domingo, outubro 20, 2024

Um problema psicossocial.

A minha formação universitária foi em ciências sociais, mas nunca por nunca considerei essas disciplinas como ciências e sempre fui de crer que a sociologia era um embuste marxista e a psicologia uma espécie de arte mágica, acessível apenas a charlatães encartados.

Acontece porém - ironia cruel de mim para mim - que um dos obstáculos contemporâneos de difícil resolução para a continuidade de algo parecido com civilização no Ocidente é precisamente de natureza psicossocial. Permitam-me um exemplo da minha experiência pessoal.

Tenho convivido em Sesimbra, numa comunidade de apenas 6 residências, com vizinhos espanhóis, suíços, franceses e ingleses,. Todos eles vivem ou passam uma boa parte do seu tempo de vida em Portugal. Estas gentis mas ingénuas pessoas não têm, regra geral, um sentimento nacional profundo, caso contrário não teriam vindo refugiar-se neste abençoado cu do mundo. Estas bem intencionadas e pacíficas pessoas têm uma visão cosmopolita da existência e acham que o melhor sítio para arrumar a vida é um país cuja língua não dominam, cuja cultura desconhecem (e que na verdade não querem conhecer), cuja cozinha - pasme-se - abominam e cujo terceiro mundismo recusam com sobranceria tremenda, considerando o que se está a passar nos seus próprios países. 

Esta gente vem viver para Portugal na secreta expectativa que o país venha a ser como aquele do qual fugiram. É espantoso.

Para eles, estar aqui em Sesimbra ou estar ali na Normandia é um bocado igual ao litro porque pensam - erradamente - que pertencem aos sítios onde decidem viver, só para serem tão infelizes aqui como eram na terra onde nasceram.

Nesta ilusão, pensam que são 'cidadãos do mundo' e que todos as localidades são porreiras, só porque decidiram habitá-las; seja a propósito do clima, dos impostos, da segurança ou da neurose. Estão equivocados, claro, mas até custa ter que lhes dizer isso, de tão convictos são dos seus delírios.

Ora, um indivíduo que não tem certeza da sua cidadania, da sua naturalidade, da sua nacionalidade, dos seus fundamentos culturais; um inglês que decide viver em Sesimbra, um francês que acha por bem habitar o Martim Moniz ou um suíço que vem para Portugal fazer os amigos que não tem em Zurique, será sempre um apátrida. E um apátrida será sempre pasto de globalistas.

E este é um concreto problema de ordem psicossocial.

Como os poderes instituídos estão a fazer esforços máximos para fazer as pessoas infelizes nos seus países, elas tentam encontrar escape noutros territórios. Não arriscam para além de Marrocos (se tanto - os maricas), porque não estão preparadas para a miséria do mundo, e por isso não escapam de lado nenhum na verdade, porque o Ocidente está cada vez mais igual à distopia que garante. 

No outro dia dizia aquele palhaço dos Ena Pá 2000 que Lisboa terá que ter mais prostitutas e taxistas  para parecer Lisboa (cito). Não deixa de ter razão metafórica.

Sesimbra, por acaso, e estando tão perto de Lisboa, é um oásis do caraças. Que estes estrangeiros, sem perceberem, querem na verdade que seja mais parecida com os infernos de Londres e de Paris.

A ironia é muito parecida com aquela em que os liberais dos grandes centros urbanos norte-americanos fogem para estados conservadores só para continuarem a votar liberal.

Não há grande remédio para isto. A não ser o sangue que, obviamente, não se recomenda, ou o tempo. O tempo de deixar passar gerações. As suficientes para que das cinzas se volte a levantar qualquer coisa parecida com civilização.

Porque por agora, amigos, estamos condenados.