segunda-feira, outubro 29, 2007

Assim, sou obrigado a acreditar nos benefícios da pena de morte.

No que diz respeito à Teoria Geral do Direito da Morte, este vosso dedicado amigo é um tipo um bocado inconsistente. Sou, por princípio, contra a pena capital e tenho muitas dúvidas e resistências em relação ao aborto. Mas sou a favor da eutanásia e concordo com o suicídio (não acho nada cobarde um gajo optar por se matar e penso até ser de valentia um gesto assim higiénico). Há aqui, mesmo assim, uma lógica: acredito que ninguém tem direito a tirar a vida a outra pessoa, mas toda a gente tem legitimidade para terminar com a sua própria existência.
Porém, quando leio no Expresso que um canalha qualquer teve a indecência espantosa de prender um cão faminto a uma parede de uma galeria de arte para fazer da morte do animal um objecto da exposição, tenho que dizer: este homem devia morrer já. Mas é que era já. Puta que o pariu, dêem-lhe imediatamente um tiro.

Ciclo do rapaz mal desenhado - 3


Once around the block - Badly Drawn Boy

Edições Blogville #10

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Esta linda é do meu amigo Nuno Miguel Silva:

"Este ano, o Prémio Nobel da Paz foi atribuído a um powerpoint."

quinta-feira, outubro 25, 2007

Idealismo ao vivo.



An end Has a Start - EDITORS

Este blog sofre de repetição. Não por higiene estética - sou mais sujo do que isso - mas por causa do idealismo alemão. Insisto no mesmo esquema dialéctico de razões:

"I don’t think that it’s
Gonna rain again today,
There's a devil at your side,
But an angel on the way

Someone hit the light,
Cause there's more here to be seen,
When you caught my eye,
I saw everywhere I'd been

And what I go to...

You came on your own,
And that's how you'll leave,
With hope in your hands,
And air to breathe,

I won’t disappoint you,
As you fall apart,
Some things should be simple,
Even an end has a start,

Someone hit the light,
Cause there's more here to be seen,
When you caught my eye,
I saw everywhere I'd been

And what I go to...

You came on your own,
And that's how you'll leave,
With hope in your hands,
And air to breathe,
You'll lose everything,
But in the end,
Still my broken limbs,
Will find time to mend

More and more people I
Know are getting ill
(Put something good on the,
Ashes now be still)

You came on your own,
That's how you'll leave,
With hope in your hands,
And air to breathe,
You'll lose everything,
But in the end,
Still my broken limbs,
Will find time to mend

You came on your own,
That's how you'll leave, x2

You came on your own x2

quarta-feira, outubro 24, 2007

O Mito Mediterrânico

INTERROMPIDO POR APOLOGIAS À OPINIÃO DOMINANTE
E ILUSTRADO COM SUPER-HERÓIS DO ATLÂNTICO.
Em louvor de minha Mãe, Maria Adelaide Hasse, que combate pela discórdia.


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Lamento imenso mas Portugal não é um país mediterrânico. A maior parte das pessoas inteligentes que conheço não estão de acordo comigo - o que é uma pena, porque deviam - mas, peço desculpa, reitero e repito: Portugal é um país Atlântico.
Com os vales raros do Mediterrâneo podemos partilhar a vinha, mas o vinho é português. De Marrocos podemos ter a azeitona e a laranja e a paisagem algarvia mas não somos do Magrebe. Não somos berberes, nem tuaregues, nem o diabo. Somos romanos e visigodos, somos celtas e vândalos e suevos, somos judeus, persas e xiitas - também - mas não somos de Meca nem nos prometemos a Jerusalém.

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Eu tenho muita pena mas se ainda se dá por um muito vago sotaque mourisco, a verdade é que já não somos árabes há uns tempos e foi só até Coimbra, bem vistas as coisas. Podemos ter, para lá do Sado, a arquitectura clara e minimal da Europa helénica, mas não somos de lá e é claro que somos lentos e lerdos como os balcânicos, mas não somos dos Balcâs e se o alfabeto chegou pelo comerciante fenício, pelo escriba de Alexandria ou pelo governador de Pompeia, nem por isso somos sírios, egípcios ou etruscos, caramba! Somos mais o produto do esperma de saxões e visigodos, bárbaros do norte todos. Não pariram aqui as prostitutas da Babilónia, não chegaram cá os bulícios genéticos da Macedónia ou os maneirismos culturais de Constantinopla, um poucochinho só de Cartágo e da Grécia Clássica o mito iniciático da cidade de Lisboa, apenas. Veneza, Génova, Barcelona, que cagalhão deixaram pelas praias ocidentais? Zero: somos mais de Sagres, apesar de Joyce, somos mais de Dublin que qualquer grego, somos mais celtas, bretões e normandos e galegos e bascos, porque somos mais da costa norte, agreste em vez de temperamental. Dramática ao invés de trágica. Porque as nossas praias acabam em falésias em vez de montanhas, porque às ilhas não se chega de remos, porque o pastor não desce pelos mesmos caminhos, porque o peixe é diverso e outrossim a faina, porque não inventámos a literatura, porque lhe demos um banho salgado de alto mar e de alto risco: só à brisa fresca deste oceano se inventa a sardinha e se cozinha o petisco.

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Que me desculpem os pragmáticos e os funcionalistas, mas a mais sagrada cruz que o português tem de suportar, contente, é a da vigília do Atlântico. Estamos aqui alerta, estamos por aqui quietos a olhar o mar, num desafio de guarda nacional republicana. E esta vigília não é curta de milhas nem tresanda de civilizações: o horizonte é imenso, virgem e inescapável. Ulisses nunca poderia ser um herói português muito simplesmente porque a sua ambição máxima é a de voltar, vivo, a casa. Isto faz sentido num Mediterrâneo intenso, sobrepovoado de diferenças e problemas imobiliários, onde a casa de um homem é o seu castelo. Fernão Mendes Pinto, esse sim, é um herói português porque tem ambições oceânicas: a sua odisseia é a da peregrinação propriamente dita, a aventura desalmada, mal afortunada, lá do outro lado do esférico. O regresso é de somenos. Pero vaz de Caminha deixa-se ficar pelas arábias e Fernão de Magalhães entretém-se a circumnavegar até à morte. Até Camões, que amava Homero, só faz regressar o Bom do Vasco ao Canto penúltimo. Nenhum português se daria aos trabalhos insanos a que se submeteu Odisseu, porque a casa da mariquinhas não é um castelo, é uma plataforma de lançamento. Uma ideia argonauta própria de quem passa a vida com os olhos embalados pelas marés do Atlântico. O Grego sonha em voltar. O Português sonha em partir. É diferente. Toda a diferença de uma linha costeira: se tem o mar de frente ou um oceano por fronteira.

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Lamentavelmente, ainda há uns ilustres que concordam comigo, que me redimem desta solidão fenomenológica: Braudel, Pessoa, Almada, o meu querido Professor António Marques Beça, e mais uns indecisos como Oliveira Marques ou Eduardo Lourenço. Talvez porque equacionam que o Mediterrâneo rico e imperial, o Mediterrâneo dividido em riquezas, engarrafamento étnico de grandes interesses civilizacionais, acabou quando D. João II se decidiu a sonhar, já talvez enfadado daquele marinho horizonte de aventuras por cumprir. Ou apenas porque sabem que o clima, em Portugal, não é mediterrânico; que o relevo é antípoda; que a península ibérica está rodeada sobretudo pelo Oceano Atlântico e que Portugal é o país mais ocidental da Europa. Ou provavelmente porque intuem que o marinheiro português tem mais em comum com um lars viking do que com um sinbad bizantino. E todo o português é um marinheiro. Daí a deriva. Daí o nevoeiro.

A história de Portugal só fez sentido enquanto foi virada para o Atlântico. E quem não percebe isto é que é romântico.

domingo, outubro 14, 2007

Gente em vez de malta.

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Não quero estar a bater sempre no mesmo ceguinho, mas a recente coroação de Al Gore como o grande campeão da paz ambiental, o príncipe perfeito entre os mais perfeitos profetas do apocalipse - versão terceiro milénio actualizada e revista - é um fenómeno tristemente divertido e bem próprio destes dias insanos. É claro e apenas justo que não seja um cientista, mas um palhaço rico vindo directamente do grande circo da política internacional a receber este Nobel. A verdade incoveniente do Sr. Gore é uma verdade eleitoralista, plastificada, mediática, charmosa, insubstantiva; é um gingle, uma campanha, um disfarce, uma manobra, uma invenção, em resumo: um entertenimento. Mas não será nunca científica. Ao excelso Comité Norueguês entrego os meus mais calorosos cumprimentos, por ter contribuído, à sua pequena e rasteira maneira, para a total descredibilização do grande mito climático. Um embuste em traje de gala mostra sempre que os reis vão nús.
De qualquer forma, a curto ou médio prazo, as grandes cabeças do Comité arriscam-se a ter um Prémio Nobel da Paz que acumula o cargo com a Presidência dos Estados Unidos da América e a chefia maior das forças armadas do Império. É de gargalhada imaginar esta pomba Gore na Situation Room, avaliando os diferentes planos de ataque aéreo a Teerão. Quantos são, quantos são? Quantos são os que vão morrer hoje?

Já ver Santana Lopes em triunfo no Congresso parece-me bem estranho. E é mesmo paranormal que este senhor Filipe Menezes tenha chegado aonde chegou sem uma boa ideia que seja. Nada vezes nada e, pelos deuses da república, há-de subir a primeiro ministro! É de natureza esotérica o declínio miserável do Partido Social Democrata e é transcendente que ainda não exista um Partido Liberal nesta terra, mas o que é realmente de literatura fantástica é este facto-milagre-de-fátima: a Europa entregou a Durão Barroso e a José Sócrates o poder executivo para concretizar a sua primeira Constituição Federal, nada mais, nada menos. Agora contem lá isto ao extraterrestre que passar aí por casa, a ver se ele acredita. Do Atlântico aos Urais, não há nada de melhorzinho?

A autêntica falência das lideranças no mundo Ocidental é provavelmente o nosso mais dramático - e risível - problema. A certo momento dá-me sempre a ideia que os grandes intérpretes da história contemporânea não passam de pequenos Faustos, condenados pela luxúria do poder a um mediocre inferno de banalidades e invejas de pátio. E se isto é verdade lá fora, em Portugal, deus meu, a coisa é insuportável. Políticos à parte, porque são os marretas que são, e excluindo aquela gente que é sempre a mesma e que é importante porque diz, como um comentador da bola, coisas bonitas e inteligentes na televisão, onde é que estão os os líderes morais, económicos, associativos, desportivos e sindicais de um Portugal novo? Onde é que está a geração que realmente reformará um dia este país? É que aquilo que existe é tão fraquinho e mal criado que não inspira nem um Whitman que seja.

É muito triste dizer isto, mas em Portugal nem os banqueiros têm maneiras.