sexta-feira, agosto 29, 2014
Dez minutos de alta competição.
Não costumo seguir a Vuelta, mas este ano é impossível ignorá-la. Muito por causa do desastre de estrelas que foi o Tour de France, esta edição contou à partida com 4 candidatos à vitória: Alberto Contador (que recuperou a tempo da fractura na tíbia), Chris Froome (que desistiu do Tour muito cedo), Nairo Quintana (depois ter ganho o Giro e de ter evitado o Tour, era o candidato natural ao primeiro lugar da geral) e Joaquim Rodriguez (porque esteve no Tour em ritmo de treino precisamente para tentar em Espanha o primeiro título numa prova de 3 semanas).
Ora, depois da Etapa de ontem, a Vuelta ganhou mais um favorito: Valverde. O chefe de equipa da Movistar, que tinha falhado com estrondo o pódio no Tour e que, aparentemente, estava na competição apenas para ajudar Quintana a conquistá-la, fez a terrível subida de La Zubia como se não houvesse amanhã: acarinhou Quintana como devia, levando-o na sua roda pela colina a cima a um ritmo desenfreado - principalmente se considerarmos as terríveis condições climatéricas e topográficas desta subida; mas quando Rodriguez ataca, a 700 metros do fim, Valverde apercebe-se de que o colombiano não tem resposta para dar e, num relâmpago de glória pura e dura, acelera por ali a fora para a vitória na etapa, deixando Froome, Contador, Rodriguez e Quintana à beira de um ataque cardíaco e a fazer contas à vida. Depois de ter liderado e destruído completamente o pelotão durante a contagem de primeira categoria que concluía a etapa, o veterano campeão espanhol ainda teve pernas para dar espectáculo. Incrível.
Estes últimos dez minutos da 6ª etapa da Vuelta são um hino ao ciclismo de alta competícão. E, sinceramente, têm mais emoção e nobreza que um campeonato do mundo de futebol inteirinho.
quarta-feira, agosto 27, 2014
Postulados da União Fraterna.
Tive na vida tantos amigos como na Europa houve guerras e mais,
muitos mais amigos terei até morrer, na proporção das guerras que o futuro guarda
para o velho continente.
Sei de amizade como poucos.
Sou um especialista e só não faço carreira académica desta erudição
porque não há nas academias um douto que saiba o suficiente sobre a amizade
para perceber que eu sei o que sei.
A amizade não é substância lírica e é difícil
escrever um poema belo,
um poema imortal e definitivo com tudo o que há para dizer.
O primeiro postulado que me ocorre
não é belo e muito menos lírico:
a amizade entre dois seres de sexo diferente é um mito.
Maricas e fufas à parte (não me atrevo a teorizar contextos étnicos),
a amizade entre dois seres do mesmo sexo é a única possível
porque um amigo não pode ser alguém a quem faças um broche e
há sempre sexo entre duas pessoas de sexo diferente,
mesmo quando essas duas pessoas não se querem sexualmente:
A negação da possibilidade de sexo é sexual como tudo.
O segundo postulado ainda é mais deprimente:
A amizade é uma abstração e não sobrevive à realidade impositiva
do ego.
É uma força vital enquanto motriz do amor próprio.
Gosto mais de mim por ser amigo de Cicrano.
Decorre daqui um terrível Terceiro Postulado:
quanto mais apaixonada é uma determinada amizade,
mais volátil é a sua breve história.
Como a paixão romântica, o encantamento fraterno é de curta duração
- convenhamos, ninguém consegue fazer com que eu goste de mim por muito tempo.
O Quarto Postulado é óbvio: o equilibrio necessário à satisfação concomitante
dos egos envolvidos na relação é tão precário
como o das colunas de Hércules.
O Quinto Postulado é lapidar: um bom amigo é um excelente substituto
para o psicólogo
e se há desgraçados que consultam psicólogos é porque não souberam fazer amigos
e só devem frequentar o consultório o tempo suficiente para aprender a fazê-los.
O Sexto é proverbial: os amigos não são para as ocasiões.
Apesar do Quinto Postulado, nenhuma amizade resiste a uma overdose
de utilitarismo.
Podes embebedar-te todas as noites com o mesmo amigo.
Podes telefonar-lhe todos os dias, com uma anedota nova.
Podes viver com ele, trabalhar com ele, ir às putas com ele,
Podes infectar a vida dele com as tuas manias, os teus desejos, os teus gostos, mas
não deves abusar dos queixumes e das solicitações,
dos monólogos e das vaidades,
das preocupações e das falências,
dos medos e das angústias, afinal, nunca te esqueças:
tu existes para que o teu amigo se sinta bem com ele próprio (Segundo Postulado)
e como é que um amigo consegue fazer isso perante a tua constante
choradeira?
O Sétimo Postulado é um anexo do Sexto:
nunca peças dinheiro emprestado a um amigo. Os bancos estão lá precisamente
para te salvar dessa catástrofe.
O dinheiro, como o sexo, é um corpo cancerígeno no organismo da amizade.
Enquanto estás a dever dinheiro a um amigo, a amizade fica em suspenso.
E depois de lhe teres pago, nada vai ser como dantes, porque ele, num certo dia,
emprestou-te x.
Porque tu, num certo dia,
lhe pediste y.
De certa forma, pedir dinheiro a um amigo é como
abrir o motor de um automóvel:
sai sempre mais caro do que se está à espera.
O Oitavo Postulado é o reflexo do Sétimo:
Nunca emprestes dinheiro a um amigo. No máximo dos máximos, recomenda-lhe
um agiota.
Quando emprestas dinheiro a um amigo e ele te paga,
nunca vai reconhecer que de qualquer forma tu o ajudaste ou, ao contrário,
vai manifestar constantemente a sua gratidão
com acrescidas solicitações fiduciárias.
Não há amigo mais pedinchas que aquele orgulhoso por pagar a tempo e horas.
O amigo que não paga, ao menos, terá um vestígio de vergonha por não te ter pago
e assim, a possibilidade de te voltar a pedir dinheiro emprestado é reduzida.
Neste caso, porém, ficarás numa situação muito difícil:
se reclamas o dinheiro que lhe emprestaste, estarás a submetê-lo
a uma dose de humilhação absolutamente interdita
(conforme os Segundo e Quarto postulados)
e a submeter-te a ti próprio à calúnia: ofendido na sua sensibilidade de vigarista,
o teu amigo envenará a opinião pública com acusações de mesquinhez e avarice.
Mas se fazes de conta que não foste espoliado, aumentarás drasticamente
a possibilidade de novos pedidos de empréstimo.
E um amigo que não paga à primeira, não vai pagar à segunda, não é?
Ainda por cima, é muito mais fácil recusar um empréstimo logo à primeira tentativa.
Se emprestares agora e te recusares depois, o teu amigo vai sentir essa negativa
como uma inversão do trend afectivo que até aí vos unia. Ou pior ainda:
vai querer saber porque mudaste de estratégia!
O Nono Postulado diz assim: podes ir para a cama
com o parceiro sexual do teu amigo,
mas nunca por nunca lhe digas a verdade.
Mesmo que o teu amigo saiba perfeitamente que o encornaste à grande,
não há conversa, não há confissão, não há arrependimento expresso
nem vergonha assumida
que te salve do ódio e que o compense da humilhação.
Se queres manter a amizade, fica caladinho.
O Décimo Postulado avisa: sempre que ouvires alguém dizer
que o homem é um ser eminentemente social, desconfia.
Deve ser alguém que está desesperado por fazer amigos
e se há alguém no mundo que não serve para ser teu amigo - acredita -
é exactamente o infeliz que precisa disso como ninguém.
O Décimo Primeiro Postulado é terminal:
se pensas que a amizade te vai salvar do horror da vida
estás redondamente enganado.
Como tudo o resto na miserável existência a que foste condenado pelos deuses,
a amizade é uma abundante fonte de frustações, problemas e agonias.
Quando esperares lealdade, serás traído;
quando contares com a tolerância, serás julgado;
quando precisares de companhia, serás abandonado e
quando exigires a verdade, serás iludido.
O Décimo Segundo Postulado é de uma exigência atroz:
se não deres o teu máximo, se não te entregares completamente,
se não ofereceres, de mão beijada, tudo o que tens de melhor
àquele outro que é objecto do teu desejo fraterno
nunca saberás o que é um amigo a sério,
nunca irás experimentar o doce e grato prazer da amizade incondicional,
intensa, calorosa, generosa, épica,
aquele género onírico, utópico e contrafactual de amizade que, na verdade,
só existe na tua mente delirante.
A amizade é absolutamente contraproducente
e este é o Décimo Terceiro e último Postulado.
muitos mais amigos terei até morrer, na proporção das guerras que o futuro guarda
para o velho continente.
Sei de amizade como poucos.
Sou um especialista e só não faço carreira académica desta erudição
porque não há nas academias um douto que saiba o suficiente sobre a amizade
para perceber que eu sei o que sei.
A amizade não é substância lírica e é difícil
escrever um poema belo,
um poema imortal e definitivo com tudo o que há para dizer.
O primeiro postulado que me ocorre
não é belo e muito menos lírico:
a amizade entre dois seres de sexo diferente é um mito.
Maricas e fufas à parte (não me atrevo a teorizar contextos étnicos),
a amizade entre dois seres do mesmo sexo é a única possível
porque um amigo não pode ser alguém a quem faças um broche e
há sempre sexo entre duas pessoas de sexo diferente,
mesmo quando essas duas pessoas não se querem sexualmente:
A negação da possibilidade de sexo é sexual como tudo.
O segundo postulado ainda é mais deprimente:
A amizade é uma abstração e não sobrevive à realidade impositiva
do ego.
É uma força vital enquanto motriz do amor próprio.
Sou amigo de Beltrano porque ele tem para mim uma qualidade rara:
a de me fazer sentir bem comigo.
Ou de outra maneira:a de me fazer sentir bem comigo.
Gosto mais de mim por ser amigo de Cicrano.
Decorre daqui um terrível Terceiro Postulado:
quanto mais apaixonada é uma determinada amizade,
mais volátil é a sua breve história.
Como a paixão romântica, o encantamento fraterno é de curta duração
- convenhamos, ninguém consegue fazer com que eu goste de mim por muito tempo.
O Quarto Postulado é óbvio: o equilibrio necessário à satisfação concomitante
dos egos envolvidos na relação é tão precário
como o das colunas de Hércules.
O Quinto Postulado é lapidar: um bom amigo é um excelente substituto
para o psicólogo
e se há desgraçados que consultam psicólogos é porque não souberam fazer amigos
e só devem frequentar o consultório o tempo suficiente para aprender a fazê-los.
O Sexto é proverbial: os amigos não são para as ocasiões.
Apesar do Quinto Postulado, nenhuma amizade resiste a uma overdose
de utilitarismo.
Podes embebedar-te todas as noites com o mesmo amigo.
Podes telefonar-lhe todos os dias, com uma anedota nova.
Podes viver com ele, trabalhar com ele, ir às putas com ele,
Podes infectar a vida dele com as tuas manias, os teus desejos, os teus gostos, mas
não deves abusar dos queixumes e das solicitações,
dos monólogos e das vaidades,
das preocupações e das falências,
dos medos e das angústias, afinal, nunca te esqueças:
tu existes para que o teu amigo se sinta bem com ele próprio (Segundo Postulado)
e como é que um amigo consegue fazer isso perante a tua constante
choradeira?
O Sétimo Postulado é um anexo do Sexto:
nunca peças dinheiro emprestado a um amigo. Os bancos estão lá precisamente
para te salvar dessa catástrofe.
O dinheiro, como o sexo, é um corpo cancerígeno no organismo da amizade.
Enquanto estás a dever dinheiro a um amigo, a amizade fica em suspenso.
E depois de lhe teres pago, nada vai ser como dantes, porque ele, num certo dia,
emprestou-te x.
Porque tu, num certo dia,
lhe pediste y.
De certa forma, pedir dinheiro a um amigo é como
abrir o motor de um automóvel:
sai sempre mais caro do que se está à espera.
O Oitavo Postulado é o reflexo do Sétimo:
Nunca emprestes dinheiro a um amigo. No máximo dos máximos, recomenda-lhe
um agiota.
Quando emprestas dinheiro a um amigo e ele te paga,
nunca vai reconhecer que de qualquer forma tu o ajudaste ou, ao contrário,
vai manifestar constantemente a sua gratidão
com acrescidas solicitações fiduciárias.
Não há amigo mais pedinchas que aquele orgulhoso por pagar a tempo e horas.
O amigo que não paga, ao menos, terá um vestígio de vergonha por não te ter pago
e assim, a possibilidade de te voltar a pedir dinheiro emprestado é reduzida.
Neste caso, porém, ficarás numa situação muito difícil:
se reclamas o dinheiro que lhe emprestaste, estarás a submetê-lo
a uma dose de humilhação absolutamente interdita
(conforme os Segundo e Quarto postulados)
e a submeter-te a ti próprio à calúnia: ofendido na sua sensibilidade de vigarista,
o teu amigo envenará a opinião pública com acusações de mesquinhez e avarice.
Mas se fazes de conta que não foste espoliado, aumentarás drasticamente
a possibilidade de novos pedidos de empréstimo.
E um amigo que não paga à primeira, não vai pagar à segunda, não é?
Ainda por cima, é muito mais fácil recusar um empréstimo logo à primeira tentativa.
Se emprestares agora e te recusares depois, o teu amigo vai sentir essa negativa
como uma inversão do trend afectivo que até aí vos unia. Ou pior ainda:
vai querer saber porque mudaste de estratégia!
O Nono Postulado diz assim: podes ir para a cama
com o parceiro sexual do teu amigo,
mas nunca por nunca lhe digas a verdade.
Mesmo que o teu amigo saiba perfeitamente que o encornaste à grande,
não há conversa, não há confissão, não há arrependimento expresso
nem vergonha assumida
que te salve do ódio e que o compense da humilhação.
Se queres manter a amizade, fica caladinho.
O Décimo Postulado avisa: sempre que ouvires alguém dizer
que o homem é um ser eminentemente social, desconfia.
Deve ser alguém que está desesperado por fazer amigos
e se há alguém no mundo que não serve para ser teu amigo - acredita -
é exactamente o infeliz que precisa disso como ninguém.
O Décimo Primeiro Postulado é terminal:
se pensas que a amizade te vai salvar do horror da vida
estás redondamente enganado.
Como tudo o resto na miserável existência a que foste condenado pelos deuses,
a amizade é uma abundante fonte de frustações, problemas e agonias.
Quando esperares lealdade, serás traído;
quando contares com a tolerância, serás julgado;
quando precisares de companhia, serás abandonado e
quando exigires a verdade, serás iludido.
O Décimo Segundo Postulado é de uma exigência atroz:
se não deres o teu máximo, se não te entregares completamente,
se não ofereceres, de mão beijada, tudo o que tens de melhor
àquele outro que é objecto do teu desejo fraterno
nunca saberás o que é um amigo a sério,
nunca irás experimentar o doce e grato prazer da amizade incondicional,
intensa, calorosa, generosa, épica,
aquele género onírico, utópico e contrafactual de amizade que, na verdade,
só existe na tua mente delirante.
A amizade é absolutamente contraproducente
e este é o Décimo Terceiro e último Postulado.
segunda-feira, agosto 25, 2014
Tudo o que é preciso para fazer a guerra (Sécs. XI - XXI)
Mercenário escandinavo - Batalha de Hastings - 1066
Cavaleiro Cruzado - Cerco de Jerusalém - 1244
Arqueiro - Batalha de Agincourt - 1415
Mestre de Armas - Batalha de Bowsworth - 1485
Mosqueteiro - Batalha de Tilbury - 1588
Sentinela - Batalha de Malplaquet - 1709
Soldado Raso - Batalha de Waterloo - 1815
Fuzileiro - Batalha de Alma - 1854
Soldado Raso - Batalha de Somme - 1916
Cabo Pára-quedista - Batalha de Arnhem - 1944
Comando - Conflito das Maldivas - 1982
Sapador - Afeganistão - 2014
Thom Atkinson teve a excelente ideia de fotografar o equipamento dos soldados ingleses desde 1066 até aos dias de hoje. O resultado é uma espécie de ensaio sobre a etnografia da guerra.
À medida que as armas vão ficando mais leves, a quantidade de artigos aumenta. O soldado da batalha de Hastings não trazia consigo muito mais que as armas, o escudo e o capacete. O Sapador do Afeganistão até um ipad traz na mochila.
A progressiva necessidade de camuflagem é também evidente: as cores dos uniformes vão sendo cada vez menos garridas, de forma a proteger os soldados da crescente autonomia e precisão das armas de fogo.
O conjunto de fotos transcende a sua missão iconográfica: há aqui uma narrativa, uma história da guerra, um relato de horrores, um exercício de síntese sobre a natureza humana.
terça-feira, agosto 19, 2014
Relatório minoritário.
Juan Luis Ney Sotomayor, cirurgião integrado numa missão humanitária no Iraque, denuncia no El Mundo as boas práticas dos jihadistas do Estado Islâmico: a população civil vive num inferno de “matanças horríveis", decapitações públicas, fuzilamentos em massa e crucificação de “infiéis”. Mulheres e crianças são enterradas vivas e, em Mossul, os postes elétricos estão cheios de cabeças cortadas. “É o terror pelo terror”, relata o médico, acrescentando que o pior que podíamos imaginar “foi ultrapassado pela realidade”.
Sim, como sempre, a realidade supera a ficção, mas, perante a selvajaria mais absoluta e recordista, por onde andam os indignados das manifestações à porta das embaixadas? E a ONU, o que faz? E a União Europeia? E a NATO? Por muito que me desagrade dizer isto, parece que só a Administração Obama (que tem culpas no cartório) parece decidida a fazer alguma coisa. É inacreditável.
E vergonhoso.
Sim, como sempre, a realidade supera a ficção, mas, perante a selvajaria mais absoluta e recordista, por onde andam os indignados das manifestações à porta das embaixadas? E a ONU, o que faz? E a União Europeia? E a NATO? Por muito que me desagrade dizer isto, parece que só a Administração Obama (que tem culpas no cartório) parece decidida a fazer alguma coisa. É inacreditável.
E vergonhoso.
segunda-feira, agosto 18, 2014
domingo, agosto 17, 2014
Da Esquizofrenia: razões e contradições.
Enquanto no Iraque e na Síria os bons rapazes do Estado Islâmico se dedicam com brio e alegria a fuzilar civis a um ritmo orgíaco, há por toda a infeliz Europa quem vá incomodar os seguranças das embaixadas com paixões pela Palestina e ódios por Israel.
Este texto de João Marques de Almeida sintetiza perfeitamente as razões da esquizofrenia da esquerda europeia em relação ao conflito israelo-árabe: a simpatia pelos islamitas e o ódio aos israelitas é só mais uma maneira da combater os valores do Ocidente. Só faltam, na minha modesta opinião, as inacreditáveis contradições: é no mínimo estranho que a esquerda – mesmo que revolucionária – “simpatize” com organizações como o Hamas ou o ISIS. Afinal, estamos a falar de ultra-fanatizados fascistas de deus, conservadores e tradicionalistas impenitentes, homens de gatilho fácil que tratam as mulheres com a mais recordista desconsideração que se pode imaginar e que instalam sociedades fortemente hierarquizadas e brutalizadas, de inspiração medieval. Ora, os fundamentos laicos, humanistas, libertários, igualitaristas, pacifistas e progressistas – mesmo que insuportáveis – da esquerda contemporânea são dificilmente compatíveis com a barbárie islâmica, que é um horror completamente fora da escala. É impressionante como se deixam cair todos os edifícios filosóficos em nome da vantagem táctica. E é isto moral?
Este texto de João Marques de Almeida sintetiza perfeitamente as razões da esquizofrenia da esquerda europeia em relação ao conflito israelo-árabe: a simpatia pelos islamitas e o ódio aos israelitas é só mais uma maneira da combater os valores do Ocidente. Só faltam, na minha modesta opinião, as inacreditáveis contradições: é no mínimo estranho que a esquerda – mesmo que revolucionária – “simpatize” com organizações como o Hamas ou o ISIS. Afinal, estamos a falar de ultra-fanatizados fascistas de deus, conservadores e tradicionalistas impenitentes, homens de gatilho fácil que tratam as mulheres com a mais recordista desconsideração que se pode imaginar e que instalam sociedades fortemente hierarquizadas e brutalizadas, de inspiração medieval. Ora, os fundamentos laicos, humanistas, libertários, igualitaristas, pacifistas e progressistas – mesmo que insuportáveis – da esquerda contemporânea são dificilmente compatíveis com a barbárie islâmica, que é um horror completamente fora da escala. É impressionante como se deixam cair todos os edifícios filosóficos em nome da vantagem táctica. E é isto moral?
quinta-feira, agosto 14, 2014
O mapa dos filhos da puta.
Este é o sonho dos rapazes jihadistas do ISIS, responsáveis pela grande chacina que está, neste preciso momento, a ocorrer no Iraque (cortesia de Barak Obama): um simpático califado que se estende generosamente dos Himalais a Lisboa.
Se acham que o radicalismo islâmico não tem nada a ver connosco, portugueses, pensem outra vez. É que a ambição não é de agora. Desde o tempo dos Abássidas (750-1299 D.C) que o imperialismo islâmico projecta a Península Ibérica como um lebensraum.
É claro que, neste momento, este pesadelo fascista parece ridículo. Mas a história está carregada de pesadelos ridículos que, de repente, se transferiram para a porca realidade da vida. Principalmente quando não há lideranças capazes. Principalmente quando a cobardia, mascarada de pacifismo, reina sobre as mentalidades.
Uma coisa é certa: estes facínoras filhos da puta só vão parar quando forem parados. Enquanto puderem fazer merda, vão fazê-la da grossa.
O traidor patriota.
A Wired é uma revista espectacular, que tem sido referência constante neste blog, desde que este blog existe.
É, também e como convém, uma publicação perversa. Tenho mantido alguma tolerância com a perversidade da Wired porque me parece que o "cool" dos tempos tem que ter um bocadinho disso. Mas este último ataque de mau gosto e de mau senso fez-me uma insuportável comichão na espinha. A Wired quer convencer o seu público que Snowden é, na verdade, um patriota.
Hã?
Snowden é, na verdade, um traidor da pior espécie. Da espécie dos traidores que deviam ser sumariamente fuzilados. Snowden não ama o seu país, por amor de deus. Snowden é responsável directo pela falência de todo um sistema de recolha de informação que tinha como objectivo a segurança do seu país. Snowden é responsável directo pela morte de milhares de pessoas que sacrificavam e sacrificaram a sua vida para proteger os interesses dos Estados Unidos da América. Snowden é um vendido, é um crápula, é um imbecil, é um fraco, é um erro de casting, mas não é um patriota. E, o que é mais, nem sequer está arrependido. No seu arrepiante esquema moral, Snowden acha que está cheio de razão e que está a defender a Constituição dos Estados Unidos da América (!).
E a Wired deixa passar isto. Promove isto. É cúmplice disto. Vai ser, também e seguramente, um dia, vítima disto. E é bem feito. O problema é que todos seremos um dia vítimas desta horrorosa complacência perante o inimigo. E isso é que já não tem piada nenhuma.
Hã?
Snowden é, na verdade, um traidor da pior espécie. Da espécie dos traidores que deviam ser sumariamente fuzilados. Snowden não ama o seu país, por amor de deus. Snowden é responsável directo pela falência de todo um sistema de recolha de informação que tinha como objectivo a segurança do seu país. Snowden é responsável directo pela morte de milhares de pessoas que sacrificavam e sacrificaram a sua vida para proteger os interesses dos Estados Unidos da América. Snowden é um vendido, é um crápula, é um imbecil, é um fraco, é um erro de casting, mas não é um patriota. E, o que é mais, nem sequer está arrependido. No seu arrepiante esquema moral, Snowden acha que está cheio de razão e que está a defender a Constituição dos Estados Unidos da América (!).
E a Wired deixa passar isto. Promove isto. É cúmplice disto. Vai ser, também e seguramente, um dia, vítima disto. E é bem feito. O problema é que todos seremos um dia vítimas desta horrorosa complacência perante o inimigo. E isso é que já não tem piada nenhuma.
quarta-feira, agosto 13, 2014
Realidade e percepção.
As guerras na Síria e no Iraque estão a matar muito mais gente do que os conflitos na Faixa de Gaza e na Ucrânia. Mas as pesquisas do Google indicam que as pessoas se interessam mais pelo que se passa nos países onde morre menos gente. O fenómeno não deixa de ser preocupante e traduz de forma bem eloquente a manipulação política da opinião pública, bem como o estado global de desinformação a que chegámos.
Fonte: The Economist - Daily Chart - Comparing conflicts
domingo, agosto 10, 2014
sexta-feira, agosto 08, 2014
Declínio, queda e coma da civilização ocidental.
Após seis anos na Casa Branca e dois anos depois da vergonhosa retirarada militar do Iraque, Barak Obama conseguiu finalmente perceber com que espécie de inimigos é que estava a lidar. Agora já são bárbaros. Agora já são fanáticos. Agora já são genocidas. Agora que Obama pode gerir o caos com drones e black ops, agora que pode fazer a guerra por controlo remoto, à distância, sem sujar a mãos de sangue americano, já tem lucidez, já tem coragem. O que lhe continua a faltar é carácter.
Enquanto este lamentável líder do mundo livre abana a sua narrativa entre o teleponto da direita e o teleponto da esquerda, os islamitas vão chacinando os cristãos que restam no Iraque à velocidade de duas ou três tribos por dia. Obama teve pelo menos a decência de alertar para o facto, já que a União Europeia não parece nada preocupada com o assunto. É interessante - e deprimente, também - verificar como o processo de extinção da cristandade no Iraque não parece ter impacto no sistema político e mediático do velho continente. Está toda a gente demasiado preocupada com os muçulmanos da Palestina para que os cristãos do Iraque tenham uma pequena hipótese de sobrevivência.
É muito, muito triste o fim do Ocidente.
quarta-feira, agosto 06, 2014
domingo, agosto 03, 2014
Jornal de Letras | Janeiro/Julho 2014
A Conquista da Terra. A Nova História da Evolução Humana - Edward O. Wilson - Clube do Autor
Um dos mais aclamados professores de Harvard, autor de obras basilares da sociobiologia como "O Fogo de Prometeu", Wilson teoriza aqui sobre as origens genéticas e ambientais do comportamento social e sua influência determinante na evolução humana e no seu destino.
O extenso estudo de campo que Wilson desenvolveu com as formigas eusociais (organizadas em grupos pela divisão altruísta do trabalho), permite-lhe apresentar argumentos concludentes que sustentam a sua arrojada tese evolucionista: a selecção natural premeia a complexidade social, sendo esta determinante na equação da origem das espécies.
Uma obra de fundo, profundamente académica, mas que consegue ser também um excelente ensaio de divulgação científica.
"A eusociabilidade, foi uma das maiores inovações na história da vida. Criou superorganismos, o nível seguinte de complexidade biológica acima do nível dos organismos. É comparável no impacto ao da conquista da terra pelos animais anfíbios que respiravam o ar. É equivalente em importância à invenção do voo por insectos e vertebrados."
A Boca da Verdade - Lawrence Ferlinghetti - Edição do Autor e do Tradutor
Lawrence Ferlinghetti será, talvez, o mais inspirado dos poetas beatnick, mesmos se considerarmos a poesia do seu grande amigo Keroac. Não sou um fã natural desta geração, mas abro excepções, é claro e esta é uma delas. Trata-se de um magífico livrinho de poemas que comprei quando trabalhava na livraria Castil de Alvalade, lá pelos distantes anos de 1988 e 89. Está bastante gasto, porque eu repito bastante esta visita. Fica o meu poema preferido, que já aqui tinha deixado uma marca.
Para Onde Vão os Guarda-Chuvas? - AFonso Cruz - Alfaguara
Afonso Cruz é um géniozinho à solta. Este romance, mosaico orientalista onde o tempo não é um continuum, espécie de mil e uma noites ao contrário, tapete voador que faz rir e faz chorar e que nos redime dos dias de chuva, é a prova de que a literatura portuguesa tem poder para dar e vender. Apesar do folclore anti-americano do costume (o protagonista é um muçulmano que vê o seu filho morto por soldados americanos, como se no mundo islâmico precisassem de soldados estrangeiros para se matarem uns aos outros), apesar da simpatia que Afonso Cruz dedica à cultura islâmica e que, para mim, será sempre suspeita e desagradável, a verdade é que se trata de uma novela maravilha. Reparem bem neste excerto:
- A minha mãe, Sr. Elahi, interrogava-se para onde vão os guarda-chuvas. Sempre que ela saía à rua, perdia um. E durante toda a sua vida nunca encontrou nenhum. Para onde iriam os guarda-chuvas? Eu ouvia-a interrogar-se tantas vezes, que aquele mistério, tão insondável, teria de ser explicado. Quando era jovem pensei que haveria um país, talvez um monte sagrado, para onde iam os guarda-chuvas todos. E os pares perdidos de meias e de luvas. E a nossa infância e os nossos antepassados. E também os brinquedos de lata com que brincávamos. E os nossos amigos que desapareceram debaixo das bombas. Haveriam de estar todos num país distante, cheio de objectos perdidos. Então, nessa altura da minha vida, era ainda um adolescente, decidi ser padre. Precisava de saber para onde vão os guarda-chuvas.
– E já sabe? – perguntou Fazal Elahi.
– Não faço a mais pequena ideia, mas tenho fé de encontrar um dia a minha mãe, cheia de guarda-chuvas à sua volta.
Economia, Moral e Política - Vitor Bento - Relógio D'Água Editores, Fundação Francisco Manuel dos Santos
Em 2011, Vitor Bento publicava este opúsculo sobre o tema da moralidade e da política na economia. Três anos depois, na sequência do maior escândalo financeiro da história da Terceira República, é escolhido para dirigir os destinos do BES. A coincidência é a forma como Deus permanece anónimo.
O ensaio em si não consegue sair da esfera da previsibilidade e do politicamente correcto, mas é esclarecido no que diz respeito à relação epistemológica existente entre o ethos e a ciência económica, pertinente na análise que faz à influência da ciência política e crítico o que baste para com os agentes do mercado financeiro. A ideia de responsabilizar criminalmente os quadros de decisão e não apenas as empresas que os empregam parece-me, por exemplo, muy justa.
Contos Espantosos - Alexandre Dumas, Guy de Maupassant, Honoré de Balzac, Edgar Allan Poe - Rosto Editora
Breve colectânea de literatura fantástica do século XIX, em que se destaca, claro, o texto de Poe, que é uma notável elegia da vingança. Um livrinho simpático, para levar para a praia.
Agosto, 1914 - Alexander Soljenítsin - Publicações D. Quixote
Obra inacabada que retrata a desastrada e incauta invasão da Prússia pelos russos, no princípio da Primeira Grande Guerra, Agosto, 1914 é mais um grande romance de guerra para o glorioso espólio da literatura russa. E testemunho eloquente do grande talento de Soljenítsin para o formato épico.
A Identidade Cultural Europeia - Vasco Graça Moura - Relógio D'Água Editores, Fundação Francisco Manuel dos Santos
Uma das últimas obras escritas pelo grande vulto da cultura nacional, este ensaio procura e consegue condensar a essência da identidade ocidental. Vasco Graça Moura conduz o leitor pelo labirinto da cultura europeia com a erudição e a elegância que lhe são absolutamente naturais, demonstrando que os valores filosóficos, artísticos, político s e sociais que presidem à Europa do pós-guerra não são relativos nem insignificantes e assentam num processo de transcendência único na história da humanidade. Um tratado para sobreviver ao tempo.
Sobre o Café, o Tabaco e o Álcool - Honoré de Balzac - Padrões Culturais Editora
Mais interessante pela viagem aos costumes e às mentalidades do Século XIX do que propriamente sobre a opinião que o autor tem em relação aos temas a que se propõe, este ensaio de Balzac não deixa de ser divertido. Por exemplo, o autor conta que, depois de beber, na companhia de um amigo, dezassete garrafas de vinho (!), acaba por ficar mal disposto ao rematar a épica bebedeira com um charuto, partindo deste magnífica prova laboratorial para demonstrar os malefícios do tabaco.
Todo o texto está recheado de pseudo-ciência (mesmo segundo os critérios do tempo) e de conceitos espúrios, que Balzac utiliza para sustentar a ideia de que as três substâncias (na verdade são 4, porque o autor também acha que o chá é um perigo para a saúde pública) são altamente nocivas para o ser humano.
Enfim, um texto moderadamente cómico, e não mais que isso.
Os Portugueses Descobriram a Austrália? 100 Perguntas Sobre factos, Dúvidas e Curiosidades dos Descobrimentos - Paulo Jorge de Sousa Pinto - A Esfera dos Livros
Porque me foi recomendado por uma amigo cuja análise crítica e cultura livresca muito respeito, foi com alguma entusiasmo que peguei nesta espécie de perguntário. A desilusão foi enorme. Paulo Jorge de Sousa Pinto tem a intenção de desmistificar tudo, mesmo o que não é desmistificável, de tal forma que ficamos com a sensação de que os descobrimentos não passam de um mito urbano, inventado por uma seita de historiadores do Estado Novo. Mas o que é realmente lamentável nesta obra é o facto de não trazer realmente nada de novo para o património documental da gesta marítima, apesar da intenção iluminista. Muito porque o autor se esconde num relativismo miserável, sempre que a sua prosa - e muito contra a sua vontade - corre o risco de poder ser minimamente interessante. Dou só um exemplo: a resposta à pergunta nº 65, que dá o título ao livro, é esta: não sabemos se foram os portugueses que descobriram a Austrália mas, mesmo que tenham sido, conforme o mapeamento de um tal Godinho de Erédia e graças à gesta de Cristovão de Mendonça, isso não interessa nada, porque o facto não teve dimensão mediática nem histórica, nem foi oficializado. O que interessa é o facto histórico e o facto histórico diz-nos que o descobrimento oficial é o de 1606, com a chegada do holandês Willem Janszoon. Ora, se a questão é tão pouco pertinente, porque é que o autor decidiu pegar nela para título do seu livro? Jorge de Sousa Pinto chega a observar que, na verdade, nenhum Europeu descobriu a Austrália, porque alguns povos do pacífico já sabiam da existência deste território. Repare-se que, neste caso, o autor já não se importa que esse conhecimento não tenha um "facto histórico oficializado" que lhe dê validade. Só os europeus é que precisam de se sujeitar a isso. Os outros povos podem criar factos históricos à vontade, que não precisam de oficializar nada. Para que os seus livros deixem de ser uma enorme perda de tempo, Paulo Jorge de Sousa Pinto precisa de se aliviar um pouco do fardo do homem branco. Desconfio que isso será lago difícil para ele, pelo que este será para mim, um autor a evitar.
Eu, Borges. Imagens, Memórias, Diálogos - Maria Esther Vazquez - Editorial Labirinto
"Eu fui Homero. Em breve serei ninguém como Ulisses; em breve serei todos: estarei morto."
Jorge Luís Borges
Edição que regista as conversas que a jornalista Maria Esther encetou com o génio argentino, e com alguns dos seus amigos, Eu, Borges constituirá, para qualquer pessoa com gosto pela literatura, uma fonte inesgotável de prazer. Grandiloquente, omnisciente e encantador, Borges não tem medo do espelho e fala de si e dos outros com o à vontade dos imortais. Uma peça de culto.
O Império de Hitler. O Domínio Nazi na Europa Ocupada - Mark Mazower - Edições 70
Este é daqueles livros de História que constituem um verdadeiro desafio. Volumoso, tipografado para olhos de adolescente, angustiante, arrepiante, repleto de números deprimentes e ainda assim, uma experiência gratificante. É que estamos perante de um trabalho de pesquisa e tratamento de conteúdos de dimensões recordistas. Mazower traça, com mestria, rigor académico e inacreditável erudição, uma longa aguarela de horrores, num retrato lúcido da administração do império que, de repente, o estado nacional socialista tinha que governar, independentemente ou não, da gestão do esforço de guerra.
Uma das grandes contradições da praxis administrativa nazi que atravessa estas páginas é precisamente a que decorre no leste da Europa: entre a imperativa e radical implementação das políticas raciais (leia-se, extermínio de judeus, polacos, russos, homossexuais, ciganos etc.), acerrimamente defendida por Hitler e Himmler, e a necessidade de mão de obra escrava para alimentar a indústria militar, bem como da manutenção de alguma boa vontade das populações conquistadas, constantemente apregoadas pelos estrategas de Wehrmacht e pelos arquitectos da burocracia imperial, como Rosenberg e Speer, há um conflito decisivo. No triunfo último do fanatismo racial, encontram-se muitas das razões para a derrocada alemã na frente russa.
A importância dada à raça continha até, dentro do seu próprio racioncínio, motivos de falência técnica: os alemães quiseram germanizar completamente alguns dos territórios conquistados aos polacos e aos checos (e que lhes tinham sido retirados no Tratado de Versalhes), mas o seu critério racial era de tal forma exclusivista, que nunca conseguiram dar consistência demográfica ao sonho de recolonização ariana.
Outra das milhares de análises pertinentes que este livro encerra, é a de que nem todo o extermínio étnico se deveu directamente ao delírio alemão. Em França, na Ucrânia, na Checoslováquia, na Roménia e na Grécia, os locais não precisaram das SS para levar a cabo perseguições e chacinas de generosa dimensão. Principalmente no Leste, não foi necessário muito mais que rédea solta para que se começassem a matar todos uns aos outros.
No seu todo, a obra descobre ainda uma faceta que não costumamos associar aos alemães: a incompetência. Os territórios foram mal geridos, as suas potencialidades económicas foram subaproveitadas, nunca houve uma filosofia de administração consistente, não há registo de uma ideia para a Europa, um conceito de civilização para o império; nada. Apenas uma lógica de violência nacionalista.
Prémio LA Times para o melhor livro de História de 2008.
Os Nús e os Mortos - Norman Mailer - D. Quixote
“The natural role of the twentieth-century man is anxiety.”
Norman Mayler | The Naked and the Dead
O romance nú e crú que pôs a América a pensar duas vezes sobre o entusiasmo com que entregava os seus filhos ao horror da guerra é uma obra-prima, talvez a única, de Norman Mailer. Retratando a tomada da ilha de Anopopei, nas Filipinas, o livro não tem mais que cinquenta páginas dedicadas à acção de combate, mas é devastador. Os personagens vivem mergulhados num inferno indescritível, entre os rigores da selva equatorial e o desespero da condição humana. Odeiam-se furiosamente e odeiam a criação.
A obra, que é um ponto de convergência entre Dos Passos e Tolstoi, integra para cima de 16 personagens principais e os seus labirínticos e abissais diálogos interiores cheguam a ser excruciantes. A leitura deste livro é simultaneamente dolorosa e prazerosa.
Mailer escreveu esta novela espantosa, visceral e aterradora com 25 anos, logo depois de ter voltado do Pacífico, onde cumpriu serviço militar durante a II Grande Guerra, embora nunca tenha disparado um tiro. Ainda assim, há muita verdade nestas páginas angustiadas.
Enciclopédia da Estória Universal. Recolha de Alexandria - AFonso Cruz - Alfaguara
Este projecto de Afonso Cruz, de inspiração completamente Borgiana, é uma jóia incontornável no actual panorama editorial. A enciclopédia tem já 3 volumes editados e esta Recolha de Alexandria é simplesmente um deleite. Principalmente para quem gosta de Borges. Só a bibliografia é uma coisa notável, que cruza referências milenares e reais com autores fictícios e obras imaginadas. As entradas da Enciclopédia são um verdadeiro labirinto de registos e estórias e citações, onde a filosofia, a religião e a literatura encontram um único caminho de saída. Algumas pérolas:
"A maldição de Babel não foi os homens desentenderem-se por falarem línguas diferentes, mas sim desentenderem-se falando a mesma língua."
Dovev RozenKrantz
" O ócio não é o contrário de trabalho.
A felicidade é que é o contrário de trabalho."
Marian Bibin
"Imagine-se um hotel com quartos infinitos. Um dia, chega uma excursão de infinitos excursionistas. O recepcionista coloca cada pessoa em cada quarto. Mas no dia seguinte (porque é Agosto no Sul de Espanha) chega mais uma excursão de infinitos turistas. O recepcionista fica baralhado, mas há várias soluções simples, esta é uma delas: os turistas infinitos da primeira excursão ficam nos quartos pares e os da segunda excursão nos quartos ímpares. Assim, caberiam pelo menos dois infinitos no mesmo hotel."
Arseny Bobrov, Extracção Craniana da Arte
Um dos mais aclamados professores de Harvard, autor de obras basilares da sociobiologia como "O Fogo de Prometeu", Wilson teoriza aqui sobre as origens genéticas e ambientais do comportamento social e sua influência determinante na evolução humana e no seu destino.
O extenso estudo de campo que Wilson desenvolveu com as formigas eusociais (organizadas em grupos pela divisão altruísta do trabalho), permite-lhe apresentar argumentos concludentes que sustentam a sua arrojada tese evolucionista: a selecção natural premeia a complexidade social, sendo esta determinante na equação da origem das espécies.
Uma obra de fundo, profundamente académica, mas que consegue ser também um excelente ensaio de divulgação científica.
"A eusociabilidade, foi uma das maiores inovações na história da vida. Criou superorganismos, o nível seguinte de complexidade biológica acima do nível dos organismos. É comparável no impacto ao da conquista da terra pelos animais anfíbios que respiravam o ar. É equivalente em importância à invenção do voo por insectos e vertebrados."
A Boca da Verdade - Lawrence Ferlinghetti - Edição do Autor e do Tradutor
Lawrence Ferlinghetti será, talvez, o mais inspirado dos poetas beatnick, mesmos se considerarmos a poesia do seu grande amigo Keroac. Não sou um fã natural desta geração, mas abro excepções, é claro e esta é uma delas. Trata-se de um magífico livrinho de poemas que comprei quando trabalhava na livraria Castil de Alvalade, lá pelos distantes anos de 1988 e 89. Está bastante gasto, porque eu repito bastante esta visita. Fica o meu poema preferido, que já aqui tinha deixado uma marca.
I Am Waiting
I am waiting for my case to come up
and I am waiting
for a rebirth of wonder
and I am waiting for someone
to really discover America
and wail
and I am waiting
for the discovery
of a new symbolic western frontier
and I am waiting
for the American Eagle
to really spread its wings
and straighten up and fly right
and I am waiting
for the Age of Anxiety
to drop dead
and I am waiting
for the war to be fought
which will make the world safe
for anarchy
and I am waiting
for the final withering away
of all governments
and I am perpetually awaiting
a rebirth of wonder
I am waiting for the Second Coming
and I am waiting
for a religious revival
to sweep thru the state of Arizona
and I am waiting
for the Grapes of Wrath to be stored
and I am waiting
for them to prove
that God is really American
and I am waiting
to see God on television
piped onto church altars
if only they can find
the right channel
to tune in on
and I am waiting
for the Last Supper to be served again
with a strange new appetizer
and I am perpetually awaiting
a rebirth of wonder
I am waiting for my number to be called
and I am waiting
for the Salvation Army to take over
and I am waiting
for the meek to be blessed
and inherit the earth
without taxes
and I am waiting
for forests and animals
to reclaim the earth as theirs
and I am waiting
for a way to be devised
to destroy all nationalisms
without killing anybody
and I am waiting
for linnets and planets to fall like rain
and I am waiting for lovers and weepers
to lie down together again
in a new rebirth of wonder
I am waiting for the Great Divide to be crossed
and I am anxiously waiting
for the secret of eternal life to be discovered
by an obscure general practitioner
and I am waiting
for the storms of life
to be over
and I am waiting
to set sail for happiness
and I am waiting
for a reconstructed Mayflower
to reach America
with its picture story and tv rights
sold in advance to the natives
and I am waiting
for the lost music to sound again
in the Lost Continent
in a new rebirth of wonder
I am waiting for the day
that maketh all things clear
and I am awaiting retribution
for what America did
to Tom Sawyer
and I am waiting
for Alice in Wonderland
to retransmit to me
her total dream of innocence
and I am waiting
for Childe Roland to come
to the final darkest tower
and I am waiting
for Aphrodite
to grow live arms
at a final disarmament conference
in a new rebirth of wonder
I am waiting
to get some intimations
of immortality
by recollecting my early childhood
and I am waiting
for the green mornings to come again
youth’s dumb green fields come back again
and I am waiting
for some strains of unpremeditated art
to shake my typewriter
and I am waiting to write
the great indelible poem
and I am waiting
for the last long careless rapture
and I am perpetually waiting
for the fleeing lovers on the Grecian Urn
to catch each other up at last
and embrace
and I am awaiting
perpetually and forever
a renaissance of wonder
Para Onde Vão os Guarda-Chuvas? - AFonso Cruz - Alfaguara
Afonso Cruz é um géniozinho à solta. Este romance, mosaico orientalista onde o tempo não é um continuum, espécie de mil e uma noites ao contrário, tapete voador que faz rir e faz chorar e que nos redime dos dias de chuva, é a prova de que a literatura portuguesa tem poder para dar e vender. Apesar do folclore anti-americano do costume (o protagonista é um muçulmano que vê o seu filho morto por soldados americanos, como se no mundo islâmico precisassem de soldados estrangeiros para se matarem uns aos outros), apesar da simpatia que Afonso Cruz dedica à cultura islâmica e que, para mim, será sempre suspeita e desagradável, a verdade é que se trata de uma novela maravilha. Reparem bem neste excerto:
- A minha mãe, Sr. Elahi, interrogava-se para onde vão os guarda-chuvas. Sempre que ela saía à rua, perdia um. E durante toda a sua vida nunca encontrou nenhum. Para onde iriam os guarda-chuvas? Eu ouvia-a interrogar-se tantas vezes, que aquele mistério, tão insondável, teria de ser explicado. Quando era jovem pensei que haveria um país, talvez um monte sagrado, para onde iam os guarda-chuvas todos. E os pares perdidos de meias e de luvas. E a nossa infância e os nossos antepassados. E também os brinquedos de lata com que brincávamos. E os nossos amigos que desapareceram debaixo das bombas. Haveriam de estar todos num país distante, cheio de objectos perdidos. Então, nessa altura da minha vida, era ainda um adolescente, decidi ser padre. Precisava de saber para onde vão os guarda-chuvas.
– E já sabe? – perguntou Fazal Elahi.
– Não faço a mais pequena ideia, mas tenho fé de encontrar um dia a minha mãe, cheia de guarda-chuvas à sua volta.
Economia, Moral e Política - Vitor Bento - Relógio D'Água Editores, Fundação Francisco Manuel dos Santos
Em 2011, Vitor Bento publicava este opúsculo sobre o tema da moralidade e da política na economia. Três anos depois, na sequência do maior escândalo financeiro da história da Terceira República, é escolhido para dirigir os destinos do BES. A coincidência é a forma como Deus permanece anónimo.
O ensaio em si não consegue sair da esfera da previsibilidade e do politicamente correcto, mas é esclarecido no que diz respeito à relação epistemológica existente entre o ethos e a ciência económica, pertinente na análise que faz à influência da ciência política e crítico o que baste para com os agentes do mercado financeiro. A ideia de responsabilizar criminalmente os quadros de decisão e não apenas as empresas que os empregam parece-me, por exemplo, muy justa.
Contos Espantosos - Alexandre Dumas, Guy de Maupassant, Honoré de Balzac, Edgar Allan Poe - Rosto Editora
Breve colectânea de literatura fantástica do século XIX, em que se destaca, claro, o texto de Poe, que é uma notável elegia da vingança. Um livrinho simpático, para levar para a praia.
Agosto, 1914 - Alexander Soljenítsin - Publicações D. Quixote
Obra inacabada que retrata a desastrada e incauta invasão da Prússia pelos russos, no princípio da Primeira Grande Guerra, Agosto, 1914 é mais um grande romance de guerra para o glorioso espólio da literatura russa. E testemunho eloquente do grande talento de Soljenítsin para o formato épico.
A Identidade Cultural Europeia - Vasco Graça Moura - Relógio D'Água Editores, Fundação Francisco Manuel dos Santos
Uma das últimas obras escritas pelo grande vulto da cultura nacional, este ensaio procura e consegue condensar a essência da identidade ocidental. Vasco Graça Moura conduz o leitor pelo labirinto da cultura europeia com a erudição e a elegância que lhe são absolutamente naturais, demonstrando que os valores filosóficos, artísticos, político s e sociais que presidem à Europa do pós-guerra não são relativos nem insignificantes e assentam num processo de transcendência único na história da humanidade. Um tratado para sobreviver ao tempo.
Sobre o Café, o Tabaco e o Álcool - Honoré de Balzac - Padrões Culturais Editora
Mais interessante pela viagem aos costumes e às mentalidades do Século XIX do que propriamente sobre a opinião que o autor tem em relação aos temas a que se propõe, este ensaio de Balzac não deixa de ser divertido. Por exemplo, o autor conta que, depois de beber, na companhia de um amigo, dezassete garrafas de vinho (!), acaba por ficar mal disposto ao rematar a épica bebedeira com um charuto, partindo deste magnífica prova laboratorial para demonstrar os malefícios do tabaco.
Todo o texto está recheado de pseudo-ciência (mesmo segundo os critérios do tempo) e de conceitos espúrios, que Balzac utiliza para sustentar a ideia de que as três substâncias (na verdade são 4, porque o autor também acha que o chá é um perigo para a saúde pública) são altamente nocivas para o ser humano.
Enfim, um texto moderadamente cómico, e não mais que isso.
Os Portugueses Descobriram a Austrália? 100 Perguntas Sobre factos, Dúvidas e Curiosidades dos Descobrimentos - Paulo Jorge de Sousa Pinto - A Esfera dos Livros
Porque me foi recomendado por uma amigo cuja análise crítica e cultura livresca muito respeito, foi com alguma entusiasmo que peguei nesta espécie de perguntário. A desilusão foi enorme. Paulo Jorge de Sousa Pinto tem a intenção de desmistificar tudo, mesmo o que não é desmistificável, de tal forma que ficamos com a sensação de que os descobrimentos não passam de um mito urbano, inventado por uma seita de historiadores do Estado Novo. Mas o que é realmente lamentável nesta obra é o facto de não trazer realmente nada de novo para o património documental da gesta marítima, apesar da intenção iluminista. Muito porque o autor se esconde num relativismo miserável, sempre que a sua prosa - e muito contra a sua vontade - corre o risco de poder ser minimamente interessante. Dou só um exemplo: a resposta à pergunta nº 65, que dá o título ao livro, é esta: não sabemos se foram os portugueses que descobriram a Austrália mas, mesmo que tenham sido, conforme o mapeamento de um tal Godinho de Erédia e graças à gesta de Cristovão de Mendonça, isso não interessa nada, porque o facto não teve dimensão mediática nem histórica, nem foi oficializado. O que interessa é o facto histórico e o facto histórico diz-nos que o descobrimento oficial é o de 1606, com a chegada do holandês Willem Janszoon. Ora, se a questão é tão pouco pertinente, porque é que o autor decidiu pegar nela para título do seu livro? Jorge de Sousa Pinto chega a observar que, na verdade, nenhum Europeu descobriu a Austrália, porque alguns povos do pacífico já sabiam da existência deste território. Repare-se que, neste caso, o autor já não se importa que esse conhecimento não tenha um "facto histórico oficializado" que lhe dê validade. Só os europeus é que precisam de se sujeitar a isso. Os outros povos podem criar factos históricos à vontade, que não precisam de oficializar nada. Para que os seus livros deixem de ser uma enorme perda de tempo, Paulo Jorge de Sousa Pinto precisa de se aliviar um pouco do fardo do homem branco. Desconfio que isso será lago difícil para ele, pelo que este será para mim, um autor a evitar.
Eu, Borges. Imagens, Memórias, Diálogos - Maria Esther Vazquez - Editorial Labirinto
"Eu fui Homero. Em breve serei ninguém como Ulisses; em breve serei todos: estarei morto."
Jorge Luís Borges
Edição que regista as conversas que a jornalista Maria Esther encetou com o génio argentino, e com alguns dos seus amigos, Eu, Borges constituirá, para qualquer pessoa com gosto pela literatura, uma fonte inesgotável de prazer. Grandiloquente, omnisciente e encantador, Borges não tem medo do espelho e fala de si e dos outros com o à vontade dos imortais. Uma peça de culto.
O Império de Hitler. O Domínio Nazi na Europa Ocupada - Mark Mazower - Edições 70
Este é daqueles livros de História que constituem um verdadeiro desafio. Volumoso, tipografado para olhos de adolescente, angustiante, arrepiante, repleto de números deprimentes e ainda assim, uma experiência gratificante. É que estamos perante de um trabalho de pesquisa e tratamento de conteúdos de dimensões recordistas. Mazower traça, com mestria, rigor académico e inacreditável erudição, uma longa aguarela de horrores, num retrato lúcido da administração do império que, de repente, o estado nacional socialista tinha que governar, independentemente ou não, da gestão do esforço de guerra.
Uma das grandes contradições da praxis administrativa nazi que atravessa estas páginas é precisamente a que decorre no leste da Europa: entre a imperativa e radical implementação das políticas raciais (leia-se, extermínio de judeus, polacos, russos, homossexuais, ciganos etc.), acerrimamente defendida por Hitler e Himmler, e a necessidade de mão de obra escrava para alimentar a indústria militar, bem como da manutenção de alguma boa vontade das populações conquistadas, constantemente apregoadas pelos estrategas de Wehrmacht e pelos arquitectos da burocracia imperial, como Rosenberg e Speer, há um conflito decisivo. No triunfo último do fanatismo racial, encontram-se muitas das razões para a derrocada alemã na frente russa.
A importância dada à raça continha até, dentro do seu próprio racioncínio, motivos de falência técnica: os alemães quiseram germanizar completamente alguns dos territórios conquistados aos polacos e aos checos (e que lhes tinham sido retirados no Tratado de Versalhes), mas o seu critério racial era de tal forma exclusivista, que nunca conseguiram dar consistência demográfica ao sonho de recolonização ariana.
Outra das milhares de análises pertinentes que este livro encerra, é a de que nem todo o extermínio étnico se deveu directamente ao delírio alemão. Em França, na Ucrânia, na Checoslováquia, na Roménia e na Grécia, os locais não precisaram das SS para levar a cabo perseguições e chacinas de generosa dimensão. Principalmente no Leste, não foi necessário muito mais que rédea solta para que se começassem a matar todos uns aos outros.
No seu todo, a obra descobre ainda uma faceta que não costumamos associar aos alemães: a incompetência. Os territórios foram mal geridos, as suas potencialidades económicas foram subaproveitadas, nunca houve uma filosofia de administração consistente, não há registo de uma ideia para a Europa, um conceito de civilização para o império; nada. Apenas uma lógica de violência nacionalista.
Prémio LA Times para o melhor livro de História de 2008.
Os Nús e os Mortos - Norman Mailer - D. Quixote
“The natural role of the twentieth-century man is anxiety.”
Norman Mayler | The Naked and the Dead
O romance nú e crú que pôs a América a pensar duas vezes sobre o entusiasmo com que entregava os seus filhos ao horror da guerra é uma obra-prima, talvez a única, de Norman Mailer. Retratando a tomada da ilha de Anopopei, nas Filipinas, o livro não tem mais que cinquenta páginas dedicadas à acção de combate, mas é devastador. Os personagens vivem mergulhados num inferno indescritível, entre os rigores da selva equatorial e o desespero da condição humana. Odeiam-se furiosamente e odeiam a criação.
A obra, que é um ponto de convergência entre Dos Passos e Tolstoi, integra para cima de 16 personagens principais e os seus labirínticos e abissais diálogos interiores cheguam a ser excruciantes. A leitura deste livro é simultaneamente dolorosa e prazerosa.
Mailer escreveu esta novela espantosa, visceral e aterradora com 25 anos, logo depois de ter voltado do Pacífico, onde cumpriu serviço militar durante a II Grande Guerra, embora nunca tenha disparado um tiro. Ainda assim, há muita verdade nestas páginas angustiadas.
Enciclopédia da Estória Universal. Recolha de Alexandria - AFonso Cruz - Alfaguara
Este projecto de Afonso Cruz, de inspiração completamente Borgiana, é uma jóia incontornável no actual panorama editorial. A enciclopédia tem já 3 volumes editados e esta Recolha de Alexandria é simplesmente um deleite. Principalmente para quem gosta de Borges. Só a bibliografia é uma coisa notável, que cruza referências milenares e reais com autores fictícios e obras imaginadas. As entradas da Enciclopédia são um verdadeiro labirinto de registos e estórias e citações, onde a filosofia, a religião e a literatura encontram um único caminho de saída. Algumas pérolas:
"A maldição de Babel não foi os homens desentenderem-se por falarem línguas diferentes, mas sim desentenderem-se falando a mesma língua."
Dovev RozenKrantz
" O ócio não é o contrário de trabalho.
A felicidade é que é o contrário de trabalho."
Marian Bibin
"Imagine-se um hotel com quartos infinitos. Um dia, chega uma excursão de infinitos excursionistas. O recepcionista coloca cada pessoa em cada quarto. Mas no dia seguinte (porque é Agosto no Sul de Espanha) chega mais uma excursão de infinitos turistas. O recepcionista fica baralhado, mas há várias soluções simples, esta é uma delas: os turistas infinitos da primeira excursão ficam nos quartos pares e os da segunda excursão nos quartos ímpares. Assim, caberiam pelo menos dois infinitos no mesmo hotel."
Arseny Bobrov, Extracção Craniana da Arte
sexta-feira, agosto 01, 2014
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