quarta-feira, abril 18, 2007
Um replay para Elsinore.
Bela, sensível, criativa e apaixonada, Alma Schindler (1879-1964) seria a mulher perfeita se não tivesse esta tendência suicida para se perder de amores por homens do seu nível intelectual. Logo aos 22 anos cometeu o erro da sua vida, ao casar com o puritano Gustav Mahler, que lhe disse isto assim: “Doravante terás uma única vocação: fazer-me feliz”. Com esta máxima lapidar, pretendia o ajuízado maestro impedir que a sua mulher se transformasse numa rival, e desatasse para ali a escrever música da boa - humilhação suprema para o director da Ópera de Viena. Alma, claro está, nunca deixou de compor, e tudo o que o fascismo colérico do marido conseguiu obter foi um valente par de cornos (o arquitecto Gropius - um dos fundadores da “Bauhaus” - não se importava nada com as partituras da sua bela amante), e uma separação dolorosa que o tornou cliente habitual de Sigmund Freud. Com a morte do marido, em 1911, Alma casa com Walter Gropius, para dele se separar logo de seguida e de pronto fazer vida comum com o pintor Oskar Kokoschka. Ainda assim, a bela musa não concluía o seu espólio de corações destroçados. Rompe com Oskar e casa com o poeta e novelista Franz Werfel. Entrementes, envolve-se em amizades mais ou menos coloridas com outros génios do século XX como Gustave Klimt, Bruno Walther ou Arnold Schönberg.
É claro que no meio de todos estes romances com todos estes monstros da cultura europeia, ficou difícil deixar obra, mas Alma vingou-se afinal do machismo medieval destes homens que nunca reconheceram nela mais do que a ninfa danada das suas paixões, e podemos hoje considerar que sem a sua tentacular presença algo ficaria a faltar à história da música, da arquitectura, da psicologia e das artes plásticas do Século XX.
In Ocidental Praia - 2003