No outro dia recebi um email assinado por um tal de "Nuno", que estava muito mal disposto porque o termo "anarquia" tinha sido usado no Contra para prejuízo do seu verdadeiro significado que seria, segundo ele, "sem mestres".
Respondi cordialmente, explicando que o Contra tem uma boa quantidade de colunistas, graças a Deus e à generosidade deles, e que não pode ser polícia etimológico dos seus textos, até porque valida o livre discurso.
Hoje recebi este email:
Obrigado pela resposta.
“Livre arbítrio”… pois muito bem… se é que tal coisa realmente existe dentro da mente…
Não esquecer que cada adepto (consciente ou não disso) da “religião do Estado” e da “democracia” (ou de qualquer ideologia - mesmo a anarquista) são inimigos de si próprios e dos outros, “contaminados” pela doença mental do “colectivismo”.
As temáticas do “Contra” são, em geral, pouco profundas e até demasiado filosóficas por vezes.
Mudando um pouco. Sugeria um artigo escrito sobre o recente vídeo feito por Jeff Berwick, devido às suas enormes implicações. Sei que Jeff Berwick e o “Dollar Vigilante” não são populares e muita gente desconhece, assim como os vídeos de Max Igan mas is assuntos focados são mil vezes mais pertinentes do que o que passa no “Contra”. A profundidade de abordagem é muito superior. Em geral quando leio artigos do contra, abandono-os ainda antes de metade. Pena….
Desta vez a mensagem vinha assinada por "Nuno Agostinho".
Bom, eu recebo dezenas de emails deste género por mês, que não me aquecem nem me arrefecem (também recebo outros mais simpáticos, claro), mas este deixou-me um pouco mais incomodado, não tanto pelo seu conteúdo como pelo facto de eu ter tido o cuidado de responder educadamente à primeira farpa, só para depois perceber que devia ter ficado quieto. E já que perdi tempo com a primeira resposta, vou perder ainda mais tempo com a segunda.
Para já parece-me estranho que o Nuno siga uma publicação que está assim tão abaixo do seu nível intelectual e que até se dê ao trabalho de a querer melhorar, não só na sua terminologia, como até no que diz respeito aos seus conteúdos. Se não conseguimos impressionar até agora o exigente leitor, também não vai ser por causa de duas ou três referências de youtubers que considera magníficos que vamos estar à altura do seu génio exegético, não é?
Mais a mais, se o Contra é assim tão bera, de tal forma que o exigente leitor abandona os artigos sem chegar à sua conclusão (o que também contribui, necessariamente, para a sua negativa avaliação dos mesmos), porque é que é uma "pena"?
Temos pena de alguém que não cumpre o seu potencial ou, no caso, de uma publicação que já foi decente e que agora é indecente. Mas parece-me que o Nuno nunca chegou ao ponto de a considerar digna.
Recomendo-lhe assim que desista e procure outros sites editoriais que satisfaçam os seus excelsos critérios. Sinceramente.
Percebe-se também que o Nuno está equivocado sobre a linha ideológica da publicação, já que podemos dizer o que quisermos do Contra menos que é "colectivista" ou que segue a "religião do Estado." Muito antes pelo contrário.
Depois, parece-me que o crítico está um pouco confuso sobre a profundidade editorial do ContraCultura, já que nos destrata simultaneamente por sermos excessivamente fúteis e inadequadamente densos.
Esta é aliás um crítica que recebo algumas vezes, e que é paradoxal. Por um lado sou acusado de despejar más notícias e de não apresentar soluções para os problemas que enuncio. Por outro, dizem-me que publico artigos de carácter de tal forma académico que ninguém tem paciência para ler.
Ora, como não há respostas fáceis nem soluções imediatas para os problemas que nos atormentam, é precisamente por um regresso à filosofia e à literatura clássicas, bem como às escrituras sagradas do legado ocidental, que podemos encontrar coordenadas para resolver os males que agora nos afligem. Não me parece justo que me digam que não tento encontrar caminhos quando se recusam a segui-los, só porque é espinhosa a odisseia.
Até porque todas as odisseias são, por definição, espinhosas.
Por último, eu não sei quem é o Nuno Agostinho nem aquilo que ele faz na vida. Mas desconfio que não deve fazer grande coisa em nome das causas que defende. E fico sempre um bocado constrangido com a pretensão daqueles que não sacrificam nada, não produzem nada, não se entregam a nada que possa cumprir os seus ideais, mas estão sempre prontos a sovar quem vai à luta.
Seria o Nuno Agostinho capaz de passar 3 anos a trabalhar intensamente num projecto de combate político e cultural sem ganhar um tostão que fosse?
Ou tudo o que é capaz de fazer é criar uma conta de email com a sugestiva nomenclatura de "che2000" para destratar aqueles que laboram desinteressadamente por valores em que acreditam?