domingo, outubro 14, 2007
Gente em vez de malta.
Não quero estar a bater sempre no mesmo ceguinho, mas a recente coroação de Al Gore como o grande campeão da paz ambiental, o príncipe perfeito entre os mais perfeitos profetas do apocalipse - versão terceiro milénio actualizada e revista - é um fenómeno tristemente divertido e bem próprio destes dias insanos. É claro e apenas justo que não seja um cientista, mas um palhaço rico vindo directamente do grande circo da política internacional a receber este Nobel. A verdade incoveniente do Sr. Gore é uma verdade eleitoralista, plastificada, mediática, charmosa, insubstantiva; é um gingle, uma campanha, um disfarce, uma manobra, uma invenção, em resumo: um entertenimento. Mas não será nunca científica. Ao excelso Comité Norueguês entrego os meus mais calorosos cumprimentos, por ter contribuído, à sua pequena e rasteira maneira, para a total descredibilização do grande mito climático. Um embuste em traje de gala mostra sempre que os reis vão nús.
De qualquer forma, a curto ou médio prazo, as grandes cabeças do Comité arriscam-se a ter um Prémio Nobel da Paz que acumula o cargo com a Presidência dos Estados Unidos da América e a chefia maior das forças armadas do Império. É de gargalhada imaginar esta pomba Gore na Situation Room, avaliando os diferentes planos de ataque aéreo a Teerão. Quantos são, quantos são? Quantos são os que vão morrer hoje?
Já ver Santana Lopes em triunfo no Congresso parece-me bem estranho. E é mesmo paranormal que este senhor Filipe Menezes tenha chegado aonde chegou sem uma boa ideia que seja. Nada vezes nada e, pelos deuses da república, há-de subir a primeiro ministro! É de natureza esotérica o declínio miserável do Partido Social Democrata e é transcendente que ainda não exista um Partido Liberal nesta terra, mas o que é realmente de literatura fantástica é este facto-milagre-de-fátima: a Europa entregou a Durão Barroso e a José Sócrates o poder executivo para concretizar a sua primeira Constituição Federal, nada mais, nada menos. Agora contem lá isto ao extraterrestre que passar aí por casa, a ver se ele acredita. Do Atlântico aos Urais, não há nada de melhorzinho?
A autêntica falência das lideranças no mundo Ocidental é provavelmente o nosso mais dramático - e risível - problema. A certo momento dá-me sempre a ideia que os grandes intérpretes da história contemporânea não passam de pequenos Faustos, condenados pela luxúria do poder a um mediocre inferno de banalidades e invejas de pátio. E se isto é verdade lá fora, em Portugal, deus meu, a coisa é insuportável. Políticos à parte, porque são os marretas que são, e excluindo aquela gente que é sempre a mesma e que é importante porque diz, como um comentador da bola, coisas bonitas e inteligentes na televisão, onde é que estão os os líderes morais, económicos, associativos, desportivos e sindicais de um Portugal novo? Onde é que está a geração que realmente reformará um dia este país? É que aquilo que existe é tão fraquinho e mal criado que não inspira nem um Whitman que seja.
É muito triste dizer isto, mas em Portugal nem os banqueiros têm maneiras.