segunda-feira, janeiro 23, 2006

Acabou-se!

Depois de uma eternidade de lugares comuns, calou-se enfim a fanfarra esdruxúla das presidenciais. Espanta-me o facto de ainda haver gente para comícios. De ainda se levantarem bandeiras (oficiais) e de se ouvirem mesmo assim clamores de uma massa idólatra de baixo culto, que geme, mandatada pelos brasileiros da produção, aliterações de manada, cuja inspiração remonta ao paleolítico inferior da Terceira República.

Cavaco Silva aprendeu a lição de Sócrates: quanto menos se disser, melhor. Afinal, o que se pode dizer de verdadeiro é tão deprimente que se perde sempre uma lindíssima oportunidade para estar calado. O mudismo ideológico e a invalidez personalística dos líderes é fatal para a democracia, porém - dado o contexto histórico - a estratégia é de uma eficácia devastadora. Acho que o homem merecia o emprego, mas lamento dizer que votei sem esperança.
Manuel Alegre desceu pelas escadas da Assembleia da República mascarado de cidadão e dois em cada dez cidadãos não perceberam o carnaval. O incorrigível primeiro ministro (sob o alto patrocínio das estações de televisão) cortou-lhe a palavra. E o que é que se perdeu com isso? nadinha, zero. O senhor também não tinha nada de especial para dizer e, convenhamos, ainda não lhe tinha sido aplicado o justo punitivo.
Mário Soares perdeu duas coisas, hoje: a eleição e a glória.
Jerónimo de Sousa é um político brilhante e merece, folha por folha, os louros de mais uma vitória moral do Partido Comunista Português. Infelizmente para ele e felizmente para o País, o partido continua sem uma saída ideológica para a contemporaneidade. O homem é excelente, mas os argumentos são do século XIX. Assim, não dá para mais que isto.
Francisco Louçã já está a sofrer as dores da vida: o partido vale agora mais do que ele e o facto do Bloco ficar com um líder fragilizado é algo que me deixa bastante feliz, confesso.

Tudo isto junto é, apesar do barulho, de muito pouca substância. E,sinceramente, uma semaninha bem medida chegava e sobrava para a cacafonia ritual.