Relativizando tudo ao aniquilar qualquer critério e - assim - toda a possibilidade de uma Crítica, o Pós-Modernismo assassinou as artes e é muito fácil entrarmos hoje numa qualquer galeria de coisas contemporâneas para nos sentirmos insultados. Para percebermos que algo está podre no reino do vale tudo e da arte por conceito.
Como sempre, porém, há ainda gente que se salva e arte que vale em absoluto. Que vibra, que comunica, que é inteligível. E David Hockney é, talvez, o mais genial pintor vivo: uma espécie de último grande mestre.
Cruzando referências que oscilam entre Claude Monet e Edward Hopper, entre Francis Bacon e Pablo Picasso, entre Vincent van Gogh e Andrew Wyeth (outro dos últimos grandes mestres, mas este já falecido); Hockney não tem medo do cliché, porque toda a arte é construída sobre convenções. São as convenções que fazem da arte a suprema forma de comunicação. São as convenções - os lugares comuns - que permitem o olhar original, a ruptura, a inovação, os modernismos.
É precisamente pela originalidade com que representa o real, é precisamente por fazer da normalidade uma singularidade, que David Hockney é genial. As suas obras vibram pelas nossas retinas adentro, penetram imageticamente na alma para criarem momentos de eternidade, sensações de transcendência. Fazem, na verdade, exactamente o que a arte deve fazer: alteram o nosso processo de percepção das coisas.
Olhamos para um quadro deste homem e o tempo cristaliza num iato de espanto e de serenidade. É uma variante da magia branca. Estamos perante algo que é puro, que é autêntico. Os retratos de Hockney, por exemplo, têm verdadeiramente pessoas verdadeiras lá dentro.
Parece que o célebre “Retrato de um Artista (Piscina de Duas Figuras)”, de 1972, pode vir a ser um dos mais caros de um artista vivo. A leiloeira Christie’s estima a venda em mais de 68 milhões de euros.