De vez em quando, nasce assim uma pessoa rara. O meu amigo Fernando Bandeira de Lima era uma pessoa muito rara. Um cavalheiro e um sábio. Um louco compulsivo dos automóveis - último dos cavalheiros-sábios da vida e das corridas. Magoa-me agora a gargalhada dele, que me fazia feliz. Magoa-me agora a sua eterna pose de buda tranquilo sobre o caos, na praia de Altura, entretendo-se seriamente com a reconfortante companhia de um policial da Europa-América. A educação, deuses, a educação deste homem, que me impressionava, que me ensinava, magoa-me agora. Consigo ser verdadeiro o suficiente para dizer com precisão científica que já não nascem pessoas especiais assim e, se nascem ainda por singularidade cósmica, já não têm a educação do meu amigo. Já não têm a arte da cordialidade, a generosa bonomia, o saber estar e saber viver: uma britânica e brilhante paz de espírito, que agora me magoa e que me elevou outrora.
De vez em quando, apaga-se uma luz. E são os que permanecem vivos que ficam às escuras.