sábado, junho 30, 2018

Melhor série de 2018 (até agora).

Estamos a meio do ano. Pode acontecer alguma coisa paranormal, mas duvido muito. "The Terror" será inevitavelmente o melhor produto televisivo de 2018. Esta série de uma época apenas, mistura realidade histórica e fantasismo gótico para nos conduzir ao interminável sofrimento da odisseia a que Sir John Franklin malogradamente se aventurou, em 1845. Cada episódio é um banquete de misérias, medos, traições, violências, doenças e vã glórias. A condição humana em fractura exposta sobre o gelo do Ártico. Mais uma obra prima de Ridley Scott.


Cinco minutos, dezanove segundos e cinquenta e quatro centésimos.

É o tempo canhão que o Porsche 919 Hybrid Evo, pilotado por Timo Bernhard, demorou a dar uma voltinha aos 21 quilómetros de Nurburgring Nordschleife. Recorde absoluto do inferno verde e prova provada que actualmente os motores híbridos dominam a engenharia automóvel de alta performance.



Agradecimentos: Carlos Rafael.

sexta-feira, junho 29, 2018

Ainda sobre a Segunda Guerra Civil Americana,

escreve Charles Hurt no Washington Times:

"Beware the coming civil war!" Coming?
Oh, it’s already upon us. And it has been raging for some time now.
The once-serious political party known as “Democrats” has been hijacked by lawless lunatics who have been sowing discontent and fomenting violence for years now.
Just ask all the families of police officers in America who have been executed over the past four or five years by militants inspired by the so-called “Black Lives Matter” movement.
This would be the same movement that Democratic leaders are terrified of standing up to. When their last standard bearer — Hillary Clinton — made the grave error of declaring that “all lives matter,” she later issued an apology and a correction.
After a lifetime in politics, you would think that the woman might understand that political rhetoric has consequences.
Yes, this civil war is upon us.
Or ask all the American families who have suffered murder, dismemberment and terror at the hands of MS-13 gang members who streamed across the broken border. A border that the Democratic Party — back when it was still a serious outfit — agreed should exist.
A little more than a decade ago, Democratic leaders such as Mrs. Clinton, her husband, and former President Barack Obama all supported, argued for and voted for a physical barrier along the border to keep illegal aliens — especially violent gang members — from sneaking into the country.
Now, according to leadership all up and down the Democratic Party, holding such a position is somehow “racist” or xenophobic and certainly hateful.
The entire party has abandoned any support for an enforced border, seeking instead to score cheap political points at the cost of American security.
As a result, there is an invasion at our southern border and the only “rights” Democrats care about any more are those of the illegal aliens sneaking across the border.
Yes, this civil war is upon us.
It is only getting worse.
The Democrats just kicked out their fourth-ranking House member in favor of an avowed socialist who wants to abolish the U.S. Immigration and Customs Enforcement agency. Seriously?
This, along with the increasingly heated rhetoric comparing ICE and Border Patrol agents to Nazis (yes, these kids are totally illiterate and never learned one minute of history), suggests this civil war is going to only get worse.
Or just listen to the loudmouth leaders of the Democratic Party today, actually arguing that the president of the United States somehow does not have the authority — let alone constitutional responsibility by oath — to make sure America’s enemies do not infiltrate our country so that they can wage some barbaric jihad against American citizens.
Yes, this civil war is upon us.
Ask House Majority Whip Steve Scalise, who is still recovering from an assassination attempt by a disaffected Bernie Sanders supporter who plotted to kill dozens of members of Congress for being Republican.
Yes, this civil war is upon us.
And when you look around at Democratic leaders applauding and encouraging the open harassment of political opponents out in public, you know things are only going to get worse.

quinta-feira, junho 28, 2018

Se calhar estamos sózinhos.

Se calhar, somos só nós. Se calhar, somos os únicos deuses e astronautas, filósofos e profetas, os únicos astrónomos, ou únicos bichos curiosos no universo. Os únicos danados. Se calhar, o Paradoxo de Fermi tem, de todas as possíveis, a pior solução: uma profunda e infecunda solidão.

Há uma enorme probabilidade de estarmos sozinhos no Universo

quarta-feira, junho 27, 2018

Fala da Gaivota

Diz a gaivota:
- Tu aí, barrigudo, no terraço da tua pequena sabedoria, que sabes do meu canto? Que sabes da tua e da minha insignificância, da inutilidade do meu voo, da futilidade do teu vinho branco, do exercício vão de todas as coisas em exercício neste universo de espelhos fechados pela poeira das eternidades, pela escuridão da memória? Que sabes tu, pedante redução de ti mesmo, deste oceano anónimo que se agita entre marés poderosas, galácticas; marés que desdenham do teu destino espúrio, que te arrastam com indiferença para o sítio último, para o momento derradeiro da tua tragédia pequena? Sim, que sabes tu de tudo isto, de ti e de mim, do céu e do mar; que sabes tu fotão de nada, que nada podes, que nada és, subatómico turista na falésia abísmica da insubstância geral da vida?

terça-feira, junho 26, 2018

domingo, junho 24, 2018

Bye bye crazy.

Estranhamente, num clube com grande dimensão sociológica, não mais que catorze mil sócios acharam que valia a pena a viagem ao Parque das Nações para decidir sobre o futuro do Sporting. E destes, uns poucos milhares ainda foram capazes de votar pela continuação do degradante e insano espectáculo que Bruno de Carvalho andou a proporcionar aos portugueses (e não só) durante os últimos cinco anos. Ainda assim, 71% dos sócios que apareceram decidiram oferecer a este doido algo de que ele precisava desesperadamente: uma excelente camisa de forças.
Até que enfim.

sexta-feira, junho 22, 2018

Pela Estrada Fora #04












Uma tarde de Inverno na N222, "a melhor estrada do mundo": Portugal está aqui para as curvas.

Nem pensar.

Que fique muito clara a minha opinião sobre a possível contratação pelo Sport Lisboa e Benfica de atletas da equipa de futebol que recentemente rescindiram os seus contratos com o Sporting Clube de Portugal: não concordo. É uma vilania, uma xico-esperteza e um erro de gestão.
O Sport Lisboa e Benfica não deve comportar-se como o seu rival de Lisboa, que sempre que pode e de forma infame, tenta operações desta baixa natureza junto do plantel encarnado.
O Sport Lisboa e Benfica nunca poderá assegurar condições de segurança e bem-estar psicológico a estes atletas, pelo que qualquer contratação será um mau negócio, na medida em que será difícil tirar todo o rendimento possível destes profissionais.
O Sport Lisboa e Benfica deve contribuir para apaziguar o clima de guerra civil em que tem vivido, nos últimos anos, o futebol Português (e não só). A contratação destes jogadores só poderia, ao contrário, servir para inflamar ainda mais o lamentável ambiente reinante.
O Sport Lisboa e Benfica poderá, a prazo, ver-se a braços com o imperativo jurídico de pagar avultadas indemnizações ao Sporting Clube de Portugal já que não é liquído que a justa causa seja reconhecida a todos os atletas que agora rescindiram os seus contratos.
O Sport Lisboa e Benfica deve ser um clube decente, com princípios de actuação e gestão decentes, que honrem a sua história e os seus valores.

quarta-feira, junho 20, 2018

Tudo isto é triste, tudo isto é fado.

Fernando Santos é o mestre do desprazer: mesmo quando ganha, deixa-nos tristes. O futebol, no entendimento deste senhor, é a mais triste das artes. Até a bola corre em melancólico movimento; as balizas deprimem e o relvado tem que ser tratado, depois de cada jogo da Selecção Nacional, com uma solução de Prozac. Na ressaca de apitarem jogos de Portugal, há árbitros que encaram seriamente uma mudança de carreira, no mínimo, ou o suicídio, em casos mais extremos como o do jogo de hoje, contra Marrocos. Não admira que jogadores alegres como Gonçalo Guedes, Bernardo Silva e Rafael Guerreiro não joguem nada. Não admira que o mais feliz dos laterais portugueses, Nelson Semedo, não faça parte deste infeliz plantel.
Só Ronaldo não parece nada afectado pelo desalento reinante. O talento alienígena, a vaidade imensa e o brio irredutível tornam o capitão imune ao futebol soturno que tem sido praticado pelos restantes colegas.
Fernando Santos, se não fosse um horrível treinador de futebol, teria sido um excelente fadista. E a carreira da Selecção neste mundial vai ser bastante breve e inglória. É fatal como o destino.

Um regresso à rua.
































































Somos nómadas. De rua em rua, de aventura em aventura. Somos nómadas. De década em década, de feito em feito. Sonhamos as artes de rua e a obra nasce em movimento porque somos nómadas. Somos o vai e vem, o volta ou não volta, o entra e sai, o fica e o vai: percorremos Palmela com o mesmo passo apressado, o mesmo passo quântico e astronómico com que fazemos as milhas do mundo. Somos nómadas. Somos o circo, o teatro, a dança, o canto e o silêncio; a máscara e a calçada e somos estas coisas todas ao mesmo tempo e em vários tempos, no mesmo palco e em todos os palcos. Persistimos na caminhada. Somos nómadas. Estamos aqui e ali, vamos além e acolá. Seguimos pelo trilho sem destino. Pelo caminho sem fim. Somos nómadas pelo espaço e pelo tempo, por cantos e recantos, por becos e enseadas, sem respeito por fronteiras, sem medos e sem mapas, porque o único mapa é a vida. Vamos com ganas de glória e sem vaidade nenhuma e ano após ano, continuamos. Vamos pela estrada mais difícil, pela rota mais perigosa, que é a da liberdade.
Seja bem vindo à enésima edição do FIAR. O Festival sem número nem lugar, sem zona de conforto nem razão p'ra estar morto.
Estamos vivos. Somos nómadas. Seguimos em frente. E é assim.

Direcção do Festival: Dolores de Matos . Fotos: Alexandre Nobre . Texto e Design Gráfico: Partícula

terça-feira, junho 19, 2018

24 horas em trânsito.



Fernando Alonso, que ajudou imenso na tarefa de levar o Toyota TS050 Hybrid à vitória na edição deste ano de Le Mans, faz o que pode para andar depressa num interminável engarrafamento. E, convenhamos, não se sai nada mal. Dois minutos de notabilíssima pilotagem.
É que foi assim, sem cometer erros e a andar muito rápido nas horas de ponta, que a Toyota conseguiu finalmente vencer no inferno de La Sartre. E vencer aqui, mesmo que sem concorrência à altura (este ano a LPM1 tinha mais protótipos em pista, mas apenas um construtor oficial), dá sempre direito a várias toneladas de glória.

sexta-feira, junho 15, 2018

Não sou só eu que digo o óbvio:

Tínhamos as notícias falsas. Agora temos isto: os comentários falsos. A imprensa americana e internacional não se dá conta de que, na sua sanha de recusar a Trump qualquer razão ou legitimidade, está a reduzir a análise a uma birra incoerente — se Trump não conversa com Kim Jong-un, devia conversar; se conversa, não devia conversar. Há quem, dramaticamente, ache que o jornalismo corre o risco de morrer com Trump. Steven Spielberg até fez um filme por causa disso (The Post). Mas se esse receio tem alguma razão de ser, é porque demasiados jornalistas abandonaram qualquer pretensão de objectividade a favor de uma lógica de guerra civil, que os tornou uma espécie de espelhos do que eles próprios dizem ser Trump. Nada há de mais parecido com o trumpismo do que o anti-trumpismo.

Rui Ramos . Observador . 15-06-2018 . Artigo integral

No Canadá, não sejas Português.

Parece que a Federação Portuguesa de Futebol encomendou a sua cantiga inspiradora da glória nenhuma que vai alcançar neste Mundial a um canadiano de 20 anos. Eu por acaso acho que, canadiano por canadiano, vã glória por vã glória, teria sido de gosto maximamente louvável encomendar uma canção a estes quarentões aqui:



Sempre se salvava a canção, caso a probabilidade da figura triste cumprisse as regras da estatística.


Stars . Fluorescent Light

quinta-feira, junho 14, 2018

É muito raro

espetar com um clip no blog à primeira audição de uma banda. É tão raro que não me lembro de outro episódio de espontaneidade semelhante. Mas tem mesmo que ser porque isto que vais ouvir, gentil auditor, não tem risco. É boa música sempre, independentemente do número que cai, que caiu, que cairá na roleta universal do pop alternativo que se joga no casino estoril do dias que correm.



Cascadeur . Turn To Dust
Robert De Niro, o famoso actor de si próprio, decidiu agradar à plateia dos Tony Awards com o peido ordinário que estava aflito por libertar. Foi um tiro em cheio no pé do meio, porque o que de certeza conseguiu, para além do aplauso espúrio, foi arregimentar mais votos para a reeleição de Trump.
Mas acima de tudo, a má criação do mal criado é a derradeira prova de que a esquerda americana ainda não percebeu nada sobre o fenómeno poltergeist que levou o mais inconcebível dos candidatos republicanos à moradia de Washington.
Uma outra coisa importante sobra deste lamentável manifesto: os Estados Unidos da América estão sociológica e politicamente divididos como poucas vezes na sua breve história de 242 anos. E, se já se ouvem vozes que falam de uma Cold Civil War, parece-me cada vez mais obscena, cada vez mais aberrante e cada vez mais provável, uma Segunda Guerra de Secessão. O "Great American Divide" retratado neste blog em 2013, está completamente plasmado na ordinária arrogância de De Niro. E em cada página do New York Times. Só não vê o desastre, quem não o quiser ver.

Sobre a queda de Mike Tyson.

Os temas pop/rock de tom épico são geralmente dedicados à ascensão dos heróis. Os Killers decidiram, no seu último e excelente disquinho, uma contra-cantiga e eis que se inaugura a odisseia da queda. No caso, a de Mike Tyson. É uma experiência dolorosa, claro, mas resulta numa espécie de felicidade.



The Killers . Tyson Vs. Douglas

Porque é que bomba imenso ter um blog com 14 anos?

Porque se encontra aqui razão antiga sobre montes de assuntos contemporâneos.

Sobre José Sócrates:

Em 2014
http://blogvilla.blogspot.com/2014/11/da-banalidade-do-mal.html
http://blogvilla.blogspot.com/2014/11/chilindro.html

Em 2009
http://blogvilla.blogspot.com/2009/03/radio-televisao-e-propaganda.html

Em 2008
http://blogvilla.blogspot.com/2008/01/cincia-econmica-de-ginsio_09.html
http://blogvilla.blogspot.com/2008/02/portugal-urbano-segundo-o-engenheiro.html
http://blogvilla.blogspot.com/2008/07/o-bom-do-jos-scrates-seria-capaz.html

Em 2007
http://blogvilla.blogspot.com/2007/11/elogio-do-silncio.html

Em 2006
http://blogvilla.blogspot.com/2006/12/poltica-produto.html

Em 2005
http://blogvilla.blogspot.com/2005/01/o-escondidinho-do-largo-do-rato_25.html


Sobre Bruno de Carvalho:

Em 2016
http://blogvilla.blogspot.com/2016/05/dedicatoria.html

Em 2015
http://blogvilla.blogspot.com/2015/12/bons-negocios-maus-negocios-e-sexo-anal.html
http://blogvilla.blogspot.com/2015/11/quando-o-sporting-perde-assim-quem.html



Sobre Lula da Silva:

Em 2016
http://blogvilla.blogspot.com/2016/03/a-oeste-tudo-ao-contrario.html

Em 2015
http://blogvilla.blogspot.com/2015/12/jornal-de-letras-edicao-especial-brasil.html

Em 2014
http://blogvilla.blogspot.com/2014/05/um-mundial-no-inferno.html

Em 2008
http://blogvilla.blogspot.com/2008/07/o-bom-do-jos-scrates-seria-capaz.html

Em 2007
http://blogvilla.blogspot.com/2007/11/elogio-do-silncio.html



Sobre o regime marxista da Venezuela:

Em 2015
http://blogvilla.blogspot.com/2015/01/resultados-praticos-do-marxismo-na.html

Em 2008
http://blogvilla.blogspot.com/2008/05/sobre-os-preos-do-petrleo.html
http://blogvilla.blogspot.com/2008/07/o-bom-do-jos-scrates-seria-capaz.html

Em 2007
http://blogvilla.blogspot.com/2007/11/elogio-do-silncio.html


Sobre a ameaça islâmica:

Em 2016
http://blogvilla.blogspot.com/2016/03/e-capaz-de-ser-um-bocado-tarde-para-os.html
http://blogvilla.blogspot.com/2016/03/a-oeste-tudo-ao-contrario.html
http://blogvilla.blogspot.com/2016/07/ja-nao-ha-terroristas-islamicos.html
http://blogvilla.blogspot.com/2016/06/a-nomenclatura-de-orlando.html

Em 2015
http://blogvilla.blogspot.com/2015/01/dormir-com-o-inimigo-e-acordar-para-o.html
http://blogvilla.blogspot.com/2015/12/este-e-o-incrivelmente-disparatado.html
http://blogvilla.blogspot.com/2015/11/tanto-medo-da-guerra.html
http://blogvilla.blogspot.com/2015/11/assassinos-e-amadores.html

Em 2014
http://blogvilla.blogspot.com/2014/08/o-mapa-dos-filhos-da-puta.html
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http://blogvilla.blogspot.com/2014/08/enquanto-no-iraque-e-na-siria-os-bons.html

Em 2013
http://blogvilla.blogspot.com/2013/08/melhor-que-dormir-com-o-inimigo-sera.html

Em 2006
http://blogvilla.blogspot.com/2006/07/sobre-moral-da-guerra.html
http://blogvilla.blogspot.com/2006/02/faam-o-favor-de-incendiar-mais.html

Em 2005
http://blogvilla.blogspot.com/2005/01/o-voto-contra-o-terror.html

Em 2004
http://blogvilla.blogspot.com/2004/09/sobre-o-horror.html


Isto e muito mais, porque o motor de busca respeita as palavras que lá colocas e as palavras que coloquei, ao longo destes anos todos são tantas, que não cabem no algoritmo do Blogger.

quarta-feira, junho 13, 2018

A Cimeira de Coisa Nenhuma.


Image result for Trump e Kim Jong-Un

O mundo parou, pelos vistos, para que Trump e Kim Jong-Un apertassem a mão e combinassem quatro compromissos, todos eles tão falaciosos que dão vontade de rir.
Trump não está ali para fazer a paz, está ali para moderar a imoderada opinião que os europeus e uma boa parte dos americanos têm sobre ele. Kim Jong-Un não está ali para outra coisa que não seja gozar à brava com a boa vontade de todos nós (com a excepção da minha, porque a minha vontade é fuzilá-lo já).
A Coreia do Norte é o mais sinistro, desumano e provocador estado da geografia política contemporânea e não há remédio para esta vilania surreal que não seja a sua imediata irradicação. Negociar com Kim Jong-Un, aceitar a sua porca companhia, compactuar com o seu infame protocolo de criança com super poderes (todos eles decorrentes de um insuportável e anacrónico fascismo) será sempre dar-lhe a vantagem da legitimação. Será sempre reconhecer a possibilidade de existir. É um erro estratégico. E histórico.
A administração Trump, ao pensar que esta cimeira pode criar simpatias, não pode estar mais iludida. O actual presidente destes Estados Unidos terá sempre os mesmo inimigos de sempre. Pode fazer milagres, levantar defuntos da campa, curar cegos, reduzir o desemprego a zero ou institucionalizar as cidades bíblicas. O que não pode fazer mesmo é ganhar o Prémio Nobel da Paz. Por muito que tente.
Esta cimeira foi nada. É nada. Será nada.

Pela Estrada Fora #03

O Junho corre cinzento, pela estrada do momento que me leva ao Cabo Espichel.
Mais claro que o sol é o asfalto e nem o farol brilha tão alto como a terra cor de mel.

Faz hoje 130 anos que nasceste.


Santo António 
Por Fernando Pessoa
Da trilogia "Praça da Figueira", escrito a 9 de Junho de 1935.

Nasci exactamente no teu dia –
Treze de Junho, quente de alegria,
Citadino, bucolico e humano,
Onde até esses cravos de papel

Que têm uma bandeira em pé quebrado
Sabem rir...
Santo dia profano
Cuja luz sabe a mel
Sobre o chão de bom vinho derramado!
 

Santo Antonio, és portanto
O meu santo,
Por isso quero que passes,
Se bem que nunca me pegasses
Teu franciscano sentir, 

Catholico, apostolico e romano.
 

(Reflecti.
Os cravos de papel creio que são
Mais propriamente, aqui,
Do dia de S. João...

Mas não vou escangalhar o que escrevi.
Que tem um poeta com a precisão?)


Adeante... Ia eu dizendo, Santo Antonio,
Que tu és o meu santo sem o ser.
Por isso o és a valer,


Que é essa a santidade boa,
A que fugiu deveras ao demonio.
És o santo das raparigas,
És o santo de Lisboa,
És o santo do povo.

Tens uma aureola de cantigas,
E então
Quanto ao teu coração –
Está sempre aberto lá o vinho novo.
 

Dizem que foste um prègador insigne,
Um austero, mas de alma ardente e anciosa,
Etcetera...

Mas qual de nós vae tomar isso à lettra?
Que de hoje em deante quem o diz se digne
Deixar de dizer isso ou qualquer outra cousa.


Qual santo! Olham a arvore a olho nu
E não a vêem, de olhar só os ramos.
Chama-se a isto ser doutor
Ou investigador.


Qual Santo Antonio! Tu és tu.

Tu és tu como nós te figuramos.
Valem mais que os sermões que deveras prègaste
As bilhas que talvez não concertaste.
Mais que a tua longinqua santidade
Que até já o Diabo perdoou,

Mais que o que houvesse, se houve, de verdade
No que – aos peixes ou não – a tua voz prègou,
Vale este sol das gerações antigas
Que acorda em nós ainda as semelhanças
Com quando a vida era só a vida e instincto,

As cantigas,
Os rapazes e as raparigas,
As danças
E o vinho tinto.
 

Nós somos todos quem nos faz a historia.
Nós somos todos quem nos quer o povo.
O verdadeiro titulo de gloria,
Que nada em nossa vida dá ou traz
É haver sido taes quando aqui andámos,
Bons, justos, naturaes em singeleza,

Que os descendentes dos que nós amámos
Nos promovem a outros, como faz
Com a imaginação que ha na certeza,
O amante a quem ama,
E o faz um velho amante sempre novo.

Assim o povo fez comtigo
Nunca foi teu devoto; é teu amigo,
Ó eterno rapaz.


(Qual santo nem santeza!
Deita-te noutra cama!)

Santos, bem santos, nunca têm belleza.
Deus fez de ti um santo ou foi o Papa?...
Tira lá essa capa!
Deus fez-te santo? O Diabo, que é mais rico
Em fantasia, promoveu-te a mangerico.


És o que és para nós. O que tu foste
Em tua vida real, por mal ou bem,
Que coisas ou não-coisas se te devem
Com isso a esteril multidão arroste
Na nora de erros d'uns burros que puxam, quando escrevem,

Essa prolixa nullidade, que se chama a historia.
Quem foste tu ou foi alguem,
Só Deus o sabe, e mais ninguem.


És pois quem nós queremos, és tal qual
O teu retrato, como está aqui,

Neste bilhete postal.
E parece-me até que já te vi.


És este, e este és tu, e o povo é teu –
O povo que não sabe onde é o céu,
E nesta hora em que vae alta a lua

Num placido e legitimo recorte,
Atira risos naturaes à morte,
E, cheio de um prazer que mal é seu,
Em canteiros que andam enche a rua.


Sê sempre assim, nosso pagão encanto,

Sê sempre assim!
Deixa lá Roma entregue à intriga e ao latim,
Esquece a doutrina e os sermões.
De mal, nem tu nem nós mereciamos tanto.
Foste Fernando de Bulhões,

Foste Frei Antonio –
Isso sim.
Porque demonio
É que foram pregar comtigo em santo?

terça-feira, junho 12, 2018

A História falsificada.

Um grupo de crianças preparadas para serem vendidas como escravos em Fuzhou, China, 1904.


O mais grave problema mediático dos dias que correm não é o fenómeno das "Falsas Notícias". As notícias são tão falsificadas como sempre foram, e são bastante falsificadas pelo simples facto que o jornalismo não é uma ciência. E mesmo que fosse, seria no máximo uma ciência humana e toda a gente que tem alguma noção do que é uma ciência humana, sabe que as ciências humanas, ou sociais, não são ciências exactas. E mesmo que o jornalismo fosse uma ciência exacta, por absurdo, toda a gente que sabe alguma coisa sobre as ciências exactas, no seu estado contemporâneo, percebe que estas também não conseguem encontrar um caminho para o absoluto. No melhor dos casos, o jornalismo é uma arte da comunicação. No pior, é um exercício de falência moral.

Não, o grande problema mediático contemporâneo é o da "História Falsificada". Exercendo com zelo o seu direito à estupidez, à ignorância e ao niilismo ideológico que a caracterizam sem excepção, Catarina Martins mostrou-se chocada com o facto da celebração do Dia de Portugal não ter sido comemorada dignamente com um festival de culpa. Culpa pela "enorme violência da expansão Portuguesa" e da nossa história esclavagista. Nem vale a pena dizer que a História é o produto de um contexto. A leviana filosofia de rede social da lamentável Catarina Martins do Século XXI não é compatível com a realidade política, filosófica, económica e social dos Séculos XV e XVI portugueses. A rapariga não percebe que não pode julgar as motivações do marinheiro dos descobrimentos da mesma forma que julga o guião de um filme anti-tabagista do nosso triste tempo. E não percebe isto porque, coitada, é imbecil dessa sobremaneira. Mas podia ao menos, a infeliz, ler um ou dois manuais de história universal, para perceber várias coisas óbvias: a gesta dos descobrimentos portugueses foi, entre os movimentos similares do ocidente, a menos violenta, até muito pela objectiva razão de que se tratava de um reino sem meios logísticos, financeiros e demográficos para conseguir implementar no vasto mundo que percorreu a violência tenebrosa de que se queixa a líder do Bloco.

Quanto ao esclavagismo, Catarina Martins está tão enganada como sempre está (esta rapariga nasceu enganada). A escravatura não foi inventada por portugueses, não foi levada ao seu máximo horror por portugueses, nem maximamente capitalizada por portugueses. A escravatura é um modelo económico tão antigo como a civilização. Os seus principais protagonistas, em termos históricos e estatísticos, são as civilizações do Índico e do Golfo Pérsico (contemporâneas do império marítimo lusitano), do Mar da China (desde que a China existe até há muito poucas décadas atrás), do Mediterrâneo Clássico e da América Central (Aztecas, Maias e Incas). Ao contrário até do que afirma Rui Ramos, num recente e excelente artigo do Observador, o comércio esclavagista de Otomanos e Árabes castigou muito mais o continente africano do que os impérios coloniais ocidentais todos juntos. E atenção: a África equatorial não foi a região mais afectada pelo rapto de escravos, muito simplesmente, outra vez, porque nunca teve demografia, nem geografia, que alimentasse os números estratosféricos registados noutras situações históricas. E era precisamente nessa África que o comércio esclavagista português actuava.

Rui Ramos está porém repleto de razão quando diz o seguinte: "O que verdadeiramente distinguiu os europeus nesta história não foi apenas o uso de escravos na agricultura da América colonial, mas terem sido os primeiros a abolir a escravidão. A Arábia Saudita só a ilegalizou em 1962, o Omã em 1970 e a Mauritânia em 1980. 

O problema é que as Catarinas Martins deste mundo não têm qualquer problema em deturpar a verdade histórica, desde que isso lhes sirva para destruir e conspurcar a herança da civilização ocidental. E esse revisionismo mentiroso e vil, essa autofagia que provém do mais abstruso e desnaturado dos apetites é que é realmente, o grande, o mais grave, dos problemas mediáticos contemporâneos. 
"Só se possuem eternamente os amigos de quem nos separamos."

Marguerite Yourcenar . O Tempo, Esse Grande Escultor

sábado, junho 09, 2018

The Golden Dinasty.



Os Golden State Warriors venceram ontem o quarto jogo das finais da NBA e sagraram-se campeões pela terceira vez nos últimos quatro anos. São de longe a melhor equipa da competição e estão a cimentar uma dinastia que vai ficar para a história do Basket. Kevin Durant foi o inevitável MVP das finais, por causa do génio que tem, mas também porque Steph Curry não esteve nitidamente no seu melhor.
Não me lembro de umas finais da NBA terminarem 4-0. Nem me lembro de um franchise ser tão flagrantemente superior ao resto da concorrência. Os GSW arriscam-se a serem os putativos campeões nos próximos anos. Com a queda dos Cleveland e a possível saída de Lebron para outra freguesia, não me parece que surja entretanto um conjunto de talentos que possa fazer frente a este dream team da Baía de S. Francisco.

The Handmaids Tale ou como nem tudo está perdido.

Há muito que se possa dizer, de bom e de mau, sobre a polémica produção da Hulu "The Handmaids Tale", baseada na famosa novela distópica de Margaret Atwood. Mas a maneira como acaba o oitavo episódio da segunda época é de tal forma bela e pungente, que, por uns breves instantes, até nos esquecemos da deriva ideológica e da cruzada anti-cristã que, de forma tão despudorada, fundamenta esta série.

Janine, a desgraçada, escravizada, espoliada, torturada, martirizada e zarolha aia que é uma espécie de saco de porrada de serviço ao longo das duas épocas da série, trauteia "I Only Wanna Be With You" como uma música de ninar à sua filha bebé que aparentemente acaba de sobreviver a um qualquer e indefinido problema de saúde (a partir do segundo 20 no vídeo).



O momento lindíssimo, que continua depois em áudio sobre os créditos do episódio, trouxe-me à memória dos tímpanos esta excelente canção, originalmente cantada por Dusty Springfield em 1964 e durante duas décadas reinterpretada por uma quantidade maluca de gente, dos Bay City Rollers a Samantha Fox. A minha versão favorita é, claro, a dos Tourists, a banda que Annie Lennox e Dave Stewart habitaram antes de formarem os grandes e saudosos Eurythmics.



Deste episódio retira-se a natural conclusão de que nem tudo está perdido. Nem a produção executiva da Hulu está tão empenhada na sua missão doutrinária que seja incapaz de mostrar alguma sensibilidade, nem eu estão tão senil que me esqueça de um refrão com 50 anos.

I don't know what it is that makes me love you so
I only know I never want to let you go
'Cause you started something
Oh can't you see
Ever since we met you've had a hold on me
It happens to be true
I only wanna be with you

It doesn't matter where you go or what you do
I want to spend each moment of the day with you
Look what has happened with just one kiss
I never knew that I could be in love like this
It's crazy but it's true
I only wanna be with you

You stopped and smiled at me
And asked me if I cared to dance
I fell into your open arms
And I didn't stand a chance

Now listen honey
I just want to be beside you everywhere
As long as we're together honey I don't care
'Cause you started something
Oh can't you see
Ever since we met you've had a hold on me
No matter what you do
I only wanna be with you

Now listen honey
I just want to be beside you everywhere
As long as we're together honey I don't care
'Cause you started something
Oh can't you see
Ever since we met you've had a hold on me
No matter what you do
I only wanna be with you
No matter what you do
I only, only, only, only wanna be with you 

"I Only Want To Be With You", by Mike Hawker and Ivor Raymonde - 1963

domingo, junho 03, 2018

Vítimas de si próprios.


Tenho a convicção, a cada dia mais convicta, de que o Sporting Clube de Portugal merece bem a sua actual desgraça. Afinal, não precisamos de recuar mais do que quatro ou cinco meses para verificar que, em torno de Bruno de Carvalho - O Tresloucado - se reunia uma unanimidade sem precedentes na história contemporânea do Clube. Eu tenho cinquenta e um anos e nunca assisti a semelhante fervor, a semelhante uníssono.

Mas há quatro ou cinco meses atrás, Bruno de carvalho era exactamente a mesma espécie de imbecil enlouquecido que é hoje. Já lá estavam os tiques de ditador e as manias de grandeza e os claros sintomas de esquizofrenia e os evidentes lapsos de lucidez e a manifesta tendência para a quezília e a lamentável, constante e grosseira insistência no discurso escatológico, e os óbvios problemas de amadorismo e a declarada cumplicidade visceral com as claques. Já lá estavam os sinais todos, mas todos, da desgraça inevitável. Bruno de Carvalho sempre foi um desastre à espera de acontecer. Os sportinguistas, que num estranho fenómeno psico-social de transferência, são hoje muito mais anti-benfiquistas do que sportinguistas e que por isso adoraram Bruno de Carvalho como um messias, não quiseram ver que o messias era tão só um elefante - verde de raiva e de vilanias - na mais periclitante loja de porcelanas do universo.

Bruno de Carvalho gosta de se fazer passar por vítima. E tem meia razão porque, não sendo uma vítima das circunstâncias, é uma vítima de si próprio. E nisso, está de facto bem acompanhado por 90% dos sportinguistas que sofrem hoje do mal que consideraram, durante tanto tempo e de forma tão cega, um bem.

Aliás, se O Tresloucado fosse apenas um bocadinho menos tresloucado, já se tinha demitido, pela simples razão de que continua a ter, neste surreal momento e por incrível que pareça, condições objectivas para voltar a ser eleito presidente do Clube que está a arruinar.

Demonstra-se assim que o Sporting Clube de Portugal, apesar de toda a sua história, apesar de toda a sua importância sociológica, apesar de ter um dia sido uma instituição com valores sólidos e recomendáveis, é hoje uma associação de lunáticos. Um grémio em autofagia.

Há música nova que chegue para toda a gente.

Estou sempre a dizer a toda a gente que não é preciso estar sempre a ouvir a mesma música para ouvir o género de música de que se gosta. Há excelentes bandas contemporâneas que produzem material de grande qualidade para quem prefere o som dos anos 60. Ou dos anos 70. Ou dos anos 80. Ou dos anos 90. Ou do princípio deste século. Os Stereophonics, por exemplo, têm um registo muito influenciado por aquilo que os Pearl Jam, os Alice In Chains ou os Bush faziam há cerca de 25 anos atrás. E com uma vantagem: não é mais do mesmo. É Grunge, sim, mas está fresquinho. E esta música aqui, deuses, é uma malha que nunca mais acaba:



Stereophonics . Caught By The Wind

Cidadão Sebastião #02


 
- Muito boa tarde.
- Boa tarde, cidadão.
- Pretendo enviar uma carta para Deus.
- Concerteza, cidadão. Suponho que se trata do Deus Católico?
- Perdão?
- Pergunto-lhe cidadão, se o destinatário da sua carta é o Deus Católico, Apostólico Romano.
- Creio num só Deus, uno e indivisível.
- A companhia envia correspondência para 36 deuses, 148 semi-deuses, 89 apóstolos, 282 santos, 1357 fúrias, 44 profetas e 3 messias. Sobre a unicidade e indivisibilidade de Deus terá que contactar o Gabinete de Orientação Metafísica.
- O senhor está a dizer-me que existem 36 deuses?
- Não. Estou apenas a enumerar caixas postais. Pode de facto dar-se a hipótese de existir apenas um Deus, que mantém 36 caixas postais activas.
- Caixas postais? Quer dizer que a minha carta não será entregue na residência de Deus?
- Infelizmente, não, caro cidadão. De acordo com o decreto operacional 320045 Secção B200 da lei orgânica dos correios, a companhia respeita o protocolo de protecção da privacidade e salvaguarda do sigilo domiciliário relativamente aos serviços postais com divindades e fúrias. Este protocolo protege todas as entidades metafísicas do incómodo dos fãs, como da ameaça dos hereges.
- Bom, seja, quero então enviar esta carta para a caixa postal do Deus Católico Apostólico Romano.
- Muito bem. São 420 imperadores de ouro.
- 420 imperadores para entregar uma carta numa caixa postal?
- De ouro. Aceitamos imperadores em espécie ou visados. Se quiser pagar com cheque, haverá uma demora de 48 horas a 8 dias não úteis, para os devidos inquéritos de  provisão. Neste caso o preçário será acrescido da taxa de inquérito no valor de 12 imperadores de prata.
- Mas trata-se de um roubo!
- Se o cidadão suspeita que está a ser alvo de um acto ilegal, terá que preencher o formulário 428A e entregá-lo, devidamente lacrado, no Gabinete de Apoio à Vítima de Actos ilegais.
- Voltemos à missiva. Quanto tempo demorará a chegar?
- A correspondência com entidades divinas é entregue nas respectivas caixas postais no espaço de 24 horas, mas isso não quer dizer que a divindade receba a correspondência em tempo real, claro. Temos registo de missivas que foram recolhidas pelo destinatário 25.000 anos depois de entregues na respectiva caixa postal.
- 25.000 anos? O senhor está a brincar comigo?
- De todo. Mas também pode demorar muito menos tempo. Bem vê, depende das rotinas de cada divindade. O cidadão compreenderá que, para os imortais, não há pressas. Passar pela caixa postal amanhã ou daqui a 20.000 anos é a mesmíssima coisa. Para uma mais clara determinação desta questão, aconselho o envio com aviso de recepção. Neste caso o preço será acrescido de 55 imperadores de prata.
- Assim sendo, desisto. Passe bem.
- Vá em paz, cidadão, e se me permite, aqui ficam os votos de que o Deus Católico Apostólico Romano o acompanhe. Em tempo real.

sábado, junho 02, 2018

É isto tudo.

"Na eutanásia, como nas legalizações do casamento homossexual, da “interrupção voluntária da gravidez”, do consumo de drogas leves, da prostituição e do que calha de ser considerado “fracturante”, recorre-se ao isco da “liberdade” para consumar o que afinal é um processo de nacionalização dos comportamentos. Na vastíssima maioria das situações, as pessoas conseguem matar-se, dormir com pessoas do mesmo sexo, abortar, injectar silicone, consumir haxixe ou terebentina e frequentar casas de meninas às segundas, quartas e sextas sem obstáculos relevantes e, sobretudo, sem necessitar que o Estado seja informado a respeito. E é esse pormenor que apoquenta a esquerda.
A esquerda, por tradição e vício, nunca se ofendeu com o constrangimento das acções de cada cidadão: o que a ofende é que o cidadão as pratique à revelia de um poder idealmente ominipresente, para não dizer totalitário."

Alberto Gonçalves . Observador .  O Direito a viver sem dignidade . 2-6-18

sexta-feira, junho 01, 2018

Pela Estada Fora #01

Arrábida. Amanhece e sigo a sós pela estrada fora.

Sexo para os ouvidos.

Chamam-se Tender. Em 2017 editaram um disquinho, Modern Addition, que é uma espécie de apogeu hedonista. Oiçam e deixem-se levar pelas ondas de puro prazer.



Tender . Nadir

Poderoso.



O regresso da série Call of Duty à Segunda Guerra Mundial dá direito a gráficos espectaculares, bem apoiados numa edição sonoplástica brutal. Pena é que os jogos de agora sejam muito mais virados para a vertente online do que para o modo carreira, que continua algo curto. Mas dá, ainda assim, para matar nazis à fartazana. E reviver momentos históricos com assustador realismo.

Borg Vs. McEnroe



Final de Wimbledon. 1980. Bjorn Borg, o extraterrestre, procura fazer história, alcançando cinco títulos consecutivos (só Federer conseguiu tal feito e só Federer tem mais títulos: 8) e o décimo Grand Slam. Tem pela frente a sua nemesis: John McEnroe. Se o sueco é o mais elegante cavalheiro da história do ténis profissional, McEnroe não passa de um fedelho mal criado. Se Borg é frio, disciplinado e consistente; o rebelde de Queens, Nova York, é uma pilha de nervos incontrolável, que oscila loucamente entre o brilhantismo e a peixeirada. Bem-vindo, gentil leitor, ao mais famoso, ao mais belo, ao mais intenso jogo de ténis profissional do século XX.

McEnroe entra a matar no primeiro set, mas Borg, com a habitual firmeza do seu jogo de fundo de court ganha os dois sets seguintes. No quarto set, Borg lidera por dois jogos, tem a oportunidade de fechar a partida por duas vezes mas McEnroe recupera e obriga àquele que é o mais lendário tie-brake da história deste desporto. O sueco, incrivelmente, falha 5 match points e o americano acaba por vencer pelo não menos incrível resultado de 18-16.

Quando toda a gente pensa que o quinto set vai consagrar McEnroe, o Deus de Estocolmo ressuscita  e ganha por 8-6, conquistando o almejado quinto título em Wimbledon. E o último, também: em 1981, numa final disputada pelos mesmos heróis, John McEnroe levará a melhor, iniciando o seu mandato como número um do mundo. No fim desse ano, com apenas 26 anos de idade, Bjorn Rune Borg anunciará a sua retirada da alta competição.

Centrado neste combate épico entre dois grandes campeões, Borg Vs McEnroe é um muito competente filme de Janus Metz Pedersen que consegue encaixar os dois relatos biográficos com sensibilidade e bom senso, e conduzir os percursos destas duas personalidades tão distintas a um clímax que retrata com rigor técnico e excelência cinematográfica o que aconteceu naquela gloriosa tarde de Julho.

Até porque esta história tem uma componente idílica. Uma moral edificante. McEnroe era, até à final de 1980, um jogador detestado pelos ingleses, que não admitiam que o temperamento do americano transformasse o court londrino num ring para rapazotes sem nível. Isso mudou porém,  nesse dia. O nova iorquino mostrou-se, durante toda a partida, no seu melhor comportamento. Não discutiu com os árbitros, não praguejou, não atirou com a raquete na direcção dos apanha-bolas, não provocou o adversário. E jogou o melhor ténis que alguém podia jogar contra o rei Borg.  E isto tudo, não porque quisesse agradar aos ingleses, não porque desejasse compactuar com o esquema ético do jogo, não porque estivesse arrependido de ser quem era. McEnroe foi um senhor, naquela célebre tarde, porque respeitou o seu adversário. Porque o seu adversário o respeitou a ele. Porque, na verdade, esta é a história de uma amizade improvável, que dura até aos dias de hoje. E foi essa amizade que redimiu o "Super Brat". McEnroe perdeu essa final, essa final que foi, se calhar, a mais bonita da sua carreira. Mas no fim, foi aplaudido de pé por toda a gente. E de vilão, passou a herói.