domingo, setembro 30, 2018
sexta-feira, setembro 28, 2018
Que grande som, bom deus.
Estou a ficar completamente apanhado por estes rapazinhos do tufão. Essa é que é essa. Reparem bem no que acontece ao segundo 47 desta música. Algo de explosivo. E sublime.
Typhoon . Remember
Typhoon . Remember
quinta-feira, setembro 27, 2018
Haikus da Baía #03
Quando o sol da tarde
atormenta a falésia
até as moscas fazem a sesta.
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O sol esconde-se por trás do promontório
e a tarde pacifica-se.
Aprecio a primeira brisa fresca do dia e,
por um momento,
acredito em deus.
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Iates elegantes traçam de espuma
o indolente oceano.
A natureza gosta de máquinas.
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O homem existe para que a natureza
tenha espectadores.
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A minha caligrafia é tão pobre
que até à tinta deve dinheiro.
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Todos os castelos são altivos.
Até a corveta
fica em sentido.
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O sossego da baía é mais perturbado pelos aviões
que pelas traineiras.
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A minha cadela adora a falésia.
Os cães - como as pessoas - gostam de liberdade.
E de jardins.
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O jacto da Força Aérea desenha traços sobre o infinito.
São efémeros como os reactores.
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Uma doca é um parque de estacionamento
com paisagem.
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Comprei uma Bic no supermercado
a pensar que o supermercado vendia
as mesmas bics da minha infância.
A ingenuidade fica rapidamente
sem tinta.
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Os insectos são atraídos pela luz
como os homens são atraídos pelo mistério.
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Uma qualidade que o dinheiro tem:
nunca prolonga a sua visita.
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Lua cheia.
Há dias com menos luz.
segunda-feira, setembro 24, 2018
O Ataque dos Caranguejos Mutantes
Aparentemente, uns caranguejos agressivos à brava estão a invadir a costa nordeste dos Estados Unidos. São muitos, são verdes, são antipáticos e trazem bastante apetite.
Não sei porque razão é que isto é algo de estranho ou sensacional. As espécies animais (e muitas das vegetais também) migram e mutam em função das circunstâncias. São endémicas. São predadoras. São agressivas, quando a agressividade é necessária à sobrevivência. São especialmente agressivas quando colonizam novos habitats, precisamente por terem que conquistar territórios e alimento a outras espécies já confortavelmente instaladas. Têm ciclos de explosão demográfica e outros de depressão demográfica que são correlativos a variações nos seus ecossistemas, que podem ter a ver, por exemplo, com a quantidade disponível daqueles sobre os quais exercem caça ou com a quantidade ameaçadora daqueles que os caçam.
Os caranguejos mutantes e mal criados e esverdeados de mau feitio foram parar às burguesas praias do Maine com a naturalidade de quem faz as malas à procura de melhor vida. Todos os animais fazem isto. Os animais portugueses, por exemplo, fizeram isso em larga escala, há uns séculos atrás e também houve agressividade (não tanta como se enche para aí a boca), mutação genética (os portugueses misturaram-se basicamente com toda a gente que encontraram) e alteração no tom de pele (com direito a insolações de vária ordem). O balanço desta migração foi bastante positivo e acabou com os japoneses a aprenderem a mais elementar norma da boa vida em sociedade: saber dizer obrigado.
Os caranguejos feios e esfomeados e mal dispostos, que estão a retirar à upper class de Nova Iorque os prazeres do fim do verão, podiam, tanto quanto se sabe, ter invadido as praias de Massasuchetts ou de Dellaware ou da Virgínia do Sul. Nada na verdade se conhece sobre os seus últimos motivos. Se calhar até desceram ao Maine na perspectiva de deglutirem saborosos dedos de crianças humanas, o que é um projecto gastronómico tão apelativo - e substantivo - como qualquer outro, principalmente quando és um caranguejo da Nova Escócia com o estômago a dar horas.
Isto está tudo muito bem e é da natureza das coisas. O que não é da natureza das coisas é o tratamento noticioso que se dá a esta não notícia (que interessa ao leitor português saber que o veraneante do Maine está às voltas com uma praga de caranguejos?): é claro que se os caranguejos mutantes estão a infestar as praias do Maine a culpa tem que ser das alterações climáticas (agora já não se diz aquecimento global). E do respectivo aumento da temperatura das águas do Atlântico norte. É claro. Nem interessa de facto se as águas estão factualmente a ficar mais quentes ou se os caranguejos migrariam na mesma com águas mais frias. As alterações climáticas são responsáveis pelo apocalipse zombie e pela incompetência da Protecção Civil. São responsáveis pela corrupção em Wallstreet e pelo actual encarceramento de Lula e pelo futuro encarceramento de José Sócrates. São responsáveis por todas as injustiças, fomes, guerras, apogeus e quedas, martírios e genocídos da vil história da humanidade. Se o vinho não presta a culpa é das alterações climáticas. Se a alface tem lesma, se a fruta tem bicho, se a batata não tem sabor e a carne do lombo é difícil de mastigar, a culpa é das alterações climáticas. Se o teu telemóvel avaria, se o carro fica sem bateria, se Trump foi eleito, se o Brexit corre sem acordo, já se sabe: são os efeitos nefastos das alterações climáticas (aquelas alegadamente produzidas pela actividade humana, porque as outras não existem).
E se assim é, que raio, as alterações climáticas têm que ser obrigatoriamente a razão maior da migração do infame crustáceo.
É de facto e até provável que os monstruosos caranguejos tenham viajado até ao Maine porque o clima lhes agrada mais aqui do que mais a norte. Mas isso é completamente normal. E a migração é tão recente que não há estudos, não há prova, não há argumento científico que possa justificar a afirmação.
Mas sem essa afirmação, a não notícia não seria noticiada. E é assim que funciona o jornalismo.
O pior é que, pelos vistos, é também assim que está a funcionar a ciência.
Genius alert: Typhoon.
O meu amigo Carlos Rafael já me tinha alertado para estes senhores, aqui há uns dois ou três meses atrás, mas eu sou um cabeça de vento (é dizer pouco) e demorei a chegar aqui. Typhoon. Ainda só ouvi duas músicas do álbum "Offerings", mas atenção, muita atenção: está aqui uma grandessíssima banda.
Typhoon . Rorschach
Typhoon . Rorschach
domingo, setembro 23, 2018
Frase do mês.
"The reason you have memory isn't to remember the past. The reason you have memory is to not do the same stupid things again in the future."
Jordan B. Peterson
Jordan B. Peterson
Não dá para ignorar Jordan Peterson.
Por causa do lançamento em português das 12 Rules For life, o Observador descobriu ontem o Jordan Peterson. Eu, que já ando para aqui às voltas com ele há que tempos e que li o livro em inglês, fiquei feliz por saber que em Portugal já se percebe a importância decisiva da palavra deste homem, um gigante na defesa dos valores ocidentais e judaico-cristãos.
Só em Portugal é que Peterson é um personagem mais ou menos obscuro. O homem é hoje, na América do norte e por quase toda a Europa ocidental, uma espécie de estrela rock da filosofia: o livro que o Observador destaca é, neste momento, o título mais vendido no mundo, o autor enche arenas que são conhecidas por se destinarem a concertos, é constantemente citado e analisado e aplaudido e aviltado na imprensa, o seu canal no Youtube tem milhões de seguidores, as suas palestras, longas e densas e extremamente populares (principalmente junto dos jovens), estão a mudar o que pensávamos sobre a lógica das audiências e o seu papel como líder da Intellectual Dark Web e de um movimento não orquestrado de protesto contra (e refutação das) políticas de identidade é reconhecido até pelo intratável e execrável New York Times.
Jordan B. Peterson é actualmente o intelectual mais influente no mundo civilizado. Ponto.
A propósito desta descoberta do Observador, deixo aqui um excerto da entrevista que o Professor de Toronto concedeu muito recentemente ao londrino Brian Rose. A entrevista é, tipicamente, poderosa e o vídeo tem uma introdução muito rápida que descreve o trajecto deste incrível, genial e corajoso psicólogo-filósofo.
Só em Portugal é que Peterson é um personagem mais ou menos obscuro. O homem é hoje, na América do norte e por quase toda a Europa ocidental, uma espécie de estrela rock da filosofia: o livro que o Observador destaca é, neste momento, o título mais vendido no mundo, o autor enche arenas que são conhecidas por se destinarem a concertos, é constantemente citado e analisado e aplaudido e aviltado na imprensa, o seu canal no Youtube tem milhões de seguidores, as suas palestras, longas e densas e extremamente populares (principalmente junto dos jovens), estão a mudar o que pensávamos sobre a lógica das audiências e o seu papel como líder da Intellectual Dark Web e de um movimento não orquestrado de protesto contra (e refutação das) políticas de identidade é reconhecido até pelo intratável e execrável New York Times.
Jordan B. Peterson é actualmente o intelectual mais influente no mundo civilizado. Ponto.
A propósito desta descoberta do Observador, deixo aqui um excerto da entrevista que o Professor de Toronto concedeu muito recentemente ao londrino Brian Rose. A entrevista é, tipicamente, poderosa e o vídeo tem uma introdução muito rápida que descreve o trajecto deste incrível, genial e corajoso psicólogo-filósofo.
sábado, setembro 22, 2018
Agora ou nunca ou as duas coisas ao mesmo tempo.
Now or Never. Com um tema apenas, os We Are Scientists criam uma espécie de superposição quântica, que resulta em duas canções fabulosas.
Primeiro, a posição acústica:
Depois, a posição eléctrica:
São duas coisas tão diferentes e tão iguais e tão poderosas que até arrepia.
Primeiro, a posição acústica:
Depois, a posição eléctrica:
São duas coisas tão diferentes e tão iguais e tão poderosas que até arrepia.
quinta-feira, setembro 20, 2018
Haikus da Baía #02
Rasgando ao largo as ondas sóbrias,
a lancha da Marinha traz pressa de aportar.
Devem ter ficado sem gelo
para o scotch.
------------
Nem sempre é fácil discernir
a linha do horizonte.
Às vezes o mar e o céu encontram-se
no mesmo Pantone.
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Oiço ao longe
o lamento de uma motorizada
que sobe a falésia.
É maior o barulho
que a aventura.
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Quando Deus fez a baía,
já sabia que o homem
lá iria inventar um porto.
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A saudade é uma traineira que regreessa à doca
pela conclusão da tarde.
A ansiedade é uma traineira que parte da doca
pelo despontar da manhã.
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Todos os barcos têm um naufrágio no seu destino.
Os barcos felizes naufragam no mar.
Os barcos tristes naufragam em terra.
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O gin tónico sabe-me melhor quando Deus
manda cessar o vento.
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Um veleiro de velas arriadas
é uma contradição a motor.
------------
A Marinha manobra,
fingindo batalhas navais,
enquanto o traficante deixa a sua mercadoria
na praia ao lado.
------------
Só a brisa e as gaivotas
desafiam o silêncio.
Ninguém parte para a guerra
numa tarde assim pacífica.
A incerteza chegou à termo-dinâmica.
"What we find is that because the thermometer no longer has a
well-defined energy and is actually in a combination of different states
at once, that this actually contributes to the uncertainty in the
temperature that we can measure."
H. J. D. Miller
Em 1927, Heisenberg postulou, no seu célebre Princípio da Incerteza, que quanto mais procuras a verdadeira posição de uma partícula, pior é para a tua sabedoria sobre a sua posição num dado momento.
Em Junho deste ano, H. J. D. Miller e J. Anders publicaram um paper na Nature Communications que acrescenta à incerteza topográfica, a incerteza termo-dinâmica: estipular a temperatura de uma partícula sub-atómica é um exercício de loucos. A partícula pode ter duas temperaturas em simultâneo (ou nenhuma, na verdade) como o gato de Schrödinger podia estar morto ou vivo. Sempre que tentamos saber, sempre que tentamos medir, o termómetro ensandece. E a realidade quântica também.
Se preferirem à densidade do paper de que falo, a amigabilidade da notícia sobre o paper, está aqui uma menos má.
O legado de Heisenberg, de Bohr e de Schrödinger permanecem assim como uma espécie de maldição. É quase trágico verificar que nos últimos cem anos a física tem caminhado muito mais para o abismo da incerteza do que para o cume do absoluto.
H. J. D. Miller
Em 1927, Heisenberg postulou, no seu célebre Princípio da Incerteza, que quanto mais procuras a verdadeira posição de uma partícula, pior é para a tua sabedoria sobre a sua posição num dado momento.
Em Junho deste ano, H. J. D. Miller e J. Anders publicaram um paper na Nature Communications que acrescenta à incerteza topográfica, a incerteza termo-dinâmica: estipular a temperatura de uma partícula sub-atómica é um exercício de loucos. A partícula pode ter duas temperaturas em simultâneo (ou nenhuma, na verdade) como o gato de Schrödinger podia estar morto ou vivo. Sempre que tentamos saber, sempre que tentamos medir, o termómetro ensandece. E a realidade quântica também.
Se preferirem à densidade do paper de que falo, a amigabilidade da notícia sobre o paper, está aqui uma menos má.
O legado de Heisenberg, de Bohr e de Schrödinger permanecem assim como uma espécie de maldição. É quase trágico verificar que nos últimos cem anos a física tem caminhado muito mais para o abismo da incerteza do que para o cume do absoluto.
quarta-feira, setembro 19, 2018
O Egas e o Becas são paneleiros.
O Egas e o Becas saíram do armário. Porque o autor destes dois personagens da Rua Sésamo é paneleiro, o Egas e o Becas também são.
Não importa se se trata apenas de dois bonecos. São dois bonecos paneleiros. São um casal de paneleiros.
Não importa se se trata de dois bonecos que representam duas crianças. As crianças também podem ser paneleiras.
Não importa se se trata de dois bonecos que entreteram e entretêm várias gerações de crianças que não estão nem devem estar, obviamente, interessadas nas opções sexuais de dois bonecos. Até porque os bonecos, que eu saiba, não têm sexo.
Nada disto importa, para Mark Saltzman, o paneleiro que os criou. O importante é que toda a gente saiba que ele, Saltzman, leva no cú. E que, na sua mente delirante, os seus bonecos também levam no cú.
Se isto não fosse tão nojento, seria até cómico. Mas é mesmo só, exclusivamente, puramente, nojento.
Não importa se se trata apenas de dois bonecos. São dois bonecos paneleiros. São um casal de paneleiros.
Não importa se se trata de dois bonecos que representam duas crianças. As crianças também podem ser paneleiras.
Não importa se se trata de dois bonecos que entreteram e entretêm várias gerações de crianças que não estão nem devem estar, obviamente, interessadas nas opções sexuais de dois bonecos. Até porque os bonecos, que eu saiba, não têm sexo.
Nada disto importa, para Mark Saltzman, o paneleiro que os criou. O importante é que toda a gente saiba que ele, Saltzman, leva no cú. E que, na sua mente delirante, os seus bonecos também levam no cú.
Se isto não fosse tão nojento, seria até cómico. Mas é mesmo só, exclusivamente, puramente, nojento.
terça-feira, setembro 18, 2018
La Vuelta 2018 ou a vingança do gémeo mais fraco.
Na primeira prova de 3 semanas da época de 2018 - o Giro d'Itália, Simon Yates dominou a concorrência nos primeiros quinze dias. Na terceira semana claudicou entre o cansaço extremo e a recuperação épica de Chris Froome, que acabou por vencer a prova numa só etapa (que ficará para sempre nos anais da história do ciclismo profissional)
Depois deste anti-clímax, Simon, que aqui há um ano atrás era considerado o mais fraco dos gémeos Yates, descansou. Evitou o tour e voltou em força na Vuelta, onde se mostrou de longe o melhor ciclista em prova, deixando estrelas de primeira grandeza como Quintana (que mais uma vez confirmou que não tem fibra de campeão), Valverde, Aru, Nibali, Pinot e Zakarin a milhas e milhas de espaço-tempo.
A vitória de Yates, bem como a integral composição do pódio desta Vuelta, confirmam uma tendência óbvia da época de 2018: há uma nova geração de ciclistas que parece muito promissora. Para além de Yates, que soma apenas 26 anos (a maturidade competitiva no ciclismo surge só depois dos 26/27 anos), Atletas como Enric Mas (23 anos, segundo na Vuelta), Miguel Angel Lopez (24 anos, terceiro na Vuelta e terceiro no Giro) e Richard Carapaz (25 anos, quarto no Giro) vão dar que falar já na próxima época. Isto para não falar de Primož Roglic, que apesar de ter 29 anos chegou há muito pouco tempo ao circuito internacional e já deixou muita gente de queixo caído ao terminar o Tour deste ano em quarto lugar.
A época de 2019, aliás, promete imenso: haverá mesmo muita gente disponível para conquistar as três grandes voltas e alguns, como Chris Froome, Tom Dumoulin e Vincenzo Nibali, por exemplo, com muitas contas a ajustar com o destino.
Ainda agora é Setembro e já sonho com o fim de Maio.
segunda-feira, setembro 17, 2018
Figurinha mal criada do mês.
O ténis é dos poucos desportos que mantêm a sua virtude e espectacularidade quando praticados por senhoras. O problema é que Serena Williams não é nenhuma senhora e, sempre que aparece em cena, dá a sensação que a televisão fica escangalhada ou que o ténis é um desporto para mostrengos. Mal criada, arrogante, manhosa, deselegante, gorda e feia, Serena devia dedicar-se a qualquer outra actividade que não estragasse a retina a tanta gente. Levantamento de pesos, por exemplo.
E devia parar de se fazer de vítima: parece-me muito nitidamente que, sendo multimilionária e multicampeã, tem pouco de que se queixar.
Entre o medo e a esperança: contributos para a problemática da Inteligência Artificial.
Nos dias que correm danados, quando o assunto em questão é a Inteligência Artificial, a pergunta que ouvimos mais vezes já não é se vamos ter máquinas mais inteligentes do que nós. Vamos tê-las de certeza. A pergunta que surge mais frequente é se isso pode acabar com a raça humana ou levá-la a novos patamares de evolução.
Deixo aqui as opiniões válidas, bem formadas, bem informadas e competentemente argumentadas de Sam Harris, um dos gurus da Intellectual Dark Web, que defende a razão pessimista com um tom talvez excessivamente apocalítico, e de Max Tegmark, o brilhante cosmólogo do MIT, que opta por um registo que oscila perigosamente entre o optimismo e a ingenuidade.
A Inteligência Artificial vai acabar com a humanidade, segundo Sam Harris:
A Inteligência Artificial vai exponenciar a humanidade, segundo Max Tegmark:
Eis um assunto difícil e complexo como o diabo. Mas há na cabine telefónica desta conversa dois elefantes magenta que Sam Harris, tipicamente, e Max Tegmark, estranhamente, não conseguem identificar nas suas breves Ted Talks (se calhar precisamente por serem breves).
O primeiro elefante é a questão da consciência. Acho estranho que Tegmark não integre a consciência no seu discurso, porque ele é precisamente um dos cientistas contemporâneos que está a trazer a consciência para o âmbito da Matemática. Acho típico que Sam Harris não fale neste assunto porque é um ateu tão radical que nem deve gostar muito da palavra consciência. Mas seja como for, esta é uma das pedras de toque quando toca a música das máquinas divinas.
É que o que está aqui em jogo é o processo inverso do Genesis. No Antigo Testamento, é Deus que cria o Homem. No Século XXI será o Homem que cria Deus. Porque uma máquina com capacidades de processamento próprias do chip quântico, se for programada para aprender e se for ligada à Internet pode rapidamente tornar-se omni-presente, omni-potente: divina. Acontece que o Deus do Antigo Testamento não é de todo a mais simpática das figuras literárias, muito pelo contrário (perguntem a Job). Não queremos criar uma máquina que proceda como esse Deus. Mas também não queremos criar um máquina destituída de leis morais, que funcione da forma mais eficiente possível, porque um computador quântico pode muito bem acreditar que a forma mais eficiente possível de lidar com a humanidade seja aniquilá-la.
A esta máquina tem assim que ser oferecido um motor consciente. A capacidade de distinguir entre o bem e o mal. A capacidade de encontrar um equilíbrio entre a ordem e o caos, a eficiência e a decência, o moralmente certo e o moralmente errado.
O problema é que a referência moral é a humana. Não é a da máquina. Porém, é aqui mesmo que entra a outra omissão elefantina nos argumentos das duas estrelas TED: muito provavelmente, os sistemas de inteligência artificial da segunda metade do Século XXI serão integrados na realidade biológica do ser humano. Máquina e Homem, Deus e Criado - ou Deus e Criador - serão o mesmo ente: o Sapiens 2.0, verdadeiro ex-machina, finalmente disponível num futuro próximo de ti, jovem leitor. Assim, a máquina não precisaria de uma consciência de si própria, porque seria escrava da consciência do seu portador humano.
Não, não estou a ser optimista. Ao suspeitar que a integração da Inteligência Artificial no corpo do homem será bastante provável a médio prazo não quero concluir um final feliz. Enquanto o homem for homem, enquanto Deus for Deus, não há finais felizes. Mas, como acontece tantas vezes na Futurologia, como acontece tantas vezes na História, é difícil fazer as contas no presente do indicativo.
Sendo certo que a tecnologia não vai parar de evoluir (até porque é um produto humano), podemos acreditar com sensatez que dentro de 20 a 40 anos teremos ao nosso dispor sistemas computacionais ontologicamente mais competentes do que nós. Mas a tendência será também a de integrar esses sistemas na rede neural humana. É isso que temos feito até aqui, na verdade. O que é um smartphone senão um complemento orgânico, um attach ao sistema nervoso da relação que o Sapiens tem com o mundo?
A ideia da máquina malevolente de olho vermelho, de Arthur C. Clark e Stanley Kubrick, é literária e cinematograficamente fabulosa. Mas não me parece que o futuro do homem seja assaltado por este género de sistemas operativos da era analógica. Até porque, neste contexto, as leis de Asimov continuam a ser válidas, desde que programadas como mandamentos:
[ 1 ] A robot may not injure a human being, or, through inaction, allow a human being to come to harm.
[ 2 ] A robot must obey orders given it by human beings except where such orders conflict with the First Law.
[ 3 ] A robot must protect its own existence as long as such protection does not conflict with the First or Second Law.
Seja como for, prossigamos com ambição, porque a inteligência artificial pode de facto transportar a condição humana para um outro patamar ontológico; e com cautela, porque sabemos o suficiente de história, de ciência (e de literatura), para não confiar cegamente num futuro risonho.
Deixo aqui as opiniões válidas, bem formadas, bem informadas e competentemente argumentadas de Sam Harris, um dos gurus da Intellectual Dark Web, que defende a razão pessimista com um tom talvez excessivamente apocalítico, e de Max Tegmark, o brilhante cosmólogo do MIT, que opta por um registo que oscila perigosamente entre o optimismo e a ingenuidade.
A Inteligência Artificial vai acabar com a humanidade, segundo Sam Harris:
A Inteligência Artificial vai exponenciar a humanidade, segundo Max Tegmark:
Eis um assunto difícil e complexo como o diabo. Mas há na cabine telefónica desta conversa dois elefantes magenta que Sam Harris, tipicamente, e Max Tegmark, estranhamente, não conseguem identificar nas suas breves Ted Talks (se calhar precisamente por serem breves).
O primeiro elefante é a questão da consciência. Acho estranho que Tegmark não integre a consciência no seu discurso, porque ele é precisamente um dos cientistas contemporâneos que está a trazer a consciência para o âmbito da Matemática. Acho típico que Sam Harris não fale neste assunto porque é um ateu tão radical que nem deve gostar muito da palavra consciência. Mas seja como for, esta é uma das pedras de toque quando toca a música das máquinas divinas.
É que o que está aqui em jogo é o processo inverso do Genesis. No Antigo Testamento, é Deus que cria o Homem. No Século XXI será o Homem que cria Deus. Porque uma máquina com capacidades de processamento próprias do chip quântico, se for programada para aprender e se for ligada à Internet pode rapidamente tornar-se omni-presente, omni-potente: divina. Acontece que o Deus do Antigo Testamento não é de todo a mais simpática das figuras literárias, muito pelo contrário (perguntem a Job). Não queremos criar uma máquina que proceda como esse Deus. Mas também não queremos criar um máquina destituída de leis morais, que funcione da forma mais eficiente possível, porque um computador quântico pode muito bem acreditar que a forma mais eficiente possível de lidar com a humanidade seja aniquilá-la.
A esta máquina tem assim que ser oferecido um motor consciente. A capacidade de distinguir entre o bem e o mal. A capacidade de encontrar um equilíbrio entre a ordem e o caos, a eficiência e a decência, o moralmente certo e o moralmente errado.
O problema é que a referência moral é a humana. Não é a da máquina. Porém, é aqui mesmo que entra a outra omissão elefantina nos argumentos das duas estrelas TED: muito provavelmente, os sistemas de inteligência artificial da segunda metade do Século XXI serão integrados na realidade biológica do ser humano. Máquina e Homem, Deus e Criado - ou Deus e Criador - serão o mesmo ente: o Sapiens 2.0, verdadeiro ex-machina, finalmente disponível num futuro próximo de ti, jovem leitor. Assim, a máquina não precisaria de uma consciência de si própria, porque seria escrava da consciência do seu portador humano.
Não, não estou a ser optimista. Ao suspeitar que a integração da Inteligência Artificial no corpo do homem será bastante provável a médio prazo não quero concluir um final feliz. Enquanto o homem for homem, enquanto Deus for Deus, não há finais felizes. Mas, como acontece tantas vezes na Futurologia, como acontece tantas vezes na História, é difícil fazer as contas no presente do indicativo.
Sendo certo que a tecnologia não vai parar de evoluir (até porque é um produto humano), podemos acreditar com sensatez que dentro de 20 a 40 anos teremos ao nosso dispor sistemas computacionais ontologicamente mais competentes do que nós. Mas a tendência será também a de integrar esses sistemas na rede neural humana. É isso que temos feito até aqui, na verdade. O que é um smartphone senão um complemento orgânico, um attach ao sistema nervoso da relação que o Sapiens tem com o mundo?
A ideia da máquina malevolente de olho vermelho, de Arthur C. Clark e Stanley Kubrick, é literária e cinematograficamente fabulosa. Mas não me parece que o futuro do homem seja assaltado por este género de sistemas operativos da era analógica. Até porque, neste contexto, as leis de Asimov continuam a ser válidas, desde que programadas como mandamentos:
[ 1 ] A robot may not injure a human being, or, through inaction, allow a human being to come to harm.
[ 2 ] A robot must obey orders given it by human beings except where such orders conflict with the First Law.
[ 3 ] A robot must protect its own existence as long as such protection does not conflict with the First or Second Law.
Seja como for, prossigamos com ambição, porque a inteligência artificial pode de facto transportar a condição humana para um outro patamar ontológico; e com cautela, porque sabemos o suficiente de história, de ciência (e de literatura), para não confiar cegamente num futuro risonho.
domingo, setembro 16, 2018
Hockney, o último génio.
Relativizando tudo ao aniquilar qualquer critério e - assim - toda a possibilidade de uma Crítica, o Pós-Modernismo assassinou as artes e é muito fácil entrarmos hoje numa qualquer galeria de coisas contemporâneas para nos sentirmos insultados. Para percebermos que algo está podre no reino do vale tudo e da arte por conceito.
Como sempre, porém, há ainda gente que se salva e arte que vale em absoluto. Que vibra, que comunica, que é inteligível. E David Hockney é, talvez, o mais genial pintor vivo: uma espécie de último grande mestre.
Cruzando referências que oscilam entre Claude Monet e Edward Hopper, entre Francis Bacon e Pablo Picasso, entre Vincent van Gogh e Andrew Wyeth (outro dos últimos grandes mestres, mas este já falecido); Hockney não tem medo do cliché, porque toda a arte é construída sobre convenções. São as convenções que fazem da arte a suprema forma de comunicação. São as convenções - os lugares comuns - que permitem o olhar original, a ruptura, a inovação, os modernismos.
É precisamente pela originalidade com que representa o real, é precisamente por fazer da normalidade uma singularidade, que David Hockney é genial. As suas obras vibram pelas nossas retinas adentro, penetram imageticamente na alma para criarem momentos de eternidade, sensações de transcendência. Fazem, na verdade, exactamente o que a arte deve fazer: alteram o nosso processo de percepção das coisas.
Olhamos para um quadro deste homem e o tempo cristaliza num iato de espanto e de serenidade. É uma variante da magia branca. Estamos perante algo que é puro, que é autêntico. Os retratos de Hockney, por exemplo, têm verdadeiramente pessoas verdadeiras lá dentro.
Parece que o célebre “Retrato de um Artista (Piscina de Duas Figuras)”, de 1972, pode vir a ser um dos mais caros de um artista vivo. A leiloeira Christie’s estima a venda em mais de 68 milhões de euros.
Haikus da Baía #01
O meu cão cego
aprecia a vista:
a virtude da baía
não precisa de olhos bons.
-------------
"A justiça militar
está para a justiça
como a música militar
está para a música"
Diz o meu sogro.
Faço-lhe continência.
-------------
Os sinos chamam à missa
mas a maré não sobe por causa disso.
-------------
Se fossem ainda mais pobres
os meus versos morreriam de fome.
-------------
A mosca é a pior
invenção de deus
e deus é a melhor
invenção do homem.
-------------
O céu nocturno esconde
mais do que mostra.
É por isso que a lua tem as suas fases.
A luz fixa dos planetas
desenha órbitas na escuridão.
E dá-me vontade de foguetões.
-------------
A cadeira de baloiço
que me embala o fim de tarde
faz de mim um ioiô.
-------------
Todas as tardes têm um fim diferente.
A Mãe Natureza nunca se aborrece.
-------------
A traineira arrasta-se
na direcção da doca.
Traz o pregado
que vou comer mais logo.
-------------
O vinho transforma a paisagem.
Depois de três copos a baía
fica ainda mais bonita.
terça-feira, setembro 11, 2018
Pela Estrada Fora #10
Sigo pela margem norte da Ribeira de Seixe, até à foz. Está um belo dia de verão. À excepção de dois ou três turistas que passam de bicicleta, ninguém. Do outro lado da Ribeira, a vila de Odeceixe espreita, silenciosa. A tarde está tão calma que quase enerva. Como não conheço a estrada, que é estreita e sinuosa, prossigo devagar. Estou de bem com a vida. Mas dava agora tudo pela liberdade, pela ferocidade, pela velocidade de um autódromo.
Um poema do Álvaro que eu desconhecia.
Estranhamente, li hoje, pela primeira vez, este poema. Pensava que já tinha lido todos os poemas do Álvaro de Campos. Pensava que isso era possível. Não é.
____________
A alma humana é porca como um ânus
E a Vantagem dos caralhos pesa em muitas imaginações.
Meu coração desgosta-se de tudo com uma náusea do estômago.
A Távola Redonda foi vendida a peso,
E a biografia do Rei Artur, um galante escreveu-a.
Mas a sucata da cavalaria ainda reina nessas almas, como um perfil distante.
Está frio.
Ponho sobre os ombros o capote que me lembra um xaile —
O xaile que minha tia me punha aos ombros na infância.
Mas os ombros da minha infância sumiram-se antes para dentro dos meus ombros.
E o meu coração da infância sumiu-se antes para dentro do meu coração.
Sim, está frio...
Está frio em tudo que sou, está frio...
Minhas próprias ideias têm frio, como gente velha...
E o frio que eu tenho das minhas ideias terem frio é mais frio do que elas.
Engelho o capote à minha volta...
O Universo da gente... a gente... as pessoas todas!...
A multiplicidade da humanidade misturada
Sim, aquilo a que chamam a vida, como se só houvesse outros e estrelas...
Sim, a vida...
Meus ombros descaem tanto que o capote resvala...
Querem comentário melhor? Puxo-me para cima o capote.
Ah, parte a cara à vida!
Levanta-te com estrondo no sossego de ti!
____________
A alma humana é porca como um ânus
E a Vantagem dos caralhos pesa em muitas imaginações.
Meu coração desgosta-se de tudo com uma náusea do estômago.
A Távola Redonda foi vendida a peso,
E a biografia do Rei Artur, um galante escreveu-a.
Mas a sucata da cavalaria ainda reina nessas almas, como um perfil distante.
Está frio.
Ponho sobre os ombros o capote que me lembra um xaile —
O xaile que minha tia me punha aos ombros na infância.
Mas os ombros da minha infância sumiram-se antes para dentro dos meus ombros.
E o meu coração da infância sumiu-se antes para dentro do meu coração.
Sim, está frio...
Está frio em tudo que sou, está frio...
Minhas próprias ideias têm frio, como gente velha...
E o frio que eu tenho das minhas ideias terem frio é mais frio do que elas.
Engelho o capote à minha volta...
O Universo da gente... a gente... as pessoas todas!...
A multiplicidade da humanidade misturada
Sim, aquilo a que chamam a vida, como se só houvesse outros e estrelas...
Sim, a vida...
Meus ombros descaem tanto que o capote resvala...
Querem comentário melhor? Puxo-me para cima o capote.
Ah, parte a cara à vida!
Levanta-te com estrondo no sossego de ti!
Emergência: eis uma boa Teoria de Tudo.
"Nature is a language expressing itself."
Klee Irwin
A Teoria da Emergência apresenta-nos o universo como um processo temporalmente não linear de criação de consciência. Desta teoria, gosto. É coerente com o estado da matemática contemporânea e é demonstrável através do método científico. Faz sentido de tal forma que toda a gente pode compreender a sua lógica. E traz imensa consolação, traz imenso significado, à vida humana: quem tu foste, és ou serás influi perpetuamente no processo universal de ganho de consciência. Dos bits de informação do tamanho de 1 Planck às células, do ser humano às estrelas, há um movimento no sentido da obtenção de uma consciência universal, em que todos participamos e participaremos sempre. E este sempre tem a ver com um conceito não linear (ou não cronológico) do tempo. O futuro é construido pelo passado mas o passado também é construído pelo futuro, de tal forma que essa consciência universal que é produto de toda a energia, de toda a História, de toda a informação do cosmos existe desde sempre, na verdade.
Esta teoria consegue de facto explicar coisas tão diabólicas como a "Double-Slit Experience", integrando e predizendo constantes fundamentais como a Velocidade da Luz, a Constante de Planck, a Constante de Estrutura Fina, o Princípio da Incerteza e a Proporção Áurea.
Precisa de 8 dimensões matriciais, como a Teoria das Cordas, assume que a realidade é constituída por bits de informação, como a Teoria do Multiverso e as Teorias do Universo como Simulação, mas não se esgota em conclusões disparatadas, intratáveis ou niilistas que não trazem qualquer tipo de consolação filosófica.
Nestes 30 minutos de vídeo, a Teoria é bem explicadinha. E fácil de perceber, o que não é dizer pouco.
Klee Irwin
A Teoria da Emergência apresenta-nos o universo como um processo temporalmente não linear de criação de consciência. Desta teoria, gosto. É coerente com o estado da matemática contemporânea e é demonstrável através do método científico. Faz sentido de tal forma que toda a gente pode compreender a sua lógica. E traz imensa consolação, traz imenso significado, à vida humana: quem tu foste, és ou serás influi perpetuamente no processo universal de ganho de consciência. Dos bits de informação do tamanho de 1 Planck às células, do ser humano às estrelas, há um movimento no sentido da obtenção de uma consciência universal, em que todos participamos e participaremos sempre. E este sempre tem a ver com um conceito não linear (ou não cronológico) do tempo. O futuro é construido pelo passado mas o passado também é construído pelo futuro, de tal forma que essa consciência universal que é produto de toda a energia, de toda a História, de toda a informação do cosmos existe desde sempre, na verdade.
Esta teoria consegue de facto explicar coisas tão diabólicas como a "Double-Slit Experience", integrando e predizendo constantes fundamentais como a Velocidade da Luz, a Constante de Planck, a Constante de Estrutura Fina, o Princípio da Incerteza e a Proporção Áurea.
Precisa de 8 dimensões matriciais, como a Teoria das Cordas, assume que a realidade é constituída por bits de informação, como a Teoria do Multiverso e as Teorias do Universo como Simulação, mas não se esgota em conclusões disparatadas, intratáveis ou niilistas que não trazem qualquer tipo de consolação filosófica.
Nestes 30 minutos de vídeo, a Teoria é bem explicadinha. E fácil de perceber, o que não é dizer pouco.
domingo, setembro 09, 2018
Um caminho.
Não vou, muito provavelmente, estar vivo quando a Apple ou a Samsung
lançarem o seu primeiro computador, o seu primeiro sistema operativo, de
processador quântico. Ou, mesmo que esteja vivo, já não me servirá de
grande coisa. Os computadores de processador quântico vão transformar o
Sapiens 1.0 no Sapiens 2.0. E, o mais certo, é que nessa altura o
conceito de computador já tenha sofrido bastantes alterações, de tal
forma que não seja uma máquina exterior ao corpo, mas antes um
complemento cibernético da arquitectura humana.
Seja como for, o processo científico e industrial está a dar os seus primeiros passos. A ideia central é tirar partido de fantasmáticas "anomalias" do comportamento das partículas como a superposição e o entanglement, de tal forma que o actual código binário multiplique a sua produtividade na ordem dos milhares percentuais. A diferença entre um bit e um qubit é que um bit ou é zero ou é um. Um qubit pode ser, no mesmo momento, zero e um. Mais: pode ser o zero e o um de outro qubit. Isto levanta todos os potenciais que podemos imaginar, em termos de capacidade de processamento. E, também, do que será capaz de fazer a inteligência artificial na segunda metade do século XXI (para o bem e para o mal, como sempre).
Não se trata de uma revolução para agora, independentemente do que possam dizer os mais optimistas. Existem grandes dificuldades ao nível da coerência energética das partículas e é preciso trabalhar consistente e afincadamente em múltiplas frentes tecnológicas para que um computador quântico esteja à venda, a um preço de classe média, numa Worten perto de ti, caro leitor. Para que caiba em cima ou em baixo da tua secretária. Para que consiga ser completamente imune ao ambiente do teu escritório. Para que consiga manter estáveis temperaturas abaixo do zero absoluto.
Mas, como este vídeo bem demonstra, nos anos 50 do século passado também era precisa uma sala enorme para manter a funcionar um computador com um centésimo da capacidade de processamento do teu actual telemóvel.
Por isso, vamos deixar a malta trabalhar e ver o que é que sai daqui.
Seja como for, o processo científico e industrial está a dar os seus primeiros passos. A ideia central é tirar partido de fantasmáticas "anomalias" do comportamento das partículas como a superposição e o entanglement, de tal forma que o actual código binário multiplique a sua produtividade na ordem dos milhares percentuais. A diferença entre um bit e um qubit é que um bit ou é zero ou é um. Um qubit pode ser, no mesmo momento, zero e um. Mais: pode ser o zero e o um de outro qubit. Isto levanta todos os potenciais que podemos imaginar, em termos de capacidade de processamento. E, também, do que será capaz de fazer a inteligência artificial na segunda metade do século XXI (para o bem e para o mal, como sempre).
Não se trata de uma revolução para agora, independentemente do que possam dizer os mais optimistas. Existem grandes dificuldades ao nível da coerência energética das partículas e é preciso trabalhar consistente e afincadamente em múltiplas frentes tecnológicas para que um computador quântico esteja à venda, a um preço de classe média, numa Worten perto de ti, caro leitor. Para que caiba em cima ou em baixo da tua secretária. Para que consiga ser completamente imune ao ambiente do teu escritório. Para que consiga manter estáveis temperaturas abaixo do zero absoluto.
Mas, como este vídeo bem demonstra, nos anos 50 do século passado também era precisa uma sala enorme para manter a funcionar um computador com um centésimo da capacidade de processamento do teu actual telemóvel.
Por isso, vamos deixar a malta trabalhar e ver o que é que sai daqui.
quinta-feira, setembro 06, 2018
Why a right winger?
É muito frequente acontecer-me isto: numa conversa qualquer, digo de repente que sou de direita e as pessoas ficam a olhar para mim, meio confusas, meio assustadas, sem saber se estão a falar com um nazi ou com um tipo que apenas discorda de uma certa visão normalizada das coisas. A semana passada aconteceu-me isto com um casal que muito estimo e que não via há anos. Como ela é britânica, escrevi este email para eles em inglês, que na verdade serve bem de manifesto, até porque é sucinto:
To put it as simple as I can (so not to bother you with rethorics): because I strongly believe in liberty, individualism and responsibility. I believe In liberty as a tool for people to suppress tyranny and take as much control as possible of their destinies; I believe in the individual so he remains human in the midst of social convergence; and I believe in responsibility so I can resist the temptation to establish desires as rights, and assume my own faults with the same legitimacy that I take credit for my virtues.
But Jordan B. Peterson, explains it a lot better:
"How could the world be freed from the terrible dilemma of conflict, on the one hand, and psychological and social dissolution, on the other? The answer was this: through the elevation and development of the individual, and through the willingness of everyone to shoulder the burden of Being and to take the heroic path. We must each adopt as much responsibility as possible for individual life, society and the world. We must each tell the truth and repair what is in disrepair and break down and recreate what is old and outdated. It is in this manner that we can and must reduce the suffering that poisons the world. It's asking a lot. It's asking for everything. But the alternative - the horror of authoritarian belief, the chaos of the collapsed state, the tragic catastrophe of the unbridled natural world, the existential angst and weakness of the purposeless individual - is clearly worse."
Taken from "12 Rules For Life - An Antidote to Chaos"
That's it.
Elon Musk entre a fraude e a comédia.
Elon Musk é um comediante. E isso está muito bem. O problema é quando as pessoas levam os comediantes a sério. E isso é que já não está nada bem.
Sou um incondicional da exploração espacial e desejo ardentemente o relançamento da aventura cósmica como eixo fundamental para a realização da humanidade. Não acho, sinceramente, que Marte seja o destino mais interessante. Há locais no sistema solar bem mais apelativos para a ciência como Enceladus, a sexta lua de Saturno, ou Europa, outra insignificante lua de Jupiter, que encerram, debaixo de finas camadas de gelo, oceanos de água tépida.
Mas por mim, tudo bem. Se é Marte o objectivo, que se cumpra o objectivo. Na minha maneira de ver as coisas, vale sempre a pena deixar a atmosfera da terra nem que seja para visitar uma rocha estéril à deriva no espaço. Nesta matéria, o que conta mais é a glória da aventura.
O projecto de Musk, porém, mexe-me imenso com os nervos da irritação. E mexe assim comigo, é assim irritante, porque é muito feio mentir desta maneira. Iludir as pessoas desta maneira. Falsificar a realidade desta maneira.
A SpaceX nunca explicou como é que vai reduzir os custos da aventura cinco milhões de vezes, como afirma que é necessário para que o projecto seja viável. Nunca explicou como tenciona proteger os astronautas da radiação com que vão ser atingidos durante as viagens. Nunca explicou como é que vai criar energia e inventar as estruturas para proteger os colonos das temperaturas extremas do planeta e para criar ambientes pressurizados e ricos em oxigénio onde eles possam viver. Nunca explicou como é que vai alimentar esta gente toda. Como é que vai ter água para dar de beber a esta gente toda. Nunca explicou como é que esta gente toda vai procriar ou sequer sobreviver num ambiente super hostil e com pressões gravíticas radicalmente diferentes das que existem na Terra (ninguém sabe ao certo como se desenrolará um parto num planeta que exerce um terço da pressão gravítica da Terra). Nunca explicou como é que vai conseguir lançar mais de mil missões em cerca de 60 anos. Nunca explicou onde é que vai arranjar o diabo do dinheiro para tudo isto, sendo que esta será, de longe, a mais cara iniciativa da história da humanidade e sendo que nem sequer se percebe quais as riquezas que o planeta oferece para justificar o investimento.
O único trunfo que a SpaceX tem na sua cómico-trágica manga é o facto de ter um foguetão que é capaz de sair da atmosfera e entrar outra vez na atmosfera para voltar a sair dela e regressar outra vez e assim sucessivamente até que entretanto alguma coisa corra mal. O foguetão reutilizável é uma boa ideia. Mas, gentil leitor, não resolve grande coisa se o teu sonho for passar um fim de semana nas montanhas rochosas do Planeta Vermelho. E não resolve mesmo nada se a tua ambição for a que Musk diz ser a dele: a colonização massiva de Marte no espaço de um século.
Na verdade, o projecto Marte de Elon Musk não tem qualquer sustentabilidade técnica, contabilística ou científica. É uma mera manobra publicitária, como a a maior parte das iniciativas empresariais do milionário canadiano. É um belo PowerPoint. Mas é apenas isso.
A prova derradeira da fraude de que falo é esta mais que amadora, mais que hesitante, mais que incompleta, mais que vaga, mais que não científica apresentação do projecto, por parte de quem o dirige: Paul Wooster, o engenheiro que chefia o projecto.
Que tristeza, senhores.
Elon Musk não passa de um charlatão. Mas, como é um charlatão a que as pessoas parecem achar alguma piada (mais vale cair em graça do que ser engraçado), está de facto a enganar meio mundo. Ainda por cima, com a mais quimérica das promessas: a da conquista espacial.
Eu cá acho que não devemos brincar com sonhos assim. Mas isto sou eu que não tenho sentido de humor nenhum nem vejo qual é a piada que tem este comediante.
Fontes:
Business Insider
New York Post
Inc.com
The Guardian
The Conversation
Sou um incondicional da exploração espacial e desejo ardentemente o relançamento da aventura cósmica como eixo fundamental para a realização da humanidade. Não acho, sinceramente, que Marte seja o destino mais interessante. Há locais no sistema solar bem mais apelativos para a ciência como Enceladus, a sexta lua de Saturno, ou Europa, outra insignificante lua de Jupiter, que encerram, debaixo de finas camadas de gelo, oceanos de água tépida.
Mas por mim, tudo bem. Se é Marte o objectivo, que se cumpra o objectivo. Na minha maneira de ver as coisas, vale sempre a pena deixar a atmosfera da terra nem que seja para visitar uma rocha estéril à deriva no espaço. Nesta matéria, o que conta mais é a glória da aventura.
O projecto de Musk, porém, mexe-me imenso com os nervos da irritação. E mexe assim comigo, é assim irritante, porque é muito feio mentir desta maneira. Iludir as pessoas desta maneira. Falsificar a realidade desta maneira.
A SpaceX nunca explicou como é que vai reduzir os custos da aventura cinco milhões de vezes, como afirma que é necessário para que o projecto seja viável. Nunca explicou como tenciona proteger os astronautas da radiação com que vão ser atingidos durante as viagens. Nunca explicou como é que vai criar energia e inventar as estruturas para proteger os colonos das temperaturas extremas do planeta e para criar ambientes pressurizados e ricos em oxigénio onde eles possam viver. Nunca explicou como é que vai alimentar esta gente toda. Como é que vai ter água para dar de beber a esta gente toda. Nunca explicou como é que esta gente toda vai procriar ou sequer sobreviver num ambiente super hostil e com pressões gravíticas radicalmente diferentes das que existem na Terra (ninguém sabe ao certo como se desenrolará um parto num planeta que exerce um terço da pressão gravítica da Terra). Nunca explicou como é que vai conseguir lançar mais de mil missões em cerca de 60 anos. Nunca explicou onde é que vai arranjar o diabo do dinheiro para tudo isto, sendo que esta será, de longe, a mais cara iniciativa da história da humanidade e sendo que nem sequer se percebe quais as riquezas que o planeta oferece para justificar o investimento.
O único trunfo que a SpaceX tem na sua cómico-trágica manga é o facto de ter um foguetão que é capaz de sair da atmosfera e entrar outra vez na atmosfera para voltar a sair dela e regressar outra vez e assim sucessivamente até que entretanto alguma coisa corra mal. O foguetão reutilizável é uma boa ideia. Mas, gentil leitor, não resolve grande coisa se o teu sonho for passar um fim de semana nas montanhas rochosas do Planeta Vermelho. E não resolve mesmo nada se a tua ambição for a que Musk diz ser a dele: a colonização massiva de Marte no espaço de um século.
Na verdade, o projecto Marte de Elon Musk não tem qualquer sustentabilidade técnica, contabilística ou científica. É uma mera manobra publicitária, como a a maior parte das iniciativas empresariais do milionário canadiano. É um belo PowerPoint. Mas é apenas isso.
A prova derradeira da fraude de que falo é esta mais que amadora, mais que hesitante, mais que incompleta, mais que vaga, mais que não científica apresentação do projecto, por parte de quem o dirige: Paul Wooster, o engenheiro que chefia o projecto.
Que tristeza, senhores.
Elon Musk não passa de um charlatão. Mas, como é um charlatão a que as pessoas parecem achar alguma piada (mais vale cair em graça do que ser engraçado), está de facto a enganar meio mundo. Ainda por cima, com a mais quimérica das promessas: a da conquista espacial.
Eu cá acho que não devemos brincar com sonhos assim. Mas isto sou eu que não tenho sentido de humor nenhum nem vejo qual é a piada que tem este comediante.
Fontes:
Business Insider
New York Post
Inc.com
The Guardian
The Conversation
quarta-feira, setembro 05, 2018
Um terraço no paraíso.
Acampei uns dias da semana passada em casa de um grande amigo, que trabalhou 30 anos para concretizar um sonho. Não herdou, não chulou, não pediu, não desistiu. Persistiu. E depois de um árduo percurso profissional, arregaçou as mangas e fez de uma habitação quase devoluta uma casa encantadora, com um pequeno e maravilhoso terraço que oferece uma vista magnífica sobre a enseada de Odeceixe.
O meu querido amigo é a prova provada que o mérito e a persistência compensam. E que é sempre possível concretizar - e até às vezes superar - os sonhos com que entretemos a esperança. Se estivermos dispostos a trabalhar no duro, bem entendido.
terça-feira, setembro 04, 2018
segunda-feira, setembro 03, 2018
O regresso do Ladrão do Ananás.
The Pineapple Thief. Uma banda de encher os tímpanos que está de regresso com "Dissolution". Fico feliz logo à primeira audição. Estes rapazes nunca desiludem. É bom som que nunca mais acaba.
The Pineapple Thief . Far Below
The Pineapple Thief . Far Below
Da solidão.
Se considerarmos a expansão acelerada do Universo, os seus 46 mil
milhões de anos-luz de raio e que todas as regiões do espaço contêm em média o
mesmo número de galáxias, verificamos que 97% das galáxias já estão fora do alcance de viagens à velocidade da luz.
O Universo desaparece assim, do que é observável e do que é alcançável, à velocidade incrível de 20.000 estrelas por segundo.
Se a raça humana tivesse surgido uns milhares de milhões de anos mais tarde, não existiriam astrónomos. Contemplaríamos um céu nocturno negro como a morte. Muito provavelmente, nunca chegaríamos a ter consciência do cosmos.
A sós, sem o apelo dos astros, sem o mistério da infinitude, sem a verdadeira consciência das escalas, que árvore de conhecimento, que edifício moral, que aparelho filosófico triunfaria?
Dou graças a Deus por ter nascido no momento certo da história da Constante Cosmológica.
Fonte: HypeScience
O Universo desaparece assim, do que é observável e do que é alcançável, à velocidade incrível de 20.000 estrelas por segundo.
Se a raça humana tivesse surgido uns milhares de milhões de anos mais tarde, não existiriam astrónomos. Contemplaríamos um céu nocturno negro como a morte. Muito provavelmente, nunca chegaríamos a ter consciência do cosmos.
A sós, sem o apelo dos astros, sem o mistério da infinitude, sem a verdadeira consciência das escalas, que árvore de conhecimento, que edifício moral, que aparelho filosófico triunfaria?
Dou graças a Deus por ter nascido no momento certo da história da Constante Cosmológica.
Fonte: HypeScience
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