sábado, novembro 19, 2005

À escuta das Vozes da Poesia Europeia - I

Celebrando a feliz edição da revista Colóquio Letras - que traz à estampa, em três cuidados volumes, as traduções que David Mourão-Ferreira fez da poesia europeia - publico aqui alguns excertos da obra que me agradam de sobremaneira, às quais adiciono umas quantas notas biográficas e bibliográficas.

ARISTÓFANES E OS PRAZERES DA PAZ.
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Considerado o mais brilhante autor de comédias da literatura grega, Aristófanes (sec IV A.C.) era um erudito conservador, apesar do uso de uma linguagem muitas vezes obscena e escatológica, que transformou o teatro grego num palco de intervenção política e social. Feroz adversário da Democracia de Sócrates e Eurípedes, acaba no entanto por ser vítima da censura imposta pelo despotismo aristocrático, consequente ao desfecho desfavorável para Atenas da Guerra do Peloponeso.
Talvez por isso, desenvolve um discurso pacifista absolutamente delicioso, que evita as banalidades filosóficas humanitárias, assumindo a preferência pelos prazeres epicuristas decorrentes do lazer: a guerra é uma chatice que impede o homem de preguiçar deveras, comer bem e fornicar bastante.
Dois exemplos magníficos de David Mourão-Ferreira:


HINO AO FALO

"Ó compincha, do vinho bom amigo,
Ó conviva das noites de folia,
Sedutor de mulheres e rapazinhos!
Depois de cinco anos de serviço,
aqui estou a saudar-te. Que alegria!

Eis-me já de regresso ao domicílio.
às malvas atirei, mais às urtigas,
aquilo de que fiz meu compromisso,
A paz, bem vês, assinei-a sozinho.
E os que fazem a guerra, que se lixem!

Quanto a mim, ó compincha, o que prefiro
é encontrar no bosque uma mocinha
- ou antes: surpreendê-la no delito
de lenha rapinar aos meus domínios -
e prendê-la, despi-la, possuí-la! (...)"


ELOGIO DA PAZ

"Que alegria! Oh, que alegria
do capacete estar livre,
dos feijões e das cebolas!
Batalhar não é comigo.
Prefiro, ao canto do fogo,
de parola co'os amigos,
garrafas ir esvaziando,
(...)
não sem ir aproveitando
- se por sorte, distraída,
minha mulher 'stá no banho -,
pra me pôr na criadita!"

Mais vale tarde do que nunca.

No Expresso desta semana, nota-se bem que - finalmente e talvez tarde demais - os formadores da opinião pública começam a perceber a natureza da ameaça islâmica. Nos escritos de Inês Pedrosa, Cândida Pinto ou Henrique Monteiro (na semana passada) é bem vísivel o susto. Mas, como sempre, o inteligente de serviço é João Pereira Coutinho que coloca a questão do ponto de vista civilizacional. Eu, que - e desculpem-me a indelicadeza - ando há que tempos a dizer e a escrever que o problema árabe não é económico, nem social, mas sim e precisamente civilizacional, agradeço o tardio contributo do Expresso e dos seus esclarecidos articulistas para a Causa do Ocidente.

quinta-feira, novembro 10, 2005

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A Deriva do Continente.

Mais uma noite em que Paris ardeu.
a CNN transmite o velório de Platão
e, sem engano, também Adriano morreu
na trama de um programa de Televisão.

A França chora Descartes, decapitado
e Emile Zola acaba de perecer.
Jesus ficou na cruz, e eu sintonizado
fico de bico calado a ver: Paris a arder.

Mais uma noite em que Paris ardeu:
Kant caiu nas chamas da redenção,
Rousseau naufragou e Espinoza faleceu
na auto-estrada danada da informação.

Viúvas vão a carpir! Homero foi fuzilado
e deixado no fosso a apodrecer.
Enquanto Aristóteles é enterrado
fico quieto e calado a ver: Paris a arder.

Mais uma noite em que Paris ardeu:
chegam as notícias do fim de Napoleão
e do fausto funeral de Ptolomeu
em directo pelo recto da televisão.

Todas as noites Goethe é apedrejado
e outras será até que se deixe morrer.
Churchill foi julgado e condenado
e eu fico calado a ver: Paris a arder.

Mais uma noite em que Paris ardeu:
a Voltaire sobreveio-lhe um apagão,
Sócrates pegou no cálice e bebeu
a cicuta da puta da informação.

Alexandre o Grande foi executado
Nietzsche foi internado e Marx a saber
por vinte vezes foi sem dó supliciado.
Estou só e calado a ver: Paris a arder.

Mais uma noite em que Paris ardeu:
por ordens desta santa inquisição
Cromwell, Lutero e Montesquieu
são crucificados nos apanhados da televisão.

Esta noite será, um dia, fúnebre feriado,
Cícero e Suetonio deixaram de viver
e à hora em que Gibbon foi guilhotinado
Sei que fiquei calado a ver: Paris a arder.
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terça-feira, novembro 08, 2005

Coitadinhos dos bandidos.

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Pobres rapazes (adolescentes ainda!) que destroem escolas e sedes municipais, fábricas e automóveis, piscinas comunitárias e hospitais públicos porque não têm emprego nem lhes mostram o devido respeito. Sim, coitadinhos deles a quem deram nacionalidade e saúde grátis, liberdade para praticar todo o tipo de disparates e grandes bairros onde podem passar droga à vontadinha. Ah, desafortunados infantes que largam fogo a carrinhas escolares e afinam a pontaria nos cús dos polícias porque o Estado não os trata como eles acham que merecem! Desgraçados mártires que, com meticulosa organização de guerrilha experimentada, vão destruíndo o que lhes aparece à frente porque não gostaram de ser tratados pelo nome próprio: Escumalha. Coitadinhos dos excluídos e enjeitados e incompreendidos da república bárbara e desumana que é a França, que mesmo assim os protege com falinhas mansas e medos eleitorais, que porém lhes perdoa as atrocidades por complexos de culpa e outros tiques marxistas do grande fardo do homem branco! Ah, infelizes filhos de uma sociedade injusta que os educa e os emprega e os deixa votar, que lhes garante o direito de serem brutos, que lhes permite a oratória do ódio nas mesquitas de Paris e o recrutamento para-militar nos Campos Elíseos, que lhes premeia a marginalidade e a intolerância com mais direitos e mais liberdades. Sim, rogo-vos, mostrem alguma comiseração por estes tristes inocentes, castigados por uma Europa que não lhes humilha as mulheres, nem lhes vampiriza a alma com a tirania de deus nem os conduz ao sacrifício divino de explodir dentro de um autocarro!
Por quem sois, tenham coração e deixem que os pobres infelizes vos destruam as ruas e as cidades, a propriedade e a lei, e - pelo caminho - esta ideia de uma civilização minimamente decente que andamos na Europa a tentar parir vai para quatro séculos. Vamos!, força com isso de abrir de uma vez por todas essas fronteiras (igalité oblige), de trazer definitivamente a cultura superior do povo árabe para a Europa e instalá-la convenientemente no lugar da República! Ofereçam a Alah o governo de França! Deixem que as rapariguinhas levem a sua burka e os seus mais bárbaros maneirismos para as escolas, para que os vossos filhos aprendam a viver como gloriosamente se vive na geografia do Islão. Façam o favor de permitir que estes gentis expoliados do capitalismo reduzam a cinzas os princípios básicos que fundamentam as vossas vidinhas de burgueses envergonhados e depois, cruzem os braços para assistar com complacência ao espectáculo do declínio do império da boa vontade.

quarta-feira, novembro 02, 2005

Fragilidades do século XXI

O recente grande terramoto no Paquistão fez mais de 70.000 vítimas mortais. Calcula-se que o de Lisboa tenha sido responsável pela morte de cerca de 10.000 pessoas. Como também foi óbvio no tsunami do Índico, à medida que a civilização humana evolui tecnológica e demograficamente sobre os séculos, fica mais frágil perante as catástrofes naturais.
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CÂNDIDO NO MELHOR DOS MUNDOS
(in Ocidental Praia - 2003)

A história de Cândido, segundo Voltaire, é uma excelente iniciação ao cepticismo. Inspirada nos disparates da filosofia de Leibniz, que infectou o pensamento racionalista com a ideia de que o homem vivia no melhor dos mundos graças á constante providência divina, esta breve odisseia demonstra-nos com satírica eloquência que o mundo do século XVIII seria tudo menos o melhor possível.
Para tal, o bravo iluminista herege coloca com alegria e espírito o seu infeliz herói na roda dos horrores terrenos. Cândido é um ingénuo e bem intencionado adolescente alemão, bastardo de nascimento mas mesmo assim educado nos princípios da Razão Suficiente, que por motivos de saias é escorraçado da casa nobre onde fora até então tolerado e afilhado. Será a partir daí cruelmente submetido à dura realidade dos factos: atirado à soldadesca búlgara recebe mil vergastadas, depositado por uma tempestade em Lisboa, desembarca em pleno terramoto de 1755, nos escombros do qual quase acaba por perecer, por mãos da Santa Inquisição. Recupera e parte para América do Sul para ganhar o soldo a matar franciscanos e finalmente encontra o El-Dorado, só para que lhe seja espoliado o seu lugar no paraíso. Entrementes, como bom cristão e esgrimista, vai enviando para o inferno um punhado de infelizes, entre os quais um bispo em Lisboa e um Padre no Paraguai. Assim sucessivamente, Cândido mergulha na efeverscência das guerras vorazes, das pestes em fúria, das fomes e das misérias, do caos e da loucura. Quando a sua viagem termina percebe enfim que Leibniz estava enganado. A não ser, claro, que estivesse certo. Mas nesse caso, e se este é verdadeiramente o resultado de uma preocupada e hiperactiva providência, que diabo, não poderia Deus fazer um melhor trabalho?


POEME SUR LE DESASTRE DE LISBONNE
OU EXAMEN DE CET AXIOME: "TOUT EST BIEN"
(Voltaire - 1756)

O malheureux mortels! ô terre déplorable!
O de tous les mortels assemblage effroyable!
D'inutiles douleurs éternel entretien!
Philosophes trompés qui criez: "Tout est bien"
Accourez, contemplez ces ruines affreuses
Ces débris, ces lambeaux, ces cendres malheureuses,
Ces femmes, ces enfants l'un sur l'autre entassés,
Sous ces marbres rompus ces membres dispersés;
Cent mille infortunés que la terre dévore,
Qui, sanglants, déchirés, et palpitants encore,
Enterrés sous leurs toits, terminent sans secours
Dans l'horreur des tourments leurs lamentables jours!
Aux cris demi-formés de leurs voix expirantes,
Au spectacle effrayant de leurs cendres fumantes,
Direz-vous: "C'est l'effet des éternelles lois
Qui d'un Dieu libre et bon nécessitent le choix"?
Direz-vous, en voyant cet amas de victimes:
"Dieu s'est vengé, leur mort est le prix de leurs crimes"?
Quel crime, quelle faute ont commis ces enfants
Sur le sein maternel écrasés et sanglants?
Lisbonne, qui n'est plus, eut-elle plus de vices
Que Londres, que Paris, plongés dans les délices?
(...)
Allez interroger les rivages du Tage;
Fouillez dans les débris de ce sanglant ravage;
Demandez aux mourants, dans ce séjour d'effroi
Si c'est l'orgueil qui crie "O ciel, secourez-moi!
O ciel, ayez pitié de l'humaine misère!"
 "Tout est bien, dites-vous, et tout est nécessaire."
Quoi! l'univers entier, sans ce gouffre infernal
Sans engloutir Lisbonne, eût-il été plus mal?
Etes-vous assurés que la cause éternelle
Qui fait tout, qui sait tout, qui créa tout pour elle,
Ne pouvait nous jeter dans ces tristes climats
Sans former des volcans allumés sous nos pas?
Borneriez-vous ainsi la suprême puissance?
Lui défendriez-vous d'exercer sa clémence?
L'éternel artisan n'a-t-il pas dans ses mains
Des moyens infinis tout prêts pour ses desseins?
Je désire humblement, sans offenser mon maître,
Que ce gouffre enflammé de soufre et de salpêtre
Eût allumé ses feux dans le fond des déserts.
Je respecte mon Dieu, mais j'aime l'univers.
(...)
Non, ne présentez plus à mon coeur agité
Ces immuables lois de la nécessité
Cette chaîne des corps, des esprits, et des mondes.
O rêves des savants! ô chimères profondes!
Dieu tient en main la chaîne, et n'est point enchaîné
Par son choix bienfaisant tout est déterminé:
Il est libre, il est juste, il n'est point implacable.
Pourquoi donc souffrons-nous sous un maître équitable?
Voilà le noeud fatal qu'il fallait délier.
Guérirez-vous nos maux en osant les nier?
Tous les peuples, tremblant sous une main divine
Du mal que vous niez ont cherché l'origine.
Si l'éternelle loi qui meut les éléments
Fait tomber les rochers sous les efforts des vents
Si les chênes touffus par la foudre s'embrasent,
Ils ne ressentent point des coups qui les écrasent:
Mais je vis, mais je sens, mais mon coeur opprimé
Demande des secours au Dieu qui l'a formé.
(...)
Tout semble bien pour lui, mais bientôt à son tour
Un aigle au bec tranchant dévore le vautour;
L'homme d'un plomb mortel atteint cette aigle altière:
Et l'homme aux champs de Mars couché sur la poussière,
Sanglant, percé de coups, sur un tas de mourants,
Sert d'aliment affreux aux oiseaux dévorants.
Ainsi du monde entier tous les membres gémissent;
Nés tous pour les tourments, l'un par l'autre ils périssent:
Et vous composerez dans ce chaos fatal
Des malheurs de chaque être un bonheur général!
Quel bonheur! ô mortel et faible et misérable.
Vous criez: "Tout est bien" d'une voix lamentable,
L'univers vous dément, et votre propre coeur
Cent fois de votre esprit a réfuté l'erreur.
(...)
Mais comment concevoir un Dieu, la bonté même,
Qui prodigua ses biens à ses enfants qu'il aime,
Et qui versa sur eux les maux à pleines mains?
Quel oeil peut pénétrer dans ses profonds desseins?
De l'Etre tout parfait le mal ne pouvait naître;
Il ne vient point d'autrui, puisque Dieu seul est maître:
Il existe pourtant. O tristes vérités!
O mélange étonnant de contrariétés!
Un Dieu vint consoler notre race affligée;
Il visita la terre et ne l'a point changée!
Un sophiste arrogant nous dit qu'il ne l'a pu;
"Il le pouvait, dit l'autre, et ne l'a point voulu:
Il le voudra, sans doute"; et tandis qu'on raisonne,
Des foudres souterrains engloutissent Lisbonne,
Et de trente cités dispersent les débris,
Des bords sanglants du Tage à la mer de Cadix.
(...)
Quelque parti qu'on prenne, on doit frémir, sans doute
Il n'est rien qu'on connaisse, et rien qu'on ne redoute.
La nature est muette, on l'interroge en vain;
On a besoin d'un Dieu qui parle au genre humain.
Il n'appartient qu'à lui d'expliquer son ouvrage,
De consoler le faible, et d'éclairer le sage.
L'homme, au doute, à l'erreur, abandonné sans lui,
Cherche en vain des roseaux qui lui servent d'appui.
Leibnitz ne m'apprend point par quels noeuds invisibles,
Dans le mieux ordonné des univers possibles,
Un désordre éternel, un chaos de malheurs,
Mêle à nos vains plaisirs de réelles douleurs,
Ni pourquoi l'innocent, ainsi que le coupable
Subit également ce mal inévitable.
Je ne conçois pas plus comment tout serait bien:
Je suis comme un docteur, hélas! je ne sais rien.
Platon dit qu'autrefois l'homme avait eu des ailes,
Un corps impénétrable aux atteintes mortelles;
La douleur, le trépas, n'approchaient point de lui.
De cet état brillant qu'il diffère aujourd'hui!
Il rampe, il souffre, il meurt; tout ce qui naît expire;
De la destruction la nature est l'empire.
Un faible composé de nerfs et d'ossements
Ne peut être insensible au choc des éléments;
Ce mélange de sang, de liqueurs, et de poudre,
Puisqu'il fut assemblé, fut fait pour se dissoudre;
Et le sentiment prompt de ces nerfs délicats
Fut soumis aux douleurs, ministres du trépas:
C'est là ce que m'apprend la voix de la nature.
J'abandonne Platon, je rejette Epicure.
Bayle en sait plus qu'eux tous; je vais le consulter:
La balance à la main, Bayle enseigne à douter,
Assez sage, assez grand pour être sans système,
Il les a tous détruits, et se combat lui-même:
Semblable à cet aveugle en butte aux Philistins
Qui tomba sous les murs abattus par ses mains.
Que peut donc de l'esprit la plus vaste étendue?
Rien; le livre du sort se ferme à notre vue.
L'homme, étranger à soi, de l'homme est ignoré.
Que suis-je, où suis-je, où vais-je, et d'où suis-je tiré?
Atomes tourmentés sur cet amas de boue
Que la mort engloutit et dont le sort se joue,
Mais atomes pensants, atomes dont les yeux,
Guidés par la pensée, ont mesuré les cieux;
Au sein de l'infini nous élançons notre être,
Sans pouvoir un moment nous voir et nous connaître.
Ce monde, ce théâtre et d'orgueil et d'erreur,
Est plein d'infortunés qui parlent de bonheur.
Tout se plaint, tout gémit en cherchant le bien-être:
Nul ne voudrait mourir, nul ne voudrait renaître.
Quelquefois, dans nos jours consacrés aux douleurs,
Par la main du plaisir nous essuyons nos pleurs;
Mais le plaisir s'envole, et passe comme une ombre;
Nos chagrins, nos regrets, nos pertes, sont sans nombre.
Le passé n'est pour nous qu'un triste souvenir;
Le présent est affreux, s'il n'est point d'avenir,
Si la nuit du tombeau détruit l'être qui pense.
Un jour tout sera bien, voilà notre espérance;
Tout est bien aujourd'hui, voilà l'illusion.
Les sages me trompaient, et Dieu seul a raison.
Humble dans mes soupirs, soumis dans ma souffrance,
Je ne m'élève point contre la Providence.
Sur un ton moins lugubre on me vit autrefois
Chanter des doux plaisirs les séduisantes lois:
D'autres temps, d'autres moeurs: instruit par la vieillesse,
Des humains égarés partageant la faiblesse
Dans une épaisse nuit cherchant à m'éclairer,
Je ne sais que souffrir, et non pas murmurer.
Un calife autrefois, à son heure dernière,
Au Dieu qu'il adorait dit pour toute prière:
"Je t'apporte, ô seul roi, seul être illimité,
Tout ce que tu n'as pas dans ton immensité,
Les défauts, les regrets, les maux et l'ignorance."
Mais il pouvait encore ajouter l'espérance.

De rumores, relatos e ruínas.

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- Em vez de andarem a assassinar as espécies migratórias às centenas de milhar, com medos histéricos da Gripe das Aves (onde é que estão os ambientalistas?), as autoridades europeias deviam preocupar-se sim com o número anual de suícidios entre os respectivos súbditos, que já excede o mesmo cálculo de vítimas mortais em acidentes de automóvel e faz desta prática uma das principais causas de morte no velho continente.
Acho ainda espantoso que aqueles irresponsáveis (leia-se: jornalistas) que criaram e multiplicaram e inculcaram o pânico e a confusão na consciência social, venham agora fazer programas de esclarecimento, sugerindo que esse medo é desproporcionado. Os mesmos agentes da histeria (leia-se, os jornalistas) vêm agora gritar calma, como se não fosse nada com eles. Irra, que é demais.

- Parece que as SCUDs vão custar dez por cento do PIB daqui a uma dezena de anos. E ninguém vai parar à prisão por causa disto?

- Os juízes deste país já deveriam estar cansadinhos de provar a sua iniquidade. Mas não é que insistem? Dos livres arbítrios escandalosos no lodo do futebol, às decisões jurídicas mais inacreditáveis, da corrupção evidente ao compadrio camarada, da atracção compulsiva pela comunicação social à arrogância militante, vão reinando gordinhos, privilegiados e incompetentes sobre a justiça nacional. Não deixam, claro está, de aconselhar o sacrifício e a honorabilidade até que lhes toca a eles a vez de se sacrificarem e de serem honrados. Nesse momento, mostram-se tão reles como qualquer ratazana de esgoto. O generalizado direito à greve já é em si uma coisa abstrusa. Um juiz fazer greve é matéria fenomenológica do planeta dos macacos (que me desculpem os símios).

- De uma maneira geral, o assinalar dos 250 anos sobre a primeira grande catástrofe natural da era moderna, tem demonstrado que ainda há inteligência a oeste de Badajoz. De tudo o que li e vi de bom sobre o assunto - e não foi pouco - destaco o esplêndido ensaio "O Pequeno Livro do Grande Terramoto", do blogger Rui Tavares. Uma obra realmente imperdível. O blog de apoio ao livro também tem interesse.

- Cuidado com os rumores de uma independência Catalã. A desintegração do estado Espanhol que lhe será inevitável ameaçará e de que maneira a independência de Portugal.

- As Terças-Feiras são bons dias de televisão na RTP. Na 2: a viagem do notabilíssimo Michael Palin entre o Ganges e os Himalaias. Na 1, o tagarelar entretido e mais ou menos pertinente do Trio de Ataque.

- O que se passa com os salários dos jogadores do Vitória de Setúbal é vergonhoso. E a responsabilidade é mais de Liga do que do triste Chumbita. Porque das duas, uma: ou a Liga não obriga os clubes à apresentação de garantias bancárias - o que é caricato - ou, obrigando, não faz cumprir a lei - o que é ridículo.