sexta-feira, dezembro 31, 2021

Para acabar o ano na pista de dança #02



Daft Punk. Lose Yourself To Dance

Tirania Federal do Canadá #02

Na província do Quebeque, o estado determina quantas e quais as pessoas que podes ou não receber na tua própria casa. Se podes ou não celebrar o Ano Novo. Se os teus filhos frequentam ou não frequentam a escola. Se os teus pais podem ou não receber o teu carinho e assistência. Se e quando podes viajar. Se e quando podes passear o cão. Se e quando podes receber tratamentos médicos. Se e quando podes fazer exercício físico. Se e quando podes ir jantar fora, conviver com amigos, beber uma cerveja num bar. Se e quando podes ir ao teatro, ao cinema ou ao salão de bowling. Se o teu patrão tem ou não uma pequena hipótese de manter o teu local de trabalho. Se o teu negócio tem ou não uma pequena hipótese de sobreviver. Se tu tens ou não uma pequena hipótese de sobreviver.

Viva Frei, visivelmente sufocado pela mordaça apertada sobre a sua existência por um exercício de fascismo absolutamente recordista, pergunta-se em que género distópico de país é que vive. A pergunta é retórica, claro. Ele sabe muitíssimo bem que vive na Tirania Federal do Canadá.

E eu, se fosse a ele, saía de lá. Pior que viver numa dita dura, é enregelar no processo.

Primavera de Dezembro.




Ah pois é.

quinta-feira, dezembro 30, 2021


Para acabar o ano na pista de dança.



Atlas Genius . Trojans . Lenno Remix

A vingança de Mao.

Numa evocação arrepiante da Revolução Cultural, as autoridades chinesas entretêm-se a humilhar publicamente os dissidentes dos sucessivos e draconianos confinamentos a que têm submetido centenas de milhões de cidadãos nos últimos dois anos.



É claro, dizes tu, incauto leitor, que tal comportamento opressivo do Estado perante os cidadãos nunca seria tolerado no Ocidente. O teu argumento não dura dez segundos firme, porque entretanto na Austrália:

Isto enquanto nos Estados Unidos, o governo federal já nem tenta disfarçar a corrupta estratégia de mentiras que tem presidido à sua política de combate ao Covid-19. A grosseira adulteração dos números sobre o impacto do vírus em menores de idade, abastecendo com combustível a fogueira dos media e o pânico dos plebeus,
é agora assumida publicamente sem vestígios de pudor, nem perspectivas de castigo.

A cada dia que passa, fica mais e mais evidente que se cumpre por todo o lado, e não só na China, uma vingança antiga. A de Mao Zedong.

quarta-feira, dezembro 29, 2021

Ghislaine Maxwell trial: Jeffrey Epstein's longtime pal found guilty on 5 of 6 counts

British socialite Ghislaine Maxwell faces up to 65 years in prison after a Manhattan jury found her guilty of five of six counts against her for trafficking teens to be abused by her and late pedophile Jeffrey Epstein.
"A unanimous jury has found Ghislaine Maxwell guilty of one of the worst crimes imaginable – facilitating and participating in the sexual abuse of children," said U.S. Attorney for the Southern District Damian Williams. "Crimes that she committed with her long-time partner and co-conspirator, Jeffrey Epstein. The road to justice has been far too long. But, today, justice has been done." 
The jury acquitted on a single count, enticement of an individual under the age of 17 to travel with intent to engage in illegal sexual activity.
Maxwell has been locked up since her July 2020 arrest.

(...) Fox News

Memeville #74




O estado totalitário como credo religioso.

“The attempt to make heaven on earth invariably produces hell.”
Karl Popper . The Open Society and its Enemies

Desde o surgimento dos movimentos totalitários da primeira metade do século XX, muito se tem escrito sobre esta forma opressora, mecanizada, burocratizada e assassina de governo e milhões leram os romances distópicos e as alegorias visionárias de Zamiantine, Orwell e Huxley. Mas é muitas vezes negligenciado o facto de que o totalitarismo é, mais do que apenas um sistema político, um culto religioso que está agora a evangelizar meio mundo, a uma velocidade recordista e com uma ferocidade que não se via desde os anos 30.

O totalitarismo partilha muitas características com as religiões convencionais. Enquanto o Cristianismo, por exemplo, é edificado com base na crença de uma futura era dourada e redemptora, que será iniciada com a segunda vinda de Cristo, os movimentos tirânicos substituem a fé na redenção divina que transforma o mundo  pela crença de que a humanidade pode recriá-lo e uma nova era de ouro pode ser construída sob a direção omnisciente, omnipresente e omnipotente do Estado.

Nos movimentos totalitários do passado, esta era dourada foi imaginada como a supremacia da raça, ou a utopia igualitária comunista e era personalizada por líderes carismáticos e niilistas, espécie de profetas modernos, que corporizavam uma ideia de transcendência.

Hoje essa "idade de ouro" totalitária é aquela em que a humanidade é subjugada a um complexo sagrado de axiomas científicos, tecnológicos, ecológicos, securitários e equalitários, que não carece do protagonismo de líderes / profetas já que é propagado como avanço civilizacional e dever moral cuja implementação, desenvolvimento e controlo cabe aos cidadãos; mas também porque é na verdade orquestrado por oligarquias que se escondem no anonimato dos conselhos de administração das grandes corporações, nas sombras dos corredores do poder burocrático, no bulício indiferenciável das redacções e dos centros de processamento e manipulação digital da informação.

Estas visões utópicas estimulam o entusiasmo religioso das massas e os oligarcas usam essa fé cega para convencer a população de que o fim utópico justifica qualquer meio - vigilância apertada, controlo do pensamento e do discurso, censura, opressão generalizada, prisão em massa, ou mesmo o extermínio de grupos de dissidentes ou de religiões concorrentes.

Neste ensaio da Academy of Ideas, o paralelismo entre a fé em Deus e o credo do Estado é levado a uma pertinente consequência: perante a sua ascensão totalitária como ente transcendental, devemos reconhecer que a escolha não é entre aceitar a tirania e viver uma vida fácil ou resistir e convidar dificuldades desnecessárias. A tirania é a mais arriscada das escolhas, pois encontra falso fundamento na ingénua esperança de que desta vez tudo seja diferente, que desta vez o poder não corrompa políticos e funcionários do Estado, que desta vez o monstro totalitário não devorará os seus filhos, num inferno feito pelo homem na Terra.


NYC requires children 5 to 11 to be fully vaccinated to eat in public

On Monday, New York City changed for children ages 5-11 years old. They are now required to show proof of a COVID vaccine to enjoy most public activities.
New York City’s “Key to NYC” vaccine mandate expanded to children under 12. Children ages five and up now need to prove they’ve received at least one dose of the COVID vaccine to enter most businesses in the city. This restriction includes restaurants, theaters, gyms and more.
The rule also expanded Monday to require anyone over the age of 12 to show proof of a complete two-dose vaccination.
A video circulating on social media Tuesday morning appears to depict an NYPD Strategic Response Group attempting to eject a family from an Applebee’s in Queens Center. The family, which included young children, did not provide proof of vaccination.


“Anyone five and up must show a vaccine card in order to eat here,” Jose Perez, manager of the Applebee’s in Queens Center, told TimCast. “We have been attacked by protestors and our staff is on edge, and police have been helpful.”
While Perez said he “cannot comment on that incident” seen in the video, he said that “no kids have protested.”
He added: “I am tired of having to answer these questions, people have been calling non-stop and we have work to do here, it is very busy.”
Many parents, locals and tourists alike were shocked to find out that 5- to 11-year-olds can’t get into restaurants in New York City without being vaccinated against the coronavirus.
“We are in New York for another week and it’s going to be a real pain not being allowed to eat at restaurants,” Erik St. Martin, a tourist who was turned away from the Hard Rock Cafe with his seven-year-old daughter, told The New York Post. “We didn’t know about the vaccine mandate for kids when we booked our family holiday months ago.”
On Dec. 6, Mayor Bill de Blasio announced that all children 12 and up must be fully vaccinated to enter restaurants, gyms, movie theaters or other entertainment starting on Dec. 27. An additional update now requires the same for children 5-11 years old.

(...) Tim Cast

A discoteca da minha vida #108: "xx", The xx

Sonâmbulos de todo o mundo, alienados de todos os hospícios, românticos espalhados pelo cosmos, diletantes dos cinco continentes, fatalistas de todas as espécies, sonhadores das oito dimensões da Teoria das Cordas; este capítulo da discoteca da minha vida é-vos dedicado, porque os The xx fazem o género de música terapêutica que é precisamente indicada para a vossa variegada condição clínica.

Suaves e pegajosos como veludo mergulhado em mel, fantasmagóricos como uma noite no cemitério dos suicidas arrependidos, melódicos como Chopin depois de sete noites mal dormidas, os The xx rebentam com a escala da Dream Pop e este disco debutante, de 2009, é uma coisinha linda de princípio a fim, espécie de compilação de temas de ninar adultos mal amados, easy listening para motards do inferno, cruzamento de referências que oscilam loucamente entre a experimentação electrónica e o pós-punk, num minimal sussurro a duas vozes, que encanta a sensibilidade e embala a insónia.



Fundada por Romy Anna Madley Croft e Oliver David Sim, que são amigos desde os três anos de idade, a banda faz de facto da nostalgia um objecto melódico e sempre que ouvimos um tema qualquer deste disco somos transportados para um lugar qualquer entre o passado e o desejo, cuja substância electro-química causa imediatamente arrepios na espinha e pele de galinha.



Os The xx são uma boa invenção de Deus. Funcionam como um sedativo, mas também como um anti-depressivo Ao ouvi-los, hesitamos entre o sofá e a pista de dança. Entre o domingo chuvoso e a tarde de verão. Apetece fazer carinhos à namorada, ou cócegas ao cão. Esta londrina e inspirada malta é capaz de nos conduzir em várias direcções, todas elas agradáveis aos sentidos, todas elas viajadas sem pressa, com toda a calma do mundo, apreciando cada instante.



E este disco é uma bênção para os sentidos, um conforto para o espírito, um abrigo que encontras no coração da tempestade. Do principio ao fim.


terça-feira, dezembro 28, 2021

O castigo do cuspo.

A lavagem ao cérebro que, através da disseminação do medo e da propagação da ciência como infalível e dogmática entidade divina, tem sido desenvolvida nos últimos anos sobre as populações tem resultados espectaculares. Os senhores do universo sabem o que estão a fazer. Um desses resultados é a transformação dos cidadãos em controleiros fanáticos, como Mao Zedong gostava.

Num recente voo da companhia americana Delta Air Lines, uma destas cidadãs militantes da nova gestapo decidiu atacar um passageiro sénior, que entretido com a sua refeição, não usava no momento a sua máscara. Como o desgraçado se mostrou reticente em acatar a ordem de recolocar imediatamente o oral contraceptivo, que o impossibilitava de concluir em paz e sossego a degustação do magnifico menu da Delta, a cidadã controleira, após várias insistências histéricas e insultuosas, decidiu cuspir-lhe na cara.

Portanto, porque o passageiro sénior não estava devidamente protegido contra o Covid-19, terá necessariamente que ser ungido com saliva neo nazi.

Este é o tipo de pessoas insanas que a sociedade pandémica está a criar. Boa sorte com elas.


Columbia study: True U.S. COVID vaccine death count is 400,000

The CDC's latest count of deaths attributed to COVID-19 vaccines is nearly 20,000, but a study by researchers at Columbia University estimates the actual number is 20 times higher.
The Vaccine Adverse Events Reporting System, or VAERS, reports 19,886 deaths, 102,857 hospitalizations and a total of 946,461 adverse events due to COVID-19 vaccines through Dec. 3.
If the Columbia study's underreporting factor is correct, it would mean that there are nearly 400,000 deaths due to COVID-19 vaccines.
In the study's abstract, the researchers note that "accurate estimates of COVID vaccine-induced severe adverse event and death rates are critical for risk-benefit ratio analyses of vaccination and boosters against SARS-CoV-2 coronavirus in different age groups."
The U.S. Department of Health and Human Services points out that a VAERS report is not documentation that a link has been established between a vaccine and an adverse event. However, HHS also notes that VAERS is a "passive" system of reporting, and it "receives reports for only a small fraction of actual adverse events." Many health care workers have disclosed they are instructed by their superiors not to report to VAERS any harm caused by COVID vaccines.
VAERS is described as a "voluntary" reporting system, but HHS says that health-care providers "who administer COVID-19 vaccines are required by law after vaccination to report to VAERS" any errors in administering the shots along with, among other things, deaths and life-threatening adverse events.
The Columbia researchers method of estimating underreporting was to use the regional variation in vaccination rates to predict all-cause mortality and non-COVID deaths in subsequent time periods, based on two independent, publicly available datasets from the U.S. and Europe.
They found that more than six weeks after injection, vaccination had a negative correlation with mortality. But within five weeks of injection, vaccination predicted all-cause mortality in nearly every age group, with an "age-related temporal pattern consistent with the U.S. vaccine rollout."
Comparing the study's estimated vaccine fatality rate with the CDC-reported rate, the researchers concluded VAERS deaths are underreported by a factor of 20, which is "consistent with known VAERS under-ascertainment bias."
The researchers said the study "suggests the risks of COVID vaccines and boosters outweigh the benefits in children, young adults and older adults with low occupational risk or previous coronavirus exposure."
They emphasize "the urgent need to identify, develop and disseminate diagnostics and treatments for life-altering vaccine injuries."

(...) WND

Zuby talks.

É muito simples: ou queres ser livre ou queres ser irresponsável. Zuby, o youtuber e músico bitânico, explica lindamente porque é que a responsabilidade individual, consequência fundamental do livre arbítrio, não é um fardo, mas uma benção. Um clip carregado de lucidez e sabedoria.


Como funciona um governo sob a égide da Nova Ordem Mundial.

O governo de Boris Johnson é um flagrante exemplo de como operam os executivos ocidentais que estão orientados para o cumprimento dos objectivos globalistas do Great Reset ou da Nova Ordem Mundial, dependendo da nomenclatura que mais agrada aos tiranos de serviço. E como o Covid-19 veio mesmo a jeito para a efectivação dessa agenda.

Primeiro, procuras uma instituição pública corrupta até aos cabelos e tecnicamente incompetente que projecte números assustadores, de forma a ajudar a imprensa a propagar o pânico e a legitimar medidas draconianas por parte do executivo. No caso britânico, essa instituição é a SAGE - Scientific Advisory Group for Emergencies, que ainda não acertou nem uma das projecções apocalípticas que fez sobre a pandemia. E não acertou à grande. Não se tratam propriamente de pequenas diferenças, como podemos constatar pelos gráficos que comparam as projecções desta instituição com a posterior realidade dos números.


Este último gráfico não reflecte uma projecção oficial do SAGE, mas apenas a de um dos seus principais consultores, o Dr. Patrcick Vallance.

Depois de instalada a "ciência" e dos jornais a propagarem até à náusea para que a população fique "cientificamente" aterrorizada, o governo está completamente à vontade para implementar os mandatos fora da lei que achar desejáveis. Primeiro para "salvar vidas", depois para "salvar o serviço público de saúde" (NHS, no Reino Unido), mais à frente para "acabar com a pandemia" e no fim, sem resultados que validem as opções estratégicas aberrantes que foram entretanto tomadas, para usar os cidadãos divergentes da narrativa oficial como bodes expiatórios. No caso, os não vacinados.

Acontece que em Inglaterra há cerca de 200.000 quadros do NHS que ainda não se vacinaram e que são obrigados, sob pena de despedimento, a vacinarem-se até Abril de 2022. Desses 200.000, cerca de 150.000 não estão dispostos a vacinarem-se mesmo que isso implique serem despedidos. Considerando que o NHS emprega cerca de um milhão de pessoas, estamos a falar de uma quebra de recursos humanos de 15%. Portanto, o governo inglês, para "salvar o NHS", vai despedir 15% dos seus quadros, num momento crítico da sua existência operacional.

Ora, de forma a colmatar esta abrupta redução dos seus quadros e resolver um problema que ele próprio criou, o que é que o governo de Boris Johnson vai fazer? Relaxar a lei da imigração e facilitar a entrada de imigrantes no país (contra a vontade de quem o elegeu), desde que tenham qualificações mínimas na área dos cuidados de saúde. E ao fazê-lo estará, claro, a cumprir com distinção e mais uma vez, a agenda da Nova Ordem Mundial, cujo objectivo último é um planeta sem fronteiras, habitado por uniformizados servos da gleba dispostos a trabalhar duramente por tuta e meia e acessíveis à exploração sem complicações religiosas, culturais ou geo-políticas.



No entretanto, os consecutivos confinamentos e as dificuldades kafkianas colocadas à actividade económica impediram o natural curso da livre iniciativa e destruíram uma boa parte dos pequenos e médios negócios.

No entretanto, milhões de ingleses que padecem de doenças graves e/ou crónicas não acederam a cuidados médicos essenciais, sendo que só na área oncológica o NHS deixou de cumprir 60% dos tratamentos que seriam determinantes para salvar a vida a centenas de milhar de pessoas.


No entretanto, o NHS já recebeu instruções para que, em stress pandémico, os médicos não ressuscitem autistas ou pessoas com dificuldades de aprendizagem (!).


No entretanto, os cidadãos britânicos foram psicologicamente formatados para a tirania, encontrando-se hoje preparados para aceitar os mais extremos mandados governamentais.

Em todos estes entretantos encontramos perpetrados outros objectivos estratégicos da Nova Ordem Mundial: a destruição das pequenas e médias empresas, que são difíceis de fascizar e de uniformizar e que os grandes conglomerados ainda não tinham conseguido aniquilar, a eugénica e drástica redução de doentes crónicos ou de pessoas com deficiências que podem claramente emperrar a engrenagem e que não servem aos sonhos de eficiência e rentabilidade dos senhores do universo, a dócil aceitação por parte dos cidadãos do processo totalitário que vai substituir as democracias ocidentais por um novo modelo regimental, autoritário, oligárquico e implementado à escala global.

Como vês, gentil leitor, atenta leitora, a destruição do teu mundo por um punhado de oligarcas é bem mais fácil do que permites à tua imaginação supor.

sexta-feira, dezembro 24, 2021

quinta-feira, dezembro 23, 2021

As Guerras do Natal: Epílogo

Fim de Tarde de 25 de Dezembro de 1977. Castelo do Cruzados Fora do Tempo. Condenados pelo Pai Natal a passar seis séculos sem uma boa e sangrenta batalha, os Cruzados são finalmente confrontados por bárbaros pagãos do século XIX: Os apaches de Nunca Nunca. Esquecidos e aviltados pelos cóbois que decidiram combater esquimós e pelo Sétimo de Cavalaria que preferiu dar luta à Wermacht, aborrecidos até ao último sono pela ausência de escalpes para adicionar à colecção e pela escassez de jovens virgens para sacrificar aos domingos, a tribo de infiéis peles vermelhas não encontra solução senão assaltar o irredutível castelo cristão, retirando-o da letargia Zen em que se encontrava desde a Idade Média. São portanto boas notícias para os dois lados da contenda, que rapidamente se transforma numa encarniçada cena de pancadaria que vai ficar para a história das guerras religiosas, embora na verdade Boi Zangado nunca tenha ouvido falar de Jesus Cristo e Alfredo Furioso não saiba distinguir um búfalo de um totem.
De onde concluímos pelo axioma: para acabar com o aborrecimento, vale a pena inventar qualquer brincadeira. Por muito anacrónica e insensata que possa parecer, haverá sempre sangue na alcatifa.

No entretanto, os dois maiores impérios da História Universal do Expansionismo Super Ambicioso encontram-se frente a frente no Deserto Positivo, talvez atraídos pelo cheiro a sangue e a semi-frios que por lá permaneceu depois da carnificina do primeiro acto. Como britânicos e romanos falam línguas diferentes, não comungam da mesma paixão pelo chá e têm natural alergia a impérios concorrentes, o conflito é incontornável. O Oitavo Exército apresenta porém argumentos contra os quais as legiões cesarianas são impotentes, entre esses o motor de combustão interna, a espingarda de repetição e o sentido de humor. Mais a mais, o Action Man ainda andava pela imediações e toda a gente sabe que o Action Man é um aliado da coroa inglesa por causa de ter sido o brinquedo favorito de Henrique VIII. 
Esta derrota latina representa para os estudiosos contemporâneos o princípio do declínio do Império Romano, evento que Panoramix já tinha sublinhado e que foi erradamente atribuído a um assalto aos cofres do imperador Constantino, levado a cabo pelos irmãos Dalton. Vitorioso, o Oitavo Exército recebeu como prémio o Tesouro da Serra Mãe, que estava esquecido na posse do Action Man e que serve ainda nos dias de hoje para pagar o leasing do jacto privado do Príncipe Carlos. 

Anoitece na Terra de Nunca Nunca, mas a sede sanguinária dos brinquedos da Timpo parece insaciável e por muito que sejam arrumados no armário, escapam-se com galhardia teimosa e insistente belicismo: antes da hora de jantar, os vikings entram na alcatifada cenografia para saquearem a Vila do Gatilho Feliz, na ingénua expectativa de que os vaqueiros, os caçadores de prémios, os veteranos da Guerra Civil Americana, os batoteiros profissionais, os pistoleiros amadores e os mexicanos fora da lei que no saloon local alegremente se embriagavam sigam os mesmos princípios pacifistas e piedosos dos frades que habitavam os mosteiros da costa norte da Europa Ocidental, no paleolítico inferior das suas incursões piratas. Estavam redondamente enganados e foram corridos para o Inverno que os pariu num instante e antes que a mamã me chamasse para a mesa. 

Depois de jantar, a Cidade Lego de Sempre Sempre ainda vibra com potenciais catástrofes. Um incêndio na Estação Central, um tremor de terra no Bairro das Peças Bem Encaixadas, um Spitfire que se despenha numa área residencial, todo o desastre é possível, de repente. Mas no preciso momento em que o Comboio da Meia Noite vai abalroar um camião dos bombeiros, há um genial sapador que, num esforço desesperado para salvar vidas e bens, exclama uma sugestão eloquente e redentora, que acaba definitivamente com todas as guerras deste dia:


Para a senhora minha mãe, Maria Adelaide Hasse, que me ofereceu todos estes brinquedos e que transformou as
noites de natal da minha infância em momentos verdadeiramente mágicos, que resultavam inevitavelmente em épicas,
rocambolescas e sangrentas aventuras, no palco psicadélico da imaginação febril de uma criança feliz.


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As Guerras do Natal: Acto I
As Guerras do Natal: Acto II
As Guerras do Natal: Acto III

Why let the truth get in the way of tiranny?

Xmas soundtrack #12


Young the Giant
. Superposition (In The Open) . Xmas soundtrack 2021

Elon Musk na Babilónia.

Desconfio e discordo dele, muitas vezes, mas o homem mais rico da história dos homens ricos concedeu recentemente uma entrevista a um website humorístico, o Babylon Bee, que tem momentos absolutamente épicos. Só o facto desta entrevista acontecer já diz muito sobre o carácter irreverente de Musk, porque o Babylon Bee não tem dimensão mediática que a justifique (os rapazes nem acreditam que estão ali à conversa com o magnata dos magnatas). Cáustico como sabe muito bem ser, Elon Musk aproveita a informalidade cool de que tanto gosta para disparar em todos os sentidos: diz que não é suficientemente pervertido para ser entrevistado pela CNN; aniquila a senadora Warren (a famosa "Pocahontas"), que o acusou pelo twitter de não pagar impostos, quando apenas 48 horas depois ele se tornou precisamente no homem que mais impostos pagou na história dos homens que pagam impostos, ao entregar ao fisco americano a soma de 11 biliões de dólares; arruma, com sábias palavras, a cancel culture e o império woke na gaveta de onde nunca deviam ter saído e explica com simplicidade coisas que deviam ser evidentes, por exemplo: "Anything done by the government is going to be inefficient, because the government is a monopoly."

Deixo só o trailer, que integra muitos dos momentos mais saborosos, mas a entrevista no seu formato integral está aqui.


Memeville #73


Tripled Vaxxed 4.5 Times More Likely to Test Positive For Omicron Than Unvaxxed

According to figures released by the UK government via the Office for National Statistics, people who are triple vaxxed are 4.5 times more likely to test positive for Omicron than those who are unvaccinated.
The numbers also illustrate how the double-vaccinated are 2.3 times more likely to be infected with Omicron than those who haven’t taken any jabs.
The data, which is summarized by the Daily Sceptic’s Will Jones in this article, bolsters assertions that the Omicron variant is effective at evading vaccines.
“Note that this is the probability of an infection being Omicron given a person is infected, so it doesn’t tell us how likely a person is to test positive in the first place,” writes Jones.
“This means it doesn’t tell us that the vaccines are making things worse overall, only that they are making it much more likely that a vaccinated person is infected with Omicron than another variant. In other words, it is a measure of how well Omicron evades the vaccines compared to Delta. The fact that the triple-vaccinated are much more likely to be infected with Omicron than the double-vaccinated confirms this vaccine evading ability.”

Jones concludes from the data that, “The current Omicron outbreak is largely an epidemic of the vaccinated and is being driven, not by the unvaccinated, but by those who have been double and triple jabbed.”
The numbers completely demolish claims that the Omicron outbreak is a ‘pandemic of the unvaccinated’.

(...) Summit News / Daily Sceptic

Jeremy faz das dele #02

A campanha da Hawkstone Lager continua a bombar e a cerveja está a sair muito bem, mais soluço menos soluço.


quarta-feira, dezembro 22, 2021

A careca de um tirano.

O Presidente da Câmara de Hamburgo afirmou aqui há uns tempos numa conferência de imprensa que 95% das pessoas hospitalizadas com Covid no seu concelho não tinham sido vacinadas. E esse número serviu para marginalizar e punir loucamente os não vacinados em toda a Alemanha. Acontece que o número real era de 22,5% vacinados, 14,3% não vacinados e 63,2% sem estatuto de vacinação declarado. Peter Tschentscher utilizou uma evidente falsidade para cumprir a sua agenda autoritária. Pagará o preço pela infâmia de tiranete? Duvido muito. E as restrições impostas a propósito dos números truncados serão levantadas? Claro que não. Antes pelo contrário.


Agora de repente apeteceu-me

 ter este brinquedo montado.



I wonder why...

As Guerras do Natal: Acto III

Tarde de 25 de Dezembro de 1977. Cidade Lego de Sempre Sempre.
Cansados de passar a vida a levar piparotes dos dedos indicadores de todo o mundo, os jogadores do Subbuteo passam-se, revoltam-se, atiram com as camisolas ao chão e com as chuteiras à cara dos apanha-bolas (que não têm culpa nenhuma), pontapeiam os árbitros naquele sítio, roubam os cadernos tácticos aos treinadores, fazem perguntas estúpidas aos jornalistas, enfim, instala-se um motim de campeões europeus com remates espectaculares e defesas do outro mundo. Felizmente, o Lone Ranger e o Tonto, apoiados pelo Regimento de Paraquedistas Venha Quem Vier comparecem para afirmar a lei e a ordem na cidade de Sempre Sempre e o resultado é um empate a zero, como o Fernando Santos gosta.

(Cont.)
As Guerras do Natal: Acto I
As Guerras do Natal . Acto II

As Guerras do Natal: Epílogo

Homilia de Natal: o mal absoluto não é ficção.

Um dos problemas ontológicos dos ateístas é que, não acreditando em Deus, também não acreditam no Diabo. E considerando que o absoluto bem implica necessariamente um absoluto mal, e que ambos são existencialmente incontornáveis e historicamente demonstráveis, quando desistimos de Deus ficamos, mesmo que inconscientemente, a sós com Satanás, que não precisa da fé para exercer o seu ofício de cinzas.

Frei Edward Meeks disserta sobre o assunto. Com o poder retórico e a assertividade do costume.


Adivinhem a marca do tractor do Jeremy Clarkson.

É um Lambo, claro. Mas tem um problema: não cabe na herdade.



Memeville #73


Xmas soundtrack #11



1975 . It's Not Living (If It's Not With You) . Xmas soundtrack 2021

Austria Hiring People to “Hunt Down Vaccine Refusers”

The Austrian government is hiring people to “hunt down vaccine refusers,” according to a report published by Blick.
The city of Linz, which is home to 200,000 inhabitants, has a relatively low vaccination rate of 63 per cent.
In response, “Linz now wants to hire people who are supposed to hunt down vaccine refusers,”
The role of the inspectors will be to check on whether those who do not get vaccinated really pay the fines.
The vaccine refusenik hunters will receive a wage of 2774 euros, which will be paid 14 times a year, making an annual income of 38,863 euros.
Austrians who don’t get vaccinated by February face fines of up to €7,200 ($8,000) for non-compliance, and those who refuse to pay would also face a 12 month jail sentence.
The unvaccinated in Austria could find themselves imprisoned for a year under a new administrative law that would force them to pay for their own internment.

(...) Summit News

O meu pé pesado #18: A rezar pela linha de chegada, no labirinto rochoso da Argentina (parte 2).

O Troço de Valle de los Puentes tem duas metades: uma sinuosa até ao desespero dos punhos e estreita até à falência do metro útil, outra mais rápida e larga, mas com a mesma intensidade intratável: perco por causa deste segmento escorregadio e traiçoeiro mais segundos do que devia.

No sentido Oeste/Este, a descer, faço precisamente uma razoável primeira metade (a mais torcida) mas a partir daí o Fiesta parece mais interessado em cortar o mato que em soltar a gravilha da estrada, num vergonhoso espectáculo de incompetência e lentidão pelo qual apresento as minhas desculpas. Lembro que estou a respeitar o limite máximo de duas horas condução por troço.



Considerando a prova desastrada e tudo menos limpa, fico surpreendido por ter ainda assim feito um tempo para entrar nos mil primeiros.

No sentido Eeste/Oste, a subir, a coisa corre só um bocadinho melhor porque apanho o segmento rápido logo no início, o que ajuda a entender e conhecer melhor a estrada (embora continue a visitar as couves por uma ou outra vez). Ironicamente parece-me que sou aqui mais lento na segunda metade, que é a mais apertada mas menos traiçoeira. Sinto que estou a travar demais, muito provavelmente porque o troço anterior descende e nesta direcção ascende e eu não consegui adaptar a condução à assimetria do relevo. Além disso falho muitas trajectórias, principalmente nos inúmeros ganchos e ganchinhos desta serpentina infernal.



A prova que não é fácil ser rápido na Argentina é que ainda assim consigo um lugar dentro dos 600 primeiros.

Sinceramente, gostava de começar a fazer classificações mais honrosas, mas a seguir vem a Austrália. E só de pensar nisso perco logo a ambição toda.

Até porque na Argentina, só aprendi a humildade.

terça-feira, dezembro 21, 2021

A teoria da conspiração como método científico #n

Como uma boa e assustadora parte das mais fantasistas teorias da conspiração, o "Great Reset" passou a infectar a realidade sem qualquer tipo de entraves, escrúpulos ou reticências. E aqueles que acusavam de conspiracionismo delirante quem, há coisa de dois anos, nem isso, alertava para o aproveitamento oportunista e autoritário da pandemia com o objectivo de implementar as mais draconianas possibilidades da agenda globalista e oligárquica, são agora os primeiros a abençoar as virtudes desse ilegítimo reboot às nações ocidentais. Sim, porque o Great Reset não é para aplicar na China ou na Venezuela ou em Cuba ou na África do Sul ou no inferno. O Great Reset é para transformar o Ocidente numa nova China, numa nova Venezuela, numa nova Cuba, numa nova África do Sul. É para transformar a civilização judaico-cristã num inferno. Um sítio onde não vais possuir nada e vais ser feliz.


As Guerras do Natal: Acto II

Manhã de 25 de Dezembro de 1977. Forte Apache. Depois de ter interceptado a mensagem SOS dos Cóbois que era destinada ao Sétimo de Cavalaria, o regimento nazi que ocupava a cidade Lego de Sempre Sempre, convencido que os soldados da União eram agora os fieis depositários do Tesouro da Serra Mãe, toma de assalto o Forte Apache. Acontece que o Sétimo de Cavalaria não é uma cavalaria qualquer: tocam as cornetas do apocalipse, disparam os canhões termo-nucleares, soltam as carroças desembestadas, convocam todos os deuses beras do faroeste, aliam-se aos soldados da confederação por um momento insólito da Guerra Civil Americana e à carga, à carga que se faz tarde! Nem Stukas, nem Panzers nem o diabo que os carregue consegue suster o avanço terrível desta coligação de guerreiros equestres, divindades super poderosas e tecnologias bélicas do século trezentos e quarenta: duas horas depois da irreflectida ofensiva, o Terceiro Reich jaz, calçado, na poeira do deserto.

Entrementes e aproveitando a distração dos StormTroopers, dos nazis, dos cóbois, do Sétimo de Cavalaria e do Action Man, uma tribo de muçulmanos desembestados entra pelo Autódromo Scalextric a dentro, causando, a alta velocidade, caos abundante e avultados prejuízos em vidas e bens. Os Árabes despistam-se por várias vezes em diferentes bólides de competição, atropelam os comissários de pista, assassinam, à pedrada, à espadalhada e a tiro de carabina, directores de corrida, pilotos e fãs; dão de beber gasolina de 80 octanas a cavalos e camelos e roubam ao Emerson Fittipaldi o icónico F1 da Corgi Toys no qual tinha acabado de se sagrar Campeão do Mundo de Voltas ao Oito. As competições automobilísticas nunca mais vão ser as mesmas e ainda hoje se atribui o enorme aborrecimento com que a Fórmula 1 adormece as audiências àquele que ficou conhecido como o Massacre do Pé Na Tábua.

(Cont.)
As Guerras do Natal: Acto I
As Guerras do Natal: Acto III
As Guerras do Natal: Epílogo

Memeville #72


Um Postal de Natal ao contrário.

Espécie truncada de mensagem de boas festas endereçada pela Casa Branca aos cidadãos americanos não vacinados, este texto, tirado de um recente press briefing ministrado por Joe Biden, é real. Foi mesmo publicado. Foi mesmo dito. É assim mesmo que esta gente pensa de quem não obedece. É isto mesmo que desejam aos dissidentes.

É difícil de acreditar, bem sei. Mas sendo a web o que é, começaram a surgir de pronto alguns memes que fazem desta deprimente alocução um objecto bem mais espirituoso.

Jeremy faz das dele.


Jeremy Clarkson, o produtor agrícola, está a colocar uma cerveja no mercado, a Hawkstone Lager. E o processo criativo referente ao trabalho de branding e lançamento da marca correu lindamente, entre imprecações e contra-ordenações:

Mas mesmo apesar do lápis azul ter estabelecido o seu mandato, a campanha não perdeu nada em arrojo e espírito, tendo sido oficialmente lançada ontem, com um monumento à arte da comunicação de produto:



Mal posso esperar pelo desenvolvimento conceptual desta esplêndida ópera publicitária. E não, não estou a ironizar.

A ditadura é um uníssono.


CIA advisor and expert in foreign conflicts believes the US is 'closer to civil war than anyone would like to believe' and claims America is no longer a democracy but an 'anocracy'

A political science professor who serves on a panel that advises the CIA on when countries might slide into civil war amid factors like undemocratic tendencies has identified the U.S. as farther down that potential path than many could imagine.
'We are closer to civil war than any of us would like to believe,' said Dr. Barbara Walter, who serves on the Political Instability Task Force, which guides intelligence analysts on countries overseas that might be on the brink of conflict.
The University of California San Diego academic, who has studied hotspots like Syria and helps run a blog on political violence, said the U.S. meets several of the telltale signs that are part of a road to insurgency.
'No one wants to believe that their beloved democracy is in decline, or headed toward war,' she writes in her forthcoming book, How Civil Wars Start.
'If you were an analyst in a foreign country looking at events in America — the same way you’d look at events in Ukraine or the Ivory Coast or Venezuela — you would go down a checklist, assessing each of the conditions that make civil war likely. And what you would find is that the United States, a democracy founded more than two centuries ago, has entered very dangerous territory,' she writes, according to the Washington Post.
She concludes that the U.S. has gone through the 'pre-insurgency' and 'incipient conflict' phases – without deciding whether the Jan. 6th Capitol riot constitutes part of the 'open insurgency' phase. She also labels the U.S. as an 'anocracy' – a category between a democracy and an autocracy.

(...) Daily Mail

Arcane: um raro prazer para os sentidos.


Não sou fã do género "Anime", que por isso mesmo conheço muito mal, nem sequer tenho grande paciência para filmes ou séries de animação, com algumas excepções (que me ocorram assim de repente: Wall-E, Shrek e o Tintin de Spielberg). Talvez daí provenha a agradável surpresa que me assaltou logo nos primeiros minutos do primeiro episódio de "Arcane - League of Legends". Muito para além do deslumbramento visual - os gráficos são do melhor que alguma vez vi e o contexto estético e cenográfico da série é de fazer cair o queixo - há nesta produção da Netflix um raro impulso criativo que projecta os personagens para uma dimensão profundamente humana, que cria um delicioso ecossistema retro e o faz oscilar maravilhosamente entre a fantasia e a realidade, que engendra um enredo - complexo e repleto de subtilezas - que faz pensar e sonhar e nos prende a atenção tanto como nos liberta a imaginação.

Baseado ironicamente num mau jogo de consola, o "League of Legends", Arcane acaba por ser um produto artístico, no clássico sentido da palavra. Na sua estética, procura uma ética. Na sua cinematografia cuidada anseia pela perfeição estilística. Na sua demanda subjectiva, objectiva o que é belo, o que é justo, o que é moral, o que é equilibrado. Tem consciência da entropia que corrompe esse processo; tem em conta as trevas e as corruptelas inerentes à viagem ficcional a que se propõe; considera com rigor que é frágil e fina e quebradiça a fronteira que separa o bem e o mal; mas arrisca um caminho, aventura-se por uma odisseia: fascina os sentidos e eleva o espírito.

Mais a mais e para meu espanto, a Netflix concedeu ao bom senso e, por uma vez, apresenta uma produção que não faz política. Que recusa a propaganda e o fedorento moralismo das elites. Que não repreende nem julga nem doutrina o espectador. Dados os tempos que correm, isto não é dizer pouco.


segunda-feira, dezembro 20, 2021

As Guerras do Natal: Acto I

Madrugada de 25 de Dezembro de 1977. Faroeste da Terra do Nunca Nunca. Uma tribo de esquimós oriunda do Polo Negativo desce até ao Deserto Positivo para assaltar a diligência da Wells Fargo que transporta o Tesouro da Serra Mãe, destinado ao pagamento dos salários do regimento de tropas nazis que está estacionado na cidade Lego de Sempre Sempre. Os esquimós são mais que as mães e mais que os pais e trouxeram focas selvagens e ursos domésticos na expedição. A escolta de bravos cóbois liderados por Lucky Luke tenta desesperadamente negociar um cessar fogo com a promessa de um carregamento de frigoríficos gratuitos, mas a tribo ensandecida de encapuçados permanece irredutível e dispara gelados de baunilha como se a máquina de semi-frios fosse avariar amanhã. Entre o fogo cerrado e o enjoativo perfume a orquídeas, o cóboi que dispara mais rápido que a própria sombra recorre ao telégrafo portátil para enviar um SOS, na esperança de que o Sétimo de Cavalaria possa socorrer a escolta da morte certa e da moda do Kispo.

Eis senão quando e por um acaso do destino digno de um full de ases num jogo de póquer entre azarados mentais, uma patrulha de StormTroopers que policiava as imediações foi alertada pelo barulho que os gelados de baunilha fazem quando disparados através do ar quente e espesso do Deserto Positivo. E assim, rapidamente espoleta um contra-ataque sobre a retaguarda dos esquimós. Os esquimós porém são seres especiais, dotados de 43 sentidos obrigatórios e várias capacidades de adivinhação fantasista, entre as quais detectar a presença de brinquedos Lego a milhas de distância. Reagindo prontamente, activam as reservas que estavam escondidas por trás da máquina de semi-frios e assim rapidamente espoletam um contra-ataque sobre a retaguarda dos StormTroopers que contra-atacava a retaguarda dos esquimós. Há facada que ferve os nervos e tiroteio que gela o sangue e raios laser a rasgar o cenário e tudo parece perdido menos a foca, que sabe perfeitamente onde está e sabe perfeitamente que não devia estar ali. 

Acontece que o habitat natural do Action Man é precisamente o Deserto Positivo da Terra do Nunca Nunca, principalmente nas horas de ponta e mola: armado até aos dentes e senhor de uma escala comparativamente desmesurada, usa a sua presença dissuasora de tal forma que esquimós, StormTroopers e cóbois; diligências, máquinas de semi-frios e animais domésticos ou selvagens cessam hostilidades e desandam num ápice do teatro de operações. 
Na sua histérica e fulminante debandada, esqueceram uns e outros o motivo que tinha desencadeado a pancadaria: o tesouro da Serra Mãe, que na confusão do sangrento conflito tinha saltado da diligência para a poeira do deserto, foi assim abandonado ao livre arbítrio e questionável probidade do Action Man. Escusado será dizer que este desleixo terá complicadas implicações no decurso da narrativa, tanto mais que, como já foi referido, o áureo erário  estava destinado a cumprir o pré dos soldados do Terceiro Reich que ocupam a cidade de Sempre Sempre. E só Deus sabe o que farão as tropas alemãs, uma vez privadas da remuneração que lhes foi prometida.

As Guerras do Natal: Acto II
As Guerras do Natal: Acto III
As Guerras do Natal: Epílogo