quarta-feira, setembro 25, 2019

Rock on, Rick.

Rick Beato. Músico, compositor, professor, produtor, youtuber, mas sobretudo, amante de música. E no canal dele percebe-se bem o romance. Num dos segmentos que edita com regular persistência e apaixonada veia, "What Makes This Song Great", Beato explica muito bem explicado porque é que a mais épica das malhas já inventadas pelos Queens of the Stone Age, "Nobody Knows", é assim tão malha e é assim tão épica. Escolhi este vídeo porque, claramente, gosto tanto da música como o alegre youtuber. Mas qualquer melómano curioso vai de certeza encontrar a desmontagem fascinante de uma canção de vida, nos sessenta e tal episódios desta série. Beato adora o que faz e o que faz brilhantemente é ensinar música. E irradiar uma deveras consoladora pedagogia do gosto. Programa de televisão do momento.




quinta-feira, setembro 12, 2019

Patologia americana.

Este tweet do New York Times dedicado à traumática e dramática efeméride de ontem é eloquente sobre o momento insano que atravessa o panorama político - e jornalístico - americano. Afinal, foram os aviões que decidiram, há 18 anos atrás, rebentar com as Torres Gémeas. Os aviões é que são os terroristas. A ideia de que aos comandos dos aviões estavam uns tipos muita porreiros a quem costumamos (costumávamos?) chamar radicais islâmicos e que esses tipos muita porreiros é que foram responsáveis pelo horror, é uma teoria da conspiração sem pés nem cabeça. Porque os aviões é que são os culpados. Os aviões, ouviram?
O tweet foi rapidamente substituído por um ligeiramente menos ofensivo, mas ainda assim, convenhamos: há aqui um fenómeno nitidamente patológico.

terça-feira, setembro 10, 2019

Elogio da solidão.

Desde criança que sempre apreciei a solidão. Convivo bem com ela porque sei, sempre soube, que faz parte grande e importante da vida. É a solidão que me permite escrever, trabalhar, pensar. É quando estou só que o meu raciocínio se aprofunda, que a análise que faço de mim e dos outros é mais certeira. Sou uma pessoa de companhia, claro. Gosto da componente social e conservo, apesar de tudo, muitos e bons amigos com quem adoro estar. Com quem adoro conversar, beber uns copos, desabafar, rir, confessar ridículos e partilhar glórias. Mas tenho a convicção sólida de que a saudável convivência social só é possível quando sabemos ficar a sós. Quando aproveitamos a solidão para um melhor entendimento do mundo. E para a superior exploração do nosso potencial. E pelos vistos, Alain de Botton e os senhores da notável The School of Life concordam comigo. Pelos vistos, na minha opinião sobre a solidão, não estou sozinho:


Bandeiras erradas.

Em Hong Kong, os manifestantes erguem a bandeira americana, como uma tocha libertária. Em Boston, os militantes da Antifa queimam-na, como um símbolo do mal absoluto.
Manifestantes e militantes estão equivocados, claro. Uns deviam levantar a britânica Union Jack, que lhes ensinou a liberdade. Os outros deviam parar de queimar bandeiras, ponto. E dirigir essa energia antifascista contra as repúblicas que realmente expressam o mal absoluto. Dou ideias: República Popular da China, República Islâmica do Irão, República Bolivariana da Venezuela, República Árabe da Síria, República Popular Democrática da Coreia, República de Cuba, República da União de Myanmar, República Centro-Africana, República da Libéria, República Federal da Somália, e etc.

sábado, setembro 07, 2019

O triunfo de Cid.

Enquanto em Portugal não nos cansamos de promover a mediocridade profunda dos diversos Tonis Carreira que infectam a música popular, não deixa de ser irónico que os senhores da National Academy of Recording Arts and Sciences se tenham lembrado (a minha alma está parva) de atribuir a José Cid um mais que justo Grammy, que premeia a sua poderosíssima carreira como compositor, letrista, intérprete e impenitente romântico. Cid é, talvez a par de Zeca Afonso, o grande criativo da sua geração. E mantém ainda hoje, com a heroica idade de 77 anos, uma intensa actividade ao vivo, esgotando concerto sobre concerto nos mais diversos palcos.
Muito de vez em quando, neste mundo esquizofrénico, acontece algo que faz sentido. E celebrar o talento de José Cid faz todo o sentido.



José Cid . Morrer de Amor . 1981

Quando eu te conheci eras criança
Vivias no teu mundo de ilusão
E nem sequer sonhavas que poderias ser
A causa principal desta canção
 

Ah morrer de amor
É bem melhor do que viver a vida sem te ter
Ah morrer de amor
É bem melhor do que viver sem ti.
 

E o tempo foi passando lentamente
Mas não morri de amor, sobrevivi
Foi-me invadindo a alma uma tristeza imensa
Que ditou a canção que te escrevi
 

Ah morrer de amor
É bem melhor do que viver a vida sem te ter
A morrer de amor
É bem melhor do que viver sem ti.
 

Ah morrer de amor
É bem melhor do que viver a vida sem te ter
A morrer de amor
É bem melhor do que viver sem ti

domingo, setembro 01, 2019

Haikus da Baía #6


O discurso atónico de Jordan B. Peterson
cruza-se com os gritos assíncronos
das gaivotas.

Tudo converge numa sonata antiga.


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Os meus tímpanos conseguem discernir,
aqui e ali e ao longe,
o rotor de um ar condicionado,
o escape de uma motorizada,
o queixume de uma gaivota.

Mas aqui quem manda é o deus
do silêncio.


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A arte do haiku não está na sua
síntese,
mais do que reside na sua
permanência.


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Sermos todos filhos do mesmo
deus menor,
não nos faz iguais na nossa pequenez.


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Se um mero mortal sofre infernais labores
para apenas sobreviver,
imaginem a carga de trabalhos que é necessária
à imortalidade.


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O YouTube grita, grita,
mas não convence como a eloquência
deste fim de tarde.


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Chego à falésia
no feliz momento da retirada dos outros.

A idade é muito sábia.


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Sabes que tens um dia pacífico à tua frente
quando até a maré da manhã
faz silêncio.


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O haiku amanhece na minha cabeça
como um ataque de preguiça traz crepúsculos
aos meus ossos.


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Como seria ético
um universo sem moscas.


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Do outro lado da bússola,
o Atlântico protesta com furacões de grau cinco.

Deste lado, não.



 

Elogio do riff.

No meu modesto entender, a guitarra eléctrica é mais um instrumento de riff do que de solo. Para solar, há instrumentos mais prolixos e sensíveis, como o violino ou o piano ou a voz humana. Mas só a guitarra eléctrica consegue inventar acordes redundantes, extremamente poderosos, como estes aqui:



Chamo a atenção do gentil audiente para o facto de que este riff é de tal forma bem sucedido e eloquente que invalida a necessidade de um solo, numa música que em tudo o resto conserva inteirinha a tradicional arquitectura do rock. 

Idlewild . All These words

Comédia de culto.

Dave Chappelle, outra vez. Agora numa hilariante dissertação sobre o estranho caso de Jussie Smollett. E-s-p-e-c-t-a-c-u-l-a-r.