segunda-feira, dezembro 20, 2021

As Guerras do Natal: Acto I

Madrugada de 25 de Dezembro de 1977. Faroeste da Terra do Nunca Nunca. Uma tribo de esquimós oriunda do Polo Negativo desce até ao Deserto Positivo para assaltar a diligência da Wells Fargo que transporta o Tesouro da Serra Mãe, destinado ao pagamento dos salários do regimento de tropas nazis que está estacionado na cidade Lego de Sempre Sempre. Os esquimós são mais que as mães e mais que os pais e trouxeram focas selvagens e ursos domésticos na expedição. A escolta de bravos cóbois liderados por Lucky Luke tenta desesperadamente negociar um cessar fogo com a promessa de um carregamento de frigoríficos gratuitos, mas a tribo ensandecida de encapuçados permanece irredutível e dispara gelados de baunilha como se a máquina de semi-frios fosse avariar amanhã. Entre o fogo cerrado e o enjoativo perfume a orquídeas, o cóboi que dispara mais rápido que a própria sombra recorre ao telégrafo portátil para enviar um SOS, na esperança de que o Sétimo de Cavalaria possa socorrer a escolta da morte certa e da moda do Kispo.

Eis senão quando e por um acaso do destino digno de um full de ases num jogo de póquer entre azarados mentais, uma patrulha de StormTroopers que policiava as imediações foi alertada pelo barulho que os gelados de baunilha fazem quando disparados através do ar quente e espesso do Deserto Positivo. E assim, rapidamente espoleta um contra-ataque sobre a retaguarda dos esquimós. Os esquimós porém são seres especiais, dotados de 43 sentidos obrigatórios e várias capacidades de adivinhação fantasista, entre as quais detectar a presença de brinquedos Lego a milhas de distância. Reagindo prontamente, activam as reservas que estavam escondidas por trás da máquina de semi-frios e assim rapidamente espoletam um contra-ataque sobre a retaguarda dos StormTroopers que contra-atacava a retaguarda dos esquimós. Há facada que ferve os nervos e tiroteio que gela o sangue e raios laser a rasgar o cenário e tudo parece perdido menos a foca, que sabe perfeitamente onde está e sabe perfeitamente que não devia estar ali. 

Acontece que o habitat natural do Action Man é precisamente o Deserto Positivo da Terra do Nunca Nunca, principalmente nas horas de ponta e mola: armado até aos dentes e senhor de uma escala comparativamente desmesurada, usa a sua presença dissuasora de tal forma que esquimós, StormTroopers e cóbois; diligências, máquinas de semi-frios e animais domésticos ou selvagens cessam hostilidades e desandam num ápice do teatro de operações. 
Na sua histérica e fulminante debandada, esqueceram uns e outros o motivo que tinha desencadeado a pancadaria: o tesouro da Serra Mãe, que na confusão do sangrento conflito tinha saltado da diligência para a poeira do deserto, foi assim abandonado ao livre arbítrio e questionável probidade do Action Man. Escusado será dizer que este desleixo terá complicadas implicações no decurso da narrativa, tanto mais que, como já foi referido, o áureo erário  estava destinado a cumprir o pré dos soldados do Terceiro Reich que ocupam a cidade de Sempre Sempre. E só Deus sabe o que farão as tropas alemãs, uma vez privadas da remuneração que lhes foi prometida.

As Guerras do Natal: Acto II
As Guerras do Natal: Acto III
As Guerras do Natal: Epílogo