domingo, abril 29, 2007

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5 - A vida sem rede.

Lembram-se de viver sem net? Digam lá, lembram-se? Lembram-se de utilizar os Correios para enviar uma carta? Lembram-se de não ter acesso imediato à Biblioteca do Congresso? Recordam ainda a civilização sem email, sem msn, sem homebanking, sem chats, sem blogs, sem pods, sem tubes, sem nada? Têm ideia da dificuldade que consistia em ser curioso nos idos A. G.?* Sim, façam um esforço e tragam à memória os tempos antes da rede. Porque a revolução não foi existir um computador pessoal em cada domicílio. Foi ligar essas máquinas todas umas às outras. E isto de termos em casa uma máquina ligada às outras todas é realmente de ficção científica. Lembram-se do tempo em que Gutenberg ainda era o deus da comunicação humana? Foi só há 16 anos que o paradigma mudou. Mas imaginem agora a vossa vidinha sem isto. Imaginem que o vosso mundo vai crescer enorme outra vez. Que se instala de novo o silêncio. Pensem bem na coisa louca que é existir este cabo eléctrico e dêem graças por Sir Timothy John Berners-Lee.

*Antes de Google

sábado, abril 28, 2007

Give me no reason.

Já nem me lembro do que é escrever um post sem motivo nem razão, aparente ou equívoca. Já nem sei o que é isto de escrevinhar por escrevinhar, como quem vai levar o saco do lixo à conduta, sem ter lixo no saco. Discorrer só. Não estar para aqui com merdas. Tentar ser Bernardo Soares mas em sossego. Ah, que súbtil e encantadora liberdade, a do post despreocupado. Do post mal parido pelo blogger lesionado que não tem nada assim de especial para editar e que se envergonha por causa disso. Ah, blogger de baixa indústria, sem assunto nem virtude, preguiça narrativa de existires! Tecla para aí qualquer coisa, homem de deus, despacha-te lá com isso. Relaxa. E curte o barulho que faz o mundo, esse eloquente silêncio de histéricos.

São americanos, graças a deus.



Oh oh oh
oh i don't know, i don't know, oh, where to begin
we are north americans
and for those of you who still think we're from england
we're not, no.
we build our planes and our trains till we think we might die,
far from North America,
where the buildings are old and you might have lots of mimes.
aha, oh, oh.
i hate the feelin' when you're looking at me that way
cause we're north americans
but if we act all shy, it’ll make it ok
makes it go away.

oh I don't know, I don't know, oh, where to begin
when we're north american
but in the end we make the same mistakes all over again
come on north americans

we are north american scum
we’re from north america

and all the kids all the kids that want to make the scene
here in north america
when our young kids get to read it in your magazines
we don't have those
so where's the love where's the love where's the love where's the love where's the love tonight?

but there's no love man there's no love and the kids are uptight
so throw a party till the cops come in and bust it up
let's go north americans
oh you were planning it i didn't mean to interrupt
sorry
i did it once and my parents got pretty upset
freaked out in north america
but then i said the more i do it the better it gets

let's rock north america

we are north american scum
we're from north america
we are north american scum
we are north american

new york's the greatest if you get someone to pay the rent
wahoo north america
and it's the furthest you can live from the government un huh huh
some proud american christians might disagree
here in north america
but new york's the only place we're keepin them off the street
boo boo now we can't have parties like in spain where they go all night
shut down in north america
or like berlin where they go another night, alright, un huh un huh

you see i love this place that i have grown to know
alright, north america.
and yeah, I know you wouldn’t touch us with a ten-foot pole
‘cause we’re north americans.

we are north american scum
we are north americans
we are north american scum
we love north america

take me back to the states man
north american scum
where we can be ????
north american
where the dj ????
here in north american scum
don't blame the canadians
let go north america

LCD Sound System - North American Scum

quarta-feira, abril 25, 2007

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Vai para uns anos que me assalta esta convicção de que, por trás do espírito criador, está a pulsão obsessiva de desenvolver as tentativas necessárias para realizar uma grande Obra Única. A preocupação nítida do génio não é a diversidade estética, é a unicidade semântica. Nesse sentido, todo o autor imortal se repete e repete na tentativa de atingir, dentro do seu registo eleito, um estado de graça purinho e deleitoso. A tese que defendo é a de que o romancista imortal aspira somente pela redacção de uma história absoluta. O cineasta monstro sagrado só deseja captar uma sequência perfeita. O génio renascentista não pede mais que autorização para decorar aquele específico tecto da capela onde o Papa vai à confissão. O mestre do barroco pretende apenas chegar à plenitude de saber compor um andamento que entre na frequência modulada de Deus.

O primeiro ministro desta tese é, obviamente, o Senhor Homero. Num livro só (não foi ele que dividiu a história) contam-se a totalidade das rábulas possíveis e imaginárias e estão lá integralmente os personagens que foram ser o barro da literatura como a conhecemos hoje. Por exemplo, todo o vilão é por natureza literária um Agámemnom e podemos facilmente identificar um Ulisses ou um Aquiles nos personagens mais distantes de Ítaca que pudermos conceber: Astérix é Ulisses em baixinho, Obelix é Aquiles em gordalhucho. Toda a estrela de Hollywood é uma Helena e é talvez por isso que a duração média dos casamentos em Los Angeles não excede as 24 horas.

Seria impossível defender este teorema sem a preciosa ajudinha de Jorge Luís Borges. Gostava que algém me explicasse em que é que o Aleph é diferente da História Universal da Infâmia, por exemplo. É a mesma maravilhosa coisa, vezes sem conta: corredores e corredores de literatura no caminho para o mistério. Lá chegados ganharemos a imortalidade se soubermos voltar para trás. Imaginem que Hegel nasce em Buenos Aires com queda para a matemática e vai todos os dias à biblioteca municipal para fazer musculação. Mas ao contrário.
A cartografia um por um dos impérios de Borges corrobora que se farta aquilo que estou para aqui a escrevinhar.

Goethe também não me falha com argumentos: Werther - um Páris sem tirar nem por - é um fantasma omnipresente que emsombra toda a literatura alemã, mas caramba, eu tenho cá em casa as obras completas do bom Wolfgang, já li quase tudo e o desgraçado adolescente percorre o portfólio inteiro de fio a pavio. Werther é Goethe enquanto Rousseau. Werther é a filosofia liberal a levar a necessária porrada da vida. O encanto estético e o desencanto político. E isso está sempre lá.

Outro grande campeão desta minha rábula é Kafka. Franz esteve sempre a esgalhar um livro apenas, ponto final. A história é esta: o homem é impotente perante o seu destino trágico. Será uma barata, será um escravo, será um burocrata, será pequeno perante a amurada, não interessa. O que é importante é o fado e o facto do fado escapar à responsabilidade individual. Todos os heróis de Kafka são Heitor.

James Joyce, esse grande pirata, vem aqui ao caso e não só por causa de Ulisses, que é um mero conteúdo. Joyce é um formalista. E todos os seus escritos sagrados são essencialmente de virtude técnica. É muito nítido à minha percepção que mais lhe importava o contar a história do que a história em si própria. É essa a sua singularidade. É essa a sua mensagem sobre o tempo.

Mas virando o disco: que raio fez Bach pela história da arte senão repetir o princípio básico de que a música é um elemento de transcendência? Toda a pauta do homem é uma oração. Tenho aliás a certeza humilde mas firme de que o Kapelmeister concordaria com este post. Ele mesmo tratou de informar a posteridade que certos prodígios como o Cravo Bem Temperado ou as Variações de Goldberg não passam de meros exercícios de oficina e que os concertos de Brandeburgo não vão para além da ciência política. Não era por coisas pequenas como estas pequenas coisas que o meu querido Johann queria ser lembrado, não. Os ouvidos de Deus são mais exigentes que todos os caprichos do Príncipe de Dresden.

O bem amado Stephen Merrit vem a este propósito porque dedicou uns anos da sua gloriosa vidinha a compor 69 músicas de amor. A repetição ad nauseam do mesmo tema como fundamento estético está na base do grande feito criativo. Não se pode eleger um tema neste albúm pela simples razão que as 69 cantigas são só uma. E eis algo de alquímico.

E Hopper, bom deus, que evidência! O homem limitou-se a seguir por uma variação única. A substância cenográfica é invariavelmente a da mais intensa solidão humana; tela sobre tela, os personagens iguais, as cidades indiferentes, as sombras cópias. Basta olhar para um quadro de Hopper para ler a sua ambição estética.

Quanto a Picasso, qualquer pessoa que conheça a obra levantada previamente para atingir a grandiosidade narrativa de Guernica percebe que o homem só quis na vida conseguir pintar, por uma vez, algo assim.

Outro maluco, Warhol nunca deixou por um momento que fosse de aperfeiçoar um mesmo retrato do mundo. Os bonecos dele são nitidamente ensaios para uma obra una e conceptual e os filmes são experiências desse laboratório. A arte é uma filosofia, é uma ideia de Feuerbach. Nasce para que se repita até ao zen absoluto. O primeiro filme de Andy dura para aí umas sete horas. É o registo fílmico de uma noite bem dormida pelo poeta John Giorno. Nem vale a pena dizer mais nada.

A propósito de película, o grande mestre Howard Hawks, que é um valente campeão desta tese, fez a mesma fita três vezes. Em três filmes um único enredo reescrito sempre pelo mesmo guionista. John Wayne é por 3 vezes o mesmo herói e Robert Mitchum é em duas das tentativas o lamentável bêbado que encontra a redenção. Falo, claro, de Rio Bravo, Eldorado e Rio Lobo. Hawks quis esgotar o modelo até à perfeição e não importa nada se o primeiro filme é ou não, de facto, o melhor pedaço de cinema. A arte não é uma qualidade, é uma perseguição.

E já agora: Kubrick passou a vida à procura do mesmo mistério e o Tom Cruise é igualzinho ao Peter Sellers. Ambos são Aquiles. Os dois são Ulisses. Spielberg fez só um filme, porque todos os filmes de Spielberg são os necessários volumes de um manual de normas para a Boa Estética Popular. E no que ao Senhor Lars Von Trier diz respeito, ainda não consegui detectar as diferenças entre Dog Ville e Europa. E acho difícil que alguém me faça ver para além das semelhanças.

Podia, também eu, entrar na espiral divina da repetição e ficar para aqui horas e horas nisto de vos prometer que Shakespeare só desejava criar uma peça de teatro, que Velasquez trocaria todas as suas telas por uma tonalidade de vermelho, que Pessoa só escreveu a Tabacaria, que Steinbeck não valorizava a imaginação tanto como a repetição, que Mozart nunca rezou por mais que um refrão divino ou que Hitchcock morreira satisfeito na mesma, se só tivesse dirigido aqueles segundos em que os corvos desatam a mordiscar a Tippi Hedren, mas já basta o que basta. Pelo menos por agora.

sexta-feira, abril 20, 2007

O aquecimento global está mal.

A histeria é de tal forma virulenta e a indústria mediática do medo é tão eficaz que eu já nem sei se alguém tem interesse em saber a verdade científica. De qualquer forma, ela está aqui, para quem quiser saber como funciona a grande fraude do século XXI. A sério que vale mesmo a pena ler este post do Professor Jorge Buescu.

Está visto que o rapazinho é um génio da bola.


Leonel Messi Vs Getafe - Meias Finais da Taça do Rei - 18 de Abril de 2007

quarta-feira, abril 18, 2007

Um replay para Elsinore.

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Bela, sensível, criativa e apaixonada, Alma Schindler (1879-1964) seria a mulher perfeita se não tivesse esta tendência suicida para se perder de amores por homens do seu nível intelectual. Logo aos 22 anos cometeu o erro da sua vida, ao casar com o puritano Gustav Mahler, que lhe disse isto assim: “Doravante terás uma única vocação: fazer-me feliz”. Com esta máxima lapidar, pretendia o ajuízado maestro impedir que a sua mulher se transformasse numa rival, e desatasse para ali a escrever música da boa - humilhação suprema para o director da Ópera de Viena. Alma, claro está, nunca deixou de compor, e tudo o que o fascismo colérico do marido conseguiu obter foi um valente par de cornos (o arquitecto Gropius - um dos fundadores da “Bauhaus” - não se importava nada com as partituras da sua bela amante), e uma separação dolorosa que o tornou cliente habitual de Sigmund Freud. Com a morte do marido, em 1911, Alma casa com Walter Gropius, para dele se separar logo de seguida e de pronto fazer vida comum com o pintor Oskar Kokoschka. Ainda assim, a bela musa não concluía o seu espólio de corações destroçados. Rompe com Oskar e casa com o poeta e novelista Franz Werfel. Entrementes, envolve-se em amizades mais ou menos coloridas com outros génios do século XX como Gustave Klimt, Bruno Walther ou Arnold Schönberg.
É claro que no meio de todos estes romances com todos estes monstros da cultura europeia, ficou difícil deixar obra, mas Alma vingou-se afinal do machismo medieval destes homens que nunca reconheceram nela mais do que a ninfa danada das suas paixões, e podemos hoje considerar que sem a sua tentacular presença algo ficaria a faltar à história da música, da arquitectura, da psicologia e das artes plásticas do Século XX.

In Ocidental Praia - 2003

terça-feira, abril 03, 2007

Mais uma cantiga eterna do sr. Merritt.

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THE BOOK OF LOVE

The book of love is long and boring
No one can lift the damn thing
It's full of charts and facts and figures
And instructions for dancing
But I...I love it when you read to me
And you...you can read me anything

The book of love has music in it
In fact that's where music comes from
Some of it is just transcendental
Some of it is just really dumb
But I...I love it when you sing to me
And you...you can sing me anything

The book of love is long and boring
And written very long ago
It's full of flowers and heart-shaped boxes
And things were all too young to know
But I...I love it when you give me things
And you...you ought to give me wedding rings
I...I love it when you give me things
And you...you ought to give me wedding rings

The Magnetic Fields - 69 Love Songs