A laranja está segura na laranjeira ou está caída no laranjal.
Provérbio hindu citado por J. L. Borges em "A História da Eternidade".
quinta-feira, maio 28, 2009
quarta-feira, maio 27, 2009
Saudades do Almada
Segunda-feira, Outubro 25, 2004
BASTA PUM BASTA
Uma geração que consente ser informada pela Manuela Moura Guedes é uma geração que nunca o foi. É uma audiência d'indigentes, d'indignos e de cegos! É um tele-público de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo do zero!
Abaixo a geração!
Abaixo a Manuela!
Morra a Manuela, morra! Pim!
Uma geração com a Manuela a cavalo da moral é um burro impotente!
Uma geração com a Manuela à proa do prime time é uma canoa em seco!
A Manuela é uma cigana!
A Manuela é meio cigana!
A Manuela é um pau de virar tripas!
A Manuela saberá cantar, saberá parlamentar, saberá opinar, saberá desopinar, saberá desopilar, saberá disparatar, saberá tudo menos informar, que é a única coisa que teima em fazer!
A Manuela pesca tanto de jornalismo que até faz notícias com a Quinta das Celebridades!
A Manuela é uma habilidosa!
A Manuela veste-se mal!
A Manuela especula e inocula os concubinos!
A Manuela é Manuela!
A Manuela é Moura!
A Manuela É Guedes!
Morra a Manuela, morra! Pim!
Não é preciso ir prá TVI pra se ser pantomineira, basta ser-se pantomineira!
Não é preciso disfarçar-se pra se ser salteadora, basta falar como a Manuela! Basta não ter escrúpulos nem morais, nem éticos, nem humanos! Basta andar com as modas, com as políticas, e com as opiniões! Basta usar o tal sorrisinho, basta ser muito delicada e usar baton e olhos espertos! Basta ser judas! Basta ser Guedes! Basta Ser Moura! Basta ser Manuela!
A Manuela é um tele-ponto dela própria!
A Manuela em génio nem chega a pólvora seca e em talento é pim-pam-pum.
A Manuela nua é horrorosa!
A Manuela cheira mal da boca!
A Manuela Moura Guedes é a minha impotência!
Morra a Manuela, morra! Pim!
A Manuela é o escárnio da consciência!
Se a Manuela é portuguesa eu quero ser espanhol.
A Manuela é a vergonha da televisão nacional!
A Manuela é a meta da decadência mental!
E ainda há quem não core quando diz admirar a Manuela!
E ainda há quem lhe estenda a mão!
E quem lhe lave a roupa!
E quem tenha dó da Manuela!
E ainda há quem duvide de que a Manuela não vale nada e não sabe nada e que nem é inteligente nem decente nem zero!
(...)
Continue a Dona Manuela a desinformar assim que há-de ganhar muito com o Share e há-de ver que ainda inspira um instalação em Serralves, uma exposição das maquetes pró seu monumento erecto por subscrição nacional da "Caras" a favor dos oprimidos da Palestina, e o Parque das Descobertas mudado para Parque da Dra. Manuela Moura Guedes, e com festas da Cidade plos aniversários, e Contraceptivos em conta "Manuela" e pasta de dentes Manuela, e BigMac’s Manuela e um jogo de Consola Manuela Ataca à Dentada, e Prozac Manuela, e autoclismos Manuela e Manuela, Manuela, Manuela, Manuela... E Ice Tea Manuela - Light.
(...)
Portugal, que com senhoras e senhores assim conseguiu a classificação do país mais atrasado da Europa e de todo o mundo! O país mais selvagem de todas as Áfricas! O exílio dos degredados e dos indiferentes! A África reclusa dos europeus! O entulho das desvantagens e dos sobejos! Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia - se é que a sua cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado!
Morra a Manuela, morra! Pim!
quarta-feira, maio 20, 2009
De vez em quando.
De vez em quando, nasce assim uma pessoa rara. O meu amigo Fernando Bandeira de Lima era uma pessoa muito rara. Um cavalheiro e um sábio. Um louco compulsivo dos automóveis - último dos cavalheiros-sábios da vida e das corridas. Magoa-me agora a gargalhada dele, que me fazia feliz. Magoa-me agora a sua eterna pose de buda tranquilo sobre o caos, na praia de Altura, entretendo-se seriamente com a reconfortante companhia de um policial da Europa-América. A educação, deuses, a educação deste homem, que me impressionava, que me ensinava, magoa-me agora. Consigo ser verdadeiro o suficiente para dizer com precisão científica que já não nascem pessoas especiais assim e, se nascem ainda por singularidade cósmica, já não têm a educação do meu amigo. Já não têm a arte da cordialidade, a generosa bonomia, o saber estar e saber viver: uma britânica e brilhante paz de espírito, que agora me magoa e que me elevou outrora.
De vez em quando, apaga-se uma luz. E são os que permanecem vivos que ficam às escuras.
De vez em quando, apaga-se uma luz. E são os que permanecem vivos que ficam às escuras.
quinta-feira, maio 14, 2009
A febre Scalex Tric.
Quinta-feira, Julho 29, 2004
Lembro-me de mim adolescente petulante que lia Aldous Huxley entre duas corridas do campeonato de Fórmula 1 em carrinhos da Lego. Lembro-me de mim muito aflito quando a namorada entrava pelo quarto a dentro (nesses tempos, a minha casa oferecia a privacidade de um café central) e me encontrava empurrando carrinhos de um lado para o outro, repetidamente, concentradamente, até decidir, na última volta, quem venceria: Alain Prost ou Alan Jones. Lembro-me das ameaças do género: ou brincas ou namoras. Lembro-me de, a mais das vezes, preferir o ActionMan ou as profecias do Huxley. Lembro-me de desenhar, muito à pressa, o logotipo dos MotorHead na parede (as paredes do meu quarto eram aguarelas da puberdade), mesmo a tempo de terminar a batalha de Inglaterra com os kits da Revell, muito mal montados. Lembro-me desses stukas, desses spitfires e desses Messerschmitt como se fosse hoje que mergulhassem em ataque terminal pelos céus do escritório. Lembro-me de sair mais cedo das matinés dançantes no Rock Rendez-Vous e no Acapulco para ir brincar às escondidas com os Matchbox e os Corgytoys. Lembro-me de pensar com triste lucidez que já não tinha idade para inventar patifarias dignas de Butch Cassidy, para simular o palco sonoro dos disparos de Lone Ranger ou do relinchar de Silver, o seu nobre cavalo branco. Lembro-me de olhar para a minha pista (um oito miserável, mas com contador de voltas e tudo) e como quem arruma os brinquedos para nunca mais brincar, concluir com desesperada clarividência que já não tinha infância para construir, todas as tardes, um admirável mundo novo.
Quarta-feira, Julho 21, 2004
Lembro-me dos tempos paleolíticos em que era criança e construía longas rectas, só para atirar violentamente os carros contra a parede da varanda. Lembro-me de misturar o comboio eléctrico da Lego com a pista de automóveis, os soldadinhos da Timpo, os bonecos da Airfix, os castelos da Knex e o feltro do Subutteo. Lembro-me de não ter consciência de escala e preocupações de realismo. Lembro-me de me divertir à grande e a sós, no meu quarto de filho único, construindo e destruindo mais sonhos que apenas os meus (sim, destruindo também os sonhos dos outros). Todos contra todos, os meus brinquedos banhavam-se em gloriosa cosmogonia para meu deleite. Só para meu exclusivo prazer de deus ímpio, alegre e despreocupado, entornavam-se exércitos em rios de sangue, defrontavam-se grandes clubes do futebol europeu em chacinas de verde, amigavam-se mouros e peles vermelhas, cruzados e cowboys lutavam lado a lado contra o Afrik Corps, enquanto do quartel dos bombeiros da LegoVille saía uma brigada para apagar o incêndio que teria deflagrado algures, na sala de jantar.
Lembro-me de queimar - ligeiramente - um dedo no motor de um carrinho de pista. Lembro-me de pensar que os motores de carrinhos de pista que aquecem ao ponto de me queimar - ligeiramente - o dedo, são a coisa mais prodigiosa da criação toda.
Quinta-feira, Janeiro 06, 2005
Devo dizer que tenho 37 anos, 80 quilos, falta de cabelo e que sou um chato. Devo dizer que me pesam bem mais os 37 anos que propriamente os quilos/libras a mais no comércio da existência. Devo dizer outrossim que gosto pouco de infantilidades, imaturidades, ingenuidades e enfermidades do género que evidenciam certos adultos para os quais não tenho a mínima paciência.
Dito isto, tenho que confessar que sou uma criança. Sou uma criança porque ainda paro nas lojas de brinquedos e ainda faço aquele ar de puto guloso (a que a minha mãe não resistia) perante o banquete lúdico na paisagem. Sou uma criança porque ainda não sei de melhor programa para depois de um jantar de Sábado entre amigos que o magnífico privilégio de poder ir brincar com uma pista Scalextric a sério. E, por obra e graça dos deuses e do meu amigo Jaime Filipe, eu tenho uma. Tenho uma pista de carrinhos, senhores! Com automóveis lindíssimos do WRC, do GranTurismo de resistência e da DTM. Com boxes e mecânicos e fotógrafos e directores de corrida e espectadores. Com partida Les Mans, cronómetro aos centésimos, punhos Pro, base de relva simulada, escapatórias por todo o lado, pontes várias e cruzamentos perigosíssimos!
Psicólogos de todo o mundo rapidamente me enviariam para a Clínica dos Chalados Mor, quarto 33, gente sensata de todos os quadrantes genéticos dir-me-á: mas estás burro ou falta-te a bolha da razão? Estarão certos uns e outros. Persistirei porém no delírio: estou quase a comprar uma plataforma de condução (com banco desportivo) para curtir com realismo apurado o ColinMcrae 2005 que me proporcionam os magos da CodeMasters e os génios da Playstation. E é uma questão de tempo para ver se arranjo um Subutteo como deve ser. Com holofotes, bancadas, banco de suplentes e tudo!
quarta-feira, maio 13, 2009
Poema sem pés nem cabeça.
De vez em quando espalho-me no abismo.
De tempos a tempos ocorre o cisma ou o sismo
e dou a fortuna por perdida.
Volta não volta, vira-se a vida.
É um contra-ciclo, conjuntura-colisão,
em abreviatura é um palavrão
que não se entende;
sou o pretendente que ninguém pretende.
Dou graças ao diabo de não ser turista:
transito aflito e paraquedista
da chegada para a partida
e volta não volta, vira-se a vida.
De tempos a tempos ocorre o cisma ou o sismo
e dou a fortuna por perdida.
Volta não volta, vira-se a vida.
É um contra-ciclo, conjuntura-colisão,
em abreviatura é um palavrão
que não se entende;
sou o pretendente que ninguém pretende.
Dou graças ao diabo de não ser turista:
transito aflito e paraquedista
da chegada para a partida
e volta não volta, vira-se a vida.
terça-feira, maio 12, 2009
Anti-Telejornal | Tempo e eternidade.
"Naquela passagem da Eneida que pretende interrogar e definir a natureza do tempo, afirma-se que é indispensável conhecer previamente a eternidade. Essa advertência preliminar, tanto mais grave se a considerarmos sincera, parece aniquilar toda a esperança de nos entendermos com o homem que a escreveu. O tempo é um problema para nós, um terrível e exigente problema, talvez o mais vital da metafísica; a eternidade, um jogo ou uma fatigada esperança."
Jorge Luís Borges - História da Eternidade
Jorge Luís Borges - História da Eternidade
As razões da felicidade ou a Oitava Sinfonia.
Sexta-feira, Julho 16, 2004
Quem ouve a Oitava Sinfonia de Beethoven chega facilmente à conclusão que a obra foi escrita por um homem feliz. Tchaikovsky - ele mesmo, tão egoísta em elogios - escreveu sobre esta obra prima o seguinte: "It is the last bright smile, the last response, given by the poet of human sorrow and hopeless despair to the voice of gladness".
Acontece porém que, à época da sua composição, o Mestre vivia, como sempre viveu, em fúria e dor e danação. Atirado para a casa do seu irmão Johann em Linz, com o propósito de curar uma feroz intoxicação alimentar, cedo descobre que o desgraçado se perde em delícias e volúpias com a criada de quarto. Beethoven desaprova o desagravo social com unhas e dentes: faz tudo o que lhe é possível para exterminar a relação bastarda, incluindo queixas à polícia e protestos no bispado.
Contrariando a austera vigência moral do seu irmão mais velho, Johann arranja maneira de casar com a criada da noite para o dia, e é por isso que rebenta a Oitava Sinfonia.
Cinco anos de um blog difícil.
Senhoras e cavalheiros, ilustres e raros e pacientes visitantes deste blog obscuro: no próximo mês de Julho, o Blogville faz cinco anos. Cinco anos de ódios e de raivas, de protestos histéricos e de gemidos de dor, de enxaquecas e de partes gagas, de folhetins e de banalidades, de silêncios incómodos e de ruídos inconvenientes, de confissões parvas e de recensões ilegíveis, de segredos e de generalidades, de gostos e de desgostos. Para festejar o triste acontecimento, e também para disfarçar a pouca vontade criadora que invade estes meus dias de uma Primavera hesitante, vou passar os próximos meses a recordar os altos e baixos deste diário de coisa nenhuma com que tenho a desvergonha de vos maçar. Obrigado pela vossa inesgotável paciência.
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