quinta-feira, maio 22, 2008
Morte aos feriados.
Estava eu aqui todo contente, numa unidade hoteleira perdida nos confins do Alentejo, a tentar passar uns dias em paz e sossego, quando chega o feriado (um feriado de utilidade misteriosa e causa incógnita) e com o feriado chega a confusão. Chega a classe média com tatuagens e crianças e roupas de feira e má educação e doenças de pele e automóveis de dez mil contos e o meter de conversa e o fim da tranquilidade. Não há subida das taxas de juro, inflação, recessão, desemprego que convença estas alminhas a ficar em casa; não há desgraça económica que lhes imponha o pudor e o recato. Não há como gente para estragar o ambiente. Enfio-me no quarto e preparo o regresso a Lisboa.
Sobre os preços do petróleo.
I - O falso problema das existências
Ao contrário do que poderás pensar, caro leitor, não há falta de jazidas petrolíferas. O que há é acrescidas dificuldades técnicas (técnicas e não tecnológicas) em chegar lá. Primeiro porque as vastas quantidades de ouro negro que se encontram - inexploradas - no subsolo do planeta, estão localizadas a maiores profundidades, o que encarece o investimento inicial da exploração (embora esse custo, num mercado a funcionar normalmente, incidisse no preço do barril de forma apenas marginal).
Depois porque a praga ambientalista, hoje já institucionalizada pelos estados e pelas grandes corporações, levanta dificuldades legais à exploração na maior parte das zonas do globo onde estas jazidas são mais abundantes (o mesmo acontece com a criação de refinarias que suportem as necessidades do mercado). O problema da inexistência de reservas petrolíferas é, portanto, um falso problema.
II - O problema da produção
Faz a ti mesmo esta pergunta, caro leitor: se em cada ano produzisses dez quilos de batatas e por cada quilo ganhasses dez milhões de dólares, serias facilmente convencido a cultivares vinte quilos de batatas de forma a ganhares cinco milhões de dólares por quilo? Claro que não. Ora o mesmo se passa com os produtores de crude a nível mundial. A OPEP recusa-se naturalmente a aumentar a produção simplesmente porque esse aumento não seria um bom negócio. O actual preço do barril está a enriquecer as elites dos países produtores a níveis absolutamente obscenos e ninguém que esteja a ganhar com a situação vai fazer seja o que for para alterar o status quo.
Quando a OPE atribui a subida dos preços à especulação dos mercados financeiros (que de facto existe) está a manifestar um cinismo recordista: se houvesse mais petróleo no mercado, a especulação diminuiria. Mas se a especulação diminuisse, os produtores ganhariam menos dinheiro. É caso para dizer que é preciso ter lata.
III - O problema político
Acresce que a OPEP é uma organização de bandidos, originária, na maior parte dos casos, de algumas das mais infames e bárbaras nações do planeta. Repara, prezado leitor, na lista dos malfeitores: Angola, Argélia, Líbia, Nigéria, Venezuela, Equador, Indonésia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Irão, Iraque, Kuwait e Qatar. Tudo boa gente.
Os preços do petróleo estão a ser usados como uma arma contra o desenvolvimento das sociedades ocidentais e para controlo do poder e da riqueza por parte de oligarquias totalitárias, cujas estruturas regimentais são inspiradas em modelos muito próximos da idade média europeia. Os povos miseráveis destes países, claro, não verão nunca um tostão destas fortunas incalculáveis.
IV - O problema do modelo económico-industrial
É muito bonito e telegénico dizer que é necessário mudar o modelo energético, mas não te deixes enganar pela retórica fala-barateira. A dependência económica do petróleo não é uma teimosia irracional dos grandes capitalistas do ocidente, criminosos ambientais e outras personalidades imaginárias, caras à propaganda dos Blocos de Esquerda europeus.
As chamadas energias renováveis não têm capacidade instalada, nem vão ter nos próximos anos, para fazer face à procura actual e à tendência de aumento exponencial dessa procura. Os biocombustíveis, a serem massificados, elevariam os preços dos cereais para a alimentação a níveis que provocariam fomes inauditas e a "combustão" do hidrogénio, sendo de facto a única alternativa viável, reduziria as indústrias directa e indirectamente ligadas à produção e distribuição de combustíveis à insignificância económica, facto que provocaria certamente uma recessão de proporções nunca antes observadas. Não estou a ver a BP a investir num modelo energético que lhe reduziria as margens de negócio em 90%. O uso do hidrogénio como força energética viável teria assim que ser desenvolvido pelos estados (cenário de pesadelo), porque as empresas existem para enriquecer os seus accionistas. É muito simples.
Isto para não falar que um modelo energético "limpo" traria vagas de desemprego verdadeiramente devastadoras dos tecidos sociais a nível global.
V - Alegremente a caminho da guerra.
A OPEP vai roendo a corda à sua vontade, porque pode, enquanto o ocidente, sofrendo dos seus costumeiros e enjoativos problemas de consciência, paga caro nas estações de serviço e nos consultórios de psicanálise. Isto, claro, até certo ponto. A maior parte das grandes guerras da história universal da batatada começaram por motivos mais comezinhos dos que existem hoje para fazer uma e não é preciso ser um bandarra com doutoramento em Delfos para perceber que, depois de chegarmos aos 200 dólares por barril, as coisas vão começar a ficar feias, com Obama ou sem Obama (já agora: deus nos livre do preto).
Ora, em vez de chegarmos a esse triste climax, talvez fosse esperto que os países compradores de petróleo agissem como clientes em vez de procederem como reféns. Para já, castigando os fornecedores de todas as maneiras possíveis: rompendo com acordos comerciais, ajudas humanitárias (que nunca chegam a quem precisa, de qualquer forma), pressionando diplomaticamente, ameaçando com embargos, cortando investimentos, etc., etc. A União Europeia, por exemplo, poderia muito bem, se fosse uma organização lúcida, criar um mecanismo comum de exploração de novas jazidas. Os americanos poderiam simplesmente utilizar a CIA para aquilo que a CIA devia servir e acertar um tirinho certeiro em dois ou três tipos exemplares, entre os quais destaco desde já o distinto senhor Chavez que está mesmo a pedi-las.
A coisa só vai ser resolvida com alguma violência e é preferível utilizá-la com destreza cirúrgica do que depois ter que recorrer a métodos que saem mais caro em vidas, em recursos e em pachorra.
VI - O problema português
Em Portugal o problema, por enquanto, é essencialmente fiscal, como aliás todos os grandes problemas económicos nacionais o são. Os sucessivos e desgraçados governos que temos tido, têm usado o petróleo como um instrumento de receita fiscal por excelência e agora pouco se pode fazer, a não ser que se desista do controlo das contas públicas, o que também seria mais ou menos calamitoso. Uma coisa é certa: não é a pagar 300 paus por um litro de gasóleo que a economia vai crescer. E se tudo o que Sócrates pode fazer é subsidiar os passes sociais (porque valem votos, claro está), estamos todos bem sodomizados.
terça-feira, maio 20, 2008
Estacionário.
Não ter nada que fazer, coisa rara e preciosa. Prémio dos deuses. Terra prometida.
Ficar a ouvir os pássaros e fazer o possível por descobrir um quantum de silêncio na tagarelice alada da planície.
Sentir o tempo, espesso, a escorrer por entre os dedos da alma e isso valer por uma década de cansaços.
Imobilizar o cérebro, desconectar os neurónios toxicodependentes da química do pensamento e libertar-me da consciência dos afazeres. O único afazer efectivo é o de suspender efectivamente a vida.
Não ter nada que fazer, ser livre da dinâmica dos deveres! Ser ignorante da entropia das obrigações! Estar à parte da azáfama dos imperativos, das premências, das necessidades, das solicitações. Ser supra numerário, marginal de taberna, desempregado, desperdiçado, inútil! Não há estética para além da estática nem ética que desvalorize a inutilidade. O que de melhor podemos fazer pelo mundo é absolutamente nada.
Não ter nada que fazer, quimera de príncipes! Ter vagar para atingir o nirvana da produção zero, consumindo apenas algum oxigénio, libertando somente um poucochinho de carbono - ser verdadeiramente ambientalista, ambientalista a doer como só um cadáver pode ser, isto é: no sentido translato. Ah, não me venham com encomendas, tarefas, desafios, procissões, campanhas, contratos, avenças, promessas para o futuro! O futuro que se dane, o futuro pode ir rebentar de infernos para o século quarenta e três, quero lá saber. Sim, quero lá saber! Não tenho filhos nem esperança. Não sonho acordado nem tenho tempo para aspirações de conselho ecuménico. Se o sol se apagar amanhã, dormirei mesmo assim virado para o meu melhor lado, quieto, calado, ressonando talvez uma oração ao altar sagrado da futilidade da vida. Se o petróleo subir aos 150 dólares, hei-de fazer mais ou menos os mesmos quilómetros curtos que me separam de lado nenhum. É verdade: não quero ir a lado nenhum em especial.
Ah, não ter nada que fazer! E voltar a lembrar-me de mim.
Ficar a ouvir os pássaros e fazer o possível por descobrir um quantum de silêncio na tagarelice alada da planície.
Sentir o tempo, espesso, a escorrer por entre os dedos da alma e isso valer por uma década de cansaços.
Imobilizar o cérebro, desconectar os neurónios toxicodependentes da química do pensamento e libertar-me da consciência dos afazeres. O único afazer efectivo é o de suspender efectivamente a vida.
Não ter nada que fazer, ser livre da dinâmica dos deveres! Ser ignorante da entropia das obrigações! Estar à parte da azáfama dos imperativos, das premências, das necessidades, das solicitações. Ser supra numerário, marginal de taberna, desempregado, desperdiçado, inútil! Não há estética para além da estática nem ética que desvalorize a inutilidade. O que de melhor podemos fazer pelo mundo é absolutamente nada.
Não ter nada que fazer, quimera de príncipes! Ter vagar para atingir o nirvana da produção zero, consumindo apenas algum oxigénio, libertando somente um poucochinho de carbono - ser verdadeiramente ambientalista, ambientalista a doer como só um cadáver pode ser, isto é: no sentido translato. Ah, não me venham com encomendas, tarefas, desafios, procissões, campanhas, contratos, avenças, promessas para o futuro! O futuro que se dane, o futuro pode ir rebentar de infernos para o século quarenta e três, quero lá saber. Sim, quero lá saber! Não tenho filhos nem esperança. Não sonho acordado nem tenho tempo para aspirações de conselho ecuménico. Se o sol se apagar amanhã, dormirei mesmo assim virado para o meu melhor lado, quieto, calado, ressonando talvez uma oração ao altar sagrado da futilidade da vida. Se o petróleo subir aos 150 dólares, hei-de fazer mais ou menos os mesmos quilómetros curtos que me separam de lado nenhum. É verdade: não quero ir a lado nenhum em especial.
Ah, não ter nada que fazer! E voltar a lembrar-me de mim.
segunda-feira, maio 19, 2008
Problema.
O recorde do mundo da corrida dos 100 metros baixou, num século, cerca de 1 segundo. Daqui a dez séculos, quanto tempo levará o recordista da especialidade a correr esta distância?
Uma criança de 7 anos sabe a resposta. O matemático profissional não faz a mais pequena ideia. Pois não?
Uma criança de 7 anos sabe a resposta. O matemático profissional não faz a mais pequena ideia. Pois não?
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