1999), mas isso é um detalhe: o francês é que não presta. Aliás, foi precisamente pela sua falta de habilidade que Alain Prost foi 4 vezes campeão do mundo, sendo um dos mais bem sucedidos pilotos de Fórmula 1 de todos os tempos. E justamente por ser muito inferior a Ayrton Senna e nem ter comparação com Niki Lauda é que dois dos seus títulos foram conquistados com estes senhores como colegas de equipa, na Mclaren. O preconceito com este desajeitado condutor é tal que, apesar de ter sido tantas vezes campeão do mundo como vice-campeão, os seus detractores lá lhe inventaram a deselegante alcunha de "eterno segundo". A ter o epíteto alguma coisa de razoável, seria simetricamente justo que lhe chamássemos o "eterno primeiro", certo?
Na sua carreira de piloto lento e pouco competitivo, Prost disputou 200 grandes prémios, ganhando 51, subindo ao pódio por 106 sortudas ocasiões, partindo em primeiro lugar da grelha da partida por 33 vezes e batendo o record de volta em 41 corridas. Convenhamos que estes números são uma vergonha. Só um inapto consegue ganhar um em cada quatro grandes prémios disputados. E se houve coisa que Prost nunca soube fazer foi ultrapassar: certa vez, no Grande Prémio da África do Sul de 1986, o rapaz saiu em último, das boxes. Chegou em primeiro, efectuando nessa corrida a incrível quantidade recordista de 16 (dezasseis) ultrapassagens. Pura sorte, claro. Aliás, para quem não sabia sequer ultrapassar retardatários, o homem fartava-se de fazer corridas de trás para a frente, embora isso se deva provavelmente a alguns truques de prestidigitação levados a cabo por comissários de pista mal intencionados. Alain Prost foi eleito o desportista mundial do século XX, na categoria dos desportos motorizados, precisamente por ser um azelha e o tal Lauda, que também não percebia nada disto, referia-se-lhe por "fast sun of a bitch", mas deve ter sido sempre depois de ingerir uns valentes copázios de schnaps.
Alain Prost, é certo, não corria riscos desnecessários (um cobardolas!). Deve ser por isso que está vivinho da silva. Não fazia fitas nem armava aos cucos (um sonso!). Estava mais interessado em afinar o carrinho (um calculista!), tarefa em que, muito provavelmente, não terá par na história da competição. A sua condução era de uma precisão absolutamente extraterrestre, apesar da falta de jeito, e o seu entendimento dos limites do carro e da pista, bem como o seu sentido estratégico, davam, por si só, para alimentar a substância teórica e prática de vinte e três mestrados e quarenta e tal MBA's. Desgraçadamente, era baixinho e desinteressante e ainda por cima francês, que é coisa que não fica bem a ninguém. Mas, por favor, não vale a pena entrarmos em niilismos de algibeira. O homem era um génio do volante, Alfredo, cai na real, meu.
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quarta-feira, junho 13, 2007

Vini, Vidi, Vinci.

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Para quem nunca guiou um kart, ou um F1 na Playstation 3 (as variáveis disparatadas são, no entanto, equivalentes), pode parecer que conduzir um Fórmula 1 nos mais tortuosos percursos que se possa imaginar, a trezentos à hora, é uma brincadeira de crianças. Não é. Conduzir estes automóves de ficção científica é um dos mais exigentes desafios que a civilização humana já inventou. É mais ou menos como meter um gajo num foguetão com destino à lua. A diferença (literalmente) é que a viagem dura apenas hora e meia. Ao contrário do que muito boa gente pensa, um piloto de Fórmula 1 tem que ser um predestinado, independentemente do patrocínio milionário. Basicamente, tem que ser um gajo do caraças para se aguentar à bronca. E quando eu digo bronca digo o Fernando Alonso todo borrado com este rookie chamado Lewis Hamilton que, nos primeiros seis grandes pémios da sua vida de vencedor, fez apenasmente um terceiro lugar, quatro segundos e uma excelente vitória de raposa.
Lewis Hamilton, convenhamos, é mesmo um daqueles heróis de que a Europa está deveras precisada. Pretinho primeiro a ascender à máxima categoria do automobilismo internacional, nascido na muito britânica santa terra de Hertfordshire, o homem é um campeão por natureza. Só um exemplo eloquente: enquanto piloto de F3, disputou 20 corridinhas. Ganhou só 15. Uma vez chegado à F1, por mão real do mago Ron Dennis, tem deixado a plateia global de queixo caído: é competitivo que se farta desde o primeiro centésimo de segundo, não comete um filho da puta de um erro, não parece nada afectado pela pressão e lidera, com alguma naturalidade, o campeonato do mundo de pilotos, com 8 pontinhos de avanço sobre o seu colega de equipa, que por acaso até é o bicampeão mundial da categoria.
Hamilton conduz de forma a lembrar-me muito o meu querido Alain Prost, cujos dois defeitos principais seriam, talvez, o de ser francês e o de ser antipático para todo o planeta. Eu adorava a inteligência, o cinismo, a confiança, a consistência do homem. Tudo qualidades que identifico neste novo maluco, embora este novo maluco até exiba algumas qualidades extra. No seu segundo grande prémio, Hamilton deu duas rabetas de levantar o estádio ao mesmo adversário, Felipe Massa, sendo que a última das rabetas deixou o brasileiro nas couves. Na conferência de imprensa posterior à corrida, Hamilton - nervoso e humilde - pediu desculpa por ser uma raposa e eu fiquei logo a gostar imenso dele.
O rapaz vai fazer história.

sábado, junho 09, 2007

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Não é a mais velha profissão do mundo, mas o infame ofício da publicidade tem mais séculos do que se imagina. Agora vendemos plástico e políticos. Mas já vendemos carne humana entre outras mercadorias de baixa indústria. Razão tinha o outro "criativo", que não queria que contassem à mãezinha do seu triste ganha pão, porque a pobre criatura pensava que o filho era pianista num bordel. Já ando nisto vai para vinte anos e cada vez me arrependo mais.

segunda-feira, junho 04, 2007

Vala comum.

Nascem os homens apenas para a decomposição do futuro
e é somente justo que esta espada que seguro
sirva ao meu carrasco de guilhotina.
Tudo está certo neste mundo quando a vida termina
e não há tipo mais porreiro, que o meu amigo coveiro.

Os deuses, graças a deus, também sabem morrer danados,
esquecidos, banhados em sangue e humilhados,
incapazes de sobreviver à criação.
A imortalidade não dura mais que uns dias de ramadão
e caem que nem folhas como todos os trolhas.

Cometas, planetas e estrelas, galáxias verdes e maduras
apodrecem outrossim em quânticas curvaturas.
Quanto mais curioso o telescópio mais defuntas as realidades:
o universo é um belo cemitério de eternidades
em decadência formal, até ao último funeral.

Enquanto há morte, há esperança - um sonho de redenção;
só faz sentido a vida enquanto dura o ramadão.
E não há tipo mais porreiro, que o meu amigo coveiro.