terça-feira, setembro 11, 2018

Um poema do Álvaro que eu desconhecia.

Estranhamente, li hoje, pela primeira vez, este poema. Pensava que já tinha lido todos os poemas do Álvaro de Campos. Pensava que isso era possível. Não é.

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A alma humana é porca como um ânus
E a Vantagem dos caralhos pesa em muitas imaginações.

Meu coração desgosta-se de tudo com uma náusea do estômago.
A Távola Redonda foi vendida a peso,
E a biografia do Rei Artur, um galante escreveu-a.
Mas a sucata da cavalaria ainda reina nessas almas, como um perfil distante.

Está frio.
Ponho sobre os ombros o capote que me lembra um xaile —
O xaile que minha tia me punha aos ombros na infância.
Mas os ombros da minha infância sumiram-se antes para dentro dos meus ombros.
E o meu coração da infância sumiu-se antes para dentro do meu coração.

Sim, está frio...
Está frio em tudo que sou, está frio...
Minhas próprias ideias têm frio, como gente velha...
E o frio que eu tenho das minhas ideias terem frio é mais frio do que elas.

Engelho o capote à minha volta...
O Universo da gente... a gente... as pessoas todas!...
A multiplicidade da humanidade misturada
Sim, aquilo a que chamam a vida, como se só houvesse outros e estrelas...
Sim, a vida...
Meus ombros descaem tanto que o capote resvala...
Querem comentário melhor? Puxo-me para cima o capote.

Ah, parte a cara à vida!
Levanta-te com estrondo no sossego de ti!