Diz a gaivota:
- Tu aí, barrigudo, no terraço da tua pequena sabedoria, que sabes do meu canto? Que sabes da tua e da minha insignificância, da inutilidade do meu voo, da futilidade do teu vinho branco, do exercício vão de todas as coisas em exercício neste universo de espelhos fechados pela poeira das eternidades, pela escuridão da memória? Que sabes tu, pedante redução de ti mesmo, deste oceano anónimo que se agita entre marés poderosas, galácticas; marés que desdenham do teu destino espúrio, que te arrastam com indiferença para o sítio último, para o momento derradeiro da tua tragédia pequena? Sim, que sabes tu de tudo isto, de ti e de mim, do céu e do mar; que sabes tu fotão de nada, que nada podes, que nada és, subatómico turista na falésia abísmica da insubstância geral da vida?