quinta-feira, setembro 20, 2018

Haikus da Baía #02


Rasgando ao largo as ondas sóbrias,
a lancha da Marinha traz pressa de aportar.
Devem ter ficado sem gelo
para o scotch.


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Nem sempre é fácil discernir
a linha do horizonte.
Às vezes o mar e o céu encontram-se
no mesmo Pantone.


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Oiço ao longe
o lamento de uma motorizada
que sobe a falésia.
É maior o barulho
que a aventura.


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Quando Deus fez a baía,
já sabia que o homem
lá iria inventar um porto.


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A saudade é uma traineira que regreessa à doca
pela conclusão da tarde.
A ansiedade é uma traineira que parte da doca
pelo despontar da manhã.


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Todos os barcos têm um naufrágio no seu destino.
Os barcos felizes naufragam no mar.
Os barcos tristes naufragam em terra.


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O gin tónico sabe-me melhor quando Deus
manda cessar o vento.


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Um veleiro de velas arriadas
é uma contradição a motor.


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A Marinha manobra,
fingindo batalhas navais,
enquanto o traficante deixa a sua mercadoria
na praia ao lado.


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Só a brisa e as gaivotas
desafiam o silêncio.
Ninguém parte para a guerra
numa tarde assim pacífica.