quinta-feira, setembro 27, 2018
Haikus da Baía #03
Quando o sol da tarde
atormenta a falésia
até as moscas fazem a sesta.
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O sol esconde-se por trás do promontório
e a tarde pacifica-se.
Aprecio a primeira brisa fresca do dia e,
por um momento,
acredito em deus.
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Iates elegantes traçam de espuma
o indolente oceano.
A natureza gosta de máquinas.
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O homem existe para que a natureza
tenha espectadores.
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A minha caligrafia é tão pobre
que até à tinta deve dinheiro.
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Todos os castelos são altivos.
Até a corveta
fica em sentido.
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O sossego da baía é mais perturbado pelos aviões
que pelas traineiras.
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A minha cadela adora a falésia.
Os cães - como as pessoas - gostam de liberdade.
E de jardins.
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O jacto da Força Aérea desenha traços sobre o infinito.
São efémeros como os reactores.
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Uma doca é um parque de estacionamento
com paisagem.
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Comprei uma Bic no supermercado
a pensar que o supermercado vendia
as mesmas bics da minha infância.
A ingenuidade fica rapidamente
sem tinta.
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Os insectos são atraídos pela luz
como os homens são atraídos pelo mistério.
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Uma qualidade que o dinheiro tem:
nunca prolonga a sua visita.
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Lua cheia.
Há dias com menos luz.