sexta-feira, dezembro 28, 2012

Nascido para a pancadaria #3

Mais uma obra prima de Steven Spielberg. Mais uma interpretação escolástica de Daniel Day Lewis. Mais uma grande banda sonora de John Williams. Magnífico.

quarta-feira, dezembro 26, 2012

Nascido para a pancadaria #2

Call of Duty - Black Ops II: um explosivo presente de Natal.

Nascido para a pancadaria.


Um estudo conduzido por David Carrier, da universidade do Utah, e publicado pelo The Journal Of Experimental Biology, sugere que a mão humana tem evoluído para se tornar um instrumento de violência mais eficaz. Ao contrário do que acontece com os símios, as mãos do homem fecham-se num punho letal, que maximiza a força no ponto de impacto. Na comparação com a estalada, solução muito utilizada pelos chimpanzés, os resultados do estudo mostraram que quando o polegar apoia os dedos, a rigidez dos nós dos dedos quadruplica e a força transmitida durante o soco duplica.
Estamos programados para a violência. Evoluímos no sentido do combate. Sobrevivemos pelo recurso à agressão. E o resto é conversa.

quinta-feira, dezembro 20, 2012

O que preocupa o Público?

No jornal Público - edição online - podemos hoje aprender como falar do Natal às "crianças ateias e de outras religiões". Este assunto preocupa o Público. Para o público é de pedagógica importância sabermos explicar muito bem  às crianças ateias e de outras religiões o que é isto do Natal.
Mais: é pertinente sabermos muito bem como é que os pais dessas crianças lhes explicam o evento.
Seria bom, embora isto escape às prioridades ecuménicas do Público, que soubéssemos explicar o Natal às crianças cristãs, antes de nos dedicarmos a explicá-lo às outras crianças.
E seria óptimo que a jornalista Bárbara Wong, que assina esta didáctica peça, percebesse que um ateu pode ser, e no mundo ocidental geralmente é, concomitantemente um cristão. Para se ser cristão não é preciso acreditar em deus. É preciso acreditar num sistema de valores que se enquadram essencialmente no pensamento de três valentes: Platão, Cristo e Kant.
O Público preocupa-se com este género de coisas, que é para não se preocupar com as coisas que são realmente importantes. É muito mais fácil - e mais barato, claro - deixar essas coisas realmente importantes para outros malucos. Afinal, o Público não edita para mudar o mundo. O Público edita para não dar assim tanto prejuízo como isso.

Cântico de Natal



Truth (Acoustic BBC Radio 1 Version) | Bloc Party

Disto é que já não há.



Um dos melhores jogos de futebol que vi na minha vida, senão mesmo o melhor. Algo que, certamente, não se vai repetir agora. Basta pensar que no onze inicial do Benfica estavam os seguintes cavalheiros: Schwarz, Kulkov, Vítor Paneira, João Pinto, Rui Costa e Isaías.
Uma partida vibrante e inesquecível, com grandes artistas em campo, só com um golo nos primeiros 45 minutos (embora com inúmeras oportunidades para os dois lados) e também só com sete golos na segunda parte.
Deuses, que saudades.

terça-feira, dezembro 18, 2012

Telejornal de hoje.

- Hoje comemora-se o Dia Internacional Contra a Violência sobre os Trabalhadores do Sexo. Os Trabalhadores do Sexo fazem parte de uma classe profissional muito antiga. Quiçá a mais antiga da história do trabalho. E é por isso que devem ter direitos, como os outros têm, os outros das classes profissionais muito antigas, mas não tão antigas como o labor de engatar. Os assassinos a soldo, que também exercem uma profissão muito antiga e que também são vítimas de violência, volta não volta, também devem ter direitos. E não se percebe porque raio é que os traficantes de opiáceos, operários de um ofício ancestral e extremamente violento, não têm também um dia internacional. Já quanto aos traficantes de anfetaminas, percebe-se que não sejam devidamente apoiados e homenageados, porque afinal, fazem parte de uma sindicância relativamente recente.

- Hoje os leilões das casas dos magistrados não correram lá muito bem. Principalmente em Gouveia. As casas dos magistrados em Gouveia estão muito degradadas e ninguém apareceu para licitar. A senhora do primeiro andar do prédio dos magistrados diz que ali no andar dos magistrados é capaz de não viver ninguém há coisa de cerca de dez anos, mais ou menos, se a memória não lhe falha - que ela não quer estar a mentir. Mas, 20 segundos depois, em off, a repórter diz que a mesma senhora tem a certeza absoluta que são dez anos certos. Os magistrados de Gouveia agora arrendam umas residências que ficam mais perto do tribunal e que foram recuperadas. A senhora do prédio dos magistrados, insuspeita líder de opinião em matéria de alojamento dos funcionários da justiça, diz que não devia ser assim. Diz que o Estado devia fazer obras no prédio dos magistrados, onde, por acaso, ela também vive. E que os magistrados deviam viver ali e não nas residências alugadas.

- Hoje o Presidente da República foi alvo de Media-Bulling. Isto porque, segundo o Professor Marcelo Rebelo de Sousa, o Primeiro Ministro, quando disse ontem que certos aposentados recebem mais dinheiro do que aquele que descontaram, quis dar uma canelada no Presidente da República. Vai daí, hoje o Presidente levou logo com o seguinte pontapé na boca, diligentemente acertado por uma repórter super esperta: "Está de acordo que existem aposentados que recebem mais do que descontaram?".  

- Hoje o Passos Coelho voltou a falar sobre o assunto, mas como estava rouco não se percebeu bem o que ele disse.

- Hoje o Mourinho estava tristonho, coitado. É muito difícil a vida do Mourinho, coitado. Mas o Presidente do Real Madrid foi um gajo porreiro com o Mourinho e até disse que ele era o melhor treinador do mundo e que sofria muitos atentados à dignidade, coitado.

- Hoje ficámos ainda mais certos de que os americanos são umas verdadeiras cavalgaduras. É um país de imbecis, pronto, está visto. Gente que se deixa matar assim, tem que ser saloia do Texas. A América é um país de texanos armados até aos dentes que gostam de matar crianças e, se não fosse o Obama, morriam ainda mais crianças e, se não fosse o Obama, ainda existiam mais texanos na América.

- Hoje foi o dia santo em que o Ayatollah Ali Khamenei, Supremo Líder do Irão, subscreveu finalmente uma página no Facebook, de tal forma que pode agora "exprimir no ciberespaço as suas ideias e personalidade".

- Hoje a Polícia Judiciária apreendeu 307 aves exóticas, constituindo 17 arguidos, alegadamente culpados da negociata de milhões que é vender aves exóticas sem pagar impostos por isso.

A imbecilidade, a boçalidade, o xico-espertismo, a ignorância, a condescendência, a incompetência, o cinismo, o oportunismo, a irresponsabilidade, a banalidade, a pesporrência, a jactância, a mais profunda estupidez, a insuportável pretensão do jornalismo nacional  - ou de 95% dos jornalismo nacional, que é dizer o mesmo - é, muito provavelmente, a grande patologia da Terceira República. Tanto mais, que é uma patologia não diagnosticada.
Em Portugal, estamos sempre a condenar os políticos, o que é um excelente método de gerar maus políticos.  Mas mesmo quando são maus - e costumam ser maus, não são piores que nós, os que não "estão na política". São portugueses e comportam-se como os juízes portugueses se comportam. Comportam-se como os banqueiros portugueses se comportam. Comportam-se como os estivadores portugueses se comportam. Comportam-se como os advogados portugueses se comportam e como os mestres de obras portugueses se comportam e como os médicos portugueses se comportam e os pilotos da TAP se comportam e assim sucessivamente até ao vómito de toda a gente se portar bastante mal, embora sempre dentro do contexto da condição humana, que é uma tragédia de enganos.
Os jornalistas, por outro lado, são geralmente poupados ao juízo mais áspero. Vá-se lá saber porquê, na medida em que não há gente assim vil, neste país, que se lhes compare. Os jornalistas descem a um patamar ontológico tão baixinho, mas tão baixinho, que não chegam à cave mais escura da indignidade humana. 
Devíamos gostar mais dos políticos e menos dos jornalistas. Devíamos criar, talvez, o Dia Internacional do Político Vítima da Violência Pidesca do Jornalista Ignorante. Devíamos proteger a espécie contra as ameaças do ecossistema e dos predadores que caçam com a arma branca de um microfone na mão.
Até porque, afinal, quem reporta os repórteres?

sexta-feira, dezembro 14, 2012

Pop Poetry



"You can’t love me
I’m unloveable
But baby you could try"


Babybird | Unloveable

O meu dedo polegar para cima.



"If I die tomorrow, 
Would you love me for the rest of my life? 
(...) Wish love was like that."

BabyBird - A.K.A. Stephen Jones. Se esta fosse a página no Facebook que não tenho, diria: gosto disto. Assim sendo, explico só um bocadinho. Não sei porque raio é que gosto disto. Por exemplo; as letras são lamechas. Por exemplo; os acordes são clichés. Por exemplo; o Stephen só escreve músicas de amor.
Ok, tudo isto parece aborrecido, mas, caramba, faz-me lembrar o outro maluco dos Magnetic Fields (també Stephen, mas com i no Stephin Merritt). Há aqui qualquer coisa de génio, ainda assim. Ainda assim, há aqui qualquer coisa de único. Polegar para cima e acabou.

quinta-feira, dezembro 06, 2012

Directo


Wool on Wolves | Midnight Avenue
Primeira vez que oiço. Gosto. Mas como vem de quem vem, faço mais do que gostar. Publico.

segunda-feira, dezembro 03, 2012

Anti-CSI.



Breaking Bad. Esta série é altamente aditiva. É um ópiáceo valente. É um fármaco sublime. É uma droga dura. É uma pedrada no charco da televisão por cabo. Literal e metaforicamente: Heisenberg Rocks!

domingo, dezembro 02, 2012

Os outros

Um gajo que tem agora 45 anos, um gajo que nasceu em 1967,
nasceu para sofrer o inferno do Século XXI - e isso é líquido.
Porém, um gajo que tem agora 45 anos, um gajo que nasceu em 1967
e que quer, na verdade, apenas viver em paz,
viver em paz com as suas pequenas e baratas rotinas de sempre,
viver pacificamente com os seus modestos gostos,
viver tranquilo com a sua parcimoniosa sensibilidade,
viver com a possibilidade prosaica - e a vontade suicida - de se foder a trabalhar;
um gajo assim nascido num século só para ser condenado no outro,
merece, pelo menos, o diabo de uma folga.

Pedir pelo diabo de uma folga, em 45 anos, é pedir muito?
Digamos, uma semana sem que ninguém se zangue comigo.
Um mês só sem desiludir alguém.
Digamos, um ano sem perder um amigo
ou 24 horas sem que alguém se lembre de arquitectar
um juízo moral sobre o Paulo Hasse Paixão.
Digamos, um dia sem culpa.
Digamos, três meses sem perder um cliente.

Um gajo que tem agora 45 anos, um gajo que nasceu em 1967,
nasceu para sofrer o inferno do Século XXI.
Isto é certo como é certo que os outros milhões da minha geração
sofrem, como eu sofro, o inferno do Século XXI.
E todos também são, como eu, abjectos na conversa social,
mesmo antes do primeiro Famous Grouse.
E todos também são parcimoniosos de sensibilidade e senhores das suas rotinas
e todos também se fodem a trabalhar e perdem clientes
e todos também têm gostos modestos.

A diferença está em mim.
Eu trato aqui, de mim. Os outros tratarão ali, de si.

Puta que pariu os outros, ali.