Para além da vergonha gorda de levar um banho de bola de uma equipa medíocre como é medíocre a equipa do Sporting (e a sério que digo isto com o devido respeito para com o meu clube rival), ficou a incompetência de Ronald Koeman demonstrada por mais uma cansativa vez. Direi até que os treinadores holandeses presentes na Liga são tão fraquinhos como o futebol da nação que os pariu. Ou, no mínimo, uns furos abaixo da realidade competitiva deste pequenóide país Portugal, onde até se joga mais ou menos à bola. O inqualificável Beto será bom jogador para o Ajax. Para o Benfica é apenasmente ofensivo. Resta-me a alegria triste de ter um blog com melhor memória do que alguma vez sonhei para mim. E, assim sendo, aqui fica o que já editei com referência ao atraso mental deste senhor treinador da equipa de futebol do meu querido Sport Lisboa e Benfica. No primeiro replay sobre o jogo em Alvalade (os erros foram os mesmos), no segundo sobre aquela estupidíssima noite em Old Trafford.
domingo, janeiro 29, 2006
sábado, janeiro 28, 2006
Da Wikipédia, com amor:
"Quer saber como eu componho? Posso dizer-lhe apenas isto: quando me sinto bem disposto, seja na carruagem quando viajo, seja de noite quando durmo, ocorrem-me idéias aos jorros, soberbamente. Como e donde, não sei. As que me agradam, guardo-as como se tivessem sido trazidas por outras pessoas, retenho-as bem na memória e, uma após a outra, delas tomo a parte necessária, para fazer um pastel segundo as regras do contraponto, da harmonia, dos instrumentos, etc. Então, em profundo sossêgo, sinto aquilo crescer, crescer para a claridade de tal forma que a obra mesmo extensa se completa na minha cabeça e posso abrangê-la de um só relance, como um belo retrato ou uma bela mulher... Quando chego neste ponto, nada mais esqueço, porque boa memória é o maior dom que Deus me deu."
Wolfgang Amadeus Mozart
sexta-feira, janeiro 27, 2006
Caravaggio ou o drama humano.
Michelangelo Merisi, nascido no Ano do Nosso Senhor Jesus Cristo de 1571 em Caravaggio - código postal Bérgamo - é um daqueles super heróis que dão mesmo prazer a um qualquer tipo que tenha um qualquer blog.
Nem sei se tenho pinta para escrever sobre esta monstruosidade sapiens-sapiens, que por abstruso desígnio teve de conviver aos pontapés com os neandertais de um renascimento maduro e hostil para com tamanha valentia; vítima de ter nascido à morte de Leonardo e criança ainda no apogeu de Michelangelo Buonarroti (azar dos azares pelo qual trocou o seu nome de baptismo pela onomástica da pequena aldeia Lombarda que o pariu), Caravaggio é - certificadamente - um animal eleito pelos céus!
Eu explico: enquanto Roma - como qualquer outra cidade estado da península - fervia ainda em lume brando o espanto de ter Renascido esteticamente das cinzas de mil e quinhentos anos, já o Desmancha Prazeres contradizia e disputava. Cristo não viveu, nem morreu, por entre anjos e aristocratas, querubins e pontífices, demónios e magistrados, santos e príncipes. Toda a gente sabe disso porque está escrito no Novo Testamento que o Filho Primogénito do Senhor preferia - para o bem e para o mal - a companhia de putas e pescadores, bandidos e facínoras, feirantes e músicos de feira, soldados e verdugos, vagabundos e agiotas. E, o que é mais, tanto igual se pode dizer de profetas e iniciados do Antigo Testamento.
Ora se os dois almanaques de Deus são deveras explícitos, que raio, seremos de tal forma snobs e pudibundos, botas de elástico e armados em bons que nos recusamos a pintar a mitologia como ela foi de facto experimentada no campo? Herético é aquele que ignora a escumalha porque a escumalha é o fruto favorito e massificado do criador. Não se louva a deus com cosméticas de sacristia nem se serve Jesus se pintarmos os lábios do seu carrasco. E é com esta valentia, senhores, é com esta determinação, senhoras, que nasce o Naturalismo. Caravaggio excomunga a onírica renascentista e as suas referências mainstream da arte clássica para colocar as pessoas da rua na iconografia cristã. Mas - muito importante - vai mais além e preocupa-se esencialmente em capturar o sofrimento implícito nos episódios biblícos. A dor, a impotência, a humilhação, a escravidão, a brutalidade, a tortura, o intenso esgoto da vida humana.
Ele mesmo sabia daquilo que estava a pintar: Inimigo dos clássicos, mas personagem de tragédia, homem de porradas e duelos, de confrontações e bengaladas, Caravaggio envolve-se durante a sua curta vidinha num turbilhão de violência e ódio e perseguição e desventura. Preso frequentemente por pancadarias em bordeis - que deixavam vítimas muitas - e por desafouros à arte sacra - que perturbavam a glória dos tempos - este verdadeiro forcado da existência nunca se cansou de segurar a vida pela pega mais afiada.
É claro que quem vive no gume acaba por se cortar e em 1606 Caravaggio - num gesto socialmente desastrado - assassina um nobre por causa de um jogo de pallacorda. Uma coisa era matar um gajo qualquer numa tasca imunda. Outra era espancar um aristocrata até ao fim num elegante court de ténis. Expulso de Roma e proscrito em grande parte da cartografia, os quatro anos que lhe faltam cumprir são dignos de Homero: de fuga em escapadela, de perdão em traição, de desilusão em desespero, Caravaggio vai correndo a Itália em direcção à morte.
Ainda pinta à brava, mas sobretudo foge. E quando finalmente é perdoado e convidado a deixar o exílio, dá-se um daqueles equívocos de Odisseia que deitam tudo a perder, para que ganhe apenas o diabo um companheiro mais: por uma questão de saias ou por outra de vinganças, comparece lamentavelmente tarde demais ao barco da libertação; de tal forma que chegam a Roma somente os seus haveres (que serão confiscados) e as notícias, nada exageradas, de que o peregrino cineasta do grande plano, o druída entre magos do enquadramento fechado e gráfico, o sumo patriarca da luz e das sombras (aqui já há Rembrandt), o primeiro ministro de todos os realismos, Michelangelo Merisi, conhecido por amigos e inimigos pelo nome da aldeia em que nasceu, morre, com 39 venerandos anos, numa praia deserta em Porto Ercole - Código Postal Grosseto - no Ano da Graça do Nosso Senhor de 1610.
segunda-feira, janeiro 23, 2006
Acabou-se!
Depois de uma eternidade de lugares comuns, calou-se enfim a fanfarra esdruxúla das presidenciais. Espanta-me o facto de ainda haver gente para comícios. De ainda se levantarem bandeiras (oficiais) e de se ouvirem mesmo assim clamores de uma massa idólatra de baixo culto, que geme, mandatada pelos brasileiros da produção, aliterações de manada, cuja inspiração remonta ao paleolítico inferior da Terceira República.
Cavaco Silva aprendeu a lição de Sócrates: quanto menos se disser, melhor. Afinal, o que se pode dizer de verdadeiro é tão deprimente que se perde sempre uma lindíssima oportunidade para estar calado. O mudismo ideológico e a invalidez personalística dos líderes é fatal para a democracia, porém - dado o contexto histórico - a estratégia é de uma eficácia devastadora. Acho que o homem merecia o emprego, mas lamento dizer que votei sem esperança.
Manuel Alegre desceu pelas escadas da Assembleia da República mascarado de cidadão e dois em cada dez cidadãos não perceberam o carnaval. O incorrigível primeiro ministro (sob o alto patrocínio das estações de televisão) cortou-lhe a palavra. E o que é que se perdeu com isso? nadinha, zero. O senhor também não tinha nada de especial para dizer e, convenhamos, ainda não lhe tinha sido aplicado o justo punitivo.
Mário Soares perdeu duas coisas, hoje: a eleição e a glória.
Jerónimo de Sousa é um político brilhante e merece, folha por folha, os louros de mais uma vitória moral do Partido Comunista Português. Infelizmente para ele e felizmente para o País, o partido continua sem uma saída ideológica para a contemporaneidade. O homem é excelente, mas os argumentos são do século XIX. Assim, não dá para mais que isto.
Francisco Louçã já está a sofrer as dores da vida: o partido vale agora mais do que ele e o facto do Bloco ficar com um líder fragilizado é algo que me deixa bastante feliz, confesso.
Tudo isto junto é, apesar do barulho, de muito pouca substância. E,sinceramente, uma semaninha bem medida chegava e sobrava para a cacafonia ritual.
Cavaco Silva aprendeu a lição de Sócrates: quanto menos se disser, melhor. Afinal, o que se pode dizer de verdadeiro é tão deprimente que se perde sempre uma lindíssima oportunidade para estar calado. O mudismo ideológico e a invalidez personalística dos líderes é fatal para a democracia, porém - dado o contexto histórico - a estratégia é de uma eficácia devastadora. Acho que o homem merecia o emprego, mas lamento dizer que votei sem esperança.
Manuel Alegre desceu pelas escadas da Assembleia da República mascarado de cidadão e dois em cada dez cidadãos não perceberam o carnaval. O incorrigível primeiro ministro (sob o alto patrocínio das estações de televisão) cortou-lhe a palavra. E o que é que se perdeu com isso? nadinha, zero. O senhor também não tinha nada de especial para dizer e, convenhamos, ainda não lhe tinha sido aplicado o justo punitivo.
Mário Soares perdeu duas coisas, hoje: a eleição e a glória.
Jerónimo de Sousa é um político brilhante e merece, folha por folha, os louros de mais uma vitória moral do Partido Comunista Português. Infelizmente para ele e felizmente para o País, o partido continua sem uma saída ideológica para a contemporaneidade. O homem é excelente, mas os argumentos são do século XIX. Assim, não dá para mais que isto.
Francisco Louçã já está a sofrer as dores da vida: o partido vale agora mais do que ele e o facto do Bloco ficar com um líder fragilizado é algo que me deixa bastante feliz, confesso.
Tudo isto junto é, apesar do barulho, de muito pouca substância. E,sinceramente, uma semaninha bem medida chegava e sobrava para a cacafonia ritual.
terça-feira, janeiro 17, 2006
À escuta das Vozes da Poesia Europeia - III
Celebrando a feliz edição da revista Colóquio Letras - que traz à estampa, em três cuidados volumes, as traduções que David Mourão-Ferreira fez da poesia europeia.
HORÁCIO E A VITAMINA DO DIA.
Ilustre poeta clássico, Quinto Horácio Flaco (65 A.C - 8 A.C.) é célebre pelo que deu à lírica, tanto em versos como em conselhos. Uns e outros produto pródigo de um talento imenso e de uma existência atribulada. Na convulsão política e militar que decorre do assassinato de Júlio César, Horácio decide desgraçadamente alistar-se nas fileiras de Brutos, uma tropa de improvisos, condenada pela providência a ser esmagada por Augusto, que se apressa a deportar o infeliz. Perdoado pelo estado mas castigado pelos deuses, regressa a Roma para encontrar o pai morto e a propriedade confiscada. Reduzido à miséria conhece Virgílio e depois - algo mais importante - ganha a amizade de Mecenas, generoso aristocrata que financiará as suas notáveis Odes, Sátiras e Epístolas.
Talvez por tudo isto - ou nem por isso - David Mourão Ferreira escolhe a magnífica e imortal Ode a Leucónoe, um elogio da existência como uma experiência intensa e despreocupada do momento presente. Por razões que podemos adivinhar facilmente, Horácio apela à sua ninfa para que se deixe arrebatar pela vertigem de um imediatismo hedonista. O futuro aos deuses pertence e nem vale a pena frequentar oráculos: se o que temos é o aqui e o agora, o melhor é aproveitar. Não sei se Horácio inventou este irresponsavelmente lindo paradigma (a Epicuro devem estar reservardos os direitos de autor), mas pelo menos tem o mérito de ser o primeiro a lançá-lo para a combustão da poesia. Eis, pois, nas suas próprias e eternas palavras, um conselho que, afinal, já todos seguimos um dia.
CARPE DIEM
Ode a Leucónoe
Não procures, Leucónoe - Ímpio será sabê-lo -,
que fim a nós os dois os deuses destinaram;
Não consultes sequer os números babilónicos:
melhor é aceitar! E venha o que vier!
Quer Júpiter te dê inda muitos Invernos,
quer seja o derradeiro este que ora desfaz
nos rochedos hostis ondas do mar Tirreno,
vive com sensatez destilando o teu vinho
e, como a vida é breve, encurta a longa espr’ança.
De inveja o tempo voa enquanto nós falamos:
trata pois de colher o dia, o dia de hoje,
Que nunca o de amanhã merece confiança.
HORÁCIO E A VITAMINA DO DIA.
Ilustre poeta clássico, Quinto Horácio Flaco (65 A.C - 8 A.C.) é célebre pelo que deu à lírica, tanto em versos como em conselhos. Uns e outros produto pródigo de um talento imenso e de uma existência atribulada. Na convulsão política e militar que decorre do assassinato de Júlio César, Horácio decide desgraçadamente alistar-se nas fileiras de Brutos, uma tropa de improvisos, condenada pela providência a ser esmagada por Augusto, que se apressa a deportar o infeliz. Perdoado pelo estado mas castigado pelos deuses, regressa a Roma para encontrar o pai morto e a propriedade confiscada. Reduzido à miséria conhece Virgílio e depois - algo mais importante - ganha a amizade de Mecenas, generoso aristocrata que financiará as suas notáveis Odes, Sátiras e Epístolas.
Talvez por tudo isto - ou nem por isso - David Mourão Ferreira escolhe a magnífica e imortal Ode a Leucónoe, um elogio da existência como uma experiência intensa e despreocupada do momento presente. Por razões que podemos adivinhar facilmente, Horácio apela à sua ninfa para que se deixe arrebatar pela vertigem de um imediatismo hedonista. O futuro aos deuses pertence e nem vale a pena frequentar oráculos: se o que temos é o aqui e o agora, o melhor é aproveitar. Não sei se Horácio inventou este irresponsavelmente lindo paradigma (a Epicuro devem estar reservardos os direitos de autor), mas pelo menos tem o mérito de ser o primeiro a lançá-lo para a combustão da poesia. Eis, pois, nas suas próprias e eternas palavras, um conselho que, afinal, já todos seguimos um dia.
CARPE DIEM
Ode a Leucónoe
Não procures, Leucónoe - Ímpio será sabê-lo -,
que fim a nós os dois os deuses destinaram;
Não consultes sequer os números babilónicos:
melhor é aceitar! E venha o que vier!
Quer Júpiter te dê inda muitos Invernos,
quer seja o derradeiro este que ora desfaz
nos rochedos hostis ondas do mar Tirreno,
vive com sensatez destilando o teu vinho
e, como a vida é breve, encurta a longa espr’ança.
De inveja o tempo voa enquanto nós falamos:
trata pois de colher o dia, o dia de hoje,
Que nunca o de amanhã merece confiança.
sexta-feira, janeiro 13, 2006
O umbigo dos deuses.
O Centro da Via-láctea, a 26.000 anos luz da terra. Imagem capturada pelo telescópio espacial de infra-vermelhos Spitzer. As áreas a vermelho vivo estão associadas a estrelas muito jovens e quentes, que se desenvolvem em berçários estelares. Aparentemente, o vórtice da nossa galáxia é muito concorrido: esta imagem abrange um horizonte cósmico de apenas 900 anos luz.
terça-feira, janeiro 10, 2006
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