quarta-feira, fevereiro 25, 2009
O léxico da crueldade.
William Hogarth | The South Sea Bubble - an Allegory.
Hoje não estou num dia bom. Estou zangado com o mundo. Estou zangado comigo. Hoje, abri um email que me alertava para o desaparecimento de uma criança. Chama-se Raquel, tem 12 anos. É muito bonita. E desapareceu. Vivia em Benfica e tem um olhar meigo, que se vê claramente na foto que recebi, junto com um texto de fazer chorar. Quis desligar o computador e sair à rua para ir à procura dela. Ir à procura da Raquel e encontrá-la e entregá-la aos pais e não por causa da Raquel desaparecida e não por causa do desespero dos seus pais, mas por minha causa. Para poder dizer um dia: fiz isto. Encontrei a menina desaparecida. Salvei-a para me salvar. Salvei-a para justificar o facto de estar vivo.
É claro que não fui à procura dela, é claro que me deixei estar no meu conforto revoltado de pária, abrindo emails e cumprindo pequenas tarefas e desenhando assimetricamente o meu mesquinho e sorumbático trajecto de macaco circense.
Hoje não estou num dia bom. E o universo inteiro cai sobre mim com acusações de todo o género. Aceito-as, resignado, e abandono-me, como fazia o outro, à pena que tenho de mim.
O alfabeto da crueldade.
William Hogarth | The Rake's Progress. Plate 4. Arested For Debt As Going to Court
A crueldade é constitutiva do universo, é o preço a pagar pela grande solidariedade da biosfera, é ineliminável da vida humana. Nascemos na crueldade do mundo e da vida, a que acrescentámos a crueldade do ser humano e a crueldade da sociedade humana. Os recém-nascidos nascem com gritos de dor. Os animais dotados de sistemas nervosos sofrem, talvez os vegetais também, mas foram os humanos que adquiriram as maiores aptidões para o sofrimento ao adquirirem as maiores aptidões para a fruição. A crueldade do mundo é sentida mais vivamente e mais violentamente pelas criaturas de carne, alma e espírito, que podem sofrer ao mesmo tempo com o sofrimento carnal, com o sofrimento da alma e com o sofrimento do espírito, e que, pelo espírito, podem conceber a crueldade do mundo e horrorizar-se com ela.
Edgar Morin, in 'Os Meus Demónios'
Comunicado urgente contra o desperdício.
O que se reconhece como urgente é antes de mais nada o não se ter pressa; parar-se um pouco, a fim de alguma calma e sossego se colher. E assim, entre as diversas visões desta Paz em que apodrece o Mundo, chegarmos a acordo quanto à mais metafísica e desenganada delas - a saber, que este Mundo, quanto mais depressa anda, mais revela a sua condição de Estado.
Agustín García Calvo
Agustín García Calvo
terça-feira, fevereiro 24, 2009
REMIXVILLE | Track#14
Marvin Gaye, um mestre. E não preciso de dizer nada mais para além do que canta Anita Lane. Quem é que nunca sentiu realmente isto?
segunda-feira, fevereiro 23, 2009
Carnavalada (replay)
Chega à cidade no Inverno o circo do Inferno.
Solta-se de rompante um fantasismo aberrante
sobre a mágoa deste falecimento eterno:
é a dor de viver que está na máscara do ser,
é o horror que nos guarda a vida restante.
Deuses! que ódio visceral ao Carnaval.
Em Veneza, corre a certeza da morte: um corso
há-de para sempre ser feliz como um funeral
com palhaços dóricos e carros alegóricos
de baixo orçamento, indigentes sem remorso.
As mulatas mostram vivas as carnes lascivas,
nádegas ao léu no ritmo plebeu do Rio de Janeiro
ou - com arrepios de espinha - as divas
de mãozinhas a acenar, desfilam em Ovar
um plágio barato do festival brasileiro.
Deuses! que depressão perante o folião
vestidinho de mulher e com bigode e tudo.
(Toda a gente lhe acha um piadão
menos eu, que me encolho e recolho
para morrer de vergonha no entrudo).
Solta-se de rompante um fantasismo aberrante
sobre a mágoa deste falecimento eterno:
é a dor de viver que está na máscara do ser,
é o horror que nos guarda a vida restante.
Deuses! que ódio visceral ao Carnaval.
Em Veneza, corre a certeza da morte: um corso
há-de para sempre ser feliz como um funeral
com palhaços dóricos e carros alegóricos
de baixo orçamento, indigentes sem remorso.
As mulatas mostram vivas as carnes lascivas,
nádegas ao léu no ritmo plebeu do Rio de Janeiro
ou - com arrepios de espinha - as divas
de mãozinhas a acenar, desfilam em Ovar
um plágio barato do festival brasileiro.
Deuses! que depressão perante o folião
vestidinho de mulher e com bigode e tudo.
(Toda a gente lhe acha um piadão
menos eu, que me encolho e recolho
para morrer de vergonha no entrudo).
terça-feira, fevereiro 17, 2009
Porrada que ferve.
O mais popular concurso de fotojornalimo à superfície do terceiro calhau a contar do sol, faz-me rir. O júri deve ser certamente constituído por um clã de masoquitas fanáticos porque não há imagem premiada que não venha com uns excelentes salpicos de sangue. O retrato do mundo segundo o World Press Photo é uma coisa que transcende em largo a imaginação de Dante Alighieri, o que não é dizer pouco. Excluindo as imagens da categoria desporto, não há uma puta de uma foto inspiradora. Um momento de esperança. Um cenário de paz. Uma história de amor. É sangue e sofrimento e morte e caos por todo o lado. Qual é o gozo? Qual é a novidade? Qual é a mensagem? E é assim tão moral ganhar prémios à custa do sofrimento alheio? Agora a sério, se isto é fotografia de excelência, eu cá prefiro o Calendário Pirelli.
Coisas do Estado Novo.
No livro de suas memórias, conta o bom Professor Adriano Moreira que, tendo morrido um familiar homónimo ao director adjunto da PIDE, muitos se apressaram, equivocados, para o velório de Sua Autoridade Majestática. Quando o inspector entra, vivinho da silva, na câmara ardente do seu tio, a estupefacção é geral, sendo desfeito o mal entendido entre protestos do cardeal e alívio da plateia. O problema sobrou para aqueles que decidiram não comparecer ao velório, calculando talvez que o cadáver de S. Exa. não iria fazer registo de últimos respeitos. Conta o Professor que estes, na presença futura do pide, não se coibiam de lhe protestar suas desculpas, justificando a desconsideração:
- V. Exa. perdoará a minha ausência no seu velório. Estava caída de cama a senhora minha mulher, e bem vê que fiquei obrigado ao cuidado das crianças.
O medo é uma ilha rodeada de lama humana por todos os lados.
- V. Exa. perdoará a minha ausência no seu velório. Estava caída de cama a senhora minha mulher, e bem vê que fiquei obrigado ao cuidado das crianças.
O medo é uma ilha rodeada de lama humana por todos os lados.
sexta-feira, fevereiro 13, 2009
A Carta da Corcunda para o Serralheiro.
Não estou com grande disponibilidade para o blog, neste momento, o que é uma feliz notícia, porque nada do que eu pudesse postar se pode comparar ao texto que vai ficar aqui durante uns dias.
No seu universo de espelhos, Fernando Pessoa criou um personagem feminino. Chamou-lhe Maria José e em seu nome escreveu um único texto: esta carta, elemento iniciático da literatura portuguesa. É extensa, mas é de longe a coisa mais bonita que podem encontrar neste blog, pelo que os dez minutos aqui investidos, creio eu, não serão em vão.
“Senhor António:
O senhor nunca há de ver esta carta, nem eu a hei de ver segunda vez porque estou tuberculosa, mas eu quero escrever-lhe ainda que o senhor o não saiba, porque se não escrevo abafo.
O senhor não sabe quem eu sou, isto é, sabe mas não sabe a valer. Tem-me visto à janela quando o senhor passa para a oficina e eu olho para si, porque o espero a chegar, e sei a hora que o senhor chega. Deve sempre ter pensado sem importância na corcunda do primeiro andar da casa amarela, mas eu não penso senão em si. Sei que o senhor tem uma amante, que é aquela rapariga loura alta e bonita; eu tenho inveja dela mas não tenho ciúmes de si porque não tenho direito a ter nada, nem mesmo ciúmes. Eu gosto de si porque gosto de si, e tenho pena de não ser outra mulher, com outro corpo e outro feitio, e poder ir à rua e falar consigo ainda que o senhor me não desse razão de nada, mas eu estimava conhecê-lo de falar.
O senhor é tudo quanto me tem valido na minha doença e eu estou-lhe agradecida sem que o senhor o saiba. Eu nunca poderia ter ninguém que gostasse de mim como se gostasse das pessoas que têm o corpo de que se pode gostar, mas eu tenho o direito de gostar sem que gostem de mim, e também tenho o direito de chorar, que não se negue a ninguém.
Eu gostava de morrer depois de lhe falar a primeira vez mas nunca terei coragem nem maneiras de lhe falar. Gostava que o senhor soubesse que eu gostava muito de si, mas tenho medo que se o senhor soubesse não se importasse nada, e eu tenho pena já de saber que isso é absolutamente certo antes de saber qualquer coisa, que eu mesmo não vou procurar saber.
Eu sou corcunda desde a nascença e sempre riram de mim. Dizem que todas as corcundas são más, mas eu nunca quis mal a ninguém. Além disso sou doente, e nunca tive alma, por causa da doença, para ter grandes raivas. Tenho dezanove anos e nunca sei para que é que cheguei a ter tanta idade, e doente, e sem ninguém que tivesse pena de mim a não ser por eu ser corcunda, que é o menos, porque é a alma que me dói, e não o corpo, pois a corcunda não faz dor.
Eu até gostava de saber como é a sua vida com a sua amiga, porque como é uma vida que eu nunca posso ter — e agora menos que nem vida tenho — gostava de saber tudo.
Desculpe escrever-lhe tanto sem o conhecer, mas o senhor não vai ler isso, e mesmo que lesse nem sabia que era consigo e não ligava importância em qualquer caso, mas gostaria que pensasse que é triste ser marreca e viver sempre só à janela, e ter mãe e irmãs que gostam da gente mas sem ninguém que goste de nós, porque tudo isso é natural e é a família, e o que faltava é que nem isso houvesse para uma boneca com os ossos às avessas como eu sou, como eu já ouvi dizer.
Houve um dia que o senhor vinha para a oficina e um gato se pegou à pancada com um cão aqui defronte da janela, e todos estivemos a ver, e o senhor parou, ao pé do Manuel das Barbas, na esquina do barbeiro, e depois olhou para mim, para a janela, e viu-me a rir e riu também para mim, e essa foi a única vez que o senhor esteve a sós comigo, por assim dizer, que isso nunca poderia eu esperar.
Tantas vezes, o senhor não imagina, andei à espera que houvesse outra coisa qualquer na rua quando o senhor passasse e eu pudesse outra vez ver o senhor a ver e talvez olhasse para mim e eu pudesse olhar para si e ver os seus olhos a direito para os meus.
Mas eu não consigo nada do que quero, nasci já assim, e até tenho que estar em cima de um estrado para poder estar à altura da janela. Passo todo o dia a ver ilustrações e revistas de modas que emprestam à minha mãe, e estou sempre a pensar noutra coisa, tanto que quando me perguntam como era aquela saia ou quem é que estava no retrato onde está a Rainha de Inglaterra, eu às vezes me envergonho de não saber, porque estive a ver coisas que não podem ser e que eu não posso deixar que me entrem na cabeça e me dêem alegria para eu depois ainda por cima ter vontade de chorar.
Depois todos me desculpam, e acham que sou tonta, mas não me julgam parva, porque ninguém julga isso, e eu chego a não ter pena da desculpa, porque assim não tenho que explicar porque é que estive distraída.
Ainda me lembro daquele dia que o senhor passou aqui ao Domingo com o fato azul claro. Não era azul claro, mas era uma sarja muito clara para o azul escuro que costuma ser. O senhor ia que parecia o próprio dia que estava lindo e eu nunca tive tanta inveja de toda a gente como nesse dia. Mas não tive inveja da sua amiga, a não ser que o senhor não fosse ter com ela mas com outra qualquer, porque eu não pensei senão em si, e foi por isso que invejei toda a gente, o que não percebo mas o certo é que é verdade.
Não é por ser corcunda que estou aqui sempre à janela, mas é que ainda por cima tenho uma espécie de reumatismo nas pernas e não me posso mexer, e assim estou como se fosse paralítica, o que é uma maçada para todos cá em casa e eu sinto ter que ser toda a gente a aturar-me e a ter que me aceitar que o senhor não imagina. Eu às vezes dá-me um desespero como se me pudesse atirar da janela abaixo, mas eu que figura teria a cair da janela? Até quem me visse cair ria e a janela é tão baixa que eu nem morreria, mas era ainda mais maçada para os outros, e estou a ver-me na rua como uma macaca, com as pernas à vela e a corcunda a sair pela blusa e toda a gente a querer ter pena mas a ter nojo ao mesmo tempo ou a rir se calhasse, porque a gente é como é e não como tinha vontade de ser.
(…)
- e enfim porque lhe estou eu a escrever se lhe não vou mandar esta carta?
O senhor que anda de um lado para o outro não sabe qual é o peso de a gente não ser ninguém. Eu estou à janela todo o dia e vejo toda a gente passar de um lado para o outro e ter um modo de vida e gozar e falar a esta e àquela, e parece que sou um vaso com uma planta murcha que ficou aqui à janela por tirar de lá.
O senhor não pode imaginar, porque é bonito e tem saúde o que é a gente ter nascido e não ser gente, e ver nos jornais o que as pessoas fazem, e uns são ministros e andam de um lado para o outro a visitar todas as terras, e outros estão na vida da sociedade e casam e têm baptizados e estão doentes e fazem-lhe operações os mesmos médicos, e outros partem para as suas casas aqui e ali, e outros roubam e outros queixam-se, e uns fazem grandes crimes e há artigos assinados por outros e retratos e anúncios com os nomes dos homens que vão comprar as modas ao estrangeiro, e tudo isto o senhor não imagina o que é para quem é um trapo como eu que ficou no parapeito da janela de limpar o sinal redondo dos vasos quando a pintura é fresca por causa da água.
Se o senhor soubesse isto tudo era capaz de vez em quando me dizer adeus da rua, e eu gostava de se lhe poder pedir isso, porque o senhor não imagina, eu talvez não vivesse mais, que pouco é o que tenho de viver, mas eu ia mais feliz lá para onde se vai se soubesse que o senhor me dava os bons dias por acaso.
A Margarida costureira diz que lhe falou uma vez, que lhe falou torto porque o senhor se meteu com ela na rua aqui ao lado, e essa vez é que eu senti inveja a valer, eu confesso porque não lhe quero mentir, senti inveja porque meter-se alguém connosco é a gente ser mulher, e eu não mulher nem homem, porque ninguém acha que eu sou nada a não ser uma espécie de gente que está para aqui a encher o vão da janela e a aborrecer tudo que me vêm, valha me Deus.
O António (é o mesmo nome que o seu, mas que diferença!) o António da oficina de automóveis disse uma vez a meu pai que toda a gente deve produzir qualquer coisa, que sem isso não há direito a viver, que quem não trabalha não come e não há direito a haver quem não trabalhe. E eu pensei que faço eu no mundo, que não faço nada senão estar à janela com toda a gente a mexer-se de um lado para o outro, sem ser paralítica, e tendo maneira de encontrar as pessoas de quem gosta, e depois poderia produzir à vontade o que fosse preciso porque tinha gosto para isso.
Adeus senhor António, eu não tenho senão dias de vida e escrevo esta carta só para a guardar no peito como se fosse uma carta que o senhor me escrevesse em vez de eu a escrever a si. Eu desejo que o senhor tenha todas as felicidades que possa desejar e que nunca saiba de mim para não rir porque eu sei que não posso esperar mais.
Eu amo o senhor com toda a minha alma e toda a minha vida.
Aí tem e estou a chorar.
Maria José
No seu universo de espelhos, Fernando Pessoa criou um personagem feminino. Chamou-lhe Maria José e em seu nome escreveu um único texto: esta carta, elemento iniciático da literatura portuguesa. É extensa, mas é de longe a coisa mais bonita que podem encontrar neste blog, pelo que os dez minutos aqui investidos, creio eu, não serão em vão.
“Senhor António:
O senhor nunca há de ver esta carta, nem eu a hei de ver segunda vez porque estou tuberculosa, mas eu quero escrever-lhe ainda que o senhor o não saiba, porque se não escrevo abafo.
O senhor não sabe quem eu sou, isto é, sabe mas não sabe a valer. Tem-me visto à janela quando o senhor passa para a oficina e eu olho para si, porque o espero a chegar, e sei a hora que o senhor chega. Deve sempre ter pensado sem importância na corcunda do primeiro andar da casa amarela, mas eu não penso senão em si. Sei que o senhor tem uma amante, que é aquela rapariga loura alta e bonita; eu tenho inveja dela mas não tenho ciúmes de si porque não tenho direito a ter nada, nem mesmo ciúmes. Eu gosto de si porque gosto de si, e tenho pena de não ser outra mulher, com outro corpo e outro feitio, e poder ir à rua e falar consigo ainda que o senhor me não desse razão de nada, mas eu estimava conhecê-lo de falar.
O senhor é tudo quanto me tem valido na minha doença e eu estou-lhe agradecida sem que o senhor o saiba. Eu nunca poderia ter ninguém que gostasse de mim como se gostasse das pessoas que têm o corpo de que se pode gostar, mas eu tenho o direito de gostar sem que gostem de mim, e também tenho o direito de chorar, que não se negue a ninguém.
Eu gostava de morrer depois de lhe falar a primeira vez mas nunca terei coragem nem maneiras de lhe falar. Gostava que o senhor soubesse que eu gostava muito de si, mas tenho medo que se o senhor soubesse não se importasse nada, e eu tenho pena já de saber que isso é absolutamente certo antes de saber qualquer coisa, que eu mesmo não vou procurar saber.
Eu sou corcunda desde a nascença e sempre riram de mim. Dizem que todas as corcundas são más, mas eu nunca quis mal a ninguém. Além disso sou doente, e nunca tive alma, por causa da doença, para ter grandes raivas. Tenho dezanove anos e nunca sei para que é que cheguei a ter tanta idade, e doente, e sem ninguém que tivesse pena de mim a não ser por eu ser corcunda, que é o menos, porque é a alma que me dói, e não o corpo, pois a corcunda não faz dor.
Eu até gostava de saber como é a sua vida com a sua amiga, porque como é uma vida que eu nunca posso ter — e agora menos que nem vida tenho — gostava de saber tudo.
Desculpe escrever-lhe tanto sem o conhecer, mas o senhor não vai ler isso, e mesmo que lesse nem sabia que era consigo e não ligava importância em qualquer caso, mas gostaria que pensasse que é triste ser marreca e viver sempre só à janela, e ter mãe e irmãs que gostam da gente mas sem ninguém que goste de nós, porque tudo isso é natural e é a família, e o que faltava é que nem isso houvesse para uma boneca com os ossos às avessas como eu sou, como eu já ouvi dizer.
Houve um dia que o senhor vinha para a oficina e um gato se pegou à pancada com um cão aqui defronte da janela, e todos estivemos a ver, e o senhor parou, ao pé do Manuel das Barbas, na esquina do barbeiro, e depois olhou para mim, para a janela, e viu-me a rir e riu também para mim, e essa foi a única vez que o senhor esteve a sós comigo, por assim dizer, que isso nunca poderia eu esperar.
Tantas vezes, o senhor não imagina, andei à espera que houvesse outra coisa qualquer na rua quando o senhor passasse e eu pudesse outra vez ver o senhor a ver e talvez olhasse para mim e eu pudesse olhar para si e ver os seus olhos a direito para os meus.
Mas eu não consigo nada do que quero, nasci já assim, e até tenho que estar em cima de um estrado para poder estar à altura da janela. Passo todo o dia a ver ilustrações e revistas de modas que emprestam à minha mãe, e estou sempre a pensar noutra coisa, tanto que quando me perguntam como era aquela saia ou quem é que estava no retrato onde está a Rainha de Inglaterra, eu às vezes me envergonho de não saber, porque estive a ver coisas que não podem ser e que eu não posso deixar que me entrem na cabeça e me dêem alegria para eu depois ainda por cima ter vontade de chorar.
Depois todos me desculpam, e acham que sou tonta, mas não me julgam parva, porque ninguém julga isso, e eu chego a não ter pena da desculpa, porque assim não tenho que explicar porque é que estive distraída.
Ainda me lembro daquele dia que o senhor passou aqui ao Domingo com o fato azul claro. Não era azul claro, mas era uma sarja muito clara para o azul escuro que costuma ser. O senhor ia que parecia o próprio dia que estava lindo e eu nunca tive tanta inveja de toda a gente como nesse dia. Mas não tive inveja da sua amiga, a não ser que o senhor não fosse ter com ela mas com outra qualquer, porque eu não pensei senão em si, e foi por isso que invejei toda a gente, o que não percebo mas o certo é que é verdade.
Não é por ser corcunda que estou aqui sempre à janela, mas é que ainda por cima tenho uma espécie de reumatismo nas pernas e não me posso mexer, e assim estou como se fosse paralítica, o que é uma maçada para todos cá em casa e eu sinto ter que ser toda a gente a aturar-me e a ter que me aceitar que o senhor não imagina. Eu às vezes dá-me um desespero como se me pudesse atirar da janela abaixo, mas eu que figura teria a cair da janela? Até quem me visse cair ria e a janela é tão baixa que eu nem morreria, mas era ainda mais maçada para os outros, e estou a ver-me na rua como uma macaca, com as pernas à vela e a corcunda a sair pela blusa e toda a gente a querer ter pena mas a ter nojo ao mesmo tempo ou a rir se calhasse, porque a gente é como é e não como tinha vontade de ser.
(…)
- e enfim porque lhe estou eu a escrever se lhe não vou mandar esta carta?
O senhor que anda de um lado para o outro não sabe qual é o peso de a gente não ser ninguém. Eu estou à janela todo o dia e vejo toda a gente passar de um lado para o outro e ter um modo de vida e gozar e falar a esta e àquela, e parece que sou um vaso com uma planta murcha que ficou aqui à janela por tirar de lá.
O senhor não pode imaginar, porque é bonito e tem saúde o que é a gente ter nascido e não ser gente, e ver nos jornais o que as pessoas fazem, e uns são ministros e andam de um lado para o outro a visitar todas as terras, e outros estão na vida da sociedade e casam e têm baptizados e estão doentes e fazem-lhe operações os mesmos médicos, e outros partem para as suas casas aqui e ali, e outros roubam e outros queixam-se, e uns fazem grandes crimes e há artigos assinados por outros e retratos e anúncios com os nomes dos homens que vão comprar as modas ao estrangeiro, e tudo isto o senhor não imagina o que é para quem é um trapo como eu que ficou no parapeito da janela de limpar o sinal redondo dos vasos quando a pintura é fresca por causa da água.
Se o senhor soubesse isto tudo era capaz de vez em quando me dizer adeus da rua, e eu gostava de se lhe poder pedir isso, porque o senhor não imagina, eu talvez não vivesse mais, que pouco é o que tenho de viver, mas eu ia mais feliz lá para onde se vai se soubesse que o senhor me dava os bons dias por acaso.
A Margarida costureira diz que lhe falou uma vez, que lhe falou torto porque o senhor se meteu com ela na rua aqui ao lado, e essa vez é que eu senti inveja a valer, eu confesso porque não lhe quero mentir, senti inveja porque meter-se alguém connosco é a gente ser mulher, e eu não mulher nem homem, porque ninguém acha que eu sou nada a não ser uma espécie de gente que está para aqui a encher o vão da janela e a aborrecer tudo que me vêm, valha me Deus.
O António (é o mesmo nome que o seu, mas que diferença!) o António da oficina de automóveis disse uma vez a meu pai que toda a gente deve produzir qualquer coisa, que sem isso não há direito a viver, que quem não trabalha não come e não há direito a haver quem não trabalhe. E eu pensei que faço eu no mundo, que não faço nada senão estar à janela com toda a gente a mexer-se de um lado para o outro, sem ser paralítica, e tendo maneira de encontrar as pessoas de quem gosta, e depois poderia produzir à vontade o que fosse preciso porque tinha gosto para isso.
Adeus senhor António, eu não tenho senão dias de vida e escrevo esta carta só para a guardar no peito como se fosse uma carta que o senhor me escrevesse em vez de eu a escrever a si. Eu desejo que o senhor tenha todas as felicidades que possa desejar e que nunca saiba de mim para não rir porque eu sei que não posso esperar mais.
Eu amo o senhor com toda a minha alma e toda a minha vida.
Aí tem e estou a chorar.
Maria José
quarta-feira, fevereiro 11, 2009
REMIXVILLE | Track#13
Tom Jones, já um pouco abalado pelo passar das décadas, canta "We Got Love", num quarto de hotel. Muita lindo.
O insondável destino do Bolinha.
Mas afinal, para onde vai Miguel Veloso? Eis uma ideia genial para um blog. A estrelinha de penúltima grandeza do Sporting Clube de Portugal, que já é crack da bola sem jogar coisa nenhuma que se veja, chora baba e ranho porque não vai para aqui ou para ali, faz birras e falta aos treinos. Buááááááááá, quero ir para Inglaterra! Mas eu quero! Buááááá!
Está a dar aqui.
Está a dar aqui.
segunda-feira, fevereiro 09, 2009
Vicente Guedes ou o fantasma que se segue.
O último Livro do Desassossego que me veio parar às mãos (Edição de Teresa Sobral Cunha - Relógio d'Água), traz à estampa mais um fantasma do Pessoa. Chama-se Vicente Guedes e não é propriamente um heterónimo. É um personagem que o Virgem Negra decidiu inventar só para lhe roubar o diário. Nas páginas desse quotidiano apresenta-se um narrador torturado pelo amor místico, sobrevivendo com dificuldade a um complexo de irrealidades, platónico com dores de corno, austero e idealista, que escreve frases assim supremas em honra da Nossa Senhora do Silêncio:
"Sejamos castos como lábios mortos, puros como corpos sonhados, resignados a ser tudo isto, como freirinhas doidas..."
"O meu horror às mulheres reais que têm sexo é a estrada por onde fui ao teu encontro."
"Pura só tu, Senhora dos Sonhos, que eu posso conceber amante sem conceber mácula, porque és irreal. A ti posso-te conceber mãe, adorando-a, porque nunca te manchaste nem do horror de seres fecundada, nem do horror de parires."
Freud, amigo, volta que estás perdoado. O Vicente precisa de ti.
"Sejamos castos como lábios mortos, puros como corpos sonhados, resignados a ser tudo isto, como freirinhas doidas..."
"O meu horror às mulheres reais que têm sexo é a estrada por onde fui ao teu encontro."
"Pura só tu, Senhora dos Sonhos, que eu posso conceber amante sem conceber mácula, porque és irreal. A ti posso-te conceber mãe, adorando-a, porque nunca te manchaste nem do horror de seres fecundada, nem do horror de parires."
Freud, amigo, volta que estás perdoado. O Vicente precisa de ti.
O Teatro de Pessoa.
PERSONAGENS FICTÍCIAS E HETERÓNIMOS CRIADOS POR FERNANDO PESSOA | Compilação de Teresa Rita Lopes (Por ordem de entrada em cena)
1. Dr. Pancracio – jornalista de A PALAVRA e de O PALRADOR, contista, poeta e charadista.
2. Luís António Congo – colaborador de O PALRADOR, cronista e apresentador de Eduardo Lança.
3. Eduardo Lança – colaborador de o PALRADOR, poeta luso-brasileiro.
4. A. Francisco de Paula Angard - colaborador de o PALRADOR, autor de «textos scientificos».
5. Pedro da Silva Salles (Pad Zé) - colaborador de o PALRADOR, autor e director da secção de anedotas.
6. José Rodrigues do Valle (Scicio), - colaborador de o PALRADOR, charadista e dito «director literário».
7. Pip - colaborador de o PALRADOR, poeta humorístico, autor de anedotas e charadas, predecessor neste domínio do Dr. Pancracio.
8. Dr. Caloiro - colaborador de o PALRADOR, jornalista-repórter de «A pesca das pérolas».
9. Morris & Theodor - colaborador de o PALRADOR, charadista.
10. Diabo Azul - colaborador de o PALRADOR, charadista.
11. Parry - colaborador de o PALRADOR, charadista.
12. Gallião Pequeno - colaborador de o PALRADOR, charadista.
13. Accursio Urbano - colaborador de o PALRADOR, charadista
14. Cecília - colaborador de o PALRADOR, charadista.
15. José Rasteiro - colaborador de o PALRADOR, autor de provérbios e adivinhas.
16. Tagus - colaborador no NATAL MERCURY (Durban).
17. Adolph Moscow - colaborador de o PALRADOR, romancista, autor de «Os Rapazes de Barrowby».
18. Marvell Kisch autor de um romance anunciado em O PALRADOR, («A Riqueza de um Doido»).
19. Gabriel Keene – autor de um romance anunciado em O PALRADOR, («Em Dias de Perigo»).
20. Sableton-Kay – autor de um romance anunciado em O PALRADOR, («A Lucta Aerea»).
21. Dr. Gaudêncio Nabos – director de O PALRADOR (3.ª série), jornalista e humorista anglo-português).
22. Nympha Negra – colaborador de O PALRADOR, charadista.
23. Professor Trochee – autor de um ensaio humorístico de conselhos aos jovens poetas.
24. David Merrick – poeta, contista e dramaturgo.
25. Lucas Merrick – contista (irmão de David?).
26. Willyam Links Esk – personagem de ficção que assina uma carta num inglês defeituoso (13/4/1905).
27. Charles Robert Anon – poeta, filósofo e contista.
28. Horace James Faber – ensaísta e contista.
29. Navas – tradutor de Horace J. Faber.
30. Alexander Search – poeta e contista.
31. Charles James Search – tradutor e ensaísta (irmão de Alexander).
32. Herr Prosit – tradutor de O Estudante de Salamanca de Espronceda.
33. Jean Seul de Méluret – poeta e ensaísta em francês.
34. Pantaleão – poeta e prosador.
35. Torquato Mendes Fonseca da Cunha Rey – autor (falecido) de um escrito sem título que Pantaleão decide publicar.
36. Gomes Pipa – anunciado como colaborador de O PHOSPHORO e da Empresa Íbis como autor de «Contos políticos».
37. Íbis – personagem da infância que acompanha Pessoa até ao fim da vida nas relações com os seus íntimos que sobretudo se exprimiu de viva voz, mas também assinou poemas.
38. Joaquim Moura Costa – poeta satírico, militante republicano, colaborador de O PHOSPHORO.
39. Faustino Antunes (A. Moreira) – psicólogo, autor de um «Ensaio sobre a Intuição»).
40. António Gomes - «licenciado em philosophia pela Universidade dos Inúteis», autor da «Historia Cómica do Çapateiro Affonso».
41. Vicente Guedes – tradutor, poeta, contista da Íbis, autor de um diário.
42. Gervásio Guedes – (irmão de Vicente?) autor de um texto anunciado, «A Coroação de Jorge Quinto», em tempos de O PHOSPHORO e da Empresa Íbis.
43. Carlos Otto – poeta e autor do «Tratado de Lucta Livre».
44. Miguel Otto – irmão provável de Carlos a quem teria sido passada a incumbência da tradução do «Tratado de Lucta Livre».
45. Frederick Wyatt – poeta e prosador em inglês.
46. Rev. Walter Wyatt – irmão clérigo de Frederick?
47. Alfred Wyatt – mais um irmão Wyatt, residente em Paris.
48. Bernardo Soares – poeta e prosador.
49. António Mora – filósofo e sociólogo, teórico do Neopaganismo.
50. Sher Henay – compilador e prefaciador de uma antologia sensacionalista em inglês.
51. Ricardo Reis – HETERÓNIMO.
52. Alberto Caeiro – HETERÓNIMO.
53. Álvaro de Campos - HETERÓNIMO.
54. Barão de Teive – prosador, autor de «Educação do Stoico» e «Daphnis e Chloe».
55. Maria José – escreve e assina «A Carta da Corcunda para o Serralheiro».
56. Abílio Quaresma – personagem de Pêro Botelho e autor de contos policiais.
57. Pero Botelho – contista e autor de cartas.
58. Efbeedee Pasha – autor de «Stories» humorísticas.
59. Thomas Crosse – inglês de pendor épico-ocultista, divulgador da cultura portuguesa.
60. I.I. Crosse – coadjuvante do irmão Thomas na divulgação de Campos e Caeiro.
61. A.A. Crosse – charadista e cruzadista.
62. António de Seabra – crítico literário do sensacionismo.
63. Frederico Reis – ensaísta, irmão (ou primo?) de Ricardo Reis sobre quem escreve.
64. Diniz da Silva – autor do poema «Loucura» e colaborador de EUROPA.
65. Coelho Pacheco – poeta in ORPHEU III e na revista projectada EUROPA.
66. Raphael Baldaya – astrólogo e autor de «Tratado da Negação» e «Princípios de Metaphysica Esotérica».
67. Claude Pasteur – francês, tradutor de CADERNOS DE RECONSTRUÇÃO PAGÃ dirigidos por A. Mora.
68. João Craveiro – jornalista sidonista.
69. Henry More – autor em prosa de comunicações mediúnicas - «romances do inconsciente» como Pessoa lhes chama.
70. Wardour – poeta revelado em comunicações mediúnicas.
71. J. M. Hyslop – poeta revelado em comunicação mediúnica.
72. Vadooisf [?] – poeta revelado em comunicação mediúnica.
1. Dr. Pancracio – jornalista de A PALAVRA e de O PALRADOR, contista, poeta e charadista.
2. Luís António Congo – colaborador de O PALRADOR, cronista e apresentador de Eduardo Lança.
3. Eduardo Lança – colaborador de o PALRADOR, poeta luso-brasileiro.
4. A. Francisco de Paula Angard - colaborador de o PALRADOR, autor de «textos scientificos».
5. Pedro da Silva Salles (Pad Zé) - colaborador de o PALRADOR, autor e director da secção de anedotas.
6. José Rodrigues do Valle (Scicio), - colaborador de o PALRADOR, charadista e dito «director literário».
7. Pip - colaborador de o PALRADOR, poeta humorístico, autor de anedotas e charadas, predecessor neste domínio do Dr. Pancracio.
8. Dr. Caloiro - colaborador de o PALRADOR, jornalista-repórter de «A pesca das pérolas».
9. Morris & Theodor - colaborador de o PALRADOR, charadista.
10. Diabo Azul - colaborador de o PALRADOR, charadista.
11. Parry - colaborador de o PALRADOR, charadista.
12. Gallião Pequeno - colaborador de o PALRADOR, charadista.
13. Accursio Urbano - colaborador de o PALRADOR, charadista
14. Cecília - colaborador de o PALRADOR, charadista.
15. José Rasteiro - colaborador de o PALRADOR, autor de provérbios e adivinhas.
16. Tagus - colaborador no NATAL MERCURY (Durban).
17. Adolph Moscow - colaborador de o PALRADOR, romancista, autor de «Os Rapazes de Barrowby».
18. Marvell Kisch autor de um romance anunciado em O PALRADOR, («A Riqueza de um Doido»).
19. Gabriel Keene – autor de um romance anunciado em O PALRADOR, («Em Dias de Perigo»).
20. Sableton-Kay – autor de um romance anunciado em O PALRADOR, («A Lucta Aerea»).
21. Dr. Gaudêncio Nabos – director de O PALRADOR (3.ª série), jornalista e humorista anglo-português).
22. Nympha Negra – colaborador de O PALRADOR, charadista.
23. Professor Trochee – autor de um ensaio humorístico de conselhos aos jovens poetas.
24. David Merrick – poeta, contista e dramaturgo.
25. Lucas Merrick – contista (irmão de David?).
26. Willyam Links Esk – personagem de ficção que assina uma carta num inglês defeituoso (13/4/1905).
27. Charles Robert Anon – poeta, filósofo e contista.
28. Horace James Faber – ensaísta e contista.
29. Navas – tradutor de Horace J. Faber.
30. Alexander Search – poeta e contista.
31. Charles James Search – tradutor e ensaísta (irmão de Alexander).
32. Herr Prosit – tradutor de O Estudante de Salamanca de Espronceda.
33. Jean Seul de Méluret – poeta e ensaísta em francês.
34. Pantaleão – poeta e prosador.
35. Torquato Mendes Fonseca da Cunha Rey – autor (falecido) de um escrito sem título que Pantaleão decide publicar.
36. Gomes Pipa – anunciado como colaborador de O PHOSPHORO e da Empresa Íbis como autor de «Contos políticos».
37. Íbis – personagem da infância que acompanha Pessoa até ao fim da vida nas relações com os seus íntimos que sobretudo se exprimiu de viva voz, mas também assinou poemas.
38. Joaquim Moura Costa – poeta satírico, militante republicano, colaborador de O PHOSPHORO.
39. Faustino Antunes (A. Moreira) – psicólogo, autor de um «Ensaio sobre a Intuição»).
40. António Gomes - «licenciado em philosophia pela Universidade dos Inúteis», autor da «Historia Cómica do Çapateiro Affonso».
41. Vicente Guedes – tradutor, poeta, contista da Íbis, autor de um diário.
42. Gervásio Guedes – (irmão de Vicente?) autor de um texto anunciado, «A Coroação de Jorge Quinto», em tempos de O PHOSPHORO e da Empresa Íbis.
43. Carlos Otto – poeta e autor do «Tratado de Lucta Livre».
44. Miguel Otto – irmão provável de Carlos a quem teria sido passada a incumbência da tradução do «Tratado de Lucta Livre».
45. Frederick Wyatt – poeta e prosador em inglês.
46. Rev. Walter Wyatt – irmão clérigo de Frederick?
47. Alfred Wyatt – mais um irmão Wyatt, residente em Paris.
48. Bernardo Soares – poeta e prosador.
49. António Mora – filósofo e sociólogo, teórico do Neopaganismo.
50. Sher Henay – compilador e prefaciador de uma antologia sensacionalista em inglês.
51. Ricardo Reis – HETERÓNIMO.
52. Alberto Caeiro – HETERÓNIMO.
53. Álvaro de Campos - HETERÓNIMO.
54. Barão de Teive – prosador, autor de «Educação do Stoico» e «Daphnis e Chloe».
55. Maria José – escreve e assina «A Carta da Corcunda para o Serralheiro».
56. Abílio Quaresma – personagem de Pêro Botelho e autor de contos policiais.
57. Pero Botelho – contista e autor de cartas.
58. Efbeedee Pasha – autor de «Stories» humorísticas.
59. Thomas Crosse – inglês de pendor épico-ocultista, divulgador da cultura portuguesa.
60. I.I. Crosse – coadjuvante do irmão Thomas na divulgação de Campos e Caeiro.
61. A.A. Crosse – charadista e cruzadista.
62. António de Seabra – crítico literário do sensacionismo.
63. Frederico Reis – ensaísta, irmão (ou primo?) de Ricardo Reis sobre quem escreve.
64. Diniz da Silva – autor do poema «Loucura» e colaborador de EUROPA.
65. Coelho Pacheco – poeta in ORPHEU III e na revista projectada EUROPA.
66. Raphael Baldaya – astrólogo e autor de «Tratado da Negação» e «Princípios de Metaphysica Esotérica».
67. Claude Pasteur – francês, tradutor de CADERNOS DE RECONSTRUÇÃO PAGÃ dirigidos por A. Mora.
68. João Craveiro – jornalista sidonista.
69. Henry More – autor em prosa de comunicações mediúnicas - «romances do inconsciente» como Pessoa lhes chama.
70. Wardour – poeta revelado em comunicações mediúnicas.
71. J. M. Hyslop – poeta revelado em comunicação mediúnica.
72. Vadooisf [?] – poeta revelado em comunicação mediúnica.
REMIXVILLE | Track#12
Aida no santo trilho de "Les Concerts a Emporter", é a vez dos The National, numa versão naturalista de "Start a War". Para ouvir em paz e sossego.
quinta-feira, fevereiro 05, 2009
O menino bonito é um chorão horroroso.
O Sr. Tavares é um daqueles personagens da cenografia mediática nacional que me enerva deveras e cada vez mais. Nascido em berço de ouro, deve ter tido um único contratempo na sua vida aristocrática, quando a mãe lhe disse um dia que era melhor ficar pela prosa, porque não se ajeitava com os versos. Traumatizado, foi estudar direito para ser jornalista. Passados uns aninhos apenas, já era director de revista séria (por mérito próprio de certeza e não por ser filho de quem era) e lendário aventureiro errante a meses pelo deserto (a direcção era um cargo em part-time, pelos vistos, mas não precisava o Sr. Tavares de ir tão longe para fumar umas ganzas - também há haxixe na Costa da Caparica). Como todos os profetas, foi provavelmente no deserto que o Sr. Tavares encontrou o seu chamamento ambientalista, causa pela qual se sujeita ainda hoje a um milintantismo de adolescente e a ameaças de porrada. Porque o Sr. Tavares, lá do alto da sua fortaleza de reconhecida e amada e venerável persona pública, é dono da verdade e não tem medo de ninguém!
Ora, por preceito higiénico, procuro evitar a página que o Expresso coloca semanalmente ao dispor do Sr. Tavares (nem o arquitecto tinha direito a tanto espaço), muito porque a sua petulância, sendo geralmente risível, torna-se - a espaços - absolutamente irritante. Desta feita porém, num momento de fraqueza, caí em cheio neste parágrafo do seu sábio articulismo:
"É possível que (...) Portugal se torne ingovernável e que deixe até de reunir condições para existir, enquanto país independente - essa é, aliás, uma hipótese de trabalho que há muito considero como coisa possível e mais verosímil do que se imagina. Eu penso que Portugal não vale muito como nação e como povo (...). Vejo Portugal um pouco como aquelas mulheres fatais que, entre os vinte e tal e os quarenta e poucos anos, se habituaram a reinar como princesas, seduzindo e cativando tudo à roda e julgando-se eternamente senhoras do jogo. Mas, um dia, olham-se ao espelho, percebem que o seu poder de sedução está a desaparecer e correm para as plásticas, para os ginásios ou para um sem-número de truques com os quais julgam poder enganar eternamente o que, pela natureza das coisas, tem um fim. Um dia, dissipado o nevoeiro do espelho, com a miserável realidade das facturas para pagar, extinto o charme do fado, do sol e do bidonville algarvio, Portugal dar-se-á conta de que está sozinho e de que já ninguém se deixa seduzir pelo seu jogo de mulher fatal da Europa, o país "que deu novos mundos ao mundo", o Infante, as caravelas e toda essa conversa gasta."
Convenhamos: O Sr. Tavares, que sempre foi e será para sempre o menino bonito da esquerda portuguesa, não tem muito de que se queixar, e muito menos que lamentar-se do país em que nasceu e do povo que o atura. Portugal tratou esta figurinha muito acima do seu merecimento e certas portuguesas até o acham bonito, o que é espantoso.
Então agora, que é novelista de sucesso, com o público, a crítica e a TVI aos seus pés numa grande produção orgíaca do culto da personalidade, o Sr. Tavares acha-se muito superior a tudo e a todos e especialmente cínico no que respeita à análise que faz do país.
Pelo que nos é dado saber, o Sr. Tavares já há muito considera entregar a nacionalidade de borla, ao primeiro equivocado licitador, assim como os amigos de seu pai fizeram com as colónias. E o Sr. Tavares dá-se ao luxo de escrever esta traição, naquela página toda grande do Expresso, com o mesmo à vontade com que mantém semanalmente umas conversas sábias e entretidas com a D. Manuela, em prime time, para elevação da audiência. O Sr. Tavares acha que não tem culpa da estupidez, não é agente da falência moral, nem tem responsabilidade pelas crises de liderança porque ele está acima da grande merda, num plano olímpico. Enquanto compara a pátria a uma madona carunchosa, vai sugerindo que nos devíamos entregar ao primeiro amante que nos pusesse por conta.
Nem vale a pena comentar a elegância da metáfora, porque vem de quem vem, mas pelas tágides, o que dizer do projecto? Eu acho que o Sr. Tavares gostaria imenso de ser posto por conta, isso sim. E para não ficar sem a sua moradia da Lapa, prefere que se encomende o país ao estado espanhol ou chinês ou, já agora, angolano. Este Portugal que o Sr. Tavares odeia, e cuja história de nação primeira avilta galhardamente, seria bem melhor governado por José Eduardo dos Santos.
O Sr. Tavares devia voltar ao deserto. Faz lá muita falta ao folclore. Devia voltar ao deserto e ficar-se por lá a tomar um cházinho de décadas.
Eu sei que lhe ficaria grato.
Ora, por preceito higiénico, procuro evitar a página que o Expresso coloca semanalmente ao dispor do Sr. Tavares (nem o arquitecto tinha direito a tanto espaço), muito porque a sua petulância, sendo geralmente risível, torna-se - a espaços - absolutamente irritante. Desta feita porém, num momento de fraqueza, caí em cheio neste parágrafo do seu sábio articulismo:
"É possível que (...) Portugal se torne ingovernável e que deixe até de reunir condições para existir, enquanto país independente - essa é, aliás, uma hipótese de trabalho que há muito considero como coisa possível e mais verosímil do que se imagina. Eu penso que Portugal não vale muito como nação e como povo (...). Vejo Portugal um pouco como aquelas mulheres fatais que, entre os vinte e tal e os quarenta e poucos anos, se habituaram a reinar como princesas, seduzindo e cativando tudo à roda e julgando-se eternamente senhoras do jogo. Mas, um dia, olham-se ao espelho, percebem que o seu poder de sedução está a desaparecer e correm para as plásticas, para os ginásios ou para um sem-número de truques com os quais julgam poder enganar eternamente o que, pela natureza das coisas, tem um fim. Um dia, dissipado o nevoeiro do espelho, com a miserável realidade das facturas para pagar, extinto o charme do fado, do sol e do bidonville algarvio, Portugal dar-se-á conta de que está sozinho e de que já ninguém se deixa seduzir pelo seu jogo de mulher fatal da Europa, o país "que deu novos mundos ao mundo", o Infante, as caravelas e toda essa conversa gasta."
Convenhamos: O Sr. Tavares, que sempre foi e será para sempre o menino bonito da esquerda portuguesa, não tem muito de que se queixar, e muito menos que lamentar-se do país em que nasceu e do povo que o atura. Portugal tratou esta figurinha muito acima do seu merecimento e certas portuguesas até o acham bonito, o que é espantoso.
Então agora, que é novelista de sucesso, com o público, a crítica e a TVI aos seus pés numa grande produção orgíaca do culto da personalidade, o Sr. Tavares acha-se muito superior a tudo e a todos e especialmente cínico no que respeita à análise que faz do país.
Pelo que nos é dado saber, o Sr. Tavares já há muito considera entregar a nacionalidade de borla, ao primeiro equivocado licitador, assim como os amigos de seu pai fizeram com as colónias. E o Sr. Tavares dá-se ao luxo de escrever esta traição, naquela página toda grande do Expresso, com o mesmo à vontade com que mantém semanalmente umas conversas sábias e entretidas com a D. Manuela, em prime time, para elevação da audiência. O Sr. Tavares acha que não tem culpa da estupidez, não é agente da falência moral, nem tem responsabilidade pelas crises de liderança porque ele está acima da grande merda, num plano olímpico. Enquanto compara a pátria a uma madona carunchosa, vai sugerindo que nos devíamos entregar ao primeiro amante que nos pusesse por conta.
Nem vale a pena comentar a elegância da metáfora, porque vem de quem vem, mas pelas tágides, o que dizer do projecto? Eu acho que o Sr. Tavares gostaria imenso de ser posto por conta, isso sim. E para não ficar sem a sua moradia da Lapa, prefere que se encomende o país ao estado espanhol ou chinês ou, já agora, angolano. Este Portugal que o Sr. Tavares odeia, e cuja história de nação primeira avilta galhardamente, seria bem melhor governado por José Eduardo dos Santos.
O Sr. Tavares devia voltar ao deserto. Faz lá muita falta ao folclore. Devia voltar ao deserto e ficar-se por lá a tomar um cházinho de décadas.
Eu sei que lhe ficaria grato.
REMIXVILLE | Track#11
Atenção, muita atenção: chegou a hora de Señor Coconut! O Jim Morrison que dê os pulos na campa que forem precisos, estou-me nas tintas. Esta versão de "Riders on the Storm", vinda directamente do Caribe, é uma maravilha das maravilhas. Não acham?
Anti-Telejornal | Epílogo
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Álvaro de Campos
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Álvaro de Campos
segunda-feira, fevereiro 02, 2009
Anti-Telejornal | A Valsa do Adeus.
No fim do verdadeiro amor, existe a morte, e só o amor no fim do qual existe a morte é o amor.
Milan Kundera
Milan Kundera
REMIXVILLE | Track#10
Na já célebre passagem de ano que me aconteceu recentemente, descobri, por generosidade de um amigo, um croony que é de talento humorístico e de espalhafatosa centelha. Dá pelo nome artístico de Richard Cheese e vai aparecer mais vezes, aqui no RemixVille. Por enquanto e para já fica esta recambolesca versão de "Creep"(mais uma. Acho que é a quarta versão desta música em dez temas e acho que estou a abusar dos Cabeça de Rádio). Divirtam-se.
Anti-Telejornal | Breaking News.
Carta de Fernando Pessoa para a Exma. Senhora Dona Ophélia Queiroz. Escrita em 9 de Outubro de 1929. A ortografia original foi preservada.
Terrivel Bebé:
Gosto de suas cartas, que são meiguinhas, e tambem gosto de si, que é meiginha tambem. E é bonbon, e é vespa, e é mel, que é das abelhas e não das vespas, e tudo está certo, e o Bebé deve escrever-me sempre, mesmo que não escreva, que é sempre, e eu estou triste, e sou maluco, e ninguem gosta de mim, e tambem porque é que a havia de gostar, e isso mesmo, e torna tudo ao principio, e parece-me que ainda lhe telephono hoje, e gostava de lhe dar um beijo na bocca, com exactidão e gulodice e comer-lhe a bocca e comer os beijinhos que tivesse lá escondidos e encostar-me ao seu hombro e escorregar para a ternura dos pombinhos, e pedir-lhe desculpa, e a desculpa ser a fingir, e tornar muitas vezes, e ponto final até recomeçar, e porque é que a Ophelinha de um meliante de um cevado e (...) e eu gostava que a Bebé fôsse uma boneca minha, e eu fazia como uma crença, despia-a, e o papel acabava aqui mesmo, e isto parece impossivel de ser escripto por um ente humano, mas é escripto por mim
Fernando
Terrivel Bebé:
Gosto de suas cartas, que são meiguinhas, e tambem gosto de si, que é meiginha tambem. E é bonbon, e é vespa, e é mel, que é das abelhas e não das vespas, e tudo está certo, e o Bebé deve escrever-me sempre, mesmo que não escreva, que é sempre, e eu estou triste, e sou maluco, e ninguem gosta de mim, e tambem porque é que a havia de gostar, e isso mesmo, e torna tudo ao principio, e parece-me que ainda lhe telephono hoje, e gostava de lhe dar um beijo na bocca, com exactidão e gulodice e comer-lhe a bocca e comer os beijinhos que tivesse lá escondidos e encostar-me ao seu hombro e escorregar para a ternura dos pombinhos, e pedir-lhe desculpa, e a desculpa ser a fingir, e tornar muitas vezes, e ponto final até recomeçar, e porque é que a Ophelinha de um meliante de um cevado e (...) e eu gostava que a Bebé fôsse uma boneca minha, e eu fazia como uma crença, despia-a, e o papel acabava aqui mesmo, e isto parece impossivel de ser escripto por um ente humano, mas é escripto por mim
Fernando
Super Bowl XLIII ou a morte de Cinderela.
Acabou hoje a época de Futebol Americano, em Tampa Bay, com um dos mais espectaculares jogos dos 43 super bowls já disputados. Como no ano passado, o combate foi decidido nos últimos instantes do jogo e a vitória dos Pittsburgh Steelers é perfeitamente justa, apesar da luta épica oferecida pelos Cardinals, que tinham chocado o mundo por chegarem até aqui e que precisavam de despachar a coisa até à meia-noite, sob o risco do avião que os iria levar de regresso a Arizona se transformasse numa abóbora.
Os últimos quinze minutos foram alucinantes. A perder 20-7, os Cardinals, comandados pelo instinto e maturidade de Kurt Warner e pelas qualidades raras de Fitzgerald, inventaram uma recuperação inédita na história das finais, colocando-se, a dois minutos do fim, à frente do marcador por 20-23.
O problema foi que, da inesgotável cartola de Big Ben Roethlisberger, em definitivo o melhor quarterback da NFL, saiu um drive de improvisos e ilusionismos vários, que só acabou a 23 segundos do fim com um touch down do MVP Santonio Holmes, rapazinho cuja habilidade pertence ao domínio das artes circenses.
O jogo proporcionou uma quantidade enorme de novos recordes absolutos, com destaque para estes três:
- Sexto título para os Steelers, que são agora o franchise mais vitorioso da liga.
- Run para touch down mais longo de sempre num Super Bowl: uma corrida incrível de Harrison - defensor do ano na NFL - cuja extensão foi exactamente a do terreno de jogo: 100 jardas inteirinhas.
- Com os dois desta noite, Fitzgerald é agora o detentor do recorde de touch downs numa só post-season, com 7.
O grande, enorme, histórico jogo de futebol teve só uma pequenez: o insuportável cadáver de Bruce Springsteen - o camionista do rock - ao intervalo. Bah!
domingo, fevereiro 01, 2009
Amor ao livro.
Sempre assumi que tenho um amor físico, sexual, pelos livros. Gosto de olhar para eles na estante como o gajo da estiva (que eu já fui) gosta de olhar para a gaja boa que passa. Acho que os livros são sexy. Acho que os livros dão tesão. Gosto de mexer neles, gosto de os cheirar, gosto de fazer amor com as encadernações e apaixonar-me pelas páginas. Um bom programa, para mim, é rearrumar a biblioteca. Felizmente, trata-se de um projecto que dura vários dias, porque entre os meus e os da minha mulher ainda se somam alguns livros. Actualmente, são mil e trezentos cá em casa e mais quinhentos na cave e eu sou todo vaidoso disso.
Isto a propósito de ter recebido hoje uma prenda impagável da Joaninha, que é uma querida grande. Devo ter feito qualquer coisa de bem feito quando postei aquele texto relativo à obra prima do Andric, porque o post resultou nestas imagens absolutamente lindas que a minha amiga me enviou por santo email.
Uma edição de "A Ponte sobre o Drina", de Fevereiro de 1962. Que maravilha. Dá-me vontade de beijinhos. Dá-me vontade de ter uma montra com oito metros por três e colocar lá apenas isto. O Gutenberg é o gajo mais importante da história da humanidade. E a Joaninha vem logo a seguir. Obrigado aos dois.
Isto a propósito de ter recebido hoje uma prenda impagável da Joaninha, que é uma querida grande. Devo ter feito qualquer coisa de bem feito quando postei aquele texto relativo à obra prima do Andric, porque o post resultou nestas imagens absolutamente lindas que a minha amiga me enviou por santo email.
Uma edição de "A Ponte sobre o Drina", de Fevereiro de 1962. Que maravilha. Dá-me vontade de beijinhos. Dá-me vontade de ter uma montra com oito metros por três e colocar lá apenas isto. O Gutenberg é o gajo mais importante da história da humanidade. E a Joaninha vem logo a seguir. Obrigado aos dois.
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